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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O "Óbvio" e a evolução da espécie humana

O nosso córtex é uma
"máquina" de fabricar óbvios.

Índice
1 - Uma história 
2 - Experiência "ler" 
3 - Experiência "significados"
4 - Analogia "Ler é como alimentar-se" 
5 - Experiência "óbvios" 
6 - Default Network: Superpoder
7 - Para terminar...

Quando entra um sinal na rede de neurónios nascem logo "óbvios" por todo o lado, mas um córtex "preguiçoso" ou bem formatado só fica com um e nem repara nos outros.

Quando o óbvio que fica não é o "normal", os possuidores do "óbvio normal" põem esse córtex no hospital psiquiátrico para ser tratado, ou armazenam-no em prisões para ser isolado ou, em casos muito excepcionais, é aplaudido e premiado em cerimónias Prémio Nobel.

Educar é um processo de instalação de "óbvios normais" nos córtex's que ainda estão em fase de desenvolvimento. No caso de córtex's já adultos este processo chama-se re-educar (actualização de óbvios), ou terapia (reparação de óbvios) ou missionação (substituição do sistema de óbvios) e neste caso pode ser substituição religiosa, política ou moral.

O Sherlock Holmes é um herói que, no meio dos óbvios normais, injecta óbvios diferentes abrindo portas para novos caminhos que [...já lá estavam, mas eram olhados e não eram vistos...].

O Sherlock Holmes[*] em vez de ser o herói tipo Rambo-dos-murros... é o herói tipo Rambo-dos-óbvios...



[*] - Há vários estudos interessantes sobre este personagem fictício. Como sugestão existe um livro de Maria Konnikova, Ph.D. em Psicologia pela Universidade de Columbia,  Mastermind - Pensar Como Sherlock Holmes, Editado pela Pergaminho, Lisboa, 2014.

 1 - Uma história 

Sherlock Holmes e Dr.Watson vão acampar.  Montam a tenda e, depois de uma boa refeição e uma garrafa de vinho, deitam-se para dormir e  algumas horas depois, Sherlock acorda, chama Dr. Watson e pergunta:

- "Meu caro Watson, olhe para cima e diga-me o que vê".

Dr. Watson responde:
- "Vejo milhares e milhares de estrelas".
Sherlock pergunta:
- "E o que isso significa"
Dr. Watson pensa e diz:
- " 

1) Astronomicamente, significa que há milhares de galáxias e biliões de planetas. 
2) Astrologicamente, observo que Saturno está em Leão e teremos um dia de sorte. 
3) Temporalmente, pela posição da Estrela Polar, deduzo que são 03:15.
4) Teologicamente, vejo que Deus é todo poderoso e que somos pequenos e insignificantes.
5) Meteorologicamente, suspeito que 
amanhã teremos um lindo dia. 
Correcto?" 

Sherlock fica um minuto em silêncio, e depois responde:

- Dr. Watson, significa que alguém roubou a nossa tenda e estamos a dormir ao relento!!

Estas respostas podem ser representadas num esquema como uma "uma sucessão de óbvios" a partir do impulsor sinal observado: olhar-para-cima:

Se se reparar no esquema existem 2 perspectivas, mas podem existir mais, pois os "óbvios" nascem do conjunto de 3 factores, ou seja, em função do que se considera o:

- "caroço do problema"[*] que condiciona a...
-  perspectiva de observação e posterior análise e da...
-  informação em stock, formação, experiência, crenças..., recursos que vão formatar os óbvios.

* - vide blog "Tens a mania que és esperto" - click aqui

Os óbvios possíveis são numerosos pois são muitas as alternativas possíveis em cada um destes três factores.

Em resumo, os óbvios são apenas os significados assumidos a partir do sinal recebido e são sempre uma construção pessoal. O Óbvio é aquilo que é escolhido como claro e evidente mas, se a sua clareza e evidência são importantes, o interessante está em ter sido escolhido.


 2 - Experiência "ler" 
Leia esta frase em voz alta:


Qual a conclusão óbvia a tirar ???

Agora leia estas palavras EM VOZ ALTA e diga a conclusão:


Apesar de saber ler só deve conseguir vocalizar caracteres, não deve perceber o seu significado e será difícil tirar uma conclusão.


 3 - Experiência "significados" 

Qual o significado deste texto:


Possivelmente não se consegue vocalizar mas percebe o significado.

Uhau!!!...Uhau!!!...  é muito interessante porque... NÃO LÊ... MAS LÊ !!!... .

Na verdade, são as mesmas palavras que anteriormente não conseguia ler mas agora, apesar de não conseguir vocalizar (não lê), percebe o seu significado, isto é, o que dizem (sim lê).
Qual é a conclusão óbvia a tirar... afinal lê ou não lê ???
Mas, talvez seja melhor fazer outra pergunta... -"Afinal o que é ler ??"


 4 - Analogia "Ler é como alimentar-se

Ler é como alimentar-se, é preciso mastigar, engolir, digerir mas alimentar-se realmente é assimilar. As fases de mastigar, engolir, digerir são normalmente necessárias mas na alimentação pelas veias são dispensadas, curto-circuitadas.

Ler não é uma actividade de vocalização (física ou mental) apesar de ser uma fase normalmente necessária, ler é uma actividade de manipulação de significados. A leitura de linguagem não verbal é uma espécie de "alimentação pelas veias" em que os significados (assimilação??) surgem de forma directa.

vide blog "Leitura e estado de sonhador …ou não!", clickar aqui

Ler não é traduzir oral ou mentalmente sinais escritos é criar significados a partir deles.
Aliás, há milhões de anos que a sobrevivência de animais e pessoas está baseada na manipulação de significados dos sinais captados, isto é, um coelho, uma gazela ou um humano a fugir de um predador... ou sobrevive ou transforma-se en fast food... só depende dos significados que obteve do predador, do terreno, das ameaças, das oportunidades, etc,

...um mau leitor de significados morre, um bom leitor sobrevive.

Perceber sons (palavras) a partir de sinais escritos é um "facilitador" para poder ler que é "captar significados a partir dos sinais escritos", quando o consegue é um leitor e não um "papagaio de palavras". Dominar e automatizar esse facilitador é uma etapa fundamental, mas não é o resultado final do aprender a ler.

[...ensinar a ler é ensinar a captar significados a partir de sinais,
ou seja, é ensinar a construir "óbvios"...]

Sherlock Holmes é o mito actual do perito de ler sinais da vida e ver o óbvio que trazem, pois as discrepâncias na normalidade não são erros, são portas para o desconhecido....


...todavia para ouvir esta música é preciso o factor ATENÇÃO estar activo, por isso é vulgar ouvir um conselho "técnico", - "O seu filho não progride, não tem atenção nenhuma, está sempre distraído. Tem que ir com ele ao médico ou ao psicólogo."
Porém,
ter atenção é... estar atento a isto (lição), não àquilo (namorada),
estar distraído é... estar atento àquilo (namorada), não a isto (lição).

Uhau!!!... Mas então ( ¿¿¿¿) estar distraído é estar atento!!!!!
Então, os pais têm que ir ao médico, ou ao psicólogo, pedir um tratamento para o filho deixar de estar atento para ficar atento ???

- "Tá tudo doido ???"

Neste óbvio de "a criança não ter atenção porque anda distraído" confunde-se processos com resultados e com o seu mútuo equilíbrio em relação às intenções. Na verdade, não se está a falar de doenças, está-se a falar de métodos, padrões, situações. 

A grande habilidade do personagem Sherlock Holmes é conseguir não ter "bugs" nestes três factores e esta destreza ensina-se e treina-se e portanto também se pode destruir e destreinar.
Ou seja,

Alguns indivíduos adquirem a habilidade de petrificar o foco numa posição e aí o manter rígido e a iluminar sempre o mesmo óbvio. São classificados de fanáticos a obcecados, ou apaixonados, fans e militantes ou firmes, decididos e assertivos, tudo depende da onda mental em que surfa o observador.

Em contraponto há outros que ficam com a habilidade de flutuar o foco por várias posições, saltitando de óbvio para óbvio, ora isto ora aquilo. São classificados de vira-casacas a dispersos, ou pinga-amor, vai-na-onda e sem-carácter ou  flexível, democrático e consensual, dependendo da perspectiva do avaliador. 

Na verdade o problema não é este, pois qualquer destas habilidades pode ser boa ou má dependendo de aumentar ou reduzir a eficácia e eficiência da lucidez obtida. Em algumas ocasiões, parar ou andar devagar é o correcto mas noutras flutuar e girar rapidamente é a acção eficaz. 

Sherlock Holmes é um perito em gerir este caminhar da atenção duma forma flexível e rentável. Paradoxalmente na educação, não só esta destreza (gerir a atenção) não é treinada como se destrói essa possibilidade, ao educar impondo padrões e burocracias para o fazer.


 5 - Experiência "óbvios" 

Tem 30 segundos para ler o texto seguinte com suas 210 palavras e extrair 5 "óbvios".

Pertence ao livro "A Liga dos ruivos" de Sherlock Holmes e refere-se a um relato que lhe é feito por um agiota, Jabez Wilson, sobre uma conversa que teve com Duncan Ross quando este lhe propõe  um emprego.
Antes de começar a ler marcar 30s num cronómetro,
PARAR DE LER quando o cronómetro tocar !!

Transcrição do relato de Jabez Wilson a Sherlock Holmes

– Qual seria o horário?”, perguntei.
– “Das dez às 14 horas.”


O negócio de penhores, sr. Holmes, funciona mais à noite, principalmente às quintas e sextas, perto do dia de pagamento; portanto, seria conveniente para mim ganhar alguma coisa durante as manhãs. Além disso, eu sabia que o meu assistente era bom e que poderia resolver qualquer problema que surgisse. 

– “Isso convém-me ”, disse. “E quanto ao pagamento?” 
– “Quatro libras por semana.” 
– “E o trabalho?” 
– “É puramente nominal.” 
– “O que chama de puramente nominal?” 
– “Bem, tem de estar no escritório, ou pelo menos no prédio, o tempo todo. Se sair, perde o seu cargo para sempre. O contracto é muito claro neste ponto. Não preencherá as condições se se ausentar do prédio nesse período.” 
– “São apenas quatro horas por dia e eu não pensaria em sair”, respondi. 
– “Nenhuma desculpa será aceite”, disse o sr. Duncan Ross, “nem doença, nem negócios, nem qualquer outra coisa. Tem de ficar aqui, ou perde o seu cargo.” 
– “E o trabalho?” 
– “É copiar a Enciclopédia Britânica. O primeiro volume está ali. O senhor fornece tinta, canetas e papel e nós fornecemos essa mesa e cadeira. Pode começar amanhã?” 
– “Certamente”, respondi. 
– “Então, até logo, sr. Jabez Wilson, e deixe-me cumprimentá-lo mais uma vez pela posição importante que teve a sorte de conseguir.”

Quais foram  os 5 óbvios encontrados ???

Se não está satisfeito com os seus resultados em 30s porque a sua atenção "fugiu" para outros lugares, isto é, "distraiu-se", não vá ao médico, nem tome remédios, nem bata com a cabeça na parede, porque nada disso resulta, procure apenas orientar o seu foco de atenção.
Por exemplo, leia as perguntas:

- Qual é o salário do Sr. Wilson ?
- Qual é o trabalho ?
- Quantas horas por dia ?
- Trabalho é de manhã, tarde ou noite?
- Que ferramentas leva ?

e faça/escreva uma cábula "QUE ??": salário - trabalho - horas - período - ferramentas e decore.
Depois,
Ler outra vez em apenas 15s
e procurar esses "óbvios,"

Foi melhor? Se melhorou a eficácia e a eficiência, então o "remédio" foi apenas "gerir a atenção pessoal", orientando o foco da atenção... não é um problema de defeito a tratar é um problema de método a treinar.

Na perspectiva de Sherlock Holmes, eis algumas dicas:

1 - Nunca fazer suposições, mas encadear causa-efeito e/ou efeito-causa (flow logic);

2 - Acumular evidências.  
A prova implica um "a priori" a ser confirmado; a evidência implica uma existência utilizável, por ex, "ser dia" é uma evidência que pode provar: não ser noite,  o sol ter nascido, não se verem estrelas, luzes públicas estarem desligadas, etc... 

3 - Fazer perguntas orientadas, por ex.,  O que esta roupa diz sobre o seu trabalho, classe social, padrões culturais?,...

4 - Formular hipóteses, por ex., a evidência: está de smoking e com sapatos de ténis... permite várias alternativas:
- porque não reparou? (causa-consequência)
- porque não teve tempo de mudar de fato ou de sapatos? (causa-consequência)
- porque roubaram o fato de treino ou os sapatos de smoking? (causa-consequência)
- para que faça ruptura social por brincadeira ou ironia? (consequência-causa)
para que haja publicidade ao smoking ou aos ténis? (consequência-causa)
...etc

5 - Tirar uma conclusão fixá-la como "óbvio prioritário" até confirmar ou negar como "óbvio definitivo".

6 - Ter sempre a "big picture"na mente (a situação global)  e conectar os pormenores com ela.


 6 - Default Network, Superpoder 

Em resumo, como conclusão parafraseando "chapéus há muitos, seu palerma" de Vasco Santana na "Canção de Lisboa", 1933, pode-se dizer que:

Vasco Santana,
"Canção de Lisboa"
...Felizmente porque isso é o SuperPoder evolutivo da espécie humana em relação às outras espécies, na linha das hipóteses e investigações abertas pela "Social Cognitive Neuroscience".
Segundo Matthew D. Lieberman, Harvard University, Ph.D, Prof. de Social Cognitive Neuroscience, a espécie humana desenvolveu-se potenciando os aspectos neurais de "pensar as necessidades grupais".

O problema é simples,

o Concorde é constituído por milhares de "bocados" (peças) feitos em diferentes sítios, todos óbvios para quem os faz mas de "parto" misterioso para quem os usa:

[...sei construir computadores, mas não sei fazer processadores...]

Depois, aqueles para quem o plano do puzzle "Concorde" é óbvio, partem o plano aos bocados e entregam cada bocado a quem o percebe, engenhos a engenheiros, electricidade a electricistas, etc... e assim sucessivamente.
Quando tudo está harmonizado são integrados e nasce o Concorde.

Esta harmonização do que é óbvio para um e misterioso para outro, segundo Lieberman, é o SuperPoder dos humanos.

Na verdade outras espécies, desde abelhas e formigas a primatas, passando por alcateias de mamíferos, cooperam, colaboram e talvez até harmonizem meia dúzia de "óbvios" individuais mas a espécie humana, com o seu córtex social, consegue fazer isso com centenas e milhares de "óbvios".
Vide a construção de um avião ou pôr um homem na lua integrando "óbvios" astronómicos com mecânicos, médicos. psicológicos, químicos, financeiros, políticos, etc.

Esta destreza de harmonizar as póprias ideias com as ideias de outro transcende e é diferente de colaborar (laborar-agir em conjunto) e de cooperar (operar-produzir em conjunto) pois nestes dois casos é possível, por exemplo, colaborar sem cooperar (vide assembleias "democráticas") ou cooperar sem colaborar (vide formaturas militares), enquanto que na harmonização a participação tem que ser total.

Harmonizar significa integrar numa unidade superior à soma das partes
o que é óbvio para mim e o que é óbvio para o outro.

PS - Como diria Sherlock Holmes - "Politicamente, meu caro Watson, isto chama-se Democracia".

A civilização actual é um conjunto de equipamentos (instrumentos, organização, conhecimentos,...) muito complexos multi-fragmentados que ninguém domina mas todos em conjunto, se interconectados, SABEM usar.

Cada indivíduo, se separado e isolado, apenas conhece um "bocado" (o seu óbvio) que é cada vez mais pequeno em relação ao total, pelo que sem os restantes "bocados" (os óbvios dos outros) não serve para nada.

Uma civilização intensamente tecnológica e complexa como a do século XXI não pode ter uma organização (democracia??) baseada só na colaboração e/ou cooperação (assembleias e partidos???) tem que ter o seu alicerce em modelos de harmonização de ideias.


As investigações da Social Cognitive Neuroscience trazem um novo foco para considerar o que é o indivíduo e a sociedade.

A Social Cognitive Neuroscience é um campo de investigação que procura com os recursos da fMRI [functional Magnetic Resonance Imaging] e do PET [Positron Emission Tomography] analisar o modo como o cérebro humano responde ao contexto social e suas relações, investigações essas que até agora não eram possíveis.

A principal conclusão global é que os nossos cérebros estão formatados (wired) para se connectar com outras pessoas. Por outras palavras, a sociedade humana não é uma justaposição mas uma integração, um "entrançamento"(??), um "amalgamento" (??) de ideias.

No começo procurava-se descobrir que parte do córtex estava activa quando se pensava numa tarefa (matemática. música, agir com outros, etc) e assim foram criados mapas de funcionamento da rede neural.

Mas, em 1997, Gordon Shulman fez uma pergunta muito interessante: - "Quando o córtex não está activo, está activo em quê?", ou seja, nos segundos que separam um problema de matemática já resolvido do seguinte ainda desconhecido em que se "entretém" o cortex?

Depois de várias investigações a resposta foi que há uma "default network" em constante standby que se activa automaticamente quando o córtex fica em "descanso". Curiosamente é a região activa quando  "pensa em conexões sociais" :

default network
É uma região de redes neurais que, quando as tarefas do "cérebro analítico" sobre problemas, matemática, arte, etc, param, este "cérebro social" activa-se automaticamente sobre conexões sociais individuo-outros, seus pensamentos, sentimentos, intenções.

Esta "default network" sempre activa é aquilo que Daniel Dennett chama uma posição intencional que promove e harmoniza compreensão, empatia, intuição relacional, consideração, harmonização. É uma rede neural embutida (wired), factor de evolução da espécie humana potenciando "inteligência colectiva".


Porém surge a velha questão do Ovo e da Galinha, isto é, um dilema do género "para haver galinha primeiro aparece o ovo; para haver ovo primeiro aparece a galinha", ou com a "default network" opta-se por A ou por B:

A - por pensar nos outros o córtex social é activado (à semelhança da matemática, música, etc) ou 
B - o córtex social está sempre activado e por isso pensa-se nos outros (à diferença da matemática, música, etc) ???"

Em síntese, a activação da "rede neural social" é consequência ou é causa de se pensar sobre os outros e seus [...pensares, sentires, agires...]??

Tradicionalmente, a visão do indivíduo e sociedade é a activação ser consequência da tarefa (opção A), todavia a Social Cognitive Neuroscience traz a perspectiva de ser causa (opção B), propondo rever modelos na sociologia, psicologia, política, democracia, etc.

Uma pergunta para esta investigação foi:

- "O que acontece no córtex dos recém-nascidos quando ainda não têm "tarefas" para pensar???"


Um bebé com 2 dias de nascido ainda não foca os olhos, não tem tarefas a pensar nem tem interesse no mundo social, todavia esta rede social já está activa, o que não acontece nos prematuros que só se activa mais tarde.
A conclusão é que a activação da rede precede o interesse social, sendo causa e instrumento do ser humano como ser social. Nos prematuros só activará mais tarde quando recuperado já tem condições.

Por outro lado, por scan do córtex nos segundos de intervalo entre os problemas cognitivos verifica-se que a região do córtex social se activa instantaneamente o que, no dizer de um investigador, significa que 

[...o hobby do córtex quando nada tem a pensar é pensar na relação dos outros consigo...], 
[...o córtex está embutido (wired) e programado para pensar na posição-acção no mundo social...].

Uma questão interessante é pensar se a amizade e o amor estarão relacionados com este neural social embutido (wired) e se ele faz parte integrante e activa da nossa arquitectura neural??

Algumas questões em aberto:

- Será que os nossos cérebros sentem e reagem do mesmo modo às ameaças ao social que às ameaças ao corpo e à mente??
- Estará aqui a base da protecção e dos cuidados com as crianças e os velhos??
-Será um mecanismo base incorporado na arquitectura neural para defesa e sobrevivência da espécie à semelhança dos mecanismos incorporados para defesa e sobrevivência do indivíduo??
- Será que a dor da perda de um ente querido se insere num mecanismo semelhante à dor da doença pessoal?
- Será que a dor da morte de alguém dura mais tempo que a dor da perna partida?
- Será que a dor social é maior que a dor física a ponto de preferir sermos nós a sofrer em vez daqueles de quem gostamos?

- Será que no córtex a dor física está localizada na mesma área da dor social ?

Segundo Lieberman e investigações da Social Cognitive Neuroscience, o pensar cognitivo e o pensar social não coexistem no tempo e a sua predominância alterna-se num funcionamento do tipo "ora tu ora eu", mas apesar disso os resultados interagem e integram-se:


Assim, a dor física (bebé chorar com fome) e a dor social (bebé chorar porque a mãe se afasta) quando acontecem activam as mesmas regiões do córtex, pois para o cérebro e para a criança o processo é o mesmo, a activação da dor acontece nos mesmos locais apesar de terem origem diferente uma corporal e outra social:


A rejeição social e a amizade social fazem parte da arquitectura neural do mesmo modo que o bem-estar e mal-estar corporal, pois [...ambos fazem parte dos mecanismos de sobrevivência do indivíduo, portanto da espécie, e da espécie, portanto do indivíduo...].

Relacionando a evolução da espécie com a evolução do indivíduo, Fred Hayes integra os dois no mesmo esquema o que permite realçar o superpoder da espécie humana ao harmonizar, não 10 ou 100 ideias mas, milhares de milhares de ideias (todos os óbvios criados) que foram sendo integradas na construção da actual civilização: 




Em consequência aparecem propostas de reformulação de modelos, como por exemplo, da clássica hierarquia das necessidades individuais de Maslow com nova estrutura:




 7 - Para terminar 

A vaga apesar de bonita, grande e forte,
não pode esquecer que faz parte do oceano.
Zen

A política e qualquer democracia que esquece o social, esquece as crianças, esquece os idosos,
esquece também que faz parte da humanidade e nega a sua essência humana.
Portugal, Set. 2014


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