ouvi dizer na mesa ao lado e fiquei sem perceber se isso seria um elogio ou uma ofensa.
Observando a relação do pai com o filho de 5/6 anos, imaginei que ele dizia:
- "Tens a mania que és parvo!!!"...
pensei se isso seria um elogio ou uma ofensa... e continuei com dúvidas.
Resolvi ficar atento à conversa e percebi que falavam de uma cena na TV em que um mágico põe uma mulher dentro de uma caixa e depois espeta várias espadas por buracos existentes, tira as espadas e a mulher sai de lá a dançar toda "vivinha"... e o pai admirado perguntava como é que isso era possível.
E a criança tinha respondido:
- Oh pai ... é fácil,... todos sabem, ...o mágico engana-nos!!
Então o pai zangado respondeu que ele tinha a mania de ser esperto.
Pensando na opinião emitida pelo pai, ela tem uma parte "Tens a mania que és..." significando que o filho fez auto-análise (introspecção) pensando sobre si próprio e concluindo algo, o que me parece muito válido para uma criança de 5/6 anos.
Portanto até aqui a resposta do pai parece-me um elogio.
Portanto até aqui a resposta do pai parece-me um elogio.
Na verdade, desde o socrático "Conhece-te a ti mesmo" propondo introspecções que isso é considerado uma vantagem e um sinal de mérito pessoal, aliás muito aconselhado em diversas terapias de ajuda onde a etapa fundamental é obter esse auto-conhecimento.
Por exemplo, nos alcoólicos anónimos é fundamental afirmar-se com convicção "Sou alcoólico" para conseguir sair e ficar fora do aditismo.
Por exemplo, nos alcoólicos anónimos é fundamental afirmar-se com convicção "Sou alcoólico" para conseguir sair e ficar fora do aditismo.
Portanto à partida a frase começa com um elogio, logo a dúvida de ser elogio ou ofensa deverá procurar-se na continuação de..."ser esperto" ou na alternativa de "ser parvo".
Por outro lado, "Ter a mania" e não "ter a certeza" de ser esperto ou ser parvo também não me parece negativo, pois significa apenas que não é hiper-assertivo acerca de si próprio e mantém uma espécie de dúvida saudável numa introspecção permanente, ou seja, não é um "Narcisopata", isto é, um constante auto-admirado cheio de certezas, um apaixonado por si próprio [ver o mito do deus Narciso].
E assim, a dúvida de ser ofensa ou elogio continuava, pois não percebia o que aquele pai pretendia comunicar, mas...
... em qualquer dos dois casos, de ser esperto ou de ser parvo, só há duas hipóteses ou a auto-análise é verdadeira ou é falsa e também em qualquer destes casos a situação é muito positiva, pois a etapa seguinte é pesquisar a verdade de ser parvo ou de ser esperto.
Salienta-se que em qualquer terapia de auto-conhecimento este é um momento ideal para a sua continuação e aprofundamento, portanto continuava a parecer elogio.
deus Narciso |
Por outro lado, "Ter a mania" e não "ter a certeza" de ser esperto ou ser parvo também não me parece negativo, pois significa apenas que não é hiper-assertivo acerca de si próprio e mantém uma espécie de dúvida saudável numa introspecção permanente, ou seja, não é um "Narcisopata", isto é, um constante auto-admirado cheio de certezas, um apaixonado por si próprio [ver o mito do deus Narciso].
E assim, a dúvida de ser ofensa ou elogio continuava, pois não percebia o que aquele pai pretendia comunicar, mas...
... em qualquer dos dois casos, de ser esperto ou de ser parvo, só há duas hipóteses ou a auto-análise é verdadeira ou é falsa e também em qualquer destes casos a situação é muito positiva, pois a etapa seguinte é pesquisar a verdade de ser parvo ou de ser esperto.
Salienta-se que em qualquer terapia de auto-conhecimento este é um momento ideal para a sua continuação e aprofundamento, portanto continuava a parecer elogio.
Porém não me sentia convencido e a minha "cegueira a compreender" (blindness understanding) mantinha-me num beco sem saída, afinal o pai elogiava ou ofendia???
Nesse momento, faiscou-me (plop up) na memória a parábola de matar o mensageiro.
A parábola é simples, é só imaginar um indivíduo que vai ao Hospital e, ao receber o resultado do diagnóstico dizendo que tem uma doença terminal, dá um par de estalos a quem lho entregou.
Pode parecer uma anedota mas é uma reacção vulgar e comum a que se assiste normalmente nos debates políticos, conversas familiares, comentários e contra-comentários nas redes sociais, etc, todavia numa variante mais "camuflada" pode ser, por exemplo,
...imaginar um pai e uma mãe que vão com a filha ao médico e este diz-lhes que a filha está doente ou drogada ou grávida.
A reacção vulgar é os pais contestarem a mensagem dizendo que não é verdade porque ela está normal, anda bem, come bem; ou não anda na droga porque é uma boa filha, temente a Deus, cumpridora, com valores familiares; ou que não está grávida porque não tem namorado pois ela conta-lhes tudo, é boa aluna e anda na catequese, etc.
PS- Este tipo de diálogo é habitual nas telenovelas, séries, filmes, etc, é sentido como realista e objectivo e não como uma "fuga-recusa à realidade", sendo portanto aceite como resposta válida e correcta.
Se se reparar, a essência destas duas histórias é a mesma, pois seguem o modelo de "Matar o Mensageiro", ou seja, é apenas uma "fuga-recusa à realidade".
A estrutura deste modelo é simples. Existem três elementos, Mensagem, sua Consequência e sua Causa, e a essência de "Matar o Mensageiro" é recusar a mensagem porque não aceita admitir as suas consequências.
Esta opção pode ser executada de uma forma primária matando quem a apresenta [é esta a origem do nome do modelo] ou, de uma forma menos primária, recusar o seu conteúdo e atacar com contra-argumentos ou destruir, desvalorar, amesquinhar, denegrir a fonte emissora.
Se se analisar comentários nas redes sociais e/ou debates TV politico-partidários esta dupla estratégia é óbvia e vulgar.
Na prática, perante uma mensagem recebida há 5 estratégias vulgares:
1 - contra-argumentar nas consequências;
2 - pró-argumentar nas consequências;
3 - aproveitar a boleia para colaterizar e "vender" a sua ideia [...a propósito... bla,bla,bla...];
4 - matar o mensageiro, denegrir e atacar a fonte;
5 - centrar-se no problema e suas causas, aprofundar a sua validade ( ser verdade ou mentira) e esquissar o "que fazer".
Como experiência, escolham SÓ uma das cinco hipóteses anteriores, a que pensam ser mais "adulta" e que gostariam de usar para comentar e depois leiam a noticia de 09:26 de 16 de Setembro de 2014, em Por Notícias Ao Minuto,
se link não funcionar clickar em 16-Set-2014
Notas do autor para aprofundar a mensagem |
Se se analisar os 24 comentários surgidos até às 17:00 de 17 de Setembro de 2014 (cerca de 24 horas) e perguntar quantos foram os que escolheram também a vossa estratégia de resposta, podem identificar a que grupo pertencem.
Se mais de 90% das respostas não comentam o aprofundamento da degeneração democrática é porque esse não foi o problema que os afectou a ponto de procurarem criar uma rede social sobre ele.
Assim, sociologicamente falando, será utópico (representativo ou não??) dizer que, mantendo a percentagem, em cada 9 milhões de cidadãos portugueses, 8 milhões debatem "ao lado" desse problema, quer concordem ou não com o Henrique Neto???
E este padrão de "debater ao lado" dos problemas será hábito político nas assembleias e debates???
Podem também verificar qual foi a estratégia mais e menos escolhida, isto é, qual é a cultura dominante actualmente existente, ou seja, centrada no problema (degeneração e sugestões de colmatar) e/ou nos efeitos colaterais ou no desvalorar o mensageiro, ou aproveitar para fazer marketing (venda) das suas ideias.
Aplicando o modelo ao exemplo anterior do pai, mãe, filha onde é usada a estratégia dos contra-argumentos sobre a mensagem do médico se, fosse utilizada a estratégia de destruir a fonte da mensagem, poderiam "atacar" com o seu passado, suas dívidas, suas amantes, seus falhanços, coscuvilhices, etc...
Mesmo que essas informações sejam verdadeiras, não têm conexão com o problema da doença, droga ou gravidez da filha, pois servem apenas como instrumentos de "fugas-recusas ao problema" trazido pela mensagem. Não são sinais de força, são sinais de padrões psicológicos incorporados como técnica de vida,
[...são hábitos culturais diz a sociologia,
que se instalam como hábitos relacionais diz a psicologia,
que sobrevivem como vírus educativos diz a pedagogia...]
Regressando ao inicial "Tens a mania que és esperto!!!" e pensando na zanga e nos laivos agressivos da voz do pai [...por mim esquecidos e não considerados até agora...], parece-me que afinal a frase não é de elogio nem de ofensa é apenas de ataque de um adulto a uma criança por ela ter sido a fonte emissora da mensagem recusada:
- "... é fácil,... todos sabem, ...o mágico engana-nos!!"
Realmente esta destruição da fonte é uma das estratégias possíveis no modelo de "matar o mensageiro" quando se fica "zangado" com a mensagem.
Resolvi confirmar e, olhando para a criança, ela parecia que tinha perdido toda a energia, mirrada na cadeira de olhos vidrados no leite e no bolo. A agitação, a alegria e a conversa tinham desaparecido em segundos... e o meu café da manhã tinha perdido a graça.
Continuei preocupado com a minha "cegueira a compreender" (blindness understanding) pois ainda me perguntava porque é que o pai tinha atacado. Porque largou o problema e amesquinhou a fonte de uma informação?? Que caixa de Pandora tinha sido aberta ???
E apareceu-me outro "plop up" na memória, o modelo de pesquisa da polícia com o seu "MMO - Motivo, Meios, Oportunidade" que é apenas um versão simplificada do modelo de construir e/ou diagnosticar estratégias com a trilogia "Objectivo, Recursos, Situação".
O cerne da questão está na integração destes três elementos, o que deve ser feito perseguindo o "caroço" do problema [...the home, the heart or the core of the problem...], em que errar ou acertar esta identificação significa a diferença entre parvoíce ou esperteza no pensar a solução.
Podemos não saber pesquisar-encontrar, mas quando um "caroço" do problema nos é mostrado podemos sentir positividade, agradecer e aproveitar a hipótese para pensar sobre ela e aceitá-la ou não.
Em alternativa, podemos ser invadidos por negatividade, adquirir consciência de como somos parvos e recusar a mensagem com as técnicas de "matar o mensageiro". Os modelos de liderança negativa têm vários truques para o fazer desde o autoritarismo a acusações de falta de respeito, passando por protocolos burocráticos e verbalismos balofos.
No caso deste pai e da mulher furada pelas espadas, olhar para o problema pelas espadas espetadas é estar a "pensar fora do problema", porque é óbvio que o problema não está aí pois a mulher estava viva depois da espetadela de espadas. Assim só pode estar naquilo que o mágico diz e faz, isto é,
- "... é fácil,... todos sabem, ...o mágico engana-nos!!"
ou seja, uma criança de 5 anos pensou bem "dentro do problema" enquanto que o pai com os seus 40 anos andou a pensar "fora do problema" nos [... entretantos colaterais...].
Como há a mania que qualquer adulto é sempre mais esperto que qualquer criança, ter uma prova concreta que foi parvo e a criança foi esperta não é fácil de aceitar... pois a verdade dói, sendo mais fácil e agradável matar o mensageiro.
PS - Quantos pais, professores e adultos já viram com este hábito???... apesar de embrulhado em desculpas educativas justificantes.
Por outro lado, é bom não esquecer que [...os chefes têm sempre razão...] e que [...a autoridade existe para garantir isso...] e que [...eu sou o educador cá do sítio...].
Uma proposta de uma pequena experiência para fazer,
Após verem o video...
- "Têm 5 segundos para dizer se o que acontece é verdade ou mentira e porquê!!!
Craig Knudsen
Acreditam ??? É verdade ou é mentira???
Qualquer que seja a resposta...porquê??
Apresentei este video a uma jovem de 11 anos e, sem limitar o tempo, fiz-lhe as mesmas perguntas.
Quando o video acabou, ficou quieta e calada e fiquei à espera contando os segundos em silêncio, quando cheguei a catorze ela disse num misto de afirmação e pergunta:
- É mentira...
-... porque não pode ter o mesmo tamanho com menos um bocado!!!
Qualquer que seja a resposta...porquê??
Apresentei este video a uma jovem de 11 anos e, sem limitar o tempo, fiz-lhe as mesmas perguntas.
Quando o video acabou, ficou quieta e calada e fiquei à espera contando os segundos em silêncio, quando cheguei a catorze ela disse num misto de afirmação e pergunta:
- É mentira...
-... porque não pode ter o mesmo tamanho com menos um bocado!!!
Uhau... aqueles neurónios estiveram activos.
Depois apresentei o esquema seguinte e pedi-lhe que "descascasse" o problema.
Perguntou como se fazia e eu disse-lhe que era tirando as "cascas" onde não podia estar a mentira até a poder agarrar. Riu-se e sentou-se melhor e mais atenta.
Não lhe disse a solução mas íamos conversando e eu apenas fornecia dados conectados com a pesquisa que fazia e com o "caroço" do problema. Ela tinha que transformar esses dados em informação e tirar conclusões.
Foi divertido e descobriu o "caroço".
Querem experimentar a "descascar o problema e encontrar o caroço"???
[...the core of the problem
is always the secret of the strategy...]
Depois apresentei o esquema seguinte e pedi-lhe que "descascasse" o problema.
Perguntou como se fazia e eu disse-lhe que era tirando as "cascas" onde não podia estar a mentira até a poder agarrar. Riu-se e sentou-se melhor e mais atenta.
Não lhe disse a solução mas íamos conversando e eu apenas fornecia dados conectados com a pesquisa que fazia e com o "caroço" do problema. Ela tinha que transformar esses dados em informação e tirar conclusões.
Foi divertido e descobriu o "caroço".
Querem experimentar a "descascar o problema e encontrar o caroço"???
[...the core of the problem
is always the secret of the strategy...]
(Solução no fim)
Para terminar,
caíu-me nas mãos uma ed. Brasil (bilíngue), 2012, do "Encheirídion" de Epitecto (sec. I) que foi uma viagem interessante:
(apesar de posteriormente ter encontrado várias paráfrases das ideias):
[... se desejas melhorar, fica contente em passar por tolo ou insensato...]
[...não te esqueças que é impossível aprender o que achas que já sabes...]
e também encontrei uma "meditação" boa para adormecer:
...ou seja, não quero ser igual a mais um político de TV com a mania que é esperto,
...só peço que os deuses nunca me tirem a mania de que sou parvo e de continuar com a mania de ouvir os outros e com a mania de pensar se terão ou não razão...
Solução da pesquisa do caroço
1 - A jovem chegou à conclusão que o objecto maior e o menor tinham as mesmas medidas, o que achava estranho;
2 - Resolvi introduzir dados:
a- dei-lhe uma corda e um pau para servir de régua para medir a corda;
b- mediu e deu o resultado 10;
c- dei-lhe outra corda ligeiramente mais pequena e outro pau para servir de régua;
d- mediu e deu o resultado 12;
e- perguntei qual era a maior e respondeu que era a primeira;
f- resolvi chatear e disse-lhe que essa só media 10;
g- zangada respondeu que o pau com que media era maior;
3 - sorri e pedi-lhe para voltar ao problema do chocolate;
4 - ficou calada algum tempo a ver a apresentação e no fim disse que mediam 24 pedaços mas que os pedaços não eram iguais;
5 - resolvi chatear e disse que não tinham sido trocados;
6 - outra vez zangada disse que alguns foram cortados e ficaram mais pequenos;
1 - A jovem chegou à conclusão que o objecto maior e o menor tinham as mesmas medidas, o que achava estranho;
2 - Resolvi introduzir dados:
a- dei-lhe uma corda e um pau para servir de régua para medir a corda;
b- mediu e deu o resultado 10;
c- dei-lhe outra corda ligeiramente mais pequena e outro pau para servir de régua;
d- mediu e deu o resultado 12;
e- perguntei qual era a maior e respondeu que era a primeira;
f- resolvi chatear e disse-lhe que essa só media 10;
g- zangada respondeu que o pau com que media era maior;
3 - sorri e pedi-lhe para voltar ao problema do chocolate;
4 - ficou calada algum tempo a ver a apresentação e no fim disse que mediam 24 pedaços mas que os pedaços não eram iguais;
5 - resolvi chatear e disse que não tinham sido trocados;
6 - outra vez zangada disse que alguns foram cortados e ficaram mais pequenos;
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