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sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Um filme estranho, para amar ou odiar

Filme "Searching"

Gostei e não foi "à primeira", levou tempo desde desconfiado, depois curioso e até ficar "fan". 
Não é de ficção cientifica mas da realidade actual num quotidiano impregnado de tecnologia. A forma é estranha? Sim, mas tinha que ser e felizmente é.

A minha conclusão foi que o perigo não são os computadores pensarem como pessoas, mas as pessoas pensarem como computadores. Aquele pai angustiado e stressado, mergulhado em informação e raciocínio (como um computador) nunca largou a intuição (como um humano) por muito grande que fosse a sua angústia... mas prefiro pensar... que foi exactamente por causa da sua grande angústia.

Filme "Searching"(feito em screencasting, news, gimmick, etc)
Se costuma "passear" pela internet, facebook, google, youtube, skype e quejandos poderá gostar ou detestar este filme, mas se não pertence a este grupo de "habitués" (regulares), então talvez nem goste nem deteste... apenas não percebe e por isso "manda-o para as urtigas".

O filme não é de ficção cientifica mas da realidade do século XXI e suas gerações mergulhadas na tecnologia.
A história é simples, uma jovem estudante de 15 anos desaparece e o filme conta as consequências desse desaparecimento talvez por fugitiva (?), raptada(?), morta(?), perdida (?), etc, e mostra as dinâmicas que se criam nos seus personagens habituais, isto é, pai e tio, polícias e detectives, colegas e amigos, jornalistas e mass-media, vizinhos e redes sociais, etc.

Numa 1 hora e 42 minutos há de tudo. Conclusões de sexo fora e dentro da família, lutas e murros, boleia de oportunistas com suas "mentiras sociais", polícia corrupta, fakes news, asneiras e sucessos de angústias afectivas, droga, etc... em conclusão, é uma história banal, vulgar e costumeira.

Para minha surpresa e espanto, a grande diferença é a sua forma, totalmente em screencasting, news, gimmick, etc.
Todo o filme é feito com imagens de ecrans de portáteis vulgares e normais, telemoveis, notícias TV, filmagens de câmaras clandestinas, etc. Todavia, não tem as habituais filmagens da história em vida real, na verdade... nadica, nicles, niente di niente... só mediatizadas por comunicação digital.

As imagens são reconhecíveis de facebook's, google's, youtube's, chrome's, skype's, news, etc, e com elas a história é contada durante 1 hora e 42 minutos, com começar, desenvolver e acabar.

No meu caso, a minha evolução como espectador deste filme foi uma experiência pessoal, curiosa, pois esperava um filme normal e acabei ficando preso a um filme fora-do-normal.

Os meus primeiros minutos foi um olhar distraído à espera que a apresentação do filme acabasse e ele começasse. Tal não aconteceu. Passado algum tempo, distraído, pensei que a longa introdução era intencional para vincar que a "comunicação tecnológica" ia ter uma papel importante. Continuei à espera.

Mas as imagens de écrans continuavam e comecei a pensar "Que é isto?!?!? ...avariou?"... mas havia diferenças e também parecia ter uma certa lógica. Comecei a olhar com mais atenção e a ficar curioso "...onde é que isto vai dar???".

Passado algum tempo tive uma surpresa "...mas isto faz sentido!!!" "...isto é o filme!!!" e interessado "mergulhei" nos sucessivos ecrãs, normais, costumeiros e bem conhecidos dos facebook's, skype's, google, email's, etc, que afinal no seu conjunto me contavam uma história, afinal [...os mensageiros eram a mensagem...].

A partir daqui estava "anzolado" no filme, no seu mundo fílmico diferente, e assim continuei até acabar nas suas voltas e reviravoltas finais.

Apareceu o ritual pós-terminus com os habituais frames pretos com letras brancas dos nomes de quem participou mas eu, "vidrado" e imóvel, continuava a olhar o écran sem o ver e a recordar o filme.

A imagem dominante era o pai stressado e angustiado, agarrado ao computador. A situação parecia-me clara, era a sua angústia afectiva que não o deixava aceitar a lógica da informação de factos e evidências em que tudo terminava. O computador era claro, perito e óbvio... mas ele não o largava... vendo sempre o mesmo.

Mas a sua perspectiva era diferente.

Não era para aceitar o que ele mostrava, era para "VER BEM" o que mostrava e descobrir o que estava lá e o computador não dizia. Na gíria "isto" chama-se intuição, ou seja, [...um saber de não-consciência feito].

PS- A discussão de um computador com consciência (ou sem) é uma questão interessante (vide os filmes de ficção) mas talvez seja mais interessante pensar se terá inconsciência e sub-consciência e, já agora, se terá intuição (o que quer que isto seja).

POIS É,...

nestas gerações actuais, simbióticas com tecnologias computorizadas, o problema não é usarem computadores e telemóveis, o problema é o modo como pensam ao usá-los. O risco futuro não são os computadores pensarem como humanos, são os humanos pensarem como computadores... isto é, perderem a intuição e empatia e ficarem só com informação e lógica.
Se isso não acontecer, os computadores e os telemóveis serão apoios tão úteis à humanidade como foi a RODA.

PS - Lendo as noticias, gastar-se 50 reuniões de negociação para resolver um problema não me preocupa, até podem ser 100 reuniões, o que me preocupa é a falta (ou não) de empatia para com os que, ENTRETANTO, sofrem com esse problema. Sem empatia será pensar à computador, com empatia será pensar à humano.

PS- a propósito....
as rodas são imprescindíveis nas máquinas de matar!



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