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sábado, 28 de dezembro de 2019

A confusão Democrática: inimigos ou adversários


Li no massmédia e fiquei confuso por duas razões:

1ª - Qual a diferença entre adversário e inimigo???
2ª - Na Democracia há adversários???

Com a primeira pergunta andei divertido, mas com a segunda fiquei angustiado e com ambas senti-me rodeado por Conspiração de Teorias, FakeNews e FakeTruths(1).

(1) Afirmações fúteis e confusas aceites e usadas como óbvias e verdadeiras.

1ª - Qual a diferença entre adversário e inimigo???

Pesquisei em dicionários e os resultados foram:
inimigo - não amigo (???), tem ódio a alguém, pessoa hostil, contrária, adversa, prejudica, é nociva.
adversário - opõe-se, luta contra, antagonista, rival, contendor.

A base é a mesma, ambos são um confronto-para-impacto com nuances na intensidade, qualidade e quantidade das suas variáveis. Porém certas análises especificam uma característica que só aparece nos inimigos: ódio ao outro.

Por um lado, esta variável clarifica a diferença entre ambos mas, por outro lado, embaralha mais. Por ex., numa Democracia, na Assembleia Democrática como distinguir o inimigo politico do adversário politico?

Teoricamente é fácil, um tem ódio pessoal e o outro não. Mas na prática, cada deputado é psicanalista/psicólogo em diagnóstico dos colegas: ...tem ou não tem ódio? ...é sempre ou só às vezes? ...é só a mim ou a todos? ...é tratável? ...é perigoso? etc. Não vai ser fácil.

Todavia, esta diferença ainda é mais confusa. Na guerra, quando se mata um soldado inimigo mata-se um desconhecido portanto não pode haver ódio instalado, logo mata-se um soldado adversário... e não um inimigo.
A confusão aumenta, pois afinal no geral combatem-se inimigos e no particular matam-se adversários! Anda-se a brincar com manipulações do senso comum? Parece que sim! Como exemplo histórico:

Na 1ª Crande Guerra, em 24 Dezembro 1914, nas trincheiras ao sul da cidade de Ypres, Bélgica, soldados alemães e ingleses por decisão própria pararam a guerra e festejaram o NATAL em conjunto:


A compreensão de que não eram soldados inimigos mas apenas soldados adversários foi comum nos dois exércitos ditos inimigos.

Este acontecimento, hoje conhecido pela Trégua de Natal de 1914, teve em 1999 a comemoração dos seus 85 anos com a colocação de um Memorial no local onde essa decisão foi feita à revelia do poder militar instituído:
(Ypres, Bélgica)
Porém, quando fanatismos se instalam, sejam profissionais, clubistas, políticos, partidários, religiosos, nacionalistas, etc, eles ficam dominados pela ideia odiada e todos os diferentes são apenas "coisas" para descarregar ódios, portanto inimigos. 

FakeNew tem gémeos, as FakeTruth, isto é, "verdades" fúteis e confusas consideradas verdadeiras e óbvias e que se aceitam e usam automaticamente.
Como teasers (provocativos, capciosos) três questões:

- Se há adversários políticos e inimigos políticos, como se distinguem? 
- Se há inimigos pessoais o que são inimigos não pessoais? 
- Se um confronto de boxe tem adversários, um confronto de xadrez tem inimigos e vice versa? 

2ª - Na Democracia há adversários???
A Democracia é como navegar pelas estrelas,
elas são orientação mas a essência é o caminhar.

Segundo a Teoria dos Jogos, num jogo a sua essência é o prazer das jogadas feitas após as jogadas do outro,
...ambos contentes... ganhar ou perder é "pra esquecer"
o resultado é apenas uma referência para estruturar jogadas... é uma consequência colateral... portanto,  não são adversários mas sim cúmplices em encaixar jogadas, daí a alegria de se encontrar e estar juntos.

Quando na Faculdade de Ciências passava as tardes a jogar xadrez na Associação de Estudantes, era num grupo de "viciados" e quando alguém chegava para espectador o "Olá" nunca era "quem ganha?" mas sim "isso está bom?".

Qualquer pedagogo sabe isto mas, muitas vezes, os treinadores e claques ignoram e instalam o método adversário e as consequências são opostas pois em vez de abraços há pancadaria, [...o objectivo é a derrota do outro, jogadas são necessidades colaterais].

Na verdade, desde o xadrez, bridge... ou boxe, futebol... ou pingpong, bilhar... todos os jogos são iguais em três condições:

- os jogadores querem fazer jogadas;
- aceitam as regras de jogo;
- respondem às jogadas dos outros.

ou seja, isto significa que sem os outros não há jogo pois NÃO HÁ JOGADAS PARA RESPONDER.

Portanto, a essência de qualquer jogo é a cumplicidade entre todos, todavia na relação de adversário a essência é "não preciso dele" logo destruí-lo (pancada, ferida, etc) é uma opção. Na opção adversários a desistência do outro ou fraude "legal" é vitória, na opção cumplicidade é frustação.

Uhhau... 
Uhhau...
...então a essência do jogo é existir uma interacção de CÚMPLICES a receber e devolver jogadas, permitindo a ambos diferentes caminhos e diferentes alvos para o mesmo objectivo.

Ganhar ou perder é um acidente de percurso, um "termómetro", e como feeddback nem sempre é válido, pois pode suceder que "ganhei mas o jogo foi uma porcaria e não gostei" ou  "perdi mas o jogo foi óptimo e gostei".

É vulgar existirem adeptos com estas duas avaliações, inclusive no futebol. Às vezes até todo o estádio aplaude com confrontos bem jogados, "esquecendo" se houve ou não golo. Foi um instante solene em que adversários foram cúmplices a viver a magia do jogo de futebol... esquecendo o "vício" do golo e o fanatismo da vitória.

Por experiência pessoal, não sendo um "fan" de futebol, em determinada época fiz parte de um grupo que aos sábados de manhã se juntava nos campos do Estádio Nacional (ISEF) para jogar futebol de 5.

Tudo era informal, as equipas eram "à balda" com voluntários (às vezes femininos) e jogava-se enquanto se queria, saía-se, conversava-se  e depois voltava-se a entrar mesmo para a equipa oposta.  Tudo continuava com trocas sucessivas enquanto houvesse quem quisesse jogar.
Nos sábados de manhã, estávamos "viciados" nessa festa convívio de cúmplices futebolistas.

Os golos marcavam-se mas ninguém ligava, as equipas eram voláteis, o importante eram as jogadas "bem tiradas" por bem ou mal feitas, mas implicadas e divertidas, observadas e aplaudidas. O jogo era levado a sério, não havia desistências, batotas ou fraudes.

Este "futebol" começou a ter fama e os espectadores e os voluntários aumentaram. Sem se notar, "o vicio dos golos" instalou-se.
Equipas passaram a ser fixas com 10 elementos seleccionados entre os melhores, o jogo "adquiriu" árbitros e fiscais e os resultados eram solenemente registados de um sábado para outro. "Nasceram" "quotas" pagas para medalhas, taças e almoços de festejo.

Os adversários  futebolistas nasceram e as claques também. A palavra de ordem "quem joga mal, assiste e apoia" era a regra, mas apesar de feita nunca era dita.

Discretamente, o absentismo também nasceu. Sem reuniões, sem debates, sem votações, mas com desculpas várias, o grupo inicial desfez-se. Não sei o que aconteceu ao grupo emergente de adversários futebolistas mas penso que tiveram vida curta.

Como curiosidade, num encontro da Pedagogia Experiencial na República Checa, por proposta de um prof. escocês (Dr. Roger Greenaway) jogou-se um jogo futebol de 11 sem bola, foi muito implicado e motivado com "golos" válidos e "golos" discutidos, houve cartões amarelos e tudo, mesmo sem árbitro.

Como Psicodrama num grupo de 22 sem qualquer "linha de acção", a cumplicidade grupal foi inesperada não só nos jogadores como na participação e interesse de dezenas de espectadores.


O "jogo" só foi possível com uma intensa e alegre cumplicidade entre todos.

Na Democracia acontece o mesmo, é necessário cumplicidade, mas a Democracia é como navegar pelas votos, a validade depende do caminhar não dos votos. Uma eleição controlada com repressão e com diálogo prévio suprimido, tem votação e tem eleitos mas não tem Democracia.

Na verdade, a Democracia é uma espécie de futebol-sem-bola que em vez de golos usa votos. Na Democracia em formato adversário (Parlamentar) a cumplicidade dos jogadores é destruída com FakeTruths tornadas óbvias, indiscutíveis e muito usadas nas redes sociais para argumentação de opiniões. As mais comuns são  foi votado,  foi eleito, liberdade de expressão, aplicadas como se fossem dogmas religiosos que tudo justificam.

... foi votado...mas...
...a votação é uma verdade humana,
não é uma verdade divina!

Uma votação democrática pode ter 100% de acordo na opinião grupal mas isso não dá garantia de validade técnica, "Se todos votarem que os galos põem ovos é uma decisão democrática mas não tem validade técnica...".
Nas ditaduras conclui-se mas não se discute. 
Nas democrácias discute-se mas não se conclui. 
Nas Democracias dialoga-se e conclui-se.

Segundo os clássicos gregos a base da Democracia é o dia-logos ou seja "...o livre fluir de significados através do grupo"(*) alcançando  assim o que é inalcansável individualmente. Isto  significa  que a essência da Democracia está no diálogo prévio à votação e não nos votos obtidos. Nas palavras de um filósofo grego da época, "[...quando a votação começa, a Democracia termina].

* - Peter M. Senge [The fifth discipline] pg 10

No sec XIX foi criado para a Democracia o "Westminster system". Aplicado nas colónias do British Empire (Canadá 1848, Austrália 1855 e 1890) formatou um modelo que depois foi divulgado e adoptado por vários países, por vezes com variantes.

Uma das bases do "Westminster system" é a técnica da oposição versus governo. Uma espécie de vírus inserido no ADN da Democracia e provocador da doença "adversário".

Este vírus é uma FakeTruth lógica que se baseia-se na correlação fictícia de que quem sabe destruir (um prédio,..?) também sabe construir (um prédio,..?). Ou seja, um bom líder de luta (ataque) é também um bom líder de colaboração (diálogo), o que é uma conclusão discutível.

O "Westminster system" com seu sistema adversário usa esta duvidosa correlação para justificar a alternância  oposição governo pois considera que quem é bom a criticar e mostrar erros é bom a criar  e mostrar soluções, todavia são destrezas diferentes.

Esta FakeTruth tem uma versão caricata que é "quem apresenta uma critica ou um problema deve também apresentar a solução"*. É uma afirmação interessante porque todos nós vamos ao médico para apresentar problemas e ninguém leva solução.

*- Esta foi uma das criticas feitas à Greta Thunberg mas dizendo que compreendem porque ela ainda é adolescente.

No sistema adversário, a oposição procura ERROS, desequilíbrios e fissuras e o governo procura ÊXITOS, equilíbrios e colaborações e tudo se agrava porque:

- mostrar um erro não significa tudo errado e mostrar um êxito não significa tudo certo;
- mostrar o erro não faz a solução e mostrar a solução não tira o erro.

Problemas complexos não se podem solucionar com lógicas avulsas, têm que ter lógicas por medida e neste caso há duas lógicas a integrar. 
Numa, o líder da oposição tem a função de opor-se, portanto, é perito em lutas de ataque-defesa e descoberta de erros. 
Na outra, o líder do governo tem a função de agregar pessoas, meios e acções, portanto, é perito em colaboração e construção de projectos.

Os dois critérios de liderança são diferentes e talvez até antagónicos.

O "Westminster system" com o seu sistema adversário para alternância governo-oposição traz bugs às duas lógicas, pois o líder da oposição é um fighter e o lider do governo é um designer*, portanto, com destrezas, competência e funções diferentes.
Talvez nas Assembleias Democráticas a discussão de adversários tenha que passar a diálogo de cúmplices**.

* - Peter M. Senge [The fifth discipline] pg 318
** - Perante o filho doente, pai e mãe não são adversários em discussão, são cúmplices em diálogo.

Como conclusão, peneirar erros talvez ajude mas não resolve, não chega, pois o objectivo de diálogo em Democracia não é peneirar erros, ser ANTI, mas sim criar soluções, ser PRÓ. Quando isso acontece, o termómetro votação indicará se há (ou não) saúde democrática.

Se não houver saúde democrática, surgem "doenças" (absentismo, populismo, fanatismo, insegurança, etc). Um sintoma avisador, bom para uma pré-selecção, é a relação (desequilibrada ou equilibrada) entre propostas "anti", tipo chega disto, chega daquilo, chega daqueloutro, e propostas "pro" do tipo começa isto, começa aquilo, começa aqueloutro.

... foi eleito...mas...

Por ter sido democraticamente eleito não é por esse facto que adquiriu imunidade ao erro, ficando com a sabedoria "divina" instalada ou, de um modo simples, foi democraticamente eleito, pode decidir mas pode estar errado.

O argumento "foi eleito, decidiu, em democracia tem que se aceitar" é uma FakeTruth.

A própria Democracia contem seguranças contra esta FakeTruth e existem variantes consoante os países e a situação [impeachment, moção censura, cassação, recall, etc].

Ser eleito significa legalidade democrática para tomar decisões mas isso não implica legalidade democrática para todo e qualquer conteúdo dessa decisão. Por exemplo,

"...fui democraticamente eleito, portanto, 
decido que sou vitalício e acabaram-se as eleições..."

não é uma decisão democrática.

A democracia contém alternativas de processos politico/criminais de perda de confiança, desacreditamento, obrigação de renúncia, etc, devido a decisões tomadas que, no mínimo, pode pôr fim ao mandato.
Trump (USA) foi democraticamente eleito mas, quer validado ou invalidado, o processo impeachment já foi detonado por decisões efectuadas:

... liberdade de expressão...mas...
...a liberdade de cada um acaba
onde começa o nariz do outro!

Entender a liberdade de expressão como um princípio absoluto é uma FakeTruth. Não pode ser retirado mas também a sua aplicação não pode ser às cegas.

Na verdade, liberdade de expressão é um faca de dois gumes, pois contem duas liberdades e várias varáveis. Por um lado significa a liberdade de emitir unida à liberdade de receber. Estas duas liberdades (da expressão e da recusa expressiva) não podem colidir, isto é, uma não pode sobrepor-se à outra.

Tem liberdade de expressão mas o outro
tem liberdade de recusa expressiva 

Liberdade de expressão, como principio inalienável, é inseparável de seus elementos constituintes: receptor, conteúdo, forma, situação. etc. Exemplos:

Réu: Como liberdade de expressão do meu amor, dei-lhe uma flor!!!
Queixosa: Atirou-me um cacto e vinha com vaso!!

Queixoso: Ela deu-me um estalo!
Ré: Foi liberdade de expressão do meu amor!

Queixosa: Ele estava todo nú!
Réu: Foi liberdade de expressão... estava numa praia de nudistas!

Réu: Estar nú é minha liberdade de expressão corporal!
Queixosa: Ele estava num cinema em Lisboa!

Réu: Usei a liberdade de expressão do meu amor: palavras, beijos, festas, sexo
Queixosa: A minha liberdade foi recusar todas.

A linguagem, como centro de expressão está intimamente conectada com a cultura instalada, não só nas palavras usadas como nas formas não-verbais desde o tom de voz, intensidade, gestos, etc, até à própria situação.

A cultura instalada pode recusar certa linguagem e o estranho não tem o direito de impor a sua "liberdade de expressão" e mutilar a liberdade de recusa expressiva do outro.
O representante de uma cultura instalada pode recusar certas palavras por estarem fora dos limites culturais aceites nessa cultura.

Neste caso, esse impedimento não é limitar a liberdade de expressão, antes pelo contrário é facilitar a liberdade de expressão.
Um novato numa cultura só pode agradecer essas limitações pois dão-lhe a conhecer a "gíria" para obter eficácia na sua liberdade de expressão pois "tudo pode ser dito só depende das palavras".  Não o aceitar ou é falta de discernimento ou de flexibilidade ou apenas "to be rude" (grosseiro).
Exemplo, o uso das palavras "Colored", "Negro", "Black"  e "African American" nos USA.

Mas liberdade de expressão é mais vasta do que apenas a comunicação verbal, abrange toda a comunicação expressiva desde comportamento e gestos a vestuários e rituais.

Uma experiência pessoal.
No Japão se escolher um hotel Ocidental, expressa-se usando sapatos, porém se escolher um Ryocan (hospedaria tradicional japonesa) isso não é possível. Logo na entrada é preciso descalçar ou desistir e mudar-se para um hotel ocidental.

Estando em Kioto hospedado num Ryocan, um dia à noite, cheguei completamente encharcado, descalcei-me à entrada e com sapatos na mão quis subir para o quarto para os secar no aquecedor.

Não consegui porque não me deixaram. Não falando japonês e a senhora japonesa não falando inglês, foi um debate gestual interessante entre representar que "não ia calçado era só secar" e a contra-representação de "desculpe mas sapatos não entram".

Entendemo-nos, os sapatos ficaram lá e fui para o quarto. No dia seguinte ao sair, eles estavam no local costumado, secos e limpos acompanhados por umas capas de plásticos que se vestiam por cima quando chovia.

Não tínhamos sido adversários apenas cúmplices integrando as diferentes culturas.

Término

Nasci e vivi no tempo da ditadura, num país de inimigos políticos e adversários políticos.
Vivi épocas de sua "saúde(?!?)", doença terminal, morte e posterior sobrevivência de adversários políticos.
Assisti ao nascimento e instalação da Democracia Parlamentar com sua alternativa cíclica de vitoriosos, chamados governo, e derrotados, chamados oposição

As eleições decorriam entre coktails de propostas Anti e propostas Pró's e a estratégia era básica, clássica e fruta-da-época: "...a motivação cria-se tendo um inimigo".

Tempo passou, os adversários continuam a adversar-se (latim: adversāri, opor-se) e os espectadores a espectar (ver sem participar)... os primeiros (e seus adeptos) lutam e os segundos ficam absentistas.

Gostava de morrer deixando aos meus netos um país, não de adversários políticos, mas de cúmplices políticos.
Será possível re-pensar o "Westminster system" do século XIX agora com a mutação social das redes sociais do séc XXI???

Não sei, mas é tempo de acabar com adversários políticos divididos entre vitoriosos e derrotados, e nascerem aliados políticos a integrar diferenças e co-responsáveis no futuro em aproximação.
Talvez os absenteístas desapareçam... tenho esperança nas novas gerações.


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Lágrimas de jacaré, Descartes e Brexit-Boris

(foto Frans de Waal)
No pensar, as ideias são como as cerejas [...puxa-se uma e muitas outras vêm atrás]. Desde que vi esta foto, ela não me larga, é uma espécie de pedra no sapato a incomodar-me e a arrastar outros incómodos. 

Sinto que o jacaré a trepar na rede tem algo escondido, mesclado com o "penso logo existo" do René Descartes, não por errado mas por distorcer compreensões.

O René me perdoe... mas realmente pensar não chega para existir. Na verdade, quem pensa parvoíces não significa que existe(*), i.é, "quanto mais parvoíces pensas mais existes" não me parece ser um corolário do pensar de Descartes. Anda por aqui um bug à solta.
(*) - Na política é possível, principalmente, se as  parvoíces que se disser os outros gostarem de ouvir.

A frase do Descartes deveria ter a sequência inversa "existo logo penso" pois não é o pensar que valida a existência mas a existência que valida o pensar(*).
(*) - O paradigma causa-consequência da Física Newtoniana na Fisica Quântica coexiste com o seu "gémeo" consequência-causa.


Por outro lado, a frase "penso logo existo" está ao estilo slogan, curta e memorável logo insuficiente, porém ao estilo auto-suficiente deveria especificar, por ex., dizendo "penso com a minha cabeça logo existo". 

Realmente, vê-se por aí muita gente a pensar com a cabeça do outro, é um estilo que se usa e abusa, por ex, obrigando à disciplina partidária. Esta alternativa obriga a pensar com a voz do dono (his Master voice) para criar unidade fictícia(*) com cópias standartizadas (clonagem mental??) em vez de originais não abúlicos.

(*) - Numa catástrofe todos ajudam e não há disciplina partidária. Sem disciplina partidária, a unidade consegue-se por cada um pensar com sua cabeça e sincronizarem-se. Líder é aquele que fomenta o sincronismo, ele surge e desaparece naturalmente sem campanhas nem eleições.

A base da disciplina partidária é obrigar a pensar com a cabeça do líder e não com a sua. Confunde-se obter unidade por obrigação (prisão) com obter unidade por adesão (liberdade)(*).

 (*) - Ou seja, pensar com a sua cabeça a mesma ideia que o líder pensa com a dele (cumplicidade*).


Explicitando, 
se os deputados pensarem com a sua cabeça (contrária à do líder) ficam a existir mas também, exactamente, por isso deixam de existir... são  expulsos.

A situação é estranha pois é uma espécie de sobreposição de Estados da Quântica em que o deputado por  pensar "existe como deputado do partido"(*) e ao mesmo tempo "deixa de existir como deputado do partido".

(*) - Se não pensam por si, não são deputados são apenas "bonecos certificados" pelo líder. Neste caso era mais "elegante" (gentleman??) só os lideres estarem presentes com procurações assinadas e legalizadas e os outros deputados irem passear com a família.

Numa palavra, é um dilema cujo antagonismo não tem solução e aqui talvez Shakespear dissesse "To be  AND not to be is the question" ao estilo da Quântica.

Para evitar este estranho e democrático quid pro quo poder-se-ia inverter a sequência da frase cartesiana e afirmar "existo logo penso" e então procurar solução a partir dele.  Foi esta a tentativa feita com a foto do jacaré.

O jacaré

Em simplex, as alternativas causa-consequência são:

A - "o jacaré pensa logo existe no cimo da rede" ou 
B - "o jacaré existe no cimo da rede logo pensa";

A diferença é que a primeira frase [A] é ambígua devido a ter causa indefinida, pois "pensa"... mas pensa o quê? Parvoíces? Macaqueia o pensar de outro? Vocaliza slogans por obediência? Decora sem sentido? etc.

Em contraste, a segunda frase [B] apresenta uma causa definida e concreta, i.é, existe cimo da rede.  Aliás esta é a lógica do pensamento científico. Porém, ele pode caminhar por dois trilhos diferentes, como, por ex., o Newton e o Einstein.

Em Newton, primeiro existe o evento e só depois surge o pensar significativo que o justifica. Quando ambos se harmonizam o evento passa a prova científica do pensar sobre ele.
Em Einstein (Teoria da Relatividade) ele faz o caminho inverso. Primeiro pensa a teoria (1915) e depois surge o evento (1919) apresentado então como prova científica do pensar.

Os dois processos, apesar de usarem sequências diferentes têm o mesmo factor gerador que é uma importante e indispensável "simbiose" de admiração e curiosidade.

Newton com nitida admiração e curiosidade
Durante milhares de anos, existiram milhões de maçãs a caírem por todo o lado, ninguém se preocupou e nunca passaram de simples e banal acidente.
No séc XVII a habitual queda da maçã incomodou Newton cuja admiração e curiosidade o fez entrar na História. 

O processo foi simples ele, curioso e admirado com o facto dela cair-para-baixo e não cair-para-cima, começou a pensar e descobriu a gravidade.
Ao unir os dois factos "realidade+pensamento" transformou a habitual queda da maçã em facto histórico na recém-nascida prova científica (1666) da gravidade.

Hoje, se um copo cai no chão e um balão sobe, ninguém se admira e por rotina pensam (se pensarem) que foi a gravidade. Só as crianças sentem ainda espanto de um cair e outro subir e perguntam porquê.

Ontem, o espanto foi meu. Uma criança de 4 anos, admirada, perguntou como é que a lua anda no céu se não tem pernas. A pergunta "científica" estava lá escondida no pedido de resposta(*).

(*) - Pergunta interessante pois iria encontrar a lei da gravitação universal (1687).

Sinto-me feliz por as crianças continuarem na vida como guardiões da curiosidade e da admiração e infeliz por os adultos perderem tudo isso nas certezas rotinadas do quotidiano.
Cada vez mais cedo, para os adultos o pôr-do-sol é apenas a certeza de já ser noite e só existe vivo se "matado" em fotografias e pinturas [...não tenho tempo para a minha filha mas em casa passo horas a ver fotografias...].

Ao mostrar um avião no céu espanto-me como as pessoas ficam impávidas e serenas e "explicam-no" sem admiração nem curiosidade com "... são descobertas da Ciência!!".
Na verdade  a "descobertas da Ciência" explica nicles e esconde o importante.

Entre a idade Média e hoje, muitas pessoas caminharam na imaginação e na curiosidade de pesquisar o voar com esforço e prazer e sem êxito.
Depois de esmiuçar o mais-leve-do-que-o-ar deram uma "cambalhota mental" e alguns loucos sem juízo começaram a esgravatar no mais-pesado-do-que-o-ar.

Adorava falar com estes primeiros "loucos" do mais-pesado-do-que-o-ar e saber o que, naquela época, lhes fez saltar os neurónios e aderir ao ilógico de subir por ser mais pesado.
Os deuses me ajudem, mas ver um avião é ver um "pacote" de curiosidades e admirações vividas, morridas  e revividas ao longo de séculos entre fracassos e êxitos e corporizadas, hoje, nesse avião lá no céu.

Em 6 de maio de 1896, Langley construiu o primeiro protótipo de aeronave mais pesada do que o ar. Então neste dia, houve prova científica que avião existe logo humano pensa se impulsionado por imaginação e curiosidade.

Repare-se no ar de expectativa e curiosidade
O jacaré parece ser um caso semelhante pois se existe (sobre a vedaçãologo pensa impulsionado por sua imaginação e curiosidade. Não creio que o jacaré o fez por instinto instalado no ADN pois seus antepassados não amarinhavam redes verticais e iam para o topo como comportamento vulgar.

Se pensarmos nas suas motivações de instintos básicos tais como sexo e comer, não creio que aqui funcione. Na verdade do outro lado da rede não existe UMA jacaré que atraia e o factor alimentação não é activado com ervas.

A hipótese obediência também pode ser excluída. A dependência do estilo manadas não é hábito da sua espécie nem ao pé dele existe um chefe-jacaré a dar ordens. A alternativa é o jacaré ser um independente, autónomo e motivado por projecto pessoal de subir a rede.

Ser independente e autónomo não levanta questões especiais, vide gatos independentes e autónomos por pré-programações no ADN, mas o projecto pessoal despertou a minha curiosidade e admiração: Porquê subir a rede vertical? Para quê?

Normalmente, uma mudança de comportamento reflecte um padrão instituído que integra informações do contexto num resultado pré-determinado. Um exemplo interessante são os corvos japoneses que constroem ninhos com cabides de metal, inovando assim o material de construção:


Então no caso do jacaré a pergunta a fazer seria saber qual o resultado pré-determinado no ADN e perseguido com a subida da rede. A resposta não é fácil.
A fotografia mostra um vazio quase igual de um e de outro lado da rede e só com duas pequenas diferenças. Do lado de lá (para onde quer ir) há uma floresta, de lado de cá (de onde quer sair) a relva está tratada.

Só resta fazer conjeturas.

O lado de cá tem relva tratada, é limitado por rede alta e vertical o que parece significar uma prisão VIP para jacaré. O lado de lá apresenta terreno maltratado e limitado por floresta o que pode significar ausência de "obrigações" e de controlos, portanto, possibilidade de autonomia e livre-decisões para o jacaré.

Nesta mesma situação, um gato escolheria subir pelos buracos da rede, saltar lá de cima para o chão e fugir. Simplesmente, o ADN, instintos e agilidade do jacaré põem esta solução fora de jogo. Subir será inovador mas saltar será suicídio.

O corpo do jacaré tem a flexibilidade de um tábua de engomar. Coitado do jacaré deve ser-lhe impossível dobrar o corpo como um gato e apoiar as patas de trás de um lado da rede e as patas da frente no outro lado.



Deste modo o ponto critico do jacaré centra-se na questão "passar para o outro lado". É possível ou não?

Na prática, passar a porta de uma casa pode ser para sair de casa fugindo da zaragata que lá está ou pode ser para entrar na rua correndo para a festa que lá existe. Talvez, por sorte, fazer os dois em simultâneo.

No caso do jacaré o ponto critico são os dois em simultâneo, i.é, sair da prisão e entrar na liberdade.

Portanto a questão é "conseguiu subir mas como sairá de lá?". Poderá no topo baloiçar" o corpo e cair para o outro lado?

Parece-me ser uma "missão impossível" tipo filmes Tom Cruise!

Conclusões sobre a fotografia

1 - Faltam fotografias do resto da história referentes ao "depois de estar lá em cima" mas logicamente pressente-se que o fim é triste.


2 - O jacaré ao subir a rede na vertical tem um comportamento inovador e moderno pois nos velhos tempos da pré-História não havia redes verticais para trepar logo teve que "inventar", daí o interesse da fotografia de Frans de Waal.

3 - Ao contrário dos corvos japoneses com seus ninhos de cabides metálicos, neste caso não parece existir padrão  instintivo prévio com o resultado a alcançar.

4 - Nos corvos japoneses a "exigência" de ninho pelos instintos base de alimentar e reproduzir, no jacaré não estão activos.

5 - Portanto, não sei se o cartesiano pensa-logo-existe é aplicável mas o existe-logo-pensa tem utilidade.
Na verdade, se ele está (existe) no cimo da rede logo decidiu subir, logo pensa utilizando informações do contexto sem ser por decisão cega-automática instintiva.

6 - Em resumo, o jacaré no topo da vedação existe logo pensa... mas pensa o quê?

7 - Considerando o paradigma existencialista(?!) de "o homem e sua circunstância" pode dizer-se que "o jacaré e sua circunstância" é um pensar do tipo abstracto e não concreto.
Ou seja, não se foca em resultados a obter, tipo comida, luta, fuga, etc, mas em ideias, princípios, sonhos... tipo sair daqui, ir para acolá, etc, energizados por "feelings" (estados emotivos) de não quero estar aqui.

Por analogia, é como se, para o jacaré, esta prisão de rede fosse uma espécie de muro de Berlim ou obrigações da disciplina partidária,.

Pessoalmente,

quando vi a fotografia de Frans de Waal fiquei contente pois sair-de-caixas instintivas ou culturais sempre me alegrou. 
A curiosidade e a imaginação são o sal da vida e penso que são inevitáveis e imprescindíveis apesar dos comentários negativos que andam por aí sobre a Eva, a maçã e a sua curiosidade(*).

(*) PS - E também inveja por não ser o homem a dar a trincadela na maçã e aprender o que a Eva aprendeu.

Todavia sentia que algo estava errado, faltava o resto da história e isso provocava-me insónias positivas(*).
(*) - Quando não durmo, o sono foge e fico a pensar e escrever no sossego. Depois durmo quando me apetece como fazem cães e gatos (espertalhões).

Em termos lógicos, o resto da história parece ser o coitado do jacaré ter desistido de dobrar o corpo para passar para o outro lado e abandonado o sonho. Como consequência apoiou-se na cauda ainda no chão, escorregou para baixo e regressou ao inicio, à prisão.
Resta-lhe agora, dentro da prisão, olhar triste pelos buracos da rede... e sonhar com o andar em liberdade.

Os carcereiros ganharam!!!

PS - Afinal às vezes, lágrimas de crocodilo (Otelo, Shakespear) são verdadeiras!!!


segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Teste (?) "só pra espertos", ou talvez não


Como ponto de partida do turismo mental "Teste... ou talvez não!", considere-se um contínuo evolutivo em que as quatro etapas possuem graus intermédios (fraco, médio, superior):

em função da sua capacidade de leitura, i.é, de ser capaz de [...usar os significados obtidos através dos símbolos escritos (letras)...]. Assim:

1 - analfabeto - ser incapaz de traduzir e obter significados dos escritos pois para ele as letras são apenas riscos num papel;

2 - alfabeto - ser capaz de traduzir e perceber os significados expressos pelos escritos;
Alfabetizado-fraco lê mas não percebe frases complicadas. Por ex., lê bem a "Cartilha de João de Deus" mas não consegue ler frases grandes e com relações abstractas. O alfabetizado-superior consegue.

3 - letrado - ser capaz de traduzir e perceber significados concretos (ex., vaca, pombo, etc) e abstractos (ex., circunstância,  estrutura, etc) dos escritos e perceber significados das suas relações, i.é, frases (ex., as estruturas ósseas da vaca e do pombo não são iguais).

Os graus de letrado variam desde fraco a superior consoante a capacidade de uso da quantidade/qualidade dos significados percebidos e suas relações (frases).

4 - leitor - é um letrado mas com maior velocidade e capacidade de manipulação de significados e suas conexões quer quantitativas-qualitativas quer concretas e/ou abstractas. Normalmente tem métodos de leitura aperfeiçoados.

Letrados (médios, superiores) e leitores (fracos, médios, superiores) usam modos de ler mais eficazes, em particular diferem na focalização da atenção "esquecendo" letras, sílabas e até algumas palavras para se focar em certas palavras (skimming), grupos de palavras, parágrafos e páginas.

A variedade é grande desde o velho B-A-BA do soletrar, passando pelo Paulo Freire e outros, e chegando ao PhotoReading e ao (discutível?) HadoReading japonês[1]
Os "olhares" também variam, desde o velho deslizar horizontal ao longo das linhas até à visão global desfocada (fora do foco e dentro da profundidade de campo[2]), passando pela leitura em diagonal, em vertical (colunas de jornal) e selectiva (skimming), o ler adquiriu velocidades novas obrigando a escrita também a evoluir.  

[1] - "The Healing Power of Hado", Toyoko Matsuzaki (123 pag); "Drawing Out the Genius in Children-HadoReading", Ruiko Henmi e Hirotada Henri, (50 pag).
[2] - Estilo ver imagens 3D em desenhos 2D, ex., "Magic eye, a New way of looking at the world", N.E. Thing Enterprises.

É interessante ver a diferença entre um romance do passado, dos séc. XIX e XX, e um publicado agora. 
Comparando, por ex., Eça de Queiroz, Proust, etc, com os habituais parágrafos de meia página (ou mais?), e o recente 6º volume da saga Millennium (Ed. D. Quixote) com suas 380 páginas, agora com elevada percentagem de frases curtas, parágrafos pequenos e capítulos de estrutura reduzida, oferecendo referenciais de compreensão fáceis, a diferença é clara. Existem condições para leitura rápida o que seria dificil com parágrafos de página inteira ou mais.

Por experiência pessoal, sendo um leitor médio (por testes feitos), foi possível ler calmamente o 6º volume da saga Millennium (380 páginas) saboreando toda a história numa tarde e numa manhã (5 horas).


A - Fase analfabeto

Num analfabeto-medio, os olhos e o córtex saltitam de letra para letra construindo sílabas que procuram agregar entre si criando palavras e pesquisando seu significado.
Nesta fase é interessante às vezes vocalizarem a palavra lida mas não a reconhecerem apesar de a usar na linguagem normal. 
Em voz alta dizem várias vezes essa palavra desconhecida e, de repente, há um click mental e reconhecem-na como conhecida e habitual. Sempre fiquei feliz ao ver o seu espanto e a sua alegria, crianças chegam a bater palmas e adultos admiram-se por não terem percebido logo.
Exemplo:

Depois juntam palavras e constroem a frase que poderá "obrigar" (ou não) a alterar prévios significados para obter o significado global.  Dois exemplos:

porém:

que para um analfabeto-médio não fará qualquer sentido com o seu "fazer pedaços de casa". Realmente ler as letras não é ler, pois ler sem mergulhar no significado não é ler... é papaguear. 

Saber ler não é saber traduzir as letras em sons e em palavras, mas sim é saber "caçar" significados e criar ideia significativa

Isto significa que ler rápido não é ser rápido a traduzir a sequência de letras em palavras mas ser rápido a integrar os significados que elas trazem consigo e harmonizá-los compreensívelmente (Ver exemplo a seguir).

B - Fase alfabeto

Nesta fase os olhos saltam de palavra para palavra e integram os seus significados sem ter consciência das letras e das sílabas envolvidas, a leitura torna-se mais rápida. Exemplo:
Aqui a frase é clara e óbvia mas se usarmos a outra frase alternativa o jogo de significados fica com um bug pois casa não se parte:
Neste caso, um alfabetizado-fraco não percebe a leitura e conclui que partiu deve ter outro sentido e procura entender. Apoiado (ou não) acabará por "automatizar" ideia de saiu de casa.

A sua capacidade de leitura aumentou pois a palavra ficou agora com uma dupla ligação, alternativa (double bind) no significado e de futuro precisará ser decidida a escolha, pois [...ler são contínuas e constantes decisões no mundo dos significados...] e, paradoxalmente, quanto mais automáticas e não conscientes são as decisões mais consciente é a leitura.

PS - Ensinar a ler por robotização, matando e enfraquecendo as tomadas de decisão, é criar um alfabetizado com ódio à leitura. Ler é um jogo de descobrir (decidir) o que aqueles riscos significam e ter prazer e alegria em fazê-lo e o robotizado foi disso castrado.
O dilema social e educativo de pais e professores é que se "odeiam" a leitura "odeiam" os que leêm e querem ler... o argumento é velho "os livros destroiem a comunicação entre as pessoas"... e já agora o dormir também.

Em conclusão,
ler e dizer "partiu" não chega tem que se passar a outro nível. O cerne da questão não é vocalizar (física ou mental) o escrito partiu mas sim obter o seu significado.

O universo da leitura não é tradução de escritos é uma dança de significados nas ideias detonadas. Ensinar a ler é mais do que ensinar a traduzir os sinais escritos, é mergulhar nos significados e "nadar" no fluir de ideias que arrastam.

Ensinar uma criança a ler não é torná-la um papagaio reprodutor de sinais escritos, é dar-lhe a alegria de descobrir e [viver na imaginação] a "história" que por lá está escondida.
O diagnóstico é simples, basta parar, esperar ...e ela vai querer saber o resto da "história", i.é, o resto da leitura. Ensinar a ler não é empurrar para as palavras, é ajudá-la a perseguir o que as palavras escondem.

Versos, canções, poesias não são a habilidade de ritmar (sincopar) vocalizações, são a criação de uma "sinfonia" significativa e harmoniosa de significados através do "ballet" das palavras.

Um estrangeiro alfabetizado mas analfabeto em português (falado e escrito) terá este problema de entender a palavra partiu.
PS - Este é o problema das traduções. Num hotel em Londres deram-me um mapa da cidade traduzido para português e, na capa, a morada do Hotel era Quadrado Russell, nº?? (Russell Square). Achei uma informação interessante e lógica porque a praça realmente é um quadrado.

Quanto mais fôr alfabetizado mais a mudança de significado é automática e inconsciente. No exemplo "partiu de casa" o fez em pedaços nem surge na consciência, tudo se passa em automático.

C - Fase letrado

Se for um letrado que continua a ler o resto da frase,


por exigência das palavras seguintes, o significado de partiu, automáticamente, será percebido como fazer em pedaços e não como saiu.

A um letrado 9 "olhadelas" rápidas serão suficientes para fixar o significado correcto. Porém, um alfabeto-fraco precisará de olhar lentamente, e uma-por-uma, as 13 sílabas, agrupá-las em palavras e depois agrupar as palavras numa frase e, só então, poderá decidir que partir é fazer em pedaços e não sair.

D - Fase leitor

Por outro fim, um leitor e um letrado-superior capacitados para leitura de grupo-de-palavras, têm um processo ainda mais rápido pois em 3 rápidas olhadelas constroem o sentido:
Em conclusão,

um leitor treinado lê grupos de palavras enquanto um semi-alfabeto lê silabas e um letrado mediano lê palavras.
Portanto há maior probabilidade de um letrado ou leitor treinados terem dificuldade em detectar o errro por atenção desviada de detalhes assumidos e desprezados operacionalmente (perception blindness).

Pelo contrário um semi-alfabeto concentrado em sílabas ou palavras encontrará facilmente o errro em alguns segundos, dependendo da sua velocidade de leitura, considerando que a palavra errada está no fim da frase.

Como exemplo, os jornais com o seu design por colunas facilitam a leitura por linha e de "cima para baixo". O olhar "salta" do meio de uma linha para o meio da linha seguinte:
Sobre o teste
A apresentação do teste foi construída para "ajudar"😇😇😇 os letrados e os leitores treinados a lerem rápido através de duas "ajudas", o design e a escrita. 
Deste modo o errro sofreria de atenção desviada dos detalhes assumidos o que com leitura clássica não sucederia.
Quem não utilizasse leitura rápida, apesar do design proposto, teria maior facilidade na detecção do erro.

1 - Design
Comparando o design utilizado com uma possível alternativa de escrita clássica, ter-se-ia:


Parece claro que, por várias razões gráficas, a alternativa clássica faz o erro "gritar"... Estou aqui!!!
Além doutros factores, pelo menos a proximidade da solução ao problema-isco "errro:123456789" faz com que se olhar os números estará estar sempre a ver o erro.

2 - Escrita
Como óbvio o erro é a existência de um "r" a mais, e a questão é: - Como escondê-lo?

Como diz o aforismo, "A maneira simples de esconder um elefante é metê-lo no meio da manada", também a maneira simples para esconder o "r" é metê-lo no meio de "r"s.
Assim, reduzindo o espaço entre as letras, há várias hipóteses:


Conclusão,

Testes?? Sim, sim,... pois, pois,...

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

"Obedecer?"... humanos, animais e calhaus.

Ninguém se espanta que humanos domestiquem animais.

Este hábito de domesticar  (fazer obedecer) tem milhares de anos e grande variedade mas evoluiu pouco, resume-se a "- Eu digo e tu fazes!"
Em consequência é vulgar que humanos também domestiquem humanos pois afinal é tudo animal quer seja animal humano ou só animal.
Simplesmente, nos animais humanos a domesticação tem outro nome chama-se educação ou instrução,


com diversas finalidades, desde autoridade e disciplina até destreza laboral, comportamento social, missionação cultural, etc, e ás vezes até produzir mão-de-obra domesticada (escravatura) mas, na sua essência, a técnica é simples e constante, é só aplicar a dupla "Eu mando... tu obedeces".

O eixo da confusão está em que educar e domesticar não é o mesmo. O dilema é que, na prática, sente-se diferença mas por "escassez cultural" não se percebe o quê, nem no método nem no resultado.
Não se distingue se o processo é educar ou domesticar e se o resultado é destrutivo ou construtivo. Apenas se considera domesticar se é aplicado a animais ou educar se aplicado a pessoas.

Como ex., muitos pais educam filhos com técnicas de obediência autoritária de estilo militarizado, ficando inconscientes das sementes de domesticação que estão a semear.

Parafraseando o ditado, poder-se-á dizer "o que semeares como educador, assim serão os teus educados" mas o cerne da questão não são os conteúdos veiculados mas sim as formas utilizadas.
Não é uma questão de "O QUÊ" (What) mas de "COMO" (How). Em educação a forma canibaliza o conteúdo.
Quando dois irmãos se agridem e os pais ao estalo conseguem que isso acabe,  o que ensinam não é o conteúdo "não agressão" mas sim a forma "sim agressão" pois nitidamente mostraram que o estalo resolveu o problema. Assim os futuros adultos serão portadores do padrão ensinado "violência" como solução a utilizar na família (violência doméstica) e sociedade (violência social).

Há relatos de casos extremos de filhos cujos pais com profissões autoritárias aplicam em casa as submissões feitas/sofridas no trabalho. Nos relatos é clara a inconsciência desses pais com os efeitos produzidos nas crianças, adolescentes e adultos.
(ver Frantz Fanon, psiquiatra).

O educar desliza naturalmente para domesticar... por ignorância, por indiferença (smugshrug), pois é simples, fácil e aparentemente dá resultado. Problemas?... depois se vê, entretanto aplica-se a filhos, alunos, cônjuge, amigos e até a simples conhecidos.
Muitas vezes na TV, em simples conversas democráticas, o método utilizado é "...ora agora domestico eu... ora agora domesticas tu...".

Para existir domesticação e/ou educação, a essência de ambos é exactamente a mesma quer seja em animais quer em humanos.

A essência do domesticar

Por ex, cavalos selvagens não puxam carroças mas cavalos domesticados fazem-no. Para o fazer têm que adquirir decisões novas tais como estar preso à carroça e puxá-la se é estimulado por rédeas, chicote ou berros.
O interessante é que anteriormente essas decisões não existiam, mas agora existem e coexistem com outras. Mas o processo é mais complexo.

Na verdade, para ser bem domesticado não basta ter aprendido novas decisões. Elas não podem coexistir com outras, assim, essas outras têm que ser destruídas e ele tem que ser "impotente" para tomar decisões. Por segurança e garantia ele tem que ser tornado impotente para decidir, um abúlico ou eterno indeciso.

Numa palavra, tem que ser um obediente puro, i.é., só cumpre e como vida interior tem nicles. Não pode ter autonomia, a sua obediência tem que ser total, por ex, o cavalo domesticado não pode de repente decidir correr atrás da manada com a carroça atrás.

Em resumo, domesticar exige:
1 - inserir decisões novas;
2 - destruir decisões antigas;
3 - criar impotência decisória;
4 - inserir estímulos detonadores(1) das novas decisões.
(1) - reflexos enxertados, vide Pavlov e outros.

Domesticar exige que o domesticado possa APRENDER para adquirir informação nova e possa DES-APRENDER informação indesejável. A vida interior (seja lá o que isso for) só deve ter o mínimo necessário para as aprendizagens e desaprendizagens necessárias.
Tecnicamente, o cavalo passou de selvagem com vida interior a domesticado com a saudade na alma:


Com os humanos acontece o mesmo.
A Maria na aldeia saudava os amigos com um aceno de mão mas no quartel adquiriu outro estilo, agora aponta com a mão prá cabeça e chama-lhe continência.
Em resumo:
1 - inseriu decisões novas;
2 - destruiu (faz continência aos amigos)
     ou mantém  também decisões antigas;
3 - criou impotência decisória
     ou mantém áreas de decisões extra;
4 - inseriu estímulos detonadores das novas decisões ou
     confunde detonadores ( faz continência ao porteiro do hotel, fardado e com galões).

A questão é simples, até que ponto a recruta sofrida "destrói a vida interior e robotiza"?

PS - Há vários filmes sobre recrutas militares e a intensidade desta "destruição" apresentando prós e contras e dramas resultantes.

É óbvio que a intensidade destes processos varia em função das características da dupla "participantes-situação" e, apesar disso ser comum aos animais e aos humanos, as potencialidades são diferentes.  Domesticar um humano para puxar carroças é mais fácil do que pôr um cavalo a cantar:


No dia-a-dia todos sabem educar crianças, isto é, alterar os seus comportamentos, mas só alguns o fazem com leões, tigres e até gatos. Não é um problema de dificuldade, é um problema de perigosidade na introjecção de decisões estranhas (domesticação).

Se a criança tirar a banana ao adulto é instintivo este zangar-se, mas se um gorila lha rouba o instinto do adulto altera-se, com um sorriso oferece-lhe o cacho inteiro. O instintivo é um fenómeno complexo e com muitas caras.

De qualquer modo, 'in brevis', domesticar animais e humanos é sempre um processo de ensino-versus-aprendizagem, ou seja, é incorporar algo novo na vida interior do domesticado (mente, consciência, neurónios, etc, seja lá o que for). Domesticável sem vida interior não é domesticável:
domesticar humanos
domesticar animais
calhau não domesticável
Na verdade, todos sabemos que não se domestica calhaus porque sem vida interior não é possível domesticar pois não aprende.
Assim, todos sabemos que animais são domesticáveis, logo aprendem, logo evoluem, logo têm "mundo interior", mas...


admiramos, esquecemos, recusamos, recalcamos e concluímos "são bichos, são coisas andantes...".

Nas touradas, os humanos divertem-se como o sofrimento do touro (é um espectáculo agradável) mas choram se o gato ou cão lá de casa é atropelado e correm para o veterinário (é um drama doloroso).
O animal humano é um amontoado inconsciente e feliz de contradições (ver David Hume, sec XVIII).

Mandar-obedecer e domesticação

Esta dupla resume-se à cirurgia mental de substituir decisões no comandado. Seja o que for que ele possua na sua "vida interiorela tem que existir activa pois morto ou em coma não serve, decisões têm que ser criadas e decisões têm que ser anuladas.

Esta substituição pode ser operada por dois processos distintos e de resultados opostos.
A - um potencia e operacionaliza a capacidade de decisão (é positivo);
B - o outro estraga e destrói essa capacidade (é negativo).

As ditaduras e, de um modo geral, os autoritarismos usam o estilo [B], fomentam a destruição do decidir com o treino de "não está aqui para pensar, está para fazer" usado nas recrutas e quejandos. O objectivo é criar obedientes a 100% que facilitem a função do mandar.

Pelo contrário, as democracias e, de um modo geral, as autonomias participadas usam o estilo [A], fomentam criar e potenciar decisores. Por democracias não se inclui as democracias travesti com seus cidadãos obedientes-mascarados-de-decisores. 
(ver Blog "Varrer os bugs da Democracia")

PS - Não confundir obedecer com optar-por-decisão-proposta e não confundir propor com mandar
Por analogia, é o mesmo que confundir relação-de-amor com violação mesmo quando legalizada por casamento. Como "teste", qual é a diferença entre making love e doing love que traduzindo surge fazer amor e fazer amor (😂😂😂).

EXEMPLO       
O meu cão, ainda cachorro, habituado a comida recusava-se a comer ração. Cheirava, cheirava e tomava a decisão "não como".
O meu problema era simples, era só substituir decisões, tirar o "não quero comer" e instalar o "quero comer".  Uma simples cirurgia psy, i.é., uma simples troca na vida interior do meu cão. Como fazer?
Falando com o veterinário, ele riu-se e disse:
- É fácil, dois dias sem comer e verá que come logo qualquer ração!"

Pensando sobre a decisão proposta, conclui que devia ter razão. Se durante um ano amarrar uma criança traquinas a uma cadeira, depois passará a vida sossegado. Obedientemente deixa de decidir traquinices.

Numa palavra, o veterinário aconselhava domesticar, i.é, empobrecer a capacidade de decisão. Não me agradou, nunca mais lá fui, não gosto de "broncos" autoritários. O meu cão e eu éramos amigos.

Em vez de destruir decidi potenciar-lhe decisões e procurar solução.
Visitei várias lojas de rações e pedia amostras publicitárias. Regressei com 10 pacotinhos de diferentes marcas que coloquei em 10 recipientes ao lado uns dos outros. Depois, ele entrou e deixei-o decidir. Entre abanadelas de rabo e cheiradelas passeou por todos e escolheu um.
Passei a comprar esse, nunca mais tive problemas e o meu cão não passou fome. De qualquer modo continuei trazendo amostras para ele testar... e às vezes mudava e ele escolhia.

Sempre que comprava comida feita, escolhia algo que ele gostasse para lhe dar um bocadinho depois da ração. Um dia comprei arroz de pato e ao dar-lhe o bocadinho do costume, ele cheirou muitas vezes, mas não comeu e foi-se deitar.
Fiquei pensativo, também cheirei mas não detectei nada, fiquei com dúvidas. Assim obedeci à regra "quando há dúvidas não há dúvida", foi tudo para o caixote de lixo. Nesse dia o meu jantar foram sandes e conservas.
Eu vivia com o meu cão e confiava nas decisões dele.

Como conclusão filosófica, o Descartes com o seu "Penso logo existo" não tem razão, devia ter dito "Opto logo existo" pois "pensar por obediência é não-existir" e com-viver com um obediente é viver sozinho.

EXEMPLO: O Manel e o chefe
Hoje o  Manel fazia anos de casado.
Ele decidiu sair à hora normal (17:00), ir esperar a mulher ao emprego, passear, namorar, jantar fora... um dia diferente para recuerdos.
Pelas 16:00 horas o chefe aparece e diz-lhe para sair mais tarde, emendar o projecto e apresentá-lo pronto no dia seguinte às 09:00.
O problema é claro e simples, o Manel tem que substituir a sua decisão pessoal (jantar com a mulher) pela decisão do chefe (emendar o projecto)... ordens são ordens e obedecer é obedecer.

Na verdade, mandar é pôr alguém a agir com decisões alheias; obedecer é algém cumprir decisões alheias. Ter obedientes decisórios é o "milagre" dos autoritários
(ver história pessoal de Viktor Frankl, psy, "Um psicólogo no campo de concentração").

O que pode fazer o Manel?
Tem 3 alternativas:

1ª - Abandonar a sua decisão, ficar com a do chefe e enfrentar consequências conjugais;
2ª - Manter a sua decisão, abandonar a do chefe e enfrentar consequências laborais;
3ª - "Inventar" nova decisão e gerir possíveis consequências... se existirem.

Na vida real não há regras deterministas, é o mundo das probabilidades e possibilidades, é como o poker em que o jogo não está nas cartas mas nos jogadores.

obediência vs não-obediência equilibra-se com a recusa vs não-recusa e "depende" da situação, suas variáveis, riscos e vantagens. É a dinâmica do campo de forças (ver K.Lewin, Parker Follet, etc)

Não é fácil gerir esta teia de conflitos, principalmente, para quem foi programado para obedecer, que ficou com as tomadas de decisão debilitadas e o "instinto" de cumprir bem instalado.

PS - Excepto em casos limites de destruição mental (lobotomia, brainwashing, tortura, etc) este instalar tem sempre fissuras (bugs), susceptíveis de decisões de ruptura com a obediência. Por des-treino há "cegueira" (decision blindness) nas opções em que a mais imediata é o estilo de "rebeldia infantil" e/ou o "suicídio heróico" (ver Eric Berne, psy).

Muitos anos atrás, no tempo do velho "Estado Novo", obedecer-ao-mando era a primeira e única regra a seguir.
No Liceu, um professor meu(1) há vários anos quando, no corredor, eu me "lamentava" contra regras da Mocidade Portuguesa, ele comentou entredentes: - O melhor é obedecer e não cumprir

(1) - Padre na igreja de Alcântara. Anos depois soube que tinha sido exilado politicamente(?) para a Patagónia. 25 anos depois, reencontrei-o na Parede, falei-lhe, não se recordava de mim mas eu nunca o esqueci nem ao seu comentário que, profissionalmente, me foi útil, várias vezes.

Na época, seguindo o conselho "libertei-me" das formaturas e das marchas da Mocidade Portuguesa que detestava, ao inscrever-me como voluntário na Vela da Mocidade Portuguesa na praia de Algés.
Não era do meu agrado andar ao frio e encharcado, pendurado fora de borda a apanhar com chapadas de água a velejar (bolinar) contra o vento, mas sempre era melhor que marchar.
Ao fim de três anos tive que sair, pois nas regatas era sempre dos últimos, pois discretamente nunca escolhia rumos contra o vento, só velejava a seu favor estilo "passeio" deitado a saborear a paisagem.

No caso anterior, o Manel aplicando o conselho "obedecer e não cumprir" poderia sair mais tarde pelas 17:15 (obedecer), levar o projecto para completar em casa (não proibido) e apresentar corrigido às 0900 da manhã do dia seguinte (obedecer).

Por experiência pessoal em organizações autoritárias, há sempre zonas de não-desobediência que, por coincidência, possibilitam lógicas de não cumprimento. Se, estrategicamente, forem bem geridas podem ser uma solução "cumpridora".

Conclusão

Educar significa potenciar a capacidade de decisão e impedir a sua destruição.
Educar é desenvolver as condições de aprendizagem e aprender é decidir incorporação de significados novos.
A domesticação, tendo a obediência como formato educativo, debilita essa capacidade e o resultado é "não decidir e esperar ordens", portanto, não aprende... decora o ordenado.

Para terminar, uma pequena descrição da domesticação do Tommy feita com tecnologia caseira na qual  só pode "armazenar" (clickar).


Na verdade, aprender obriga a decidir "isto "mexe comigo?" i.é, obriga a fazer sentido (making sense não doing sense):