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sábado, 3 de agosto de 2013

Neurónios, cultura, orgasmos e a "tailandesa"


Quando Darwin disse que o Factor Critico de Sucesso da Espécie era a "sobrevivência do mais apto", a questão que me surge é "mais apto em quê?". 

Se queria dizer "mais apto em sobreviver" é uma tautologia, porque se sobreviveu era o mais apto, senão não teria sobrevivido.
Do mesmo modo, "cientificamente", posso concluir que os que não sobreviveram "não eram os mais aptos  para sobreviver", q.e.d. (quod erat demonstrandum) como diria o Senhor De La Palisse.

Porém, numa Espécie com reprodução sexuada o Factor Critico de Sucesso para a sua sobrevivência é a existência de orgasmo. Sem ele não há reprodução e sem esta não há nascimentos portanto ser, ou não, mais apto para sobreviver é uma questão irrelevante.

Apesar da reprodução "in vitro" (sem misturas sexuais) já hoje ser possível, eu prefiro, pelo menos por razões lógicas, a frase: - "…a sobrevivência duma espécie é a da mais apta em ter orgasmos".


Aliás, não só por razões do próprio orgasmo como também por razões filosóficas, na antiguidade encontram-se várias análises sobre ele, desde o Taoísmo com os seus nove tipos de orgasmos, até ao yoga com suas meditações e posturas às vezes com consequências orgamásticas, passando pelo Zen, Hinduísmo,...chegando aos modelos espirituais de "Out-of-body-orgasm".

Ao longo das civilizações, pesquisas sobre o orgasmo sempre existiram a par da procura de Deus (ou de Deuses), não só com fronteiras difusas entre os dois temas, como até se contaminando. 
As religiões oscilam optando entre orgias ou só sexo-oficializado-por-casamento, ou só sexo-para-reprodução, ou castidade obrigatória, ou sexo livre, etc. As variantes culturais têm sido muitas na relação religião-sexo.

Deixemos essas áreas "cinzentas" e vamos incidir apenas nos raciocínios "preto-branco" da lógica dominante, ou seja, separando o que "é científico" do que "não é científico".
PS - É cientifico quando a ciência dominante considera científico, e não é científico quando a ciência dominante considera não-científico. Pode parecer tautologia, mas o "científico" dominante diz que não é.
Exemplo, cientificamente a Terra era plana até Galileu, cientificamente a Terra é não-plana depois dele".

Assim, para não "tomar partido" na problemática do "científico", poder-se-á começar com Wilhem Reich, cientista para uns, charlatão para outros.

Wilhem Reich, discípulo preferido de Freud, membro integrante da sociedade psicanalítica de Viena, em 1933 foge dos nazis para Oslo onde ficou na Universidade até 1939 quando foi para os USA. 
Considerado lá como charlatão por muitos críticos, é perseguido e acusado pela FDA (Food and Drugs Association), preso em 1957, tendo morrido na cadeia no mesmo ano.


O núcleo do seu trabalho incidiu sobre o orgasmo (ver "The function of the orgasm", 1942) e avançando mais na área "soma" do que na "psy", desenvolveu a sua Teoria do "Orgónio", já nas franjas da NeuroCiência.


Considerava o orgasmo como um processo em cinco etapas:
Legenda:
F - excitação
P - penetração
Etapa I - controlo voluntário
Etapa II - controlo involuntário e automático
Etapa III - subida súbita para o ápice
Etapa IV - orgasmo
Etapa V - queda acentuada
R - relaxação

A duração é em média de 5 a 15 minutos no total, com alguns segundos/poucos minutos na zona tracejada de contracções involuntárias do corpo. 
PS - É sobre esta zona tracejada que incidem muitas das teorias da cultura oriental.


Regressando ao Darwin e à sobrevivência das espécies, quando a normalidade do orgasmo se altera, possivelmente há envelhecimento populacional (menos nascimentos) não só por razões de controlo cultural voluntário mas também por deformação daquela curva funcional, surgindo a chamada ejaculação precoce, de difícil fertilidade e com níveis de participação corporal gratificante muito reduzidos:


Comparação das duas curvas
Abandonando por agora os aspectos reprodutivos e centrando a análise nos centros de prazer, podemos caminhar para a neurociência.



Uma questão interessante é saber se o KamaSutra é um Manual de Ginástica Sexual (tipo acrobata de circo) ou se é um orientador dos neurónios afectos ao prazer (tipo conexões soma-psiquico)

Penso que usar o KamaSutra como um manual de acrobacias sexuais é como comprar um Vinho Tinto do Douro, tipo "3 bagos" de 2007 (35€ garrafa), para fazer sangria misturando gasosa e casca de laranja.
Se também se faz essa ginástica acompanhada com álcool e TV, é como beber essa sangria comendo sardinhas assadas com chantilly.

Ainda usando o pensamento de Reich, há um esquema que pode ajudar a compreender a Filosofia do KamaSutra para além da acrobacia sexual:




ou seja, a energia tem que ter uma integração psicosomática. Os efeitos surgem quando as posições corporais reflectidas nos neurónios por sensações quinestésicas são integradas com significações oriundas do campo psico. 


Parece ser complicado mas pode ser simples conectar neurónios, para isso só é preciso criar as situações e "eles que se amanhem". É o método de ensinar uma criança a andar "é só pô-la em pé e os neurónios fazem o resto".


Brain structures of the pleasure center and reward circuit
Medial Forebrain Bundle
O aspecto importante é a "intenção significativa" dos actos (agora tão na moda com a teoria "O Segredo", ver livro, vídeos e filme) que pode ser provocada por expectativa sintónica ou por expectativa de ruptura positiva com os referenciais culturais existentes.

Um exemplo simples de fazer, por simultaneidade de "expectativa sintónica & ruptura positiva de expectativas", é a chamada "tailandesa".


PS - Não sei de onde vem o nome porque a experiência baseia-se nos paradigmas da cultura judaico-cristã europeia, jogando no AGIR e no PENSAR em "dupla conexão" (double bind) de ruptura-sintonia. Uma espécie de "duche escocês" psicológico.


Tailandesa


Dizem os teóricos que ela só pode ser feita uma vez e exige pessoas sem prévias relações afecto-sexuais activas.

Baseia-se no paradigma europeu da relação amorosa-sexual inserida desde criança na estrutura afectiva e que contem duas fases sequencialmente bem definidas:

1º - intimidade afecto-psicológica (o namoro);
2º - intimidade afecto-corporal (o sexo).

PS - Estou a esquecer o paradigma europeu da relação sexo-negócio (prostituição), porque aqui o "embrulho" afecto é só para embrulhar a ginástica sexual, quer para pagar quer para receber (dinheiro, favores, benefícios,..)

A experiência é criar uma ruptura neste paradigma, invertendo a sua ordem no pensar-agir mas não no agir-pensar, portanto, o paradigma continua a existir sem ter existido.

As regras para o par são: 

A - Existir uma relação previa de sintonia relacional, mesmo que seja só através de comunicação não verbal, mas nunca tendo passado disso;
B - Existir um nível de confiança e disponibilidade positivas entre ambos, sem "a priori"s negativos;
C - Fazerem um contracto inicial de cumprirem rigorosamente as regras, até tudo terminado;
D - Estarem numa situação de isolamento exterior sem serem interrompidos.

Acção:

Objectivo

Tomarem banho juntos de olhos vendados.

Condições

1 - Juntos, ainda vestidos, vedam os olhos e só tiram as vendas quando estiverem outra vez vestidos.
2 - Despem-se sem ajudas e seguem para a casa de banho.
3 - Durante o trajecto e durante o banho podem e devem-se ajudar mas só podem tocar nas mãos um do outro.
4 - Regressam com as mesmas regras e vestem-se.

A ideia de base é que os neurónios "vivam" contradições entre a programação cultural de intimidade e isolamento, sabendo que estão em intimidade sem fases anteriores, mas sabendo também que na prática estão sozinhos sem ninguém a ver.

Ao mesmo tempo sabem a fragilidade disso, pois só depende da confiança no outro e do risco de ele(a) não cumprir as regras. 
Todavia, mesmo tempo, a probabilidade de furar as regras contra o outro também aparece e a  dica de "vou só ver se está espreitando" acaba por crescer, aumentando a desconfiança no outro e na dificuldade de continuar a cumprir as regras.
É uma espécie de "Dilema do prisioneiro" no campo afectivo e na defesa da imagem própria.
Normalmente ele é feito em relação ao que se diz (confessar ou não) enquanto que aqui é feito em relação ao que se faz, ou seja, o jogo processa-se entre "confio no que fazes e eu faço também" ou "não confio no que fazes e não faço também". 
Mais do que opções cognitivas são opções comportamentais, isto é, não têm "undo" (desfazer), depois de realizadas nada pode alterar o que foi feito.

Quando acaba e tendo cumprido as regras, normalmente só aparecem duas soluções:

A - Ambos desaparecem rapidamente; ou
B - Levam horas a conversar sobre o que aconteceu.

Os dias seguintes é que são interessantes.

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