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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Clandestinidade e perfume

(Baseado num caso real em tempos antigos)

Numa ida de três técnicos a Paris, no dia do regresso, depois do pequeno almoço e em conversa, um dos técnicos diz que, de manhã, irá comprar um perfume para a mãe. 
O colega-chefe pede para lhe comprar um para dar à mulher. Atrapalhado, o subordinado pergunta o que ela gosta, preço, tamanho e aroma. O chefe fica com ar de chefe e responde para trazer o que estiver em promoção e for barato. Despede-se e sai.

À chegada para o almoço quando o técnico lhe vai entregar o perfume vê com espanto que ele traz um pacote de perfumaria, aflito diz-lhe que comprou o perfume para a mulher. 

O chefe fica "múmia" sem sistema operacional, balbucia frases soltas entre ser prá mãe, prá tia Engrácia e prá avó Joaquina, não se percebe nada pois explica ser um prémio, difícil de arranjar, ter sido uma sorte, etc. e mais meia dúzia de "coisas", fica outra vez sem sistema operacional... estende a mão, saca o perfume, paga e desaparece.
Só reaparece no fim da tarde, 17:00 h, no aeroporto.

Os dois técnicos sentam-se e falam sobre o que aconteceu, principalmente a atrapalhação chefe. Ao fim de algum tempo, concluem que o perfume é de certeza prá Ti Engrácia. Mas lembram-se  também que durante o breve balbuciar do chefe, ele "resmungou" um nome de perfume. 

Como tinham tempo depois de almoço, foram visitar perfumarias para checar o nome. Realmente o perfume existia, era recentíssimo e caro. Aproveitaram, pediram amostras, visitaram outras perfumarias e pediram mais. Vieram para Lisboa carregados de amostras da perfumada recentíssima novidade.

Depois, com dois amigos, fizeram um concurso e quem ganhasse tinha um jantar pago pelos outros três. Distribuiram as amostras pelos quatro e cheirando o perfume, tal como perdigueiros, iriam à caça da Ti Engrácia pelos corredores e gabinetes do Ministério. O prazo era uma semana.

O interessante foi as estratégias seguidas que se contaram no jantar. Um centrou-se nos corredores à chegada pois o perfume ainda devia estar intenso, outro preferiu o período de almoço e respectivos grupos almoçantes, outro centrou-se nos contactos de trabalho do chefe, começando pela secretária e afins, e outro resolveu esquecer as cheiradelas e observar os trilhos do chefe.

Todos assumiram que o universo era o Ministério e concluíram que o critério foi o mesmo, o chefe chegava cedo e saía tarde.

Acabaram por descobrir a usufrutuária do perfume que não se chamava Engrácia e era do Ministério.

Conclusão

Em caso de clandestinidade amorosa convém controlar as águas de colónia para evitar banhos excessivos e roupas na lavandaria. Há várias soluções.

1º - Ele convém usar a água de colónia ou after shave do pai ou irmão dela e ela o perfume da mãe ou irmã dele. Convém ter cartas na manga com explicações plausíveis para questões de legalidade dos cheiros.

2º - Uma hipótese mais fácil é comprar a água de colónia correspondente e pô-la no cão. Ele não se importa e fica conhecido no bairro como VIP.
Se não tem cão é urgente arranjar um, porque senão em breve terá que arranjar um advogado.

3º - A terceira hipótese é um pouco prosmícua, pois é os clandestinos usarem as águas de colónia dos legalizados.
Esta alternativa é trabalhosa para os neurónios para gerir as associações dos cheiros com o clandestino ou com o legal. O risco é um lapsus linguae, isto é, por associação errada chamar a um(a) o nome do outro(a). 
Convém salientar que, se os nomes dos clandestinos forem iguais aos dos legalizados este risco não existe, e até haverá economia de controlo neural. 
Porém, neste caso, por razões afectivas convém usar um diminutivo diferente, cuja vantagem, de evitar enganos automatizados, traz a desvantagem do risco atrás citado.

Inté e boas clandestinidades amorosas.


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