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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Placebos, Milagres, Termostato e Democracia


Estou a ler "The Wisdom of the Body", um clássico de 1932 de W. Cannon, Prof. de Fisiologia na  Harvard Medical School, centrado em torno do conceito de homeostase e auto-regulação (pag. 317):

"O organismo sugere que a estabilidade é de importância fundamental. É mais importante que economia. […] O organismo deita fora o que é excesso, o que é anti-económico, para ser criador de homeostase.
(…) A homeostase e a auto regulação interna estão interdependentes da homeostase e auto-regulação social".

Dias atrás, de manhã, perto do fim do livro escrevo 4 plop's num guardanapo, sem qualquer lógica visível:


Quatro palavras: Placebo, Milagre, Termostato e Democracia.

Intrigado, entro numa aventura tipo Sherlock Holmes, procurando o que foi que vi... que não vi.
Foram 4 dias e 4 noites em que ideias andaram "plopando" pela minha cabeça, enchia guardanapos e post-it's e aumentava o caos com inputs de livros e da Net.

Seguia a lógica de que "qualquer problema complexo se resolve aumentando a sua complexidade" e esperando que o meu computador pessoal (o meu córtex) saísse da balbúrdia e respondesse à questão: -"Qual é a lógica?".
Foram dias cheios e horas a passarem despercebidas mas, dos muitos plop's,


algumas conclusões apareceram:


1 - Placebo e Milagre são irmãos gémeos, pois ambos funcionam, procuram homeostasia e cada um contêm um certo mistério.

2 - Termostato e Democracia são também irmãos gémeos, pois ambos funcionam, procuram anular desvios e contêm auto-regulação.

3 - Como a homeostasia leva à auto-regulação e a auto-regulação arrasta para a homeostasia, os quatro pertencem ao mesmo "gang".

Resolvi aprofundar.



Placebo

British Medical Journal:

"O efeito placebo refere-se a resultados positivos causados por um tratamento que não podem ser atribuíveis às suas conhecidas propriedades físicas nem ao seu mecanismo de acção."

Em palavras simples, é um "mistério científico", ou seja, é uma maneira simpática de dizer "ignorância científica" pois ele actua organicamente não actuando organicamente…Uhau!..Uhau!...adoro paradoxos.
Mas por outro lado,

"Na medicina são muito importantes os placebos porque servem para fazer muitas investigações."

Juntando as duas afirmações, conclui-se que se fazem investigações cientificas donde se tiram conclusões, comparando


a - efeitos orgânicos de substâncias com acção orgânica

versus os

b - efeitos orgânicos de substâncias sem acção orgânica.


Se forem positivos, pode-se validar, produzir e gastar dinheiro nos remédios testados que entretanto se provou serem desnecessários.
Se os efeitos não forem os mesmos, não se prova nada sobre os remédios porque a ausência de prova não é prova.

Porém, se os resultados forem os mesmos pode-se também concluir sobre os placebos:



ou seja, realmente porque é que não se investe a estudar e desenvolver os placebos, se os resultados são iguais aos remédios?
Não vejo alternativa à lógica:

A - Ou o placebo é mentira e é fraude e  imoral utilizá-lo para validar tratamentos químicos e/ou físicos,
B - Ou o placebo é verdade e é fraude e imoral não o desenvolver para substituir tratamentos químicos e/ou físicos que entretanto ele está validando.
C - Ou não se sabe e é fraude e imoral utilizá-lo sem se saber o que se anda a fazer.

Principalmente, porque há "pistas" para pesquisa:

"O importante é que o paciente acredite na eficácia do remédio, visto que é sua mente que desencadeia o processo curativo."

Em palavras simples, poder-se-ia chamar ao efeito placebo, uma "pílula psicológica" ou uma "cirurgia psicológica" que faz o mesmo efeito que as "pílulas químicas" e/ou as "cirurgias físicas". 
A pesquisa a fazer é saber "qual é e como funciona" o efeito da mente (espirito humano) sobre a matéria (corpo).

PS - Até porque oficial e cientificamente a Medicina institucional aceita o efeito da mente sobre o corpo (pensamento sobre matéria), ou então a sua ratificação da Psicanálise é um bluff.



Milagre

Uma definição sucinta, "Milagre é a consequência da acção do espirito Divino sobre a matéria".
Difere de placebo porque este "é a consequência da acção do espirito humano sobre a matéria", mas ambos dependem da relação espírito-matéria.

As regras estabelecidas pelo Papa Bento XIV, 1745-1758, (Próspero Lambertini) ainda hoje seguidas, são exaustivas a mostrar que deve existir uma clara identificação dos resultados entre o "antes" e o "depois" da cura, completa ignorância acerca da causa e do funcionamento da alteração e total garantia de não existirem intervenções escondidas (fraudes).

Em resumo, tem que existir um completo conhecimento da consequência e uma total ignorância da causa e do funcionamento.
Assim, a palavra chave para garantir a existência, ou não, de milagre numa cura é "ignorância". Com ignorância total e completa, logicamente, a conclusão humana é ter que ser um milagre, isto é, intervenção divina.

Parece-me uma lógica imbatível.

Mas (nestas coisas humanas há sempre um "mas")... falta considerar outra variável que não vai negar ser um milagre, mas também não vai afirmar que o é, pois como já foi salientado "a falta de prova não é prova". 

A variável que não está considerada é o ser humano que aplica as regras
Isto quer dizer que depende do nível de conhecimentos de quem decide que "o que aconteceu não é explicável". Este nível depende não só dos indivíduos, como da sociedade e época em curso. 

A ignorância HUMANA varia com os níveis de conhecimentos HUMANOS existentes no momento. Muito do inexplicável no século XVI é perfeitamente compreensível no século XXI.

O que aqui está em causa não é o conceito de milagre, nem as regras de definição, é apenas a sua aplicação a casos concretos e aqui a única conclusão possível é que…"intervenção humana conhecida não é, divina pode ser".

O paradoxo existente baseia-se em "ter um humano a julgar se um acontecimento possui, ou não possui, valor divino", quando não tem nenhuma noção do que isso é, a não ser que considere que o nível divino é apenas um nível humano melhorado, ou seja, do mesmo tipo e isto chama-se antropomorfismo. 

Fora do paradoxo, logicamente, a única conclusão possível é que "nível humano actual não é", mas sobre  o que é…talvez simtalvez não e assim surge o mistério.

PS - O paradoxo é o mesmo que ter uma lesma a querer decidir se o "pensador de Rodin"é uma obra de arte humana ou um calhau da montanha, quando a variável humana lhe é totalmente estranha e admitindo que tem os conceitos calhau e montanha.



Placebo e Milagre

"Só há duas modos de viver a vida.
Um é pensar que não há milagres.
O outro é pensar que tudo é um milagre."
                                    Albert Einstein

A diferença entre placebo e milagre é a intensidade de mistério que contêm.

Uma simples rosa é um milagre se se considerar o enorme mistério que é "existirem biliões de células, que sem se enganar, se organizam em rosa e não em cabeça de peixe"… ou em qualquer outra coisa.
Conhece-se o resultado (ser rosa e não cabeça de peixe) não se sabe a causa, nem o funcionamento e não se conhecem controladores externos…é um milagre no actual nível de ignorância.

O ser humano são triliões de células que se mantêm em homeostase e sofrem contínuas alterações parciais. De acordo com alguns estudos, uma simples emoção cria 1.400 alterações orgânicas que rapidamente procuram recuperar a homeostase. 

Emocionar e des-emocionar no quotidiano são situações complexas feitas dentro de outra situação complexa (o corpo) funcionando por mecanismos de auto-regulação e homeostase. É um mistério dentro de um mistério e parafraseando Einstein "a vida vive-se com placebos e outros milagres diários".

No conjunto o que parece estar em causa são mecanismos de auto-regulação para reconquistar a homeostase.




Termostato

O termoestato é um mecanismo de autoregulação para manter o equilíbrio desejado.

O principio é simples: recebida uma informação, ela origina uma acção que produz-se um resultado material, reconstruindo o equilíbrio do conjunto (homeostase).
Se a informação é de "excesso" o resultado é de um tipo, mas se a informação é de "deficiência" o resultado é de outro tipo.

Observação - Os conceitos são: MatériaEnergia comprimida; Informação = Energia em padrões.

Exemplo:


Se o liquido amarelo está quente, aquece o gás (roxo) na membrana elástica (verde) que se expande e afasta os contactos encarnados desligando o aquecimento.
Se o liquido está frio, o gás contrai, a membrana contrai e os contactos unem-se, ligando o aquecimento.

Em resumo, a autoregulação é a anulação de um desvio entre o resultado existente e o resultado esperado:

Mas para anular o desvio, podem existir 3 modos diferentes:

- FeedBack - Anular a partir de informações do passado;
- Feed Forward - Anular a partir de informações do futuro;
- Feed Target - Anular a partir de informações do objectivo;

Exemplo, um carro na estrada:



Feed Back - Quando o motor perde força o motorista carrega no acelerador para aumentar a gasolina no motor e assim corrigir.
É uma correcção feita a partir do PASSADO, ou seja, DEPOIS do desvio ter acontecido. É a correcção mais simples, vulgar, rudimentar, mais dispendiosa e menos eficiente.

É uma retro-alimentação, i,é, alimentar para trás… no tempo, portanto o mais correcto seria "alimentar para depois" e é um "olhar de dentro para dentro".

Feed Forward - Quando prevendo as possibilidades do motor perder força com a subida que se aproxima, o condutor carrega no acelerador afim de aumentar a potência do motor para enfrentar essa exigência que vai aparecer.
É uma correcção feita a partir do FUTURO, ou seja, ANTES do desvio acontecer. É uma correcção mais evoluída, menos vulgar, exige competências diferentes, é menos dispendiosa e mais eficiente.

É uma pré-alimentação, i,é, alimentar para a frente… no tempo, portanto o mais correcto seria "alimentar para agir antes" e é um "olhar de dentro para fora", obriga a pesquisar e analisar o contexto existente.

Feed Target - Quando prevendo as probabilidades do uso do motor no caminho que se aproxima, o condutor decide alterar o percurso, optando pelo caminho "B" em vez de "A" por exigir menos  esforços ao motor.
É uma correcção feita a partir de um FUTURO longínquo e de um contexto alargado, ou seja, ANTES DE EXISTIREM CONDIÇÕES para o desvio acontecer. É uma correcção bastante mais evoluída e muito mais eficiente e eficaz, pois altera para condições de existência diferentes.

É uma pró-alimentação, i,é, alimentar para mudar o contexto, portanto o mais correcto seria "alimentar para contexto diferente" e é um "olhar de dentro das possibilidades", obriga a perspectivar e prospectivar probabilidades e possibilidades de futuros equilíbrios.
Este Feed Target pode alterar o"design" do sistema para condições diferentes, possibilitando evolução e/ou inovação.

A auto-regulação simples no seu princípio e primária no termostato é complexa no placebo e no milagre pois têm que existir os 3 tipo de auto-regulação,

a - agir em função do que está acontecendo (feed back);
b - agir em função do que irá acontecer em função das alterações dos outros (feed forward);
c - agir em função do "design" existente e/ou do "pró-design" desejado (i.é., adaptação, evolução) (feed target);

e ainda considerando que:

- a auto-regulação é com sincronismo de várias entidades;
- o "espírito-mente-pensamento" é uma das variáveis;
- cada entidade é um sistema (conjunto de unidades em inter-conexão):
- todas as entidades estão em inter-conexão (corpo);
- no plano quantitativo são milhões, biliões e triliões de unidades e conjuntos;
- no plano qualitativo o resultado é gerido por feed-back, feed-forward, feed-target;
- a informação recebida em cada uma não é a mesma, a acção resultante difere, o resultado também e cada resultado é informação de auto-regulação para outras, ou seja,
não há auto-regulação, mas um conjunto de auto-regulações cujos resultados
interferem uns com os outros, e o "milagre" é tudo ficar equilibrado (homeostasia)
e eventualmente evoluir para outra homeostasia.
 
e tudo sendo interdependente com o contexto.
Como é citado no inicio (W. Cannon):

(…) A homeostase e a auto regulação interna [do corpo individual] estão interdependentes da homeostase e auto-regulação social".



Democracia


A democracia é um corpo social com determinadas características. 

Há semelhança do corpo humano também o corpo social é um sistema constituído por milhares, milhões, biliões de unidades. Também tem um equilíbrio geral e equilíbrios parciais, conexões internas, desvios a serem colmatados ou aproveitados para evolução, pode estar saudável ou doente, estar em auto-regulação ou com regulação exterior.

Pode ter subsistemas que recusam participar no equilíbrio geral, negam a auto-regulação e constituem cancros de recuperação difícil, pois a sua extracção faz aparecer outros e tudo continua na mesma.

Quando há saúde chama-se Democracia. 
Doenças há várias, a mais vulgar são os cancros sociais chamados ditaduras totais ou parciais, e as parciais estão cobertas de pele em bom estado chamada "orgãos democráticos".

Relembrando os placebos e os milagres, talvez a solução para estas doenças seja reforçar a saúde democrática potenciando os mecanismos de auto-regulação democrática e homeostase democrática, e esquecermos remédios que querendo curar "fazem bem a uns e mal a outros", uns por ignorância outros por estratégia interna e/ou externa.

Fazer um milagre não me parece possível, mas criar um placebo que detone auto-regulação e desenvolva homeopatias democráticas parece-me viável. Quando isto acontece os "cancros políticos" são extintos e não reaparecem.
Um exemplo:

M. Luther King



Milhões entraram em auto regulação e uma nova homeostase foi obtida, sem tratamentos e nem cirurgias sociais. Foi um processo de auto-cura disseminado.




Crise em Portugal neste principio do século XXI:

a - Os feed back mostram que os remédios aplicados não estão funcionando;
b - Os feed forward não são claros e a continuação do caminho não está definida;
c - Os feed target não aparecem nem se discutem alternativas.

Relembrando as regras de milagre do Papa Bento XIV estamos em posição para um milagre pelo nível de ignorância demonstrado, mas não me parece que ele surja, pelo que sugiro um modesto Placebo que introduza:

1 - Auto-regulação na nossa democracia, dado que a regulação interna e externa não está a resultar;
2 - Homeostasia democrática porque as soluções de re-equilibrar estão apenas a resultar em sair de um desequilíbrio para cair noutro desequilíbrio.

Uma alternativa de Placebo é o aparecimento de D. Sebastião descendo de uma nave extraterrestre. Não serve para actuar organicamente mas apenas para mudar as mentes, pois:

"O importante é que o paciente acredite na eficácia do remédio, visto que é sua mente que desencadeia o processo curativo."

PLACEBO POLÍTICO - D.Sebastião saindo da nave espacial

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