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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Corvo "quebra-nozes" e o paradoxo da espécie humana


O corvo "quebra-nozes" (Nucifraga columbiana) é uma ave pequenina que esconde, enterrando comida para "tempos difíceis", entre 22.000 e 33.000 sementes num ano, em cerca de 7.000 esconderijos (de 1 a 14 sementes em cada um) num espaço de dezenas de Km2.

O mistério que atrai tantos investigadores não é isso acontecer, mas sim anos depois, a pequena ave recordar não só onde são os esconderijos, como também lá ir directamente como se tivesse GPS, quando afinal são locais de escolha aleatória e que não se repetem.

Dos muitos estudos e livros existentes, resolvi aprofundar dois, um estudo de Russel Balda & Alan Kamil de Northern Arizona University & University of Nebraska e o livro "Made for each other" de Ronald Lanner (Oxford University Press, 1996).

Um rápido resumo das dezenas de páginas do Relatório de R. Balda & A. Kamil pode ser sintetizado dizendo que eles criaram uma sala experimental, com várias referências implantadas e tendo pequenos buracos com areia (330) para servir de esconderijos:


A pequena ave tem na garganta um saco para transporte que vai esvaziando durante a viagem e a cujos esconderijos regressa mais tarde quando quer comer .
O gráfico em baixo mostra os sítios da deposição e uma fase de recolha:


E agora começa o mistério...

Parece não haver dúvida de que naquela pequenina cabeça existe uma memória espacial extraordinária, mas isto é só metade do problema porque a outra metade é como é que ela decide a navegação a fazer para pontos que não se repetem e localizados aleatoriamente.

Qualquer navegador aéreo ou marítimo sabe que para o fazer precisa de calcular triangulações (com ângulos e distâncias) se for no plano ou usar trigonometria esférica se for a 3 dimensões no espaço (por ex., com observações solares).
A espécie humana consegue fazê-lo com o uso de notações numéricas, tabelas, papel e lápis, e muito tempo e gasto de neurónios, já não considerando o uso de instrumentos como o sextante.

O prof. Stephen Vander Wall, PhD, da University of Nevada, Reno, resolveu fazer a experiência de alterar "marcos geodésicos naturais", por ex. grandes rochas, que se tivessem servido para efectuar triangulações iria impedir que agora fossem correctas para voltar a encontrar o local, pois distâncias e ângulos estariam alterados. 
Seria o mesmo que alterar posições de faróis sem avisar os navegadores dos navios, aliás técnica muito utilizada por piratas para naufragar navios e roubá-los sem problemas.

Na experiência do Prof. Vander Wall o resultado foi que muitos esconderijos se tornaram inlocalizáveis pois agora as aves iam a sítios que não eram esconderijos.

A conclusão foi que o corvo "quebra-nozes" para localizar as suas sementes usa triangulações matemáticas com ângulos e distâncias:

Onde estou?? …e...  Para onde vou??

Uhau… Uhau... continuo a pensar que o século XXI é o século de ruptura e mudança dos paradigmas biológicos científicos vindos do passado, porque...

...se este pequenino pássaro faz estas observações e cálculos matemáticos sem erros, em décimos de segundo e sem fazer notações escritas, então ...na hierarquia do calculo matemático, esta espécie está muito acima da espécie humana, devido à sua grande capacidade para o fazer.

Mas o paradoxo habitual vigente na espécie humana leva-a a considerar-se o "máximo" da criação de Deus e com o direito de colocar tudo o resto ao seu serviço, com a habitual cegueira dos homo sapiens stupidus.

Considerando que cada esconderijo tem cerca de 1,5 cm2 num espaço de 20 Km2,  é muito grande a precisão do cálculo matemático no pequeno volume de neurónios daquela cabeça para conseguir obter a localização correcta inclusive debaixo de neve:


Isto sugere que deve existir uma forma muito sofisticada de triangulação talvez até só com dois "marcos geodésicos naturais" que fixam na sua memória.

Se se pensar na irregularidade deste marcos e da importância da posição relativa perante eles quando foi feita a memorização, acontece que a ave tem que estar na mesma posição relativa para a reconstituição dos ângulos e distâncias ou então os cálculos sairão errados.

Por outro lado, as distâncias e os ângulos têm que ser medidos e registados com precisões de milímetros e graus e tudo feito "a olho nu" e instantaneamente ou então morrerá de fome.

Como cada triangulação tem valores diferentes das restantes e cada ave faz e regista 20.000 a 30.000 esconderijos por ano, operacionais durante 2/3 anos, a questão interessante é saber qual será o sistema usado para manter activas e operacionais tantas variáveis numa cabeça tão pequena.

Ahai…Aaahai…mas como é que eles fazem ???

Pensando que neurónios são neurónios e olhando para este ar "espertalhão"...




fico a pensar se seria possível "este colega matemático" me ensinar a usar alguns dos meus neurónios (eventualmente inactivos) da mesma maneira.

Entretanto, resolvi adiantar-me e comecei a fazer experiências de "cálculo matemático geométrico holístico" para acordar e ginasticar neurónios.

Como exemplo:

1º - Numa mesa de jantar, fixar bem a localização de um garfo na sua posição relativa a outros objectos da mesa;
2º - Quando fixar várias referências de distâncias e ângulos para esses "marcos geodésicos naturais" agarrar no garfo e colocá-lo noutra posição, deixando-o ficar;
3º - Passado algum tempo voltar a pô-lo onde estava….
MAS, USANDO ESTE MÉTODO…

A - mover apenas meio caminho e avaliar, perguntando a si próprio se está a ir na posição correcta;
B - se tiver a sensação interna de que está errado, altere novamente um pouco a posição em direcção ao que sente ser o local final…e faça a mesma avaliação;
C- se tornar a ter a sensação interna de que está errado torne a mover apenas um pouco e repita até se sentir satisfeito.
D - parar quando sentir que está no local.

Ao fazer este método está-se a usar uma "forma holística de diferenciais matemáticos" em vez de uma forma linear por aproximações numéricas. Aprende-se a aplicar e desenvolver a sensação de distância e relação, usando no cálculo Matemático a par do neo-cortex também o sistema límbico.

PS - Métodos semelhantes são descritos em culturas tribais para "cálculos geométricos" sem usar as notações matemáticas habituais dos letrados

Esta actividade pode ser transformada em jogo colocando com vários objectos numa mesa, na qual a criança altera para longe a posição de um objecto que depois volta a recolocar no lugar inicial com este método.
É uma actividade bastante divertida e motivante quando a criança verifica que consegue… o que muitas vezes nem acredita.

A prova de que foi capaz pode ser feita fazendo previamente um sinal "invisível" no local do objecto que só é mostrado quando é recolocado ou com uma fotografia prévia e outra posterior tiradas ambas da mesma perspectiva, para manter ângulos e distâncias das relações existentes.

A primeira forma é boa no início porque cria excitação motivante e faz querer repetir com outros objectos; a segunda é boa para se motivar a usar notações matemáticas de ângulos e distâncias para validar a correcção da sua reposição, o que é muito operacional se forem fornecidas impressões das fotografias.

Uma semana depois, se a mesa continuar intocável apenas sem o objecto que foi mudado, é vulgar a criança conseguir recordar as varáveis e conseguir recolocá-lo exactamente na mesma posição.

Esta actividade é muito enriquecida se for feita ao ar livre na natureza com pedagogia experiencial (outdoor learning).

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