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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Felicidade é uma espécie de ONU, conciliar muitos em UM


Dizia a Avó:
- "Estás infeliz ?? Pois é, perdeste o Norte !!".

O ser humano é um ser complexo que agrupa vários "jogadores" (players) em UM, querendo todos participar ao mesmo tempo. Gerir este agrupamento com eficácia não é uma tarefa fácil, é um trabalho que exige competência.

Todavia, com a instalação original, o ser humano traz uma espécie de "bússola emotiva" (amígdala??) inserida no córtex em conexão com todas as outras partes e que ajuda bastante a gestão da conciliação necessária.
Bússola indica o caminho de querer ou de recusar
Quando com a ajuda da amígdala a conciliação é obtida surge um "estado de felicidade", porém se não consegue e estrebucha com conflitos e desequilíbrios internos, então, temos um "estado da infelicidade".

O problema começa porque a bússola é calibrada desde pequeno, umas vezes por processos aleatórios, outras por processos intencionais (educação), ou ainda por processos correctivos (reflexos condicionados). O interessante é que andamos sempre todos a calibrar as bússolas uns dos outros.

Quando a mãe sorri e faz uma carícia a bússola arquiva um polo bom, mas quando o dedo se queima no fogo memoriza um polo mau e assim sucessivamente. A orientação para esses pólos cria dois tipos de tropismos, um positivo com decisões tendentes a caminhar em sua direcção ou um negativo para se afastar dela.

Porém a vida tem poucas situações de uma só variável activa pelo que as ambivalências surgem com facilidade com múltiplas orientações simultâneas e diferentes. Com elas a calibração da bússola perde nitidez e fica confusa. O conflito instala-se, a infelicidade nasce: -"O que faço?? Para onde vou??"

Há várias soluções para este problema, desde apagar as calibrações todas e começar de novo por "lavagens ao cérebro", por ex., em processos políticos, educativos, judiciais, médicos, religiosos, etc, até à acomodação em "estábulos psicológicos" de "q'ridos lideres", abdicando de qualquer escolha. 

O mais vulgar é tentar viver com o conflito arrastando-o para intensidades suportáveis, na filosofia de alternância de "dias Bons e dias Maus" e/ou de "os Deuses põem-nos à prova" e/ou "a Vida é assim!".

Todavia o problema é mais complexo porque existem várias "entidades" a participar no córtex e em vários níveis, cada uma com a sua bússola e participando todas ao mesmo tempo.

O neurocientista Paul MacLean, no caso dos humanos, com o conceito de "3 em 1" esquematiza o problema, apresentando os sub-córtex da "ONU pessoal" :


ou seja, o ser humano tem 3 entidades com funcionamento integrado:

- subcórtex Primitivo/Reptiliano - funções corporais básicas, reacções automáticas, acção-reacção, ataque-contra ataque, escolhas tipo "SIM-NÃO";
- subcórtex Emocional/Mamífero - acrescenta emoções, comportamentos sociais mais complexos, escolhas tipo "OU e OU";
- subcórtex Racional/Lóbulos frontais (nos primatas humanos) quase com 1/3 do total - inclui reflexão, intuição, lógica, cooperação, imaginação, criatividade, escolhas tipo "360º ".

Exemplo:

De manhã, ao vestir-se para ir trabalhar o que escolhe ?

- córtex primitivo-reptiliano pergunta: -"... é confortável ? dá comichão ? é áspero?"
- córtex emocional-mamífero pergunta: -"...  levo calças da moda, camisa alegre, de cor diferente?"
- córtex racional-lóbulos frontais pergunta: -"...  levo fato escuro completo, camisa branca e gravata?"
(PS -Nesta altura o emocional-mamifero "chateia": - "gravata discreta ou berrante ??")

cada um deles orientado por uma bússola própria, eventualmente dando orientações contraditórias, às vezes de difícil integração com opções: -" imagem ou qualidade de vida? estatuto ou espontaneidade? carreira ou autonomia?"
De qualquer modo, só uma roupa pode ser vestida, portanto, a "ONU pessoal" tem que conciliar as diversas orientações numa única solução, eventualmente ficando com percentagens diferentes de felicidade e infelicidade.

O neurologista R. Restak (The naked brain) tem outra maneira simples de analisar o ser humano, com o modelo "2 em 1":

- por um lado, funciona em "automático, reagindo" (subcórtex's reptiliano e mamífero);
- e por outro, funciona em "reflexivo, proactivo controlando"(subcórtex primata/lóbulos frontais).

É uma espécie de comboio em que a máquina reflecte e age no caminho e o vagão reage ao que acontece, mas ambos interferem e influenciam.  O reptiliano, estando "dentro da caixa e só vendo o que está em frente ao nariz", decide uma orientação, mas os lóbulos frontais estando de "helicóptero e vendo para além do aqui-agora", decidem outra: 

Qual o resultado: a máquina controla ou o vagão domina??

Em 1981, Roger Sperry ganhou o Prémio Nobel. Nos seus trabalhos com epilépticos ele notou que cortando o corpus callosum que une os hemisférios esquerdo e direito, tinha nítidas consequências. Surgiu a teoria de que cada hemisfério controla um tipo diferente de raciocinio:

- Hemisfério esquerdo - detalhes, lógicas, sequências, com o slogan "parte da árvore para a floresta";

Hemisfério direito - totalidades, estruturas, instantâneo, com o slogan "parte da floresta para a árvore";

Com todas estas variáveis activas o ser humano vive conciliando constantes discussões e negociações internas, procurando a calma dentro do caos e o imprevisto dentro da ordem,  ou parafraseando James Gleick:
Vive sempre na fronteira do caos [com a ordem] onde a vida floresce.
Em resumo, 

[a amígdala..] espécie de bússola, é um mecanismo de sobrevivência que permite tomar decisões rápidas ao processar emoções de resposta a sinais (visuais, olfactivos, auditivos, tácteis, ideias, sensações, etc) e  que, de um modo geral, se são positivos para sobreviver a emoção é boa e atrai, se são negativos a emoção é má e repele.

Sentir-se infeliz é um aviso de que "a sobrevivência está em causa", é preciso decidir e agir para a emoção passar a ser boa e sentir-se feliz. 
Como diria Hamlet, é um aviso de que "Algo está mal no reino da Dinamarca", pelo que agora a questão é "o quê" e "como fazer", e aqui começa a segunda infelicidade que é saber como se acaba com a infelicidade original, conseguindo resposta à pergunta: -"O que faço ?? Como resolvo ??".

Uma história:

O Manel tem uma dívida para pagar a um credor que precisa do dinheiro até às 9 horas da manhã, senão tira-lhe a casa. Apesar das muitas negociações não conseguiu alterar a data. 
Muito agitado, sem conseguir dormir, às 4 horas da manhã agarra no telefone, liga para casa do credor, acorda-o, diz-lhe que às 9 horas não tem dinheiro para pagar.
Desliga e com um suspiro deita-se sossegado.
Espantada a mulher pergunta porque fez aquilo, telefonar às 4 da manhã, não resolveu nada.
Muito calmo ele responde:
- "A dívida não resolvi, mas a preocupação resolvi. Agora é ele que não vai dormir".

Realmente a infelicidade também é um sistema de "2 em 1", tem sempre a original e a que ela arrasta consigo.

Normalmente, 

1 - a resposta do subcórtex primitivo-reptiliano é simples e pragmática, só vê o que está na frente, só tem duas posições SIM ou NÃO, duas estratégias LUTA ou FOGE, baseia-se no PRESENTE e dispensa o FUTURO.

2 - a resposta do subcórtex emocional-mamífero é sempre com um dilema Hameletiano "to be or not to be", "penso que SIM, mas por outro lado acho que NÃO", "ia sentir-me bem mas a culpa enche-me de tristeza", "eu gostava de entrar mas só me apetece ir embora"…e assim continuamente.

3 - a resposta dos subcórtex racional-lóbulos frontais é a mais complexa. Habituado ao pensar profundo "o presente tem que ser pensado a partir do futuro e este só pode ser desenhado a partir do passado na sua evolução até hoje". Uhhau…isto dá para 3 noites de insónia.

Ex, decidindo um divórcio:
"Eu divorcio-me pela responsabilidade que tenho para com os meus filhos, não só agora mas também  com as consequências daqui a 20 anos, não esquecendo esta crise socio-económica e a sua possível e provável evolução até lá. 
Agora que decidi…vou esperar até me poder divorciar".

As concliliações são dificeis, mas cada córtex ajuda com o seu modelo:

A - O subcórtex  primitivo-repetiliano com seu pragmatismo adopta Alexandre Magno e o "nó górdio", isto é, não está para chatices em desatá-lo e corta-o.

B - O subcórtex emocional-mamífero com seus dilemas adopta o do bêbado que quer entrar e também quer sair da taberna, assim, portanto, resolve entrar de costas.

C - O subcórtex racional-lobulos frontais com suas complexidades, faz o inverso da navalha de Ockham (sec XIV) em que "de duas teorias a mais simples é a correcta", pois garante que um problema complexo resolve-se tornando-o mais complexo, isto é, "qualquer dor de cabeça passa com uma boa martelada no pé". 
Este método é muito usado em política quando para esquecer um problema se arranja outro maior, por ex.,"qualquer fraude política ou económica desaparece com uma grande crise ou desastre".

E assim vai o mundo da ONU pessoal na conquista da felicidade.
Porém, para decidir AINDA tem que optar nos processos usados. Para escolher pode centrar-se em detalhes ou em totalidades (hemisfério esquerdo ou direito) e pode reagir ao que o pressiona ou reflectir sobre o que quer (reactivo ou reflexivo).

Em conclusão,
para a conquista da felicidade penso que a solução ideal é o Tarot, as Runas, as folhas de chá, ou a velha moeda ao ar. Não é muito científico mas pelo menos tira a angústia e depois pode-se pôr a culpa noutro lado, ficando feliz no aditismo (o vício) de ser infeliz. 

Ir à bruxa (terapeuta não Licenciado) não é muito lógico porque, qualquer que seja a técnica usada, ela só diz o que quer. Se o terapeuta é Licenciado, qualquer que seja a técnica usada, também só diz o que quer. É sempre só mais UM a aumentar a confusão na ONU pessoal. 

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