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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

NÓS...e o nosso Cockpit privado


O cockpit do avião diz o que é o mundo e o que nele se pode "fazer", mostra a verdade e ...se não mostra é porque é mentira...
ASSIM só existe ...o que lá está, o que não está ...não existe.

Acreditar no cockpit é a principal religião do aviador... e as janelas do cockpit são cada vez mais pequenas:



Do mesmo modo na pilotagem da vida a nossa cabeça é o nosso cockpit.

O nosso mundo é só o que a cabeça nos mostra, acreditar na sua cabeça é o principal suporte da VERDADE dos crentes e chama-se fé, quer seja fé nos outros, nas ideias, nas políticas, nos partidos ou nos deuses.




Uma experiência
(Com base em Richard Wiseman, psiquiatra)






R. Wiseman convidou participantes para uma entrevista.
No caminho entre a sala de espera e o gabinete da entrevista colocou, caída no chão, uma nota de dinheiro.

A entrevista decorria sobre os temas "feliz e infeliz, optimista e pessimista, azar ou sorte, possibilidades e oportunidades". No final perguntava se tinham apanhado o dinheiro caído no chão.

Se bem que o dinheiro estivesse sempre no mesmo local e igualmente disponível para ser percepcionado, só pessoas "optimistas o tinham visto" porque as "pessimistas não tinham reparado".

A atitude pessoal encastrada na mente tinha controlado, agudizado ou reduzido, a "cegueira perceptiva" (blind perception), isto é, [...a mente instalada controlava o modo como viam o mundo e pilotavam o seu caminho nele...].

Poder-se-á dizer que o educar é construir nos outros um cockpit igual ao seu, a psicanálise é mudar instrumentos (crenças, atitudes, interpretações,...) dos cockpit's privados dos outros, a psicologia é estudar características (perfis) dos cockpit's individuais, a sociologia é estudar modelos de cockpit's existentes e/ou possíveis nas sociedades, a política é aferir, regular e controlar os cockpit's dos outros (suas decisões, preferências,...), etc.

Há dois filmes interessantes de Roberto Benigni que mostram bem o que é um optimista com essa crença instalada no cockpit que pilota a sua vida.
Talvez ver estes filmes possa ser um remédio saudável para quem anda num estilo de "Kalimero" viciado em desgraça do tipo "...não me digam pra reagir...":

A VIDA É BELA                      O TIGRE E A NEVE



Um exemplo
(Com base em Joshua Greene)





A tribo foi à caça e caçou um mamute, as famílias estão felizes pois não haverá fome, todos têm comida para comer,... mas para isso há várias hipóteses:

1 -  cockpit A
As refeições são privadas. Cada família tira um bocado para levar para casa, quem tem mais filhos leva mais quantidade, quem tem menos filhos leva menos. 

2 -  cockpit B
As refeições são privadas. Cada família tira um bocado para levar para casa, MAS todos levam a mesma quantidade. Quem tem mais filhos faz os bifes mais pequenos, quem tem menos filhos faz os bifes maiores. Não há "abonos pra filhos".

3 -  cockpit C
Ninguém leva nada para casa, as refeições são colectivas. Todos comem juntos e tiram o que precisam para se alimentar.

4 -  cockpit D
Quem matou o mamute fica com metade, os que levaram o mamute para a tribo, arrastando-o durante quilómetros, ficam com o resto a dividir entre si em formato A, B ou C.
O importante é quem caça, não quem arrasta.  

5 -  cockpit E
Quem arrastou o mamute durante quilómetros fica com tudo e dividem entre si. Quem caçou se quer comer tem que arrastar.
O caçar não é importante, o arrastar é que é. A divisão é feita em formato A, B ou C.

Estas 5 tribos viviam isoladas e felizes obedecendo aos seus cockpit's iguais.
Um dia encontraram-se e misturaram-se, a felicidade desapareceu, os conflitos e discussões tornaram-se quotidianas, a fome surgiu...os cockpit's já não são iguais.

A solução foi simples e fácil,

6 -  cockpit F
O mamute passa a ter só um dono, alguém que não caça, nem arrasta, mas fica com tudo.
Depois distribui bocados como lhe apetece e a quem lhe apetece, faz regras e cumpre regras. Nasceu a política.
O problema deixou de ser caçar e arrastar, passou a ser "instalar" esse "DONO" do mamute e obrigar a obediência.
Gerir a obediência do grupo torna-se mais importante do que caçar e arrastar, pois faz a diferença entre obedecer e sobreviver ou não-obedecer e não-sobreviver.
[...para ficar dono do mamute, é preciso que haja crise...] sem ela ou caça ou arrasta...!!!!

Séculos depois, todos estes cockpit's [A, B, C, D, E, F,...] adquirem nomes: república, monarquia, liberalismo, socialismo, colectivismo, comunismo, estado social, social democracia, democracia social...

A História diz-nos que quando os selvagens entram na civilização largam as peles, mas levam consigo os seus cockpit's e acrescentam outros, como por exemplo, instalando instrumentos para proteger a moralidade através de "medir o tamanho da pele à mostra nas pernas das mulheres":

Canal História
Analisar estes cockpit's não só é interessante como também é divertido.
Por exemplo neste caso, perguntar porque é que não se preocupavam com o tamanho da pele à mostra no braço, no pescoço ou até na ponta do nariz é uma pergunta interessante.
Ou seja, porque é que aqueles cm2 de pele à mostra faziam faíscas nos neurónios sociais a ponto de criar uma profissão digna PPM - Polícias da Pele à Mostra...!!!¿¿¿ para manutenção da moral?

Aliás o ar diligente, preocupado e cuidadoso do fiscalizador PPM¿¿¿ e da assistência [...reparar que...ninguém se ri..., mas as crianças têm um ar espantado...] mostra bem a importância daqueles cmde pele à mostra para o funcionamento da sociedade e da sua moral.

PS- Aquele pai quando chega a casa explica ao filho que a sua profissão é importante porque é andar a medir os cm2 de pele à mostra nas pernas das mulheres... ou seja, ele é um importante fiscalizador de moralidades.

Como conclusão, cada um vê o mundo em função das características do cockpit que lhe encastraram ao "educá-lo" e em função dele define e escolhe o papel social que irá desempenhar.

Na Idade Média ninguém quereria ser corredor de automóveis porque esse modelo não estava disponível na sociedade. A vida de cada um de nós terá mais ou menos cores e pormenores ou será mais ou menos evoluída e boçal consoante os modelos disponíveis na sociedade em que se vive.

...ainda não sabe...
o que lhe vão encastrar....
Se colocaram na criança um cockpit que tem um factor (uma crença) de que há um Deus do Sol então rezará ao Sol e a chuva será apenas água, mas se lhe colocaram que há um Deus da Chuva então rezará à chuva e quererá molhar-se porque será receber uma benção de deus.

Mais tarde, obedecendo ao seu cockpit matará os "outros" porque são heréticos e hereges pois adoram deuses falsos quando só o seu é "O" verdadeiro.

Porém há outras conclusões possíveis.

Cockpit todos temos que ter... a questão é saber se "viver é ficar com o que nos calhou ou se viver é alterar-lhe os formatos" procurando outros mundos, outros olhares, outras pilotagens.

Talvez viver seja apenas a aventura de mudar o próprio cockpit vendo o mundo com outros olhos, pois [...viajar não é ver outros mundos é ver com outros olhos...] e assim "a maçã da Eva será apenas um símbolo do bilhete para a aventura de alterar cockpit's":


Uma última observação, 

para aqueles a quem não somos indiferentes e se preocupam connosco, eles costumam dar-nos um precioso conselho tradicional, nascido da "psicologia natural" da amizade, que é:

"...tens que reagir..."


mas que na prática significa apenas [...altera, por pouco que seja, o cockpit com que andas a pilotar a tua vida...].

Aparentemente, é um conselho difícil de explicar e que enfurece quem o recebe.
Na verdade os cockpits bloqueados são masoquistas, sofrem, adoram ser vítimas e têm raiva a quem os agita no narcótico... e aplaudem e agradecem a quem os embala nele.

Porém a vida "escreve direito por linhas tortas" e segue a teoria do caos em que "no Japão, um bater de asas de borboleta pode originar um tornado no Texas", ou seja, o truque é fazer alterações desprezáveis e esperar que a vida se enfureça, zangue e arranque em força. 

O truque é atacar rotinas, desde mudar o penteado até passar por outras ruas ou alterar as cores com que se veste... e se de repente reparar em algo novo, então nesse momento o cockpit já foi alterado,... JÁ REAGIU.

Talvez a conclusão seja que o segredo é fomentar "pequeninas diferenças" na solidez do cockpit pessoal, pois é na existência delas que tudo se baseia... é bom não esquecer que desde há milhões de anos que a sobrevivência da espécie humana se baseia "na pequeníssima diferença" (...Vive la petite difference!!) por causa da qual todos nascemos.


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