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terça-feira, 24 de setembro de 2013

O apanhar feno e o estudar


O feno

Alguns anos atrás, resolvi trabalhar no campo.
O primeiro trabalho que me deram foi apanhar feno durante um dia. Pareceu-me simples, era só apanhar as "ervas secas", pô-las às costas e levá-las para a carroça.

Mas os problemas esperavam por mim.


Juntar e apanhar feno era fácil. Pô-lo às costas e andar até à carroça para  o deitar lá, também era fácil. O problema apareceu porque à medida que ia andando ele caía, espalhava-se pelo caminho, e apenas uma pequena mão cheia era despejada na carroça. 
Depois era preciso voltar atrás, apanhar o que tinha caído e levá-lo ao seu destino… mas mais feno tornava a cair e o ciclo repetia-se.

O trabalho de um dia estava a transformar-se em trabalho para uma semana, ou mais.

Precisava de formação.




Com um instrutor e fazendo tentativas, lá aprendi a fazer "cordas de feno" para amarrar os fardos e também a fazer cordas e fardos ao mesmo tempo, porque senão quando largava o molhe para apanhar a corda, ele desfazia-se. Ou tinha um ajudante ou era outra vez trabalho para uma semana.

A conclusão importante é que apanhar uma mão cheia de feno não é o mesmo que apanhar um fardo grande. A primeira tarefa é fácil, a segunda precisa de método.


A roupa

Comprar 3 peças de roupa numa loja é um problema semelhante ao do feno.




É uma tarefa simples que qualquer criança faz com facilidade.
Tem 3 etapas:
- Olhar
- Escolher
- Decidir

Depois é só comprar e ir embora.


Mas comprar 50 peças de roupa em 30 lojas de 2 Centros Comerciais já não tem esta facilidade. Para o fazer com eficácia e eficiência, essas 3 etapas precisam de método.
Semelhante ao exemplo anterior, agora já não era "apanhar feno", mas sim "apanhar fardos de feno". O problema mudou e com ele a tarefa também mudou.


O estudo

O problema do Estudo é semelhante ao do feno e da compra de roupa: apanhar uma mão cheia não é o mesmo que apanhar um fardo. Na verdade, estudar uma página não é o mesmo que estudar um livro ou a matéria de um ano.

Para estudar, o que se ensina às crianças é simples, têm que fazer 3 etapas:
- Ler
- Pensar
- Resumir
Realmente olhando para uma folha, ao ler com atenção o que lá está e ao pensar sobre isso, não é difícil decidir o que é mais importante e redigir um resumo.

Todavia, há páginas mais fáceis e páginas mais difíceis, mas com maior ou menor esforço consegue-se sempre. É só um problema de esforço e aplicar o método descrito.


Porém neste método há um bug. Como exemplo e para analogia, para ir à praia o método não é:
- escolher o caminho,
- andar,
- estar lá,

porque "estar lá" não faz parte do "ir à praia", é apenas o resultado de "ter ido à praia".

Do mesmo modo "resumir" não é uma etapa do estudar, é apenas uma etapa possível DEPOIS DE TER ESTUDADO para guardar/consolidar a aprendizagem obtida. 

Resumir não faz parte do estudar, mas é uma etapa essencial para unir etapas de estudos parciais. É fundamental para poder estudar a "big picture", isto é, a imagem global que dá sentido e significado a tudo. No estudar é preciso criar constantes conexões entre a "imagem global e o detalhe", e para isso resumos do já aprendido é uma ajuda importante.

Quando se estuda apenas uma página, este aspecto é desprezável porque é fácil relacionar o global e o detalhe, mas quando se estudam 200 páginas (livro) ou a matéria de um ano é um problema importante porque fazê-lo já não é tão fácil.

Estudar um livro, não é um problema de esforço, é um problema de método, exactamente como apanhar um fardo de feno.

De uma maneira simples, estudar é só pensar. Ler e resumir são apoios (entre outros possíveis) para aumentar a eficiência e a eficácia da tarefa. Estudar uma página é natural, estudar um livro exige método.

Pensar é construir redes neurais, para isso é necessário estabelecer conexões entre ideias, ou seja, é preciso criar uma rede de significados. Criar significados é encontrar diferenças significativas entre as ideias.
Exemplo:

Qual é a diferença entre um pássaro e um peixe ? Querem pensar ?

Dizer que o pássaro tem penas e o peixe tem escamas, não é diferença, é distinção. 
As distinções fazem "tijolos separados", as diferenças fazem "redes unidas", porque as diferenças têm um ponto comum e depois divergem:


Pensar é procurar o ponto comum (FCS- Factor Critico de Sucesso) de duas ou mais ideias e depois pesquisar onde divergem e porquê. 
Pensar com ideias em arquivo é o método de "pensar com cassetes", pensar com ideias em rede é o método de "pensar com significados". É só um problema de culturização e treino, não é um problema de "genes de nascença".

Regressando ao exemplo, uma das diferenças entre peixe e pássaro é a locomoção, um locomove-se com asas e o outro com barbatanas. Como o pássaro também se locomove com 2 pernas ele não é diferente do homem mas é diferente do boi que o faz com 4 pernas.
Pensar com redes é como apanhar cerejas de um monte "puxando uma vêm todas atrás". Todas as crianças se divertem a pensar em rede… e descobrir o desconhecido... e  ISTO É ESTUDAR.

PS - Ainda regressando ao exemplo anterior, o peixe e o pássaro têm ambos a pele coberta, um com escamas e o outro com penas. 
Continuando a pensar, o homem cobre a pele com quê?...e a tartaruga?...e o crocodilo?...e o tubarão?… assim brincando a pensar diferenças as redes neurais vão-se construindo, e o pensar afasta-se do "método das cassetes".

Em resumo (para passar-conectar a outro pensar):

Estudar é conectar ideias entre si.

Em consequência, a pergunta imediata é: - "Quantas se podem ligar entre si?"
A resposta é: - "TODAS que se conseguir...!!!!"…e aqui começa o problema.

Numa análise rápida, uma página pode ter de 1 a 5/6 ideias, ou seja:

- 1 ideia têm uma rede com 0 ligações possíveis;
- 2 ideias têm uma rede com 1 ligações possíveis, isto é,  2 a 2;
- 3 ideias têm uma rede com 4 ligações possíveis, isto é, 3 (2 a 2)+1 (3 a 3);
- 4 ideias têm uma rede com 11 ligações possíveis, i.é., 6 (2 a 2)+4 (3 a 3); )+1 (4 a 4);
- 5 ideias têm uma rede com 25 ligações possíveis, i.é., 10 (2 a 2)+10 (3 a 3); )+5 (4 a 4);
- 6 ideias têm uma rede c/ 57 ligações possíveis, i.é., 15 (2 a 2)+20 (3 a 3); )+15 (4 a 4)+6 (5 a 5)+1 (6 a 6);

ou seja, é um problema de combinações possíveis, cuja fórmula matemática nos dá o resultado.

Isto significa que uma página com 6 ideias possibilita pensar 57 integrações possíveis dessas ideias entre si, ou seja, possibilita pensar 57 significados e conclusões diferentes. É o que se pode chamar uma página de "estudo, leitura e compreensão difícil" comparada com aquela que só tem uma ideia extraída.

Sem apresentar os cálculos de um livro onde se seleccionaram 10 ideias importantes, as hipóteses de conclusões possíveis serão de 1.308 ideias significativas. Se um livro possibilitar 50 ideias esta quantidade ascende a muitos milhares.

Portanto, o chamado método natural de estudar ["ler, pensar, resumir"], deixará de funcionar neste caso. Estudar as matérias numa Escola Primária não é o mesmo que estudar matérias numa Universidade, (Licenciatura, Mestrado ou Doutoramento) …ou estar-se-á a usar o "método das cassetes" ou os programas serão apenas meia dúzia de efemérides que se aprendem nas curiosidades culturais das revistas e jornais.

Conclusão

Estudar é relacionar ideias capturadas (ler, ouvir, ver, sentir,..) em tempo real e de forma sequencial e depois com elas criar redes de significados que serão resumidas e arquivadas, para posterior suporte de outros estudos.
A quantidade de ideias capturadas altera a qualidade do estudo, e exige adaptações metodológicas.






Sem método apanhamos o feno e ele vai ficando pelo caminho.

Sem método estudamos o livro ou a matéria para exame e as ideias vão ficando pelo caminho.

Não é um problema de esforço, é um problema de termos instrumentos que não nos estragam o esforço.








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