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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Crocodilos em luta

(Ver blog "Felicidade é uma espécie de ONU, conciliar muitos em UM")

Manhã na Pastelaria, um casal com 2 filhos, um de 2/3 anos e outro numa cadeirinha.

O filho de 3 anos traquinava pela Pastelaria e resolveu ir mexer nos bolos. O pai levantou-se e foi tirá-lo de lá.
Não foi fácil…esperneou, chorou, gritou e puxa de aqui e puxa de acolá.
O pai zangou-se, mandou, ordenou,  comandou e puxa de aqui e puxa de acolá.

Começou um circo romano com gladiadores, ambos com os córtex primitivos reptilianos em luta.


Ao fim de algum tempo, o pai ficou preocupado com o "espectáculo social", pois uns desdenhavam, outros sorriam, outros apoiavam (não sei bem qual), outros acompanhavam o desenlace, pelo que resolveu actuar.

Abandonou a luta e largou-o (pai perdeu?? filho ganhou??) mas a criança resolveu abandonar a ida aos bolos ("filho perdeu?? pai ganhou??) e foi para o pé do irmão que chuchando dormia na cadeirinha e começou a tirar-lhe a chucha, o irmão chorava, dava-lhe a chucha e ele calava-se, tornava a tirar e ele chorava e assim sucessivamente, dando escape-catarsis ao seu crocodilo. Os pais "conversavam" sobre o acontecido usando activamente os seus crocodilos irritados.

O irmão na cadeirinha, o grande perdedor do circo romano, acordado, muito quieto a chuchar não percebi o que estava usando, mas tenho impressão que começou a chocar um ovo de crocodilo.

Levantei-me, fui para casa, sentei-me a pensar no acontecido.

De repente descobri que as minhas análises e possíveis soluções estavam todas a ser controladas a partir do meu crocodilo. A cena de luta e a minha participação activa no espectáculo circense, tinham activado os meus neurónios espelho e estes tinha trazido o meu córtex primitivo para a discussão. O meu crocodilito estava muito dominador nas conclusões.
Resolvi calar-lhe a boca.

Activei o meu córtex emocional-mamífero, lembrando-me do medo, susto e aflição que se notava na cara da criança, tudo misturado com raiva e ataque… e da vergonha e pânico que aparecia nas rugas do pai sem saber como sair dali, tudo embrulhado também em raiva e ataque.

Deste modo, o meu equilíbrio "cortexiano" (a minha ONU) alterou-se e o meu primata pode entrar na discussão e os lóbulos pré-frontais readquiriram o controlo.

As nossas raízes primitivas são importantes para o nosso equilíbrio, mas convém não deixar os répteis  predadores (internos e externos) que nos cercam dominarem a nossa vida.


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