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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Portugal, o passado e o futuro

- "Precisamos conhecer o passado 
para desenhar o futuro !",

diz o paradigma Newtoniano cimentado no seu dogma "o que acontece é resultado de causa-consequência", em que o futuro são apenas possíveis ligeiras variantes do determinismo do passado.

- "Precisamos alterar a perspectiva de como se vê o passado,
para desenhar o futuro diferente!",

diz o paradigma Quântico cimentado no seu dogma "o que acontece é resultado do colapsar de possibilidades", portanto, é uma espécie de escolha entre o muito que é possível fazer a partir do que existe. Por outras palavras, não há determinismo…há opções com 360º de liberdade.

A palavra chave que separa as duas afirmações é perspectiva.

Qualquer poder vitorioso a primeira acção que faz é contar o que aconteceu, isto é, fazer a HISTÓRIA, não para arquivar factos, mas para dar uma perspectiva que apoie o seu poder e enfraqueça o contra-poder. 
Para sair de uma derrota, os derrotados também vão tentar fazer HISTÓRIA, isto é, vão procurar contar o que aconteceu para obter uma perspectiva positiva que impulsione o nascer e o desenvolver do contra-poder.

Nos jogos políticos é o mesmo. Os debates não servem para fornecer factos para os eleitores pensarem, servem para fomentar uma perspectiva nesses eleitores. A maior parte dos comentadores, com raras excepções, faz o mesmo.

As ditaduras também… e um dos seus objectivos prioritários é sempre re-escrever a História, fomentando um ponto de vista que legalize os seus actos:

"Eles não se governam nem se deixam governar", dizia um General Romano vivendo a dificuldade de submeter os Lusitanos.

Parece ter sido dito pelo General Servius Galba que, sem conseguir vencer, chacinou milhares de Lusitanos, sendo julgado em Tribunal (149 AC).

Noutra perspectiva, o interessante é existir um povo Lusitano que vivendo em sociedade e "não se governando nem se deixando  governar" mantém meio século (145 AC a 94 AC) de guerras vitoriosas contra o romanos "que se governavam e deixavam governar".

Além de ser estranho, ainda é mais estranho que os descendentes dessa cultura (os Portugueses) aceitem como correcta essa definição romana dos Lusitanos, na prática um contraponto do General à sua derrota às mãos deles. 
Realmente os Romanos deviam ser muito "fracalhotes" pois durante mais de 50 anos forma derrotados por um povo tão desgovernado….

Talvez o problema seja outro.

A educação transmite posições de vida, posições de vida são perspectivas assumidas como paradigmas aceites. 
Uma posição de vida de "personalidade submissa e incapaz" é um trabalho fundamental a fazer em qualquer ditadura ou democracia autoritária para continuar no poder.

Quando uma Democracia autoritária sucede a uma Ditadura aproveita, mantem e reforça posições de vida já instaladas no reforço da submissão e da incapacidade.

A Democracia Portuguesa actual sucedeu à Ditadura Estado Novo. 

As lideranças actuais foram educadas no Estado Novo e numa Europa saída de Ditaduras. Talvez, para quem lidera e para quem é liderado, a "dupla personalidade dominador-submisso" esteja endémica.
(PS - endémica: infecção que é mantida sem necessidade de contaminação proveniente do exterior)

Dizer que os portugueses não se conseguem governar e sair sozinhos da actual da crise (precisando de tutor-Troika) é uma visão tipo Gen. Servius Galba para não perder o controlo. 
Não será apenas aproveitar a imagem instalada de "povo infantil e meio imbecil" fomentada pela  ditadura Estado Novo para poder governar à vontade ???

A questão importante é:
Aquilo que nos torna maus numa Democracia Autoritária baseada na drástica disciplina partidária (essencial em ditadura) não será exactamente o que nos torna bons numa Democracia Democrática?

Compreender o passado numa perspectiva diferente
é fundamental para construir um futuro diferente !

É altura de mudar a perspectiva com que vemos a nossa História. Aquilo que os Romanos chamavam desgoverno era apenas o governo de Lusitanos para viver livres deles.

É importante olhar para a História recente e ver quais são as linhas de força da Ditadura do Estado Novo que se mantêm activas e com poder na actual Democracia. Olhar para elas fora da perspectiva de necessidade funcional e sim com a perspectiva de necessidade de controlo.

Há quatro "heranças" que me parecem óbvias:

1 - A obediência ditatorial dentro dos partidos, exactamente como no antigo partido da União Nacional;
2 - A escolha dos candidatos dentro dos círculos secretos internos dos partidos, exactamente como na ditadura do Estado Novo;
3 - O nível de impunidade da gestão política dos organismos, exactamente como na ditadura do Estado Novo.
4 - Atracção de adeptos pela porta de benesses profissionais pela porta partidária, estratégia comum à maior parte dos partidos e fundamental na consolidação das ditaduras.

Convinha fazer um diagnóstico rápido, mais pormenorizado, do que continuou do "antes" para o "agora" e propor modificações funcionais e lógicas. Não é um problema de portugueses, é um problema de regras de jogo em vigor.

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