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sábado, 16 de agosto de 2014

Pensar com "areias movediças"

é a palavra que arrasta
as "areias movediças"






No Café duas mães conversam, uma lamenta-se do casamento da filha:

- "A Luísa e o marido andam zangados e descobri que a causa é porque ...@?@##@?@... portanto decidi que ...@?@##@?@..."


É assim que tudo começa... pois aquilo que vulgarmente se considera uma análise causa-consequência é na realidade uma análise consequência-causa e elas são diferentes.

Quando uma análise consequência-causa é considerada como causa-consequência fomenta um portanto que origina "naturalmente" uma "bagunça lógica" e faz mergulhar os raciocínios nas "areias movediças" do pensar confuso.
Para o evitar é preciso impedir duas armadilhas:

1ª - confundir análise "causa-consequência" e "consequência-causa";
2ª - confundir lógica linear e lógica em rede;


Qualquer desses métodos podem ser utilizados em análises prospectivas do que irá acontecer, isto é, o futuro, ou retrospectivas do que já aconteceu, isto é, o passado.
Consoante o que se pretende, alteram-se métodos e variáveis, pelo que uma síntese muito concentrada se pode resumir como:

A) Causa --> Consequência

Neste método o ponto de partida é sempre a causa e tem a consequência como ponto de chegada. Faz parte do método a análise do processo de transformações que une os dois.
Podem suceder 4 hipóteses que são:


Como se repara as 3 alternativas A, B, C têm todas a consequência como a incógnita a clarificar (saber o que não se conhece) sendo este o objectivo do método.
A alternativa D é uma situação híbrida comum a este tipo de análise e ao seguinte, pois é uma pesquisa do "como acontece" e não de "o que acontece".

Exemplo:

- O João amealhou dinheiro, portanto comprou o carro..!!!

A causa "amealhou dinheiro" levou à consequência "comprou o carro".


B) Consequência --> Causa

Ao contrário do anterior, neste caso o ponto de partida é consequência e tem a causa como a incógnita a clarificar (saber o que não se conhece), sendo este o ponto de chegada, o objectivo do método. Do mesmo modo, a análise do processo de transformações que une os dois faz parte do método.
Também podem suceder 4 hipóteses (inversas das anteriores) que são:


As conclusões são semelhantes, pois as 3 alternativas E, F, G têm todas a causa como incógnita. A alternativa H corresponde à alternativa D anterior, mas desenvolve-se em sentido contrário. Os dois métodos podem funcionar como avaliação crítica  e confirmante um do outro.

No exemplo anterior do "casamento da Luísa", a mãe conhecia bem a consequência e procurava a causa, estando portanto a viver a alternativa E, F, ou G, ou seja,  fazendo uma análise consequência-causa.
Na vida quotidiana (social, familiar e até profissional) esta é a situação mais comum, muitas vezes sem se usar metodologias apropriadas.

Em complemento desta falta metodológica,

existe um vírus mental que sobrevive clandestino nos processos mentais e se entretém a corroer o raciocínio.

Este vírus cola a verdade de conhecer que a "causa A origina a consequência B" à certeza de considerar como verdade que a "consequência B é originada na causa A", o que não é necessariamente verdade, por ex.:

se o fogo causou fumo...então...
se há fumo a causa é fogo!

(ex, fumo de água oxigenada com permanganato de potássio não tem fogo)

As conclusões verdadeiras das análises "causa-consequência" não são inerentemente verdadeiras nas análises "consequência-causa".

Retornando ao exemplo anterior da verdade "causa --> consequência":

- O João amealhou dinheiro, portanto comprou o carro..!!! 

não permite concluir como verdadeira a "consequência --> causa":

O João comprou o carro, portanto amealhou dinheiro...!!!

Como é evidente, existem outras alternativas que podem ser a causa de comprar o carro, desde ter uma herança até ter casado com mulher rica ou ganhar o euromilhões.

A conclusão resumo é que uma verdade "causa-consequência" não origina, por inerência, que a sua inversão "consequência-causa" seja verdadeira todavia, normalmente, esta inerência é feita ao pensar "racionalmente" com este vírus "a ajudar", por ex.:

[... sendo verdade de que quando chove o chão está molhado, 
não é verdade que, com chão molhado, tenha chovido...
...apenas existe um TALVEZ tenha!]

é a palavra que fixa
as "areias movediças"






Na lógica linear primária os talvez's são praticamente inexistentes. Se "A" conduz a "B" então "B" conduz a "A", ou seja, a inversão da "causa-consequência" coincide com a "consequência-causa", ou em esquema:
... prego espetado segura-se à madeira, 
madeira segura-se ao prego espetado...

Porém mesmo em lógicas lineares, elas podem ter alternativas (os talvez's) pois a conexão "A" para "B" pode não ser equivalente à conexão "B" para "A", em esquema:

...se mulher bonita causa vestido bonito, 
vestido bonito causa, ou não (talvez), mulher bonita...

Como exemplo, a colagem desta causa-consequência à sua consequência-causa funciona como "truque" para motivações em passagem de modelos:
- "Ela estava tão bonita....!!!!"
 ...portanto... 
- "Eu também vou ficar...!!!".

Porém a vida real não vive com esta simplicidade, as lógicas não são lineares pois os talvez's invadem as situações:



[... um bater de asas em Tóquio
pode ser causa de 
um tornado no Texas...]

Efeito borboleta, Teoria do caos.




Na verdade na vida tudo é mais complexo que um mero processo linear, a mesma consequência pode ser originada por causas diferentes e várias causas integradas podem originar uma consequência, além de que vários factores externos podem, de modo variável, influenciar estas causas:


Do mesmo modo, também a mesma causa pode originar consequências diferentes, dependendo das "causas da causa" e de factores que a influenciam: 



A habitual análise causa-consequência pode ter complexidades "escondidas" pelo que o uso da decisão automática ...portanto... sem considerar os "talvez's" pode ter  resultados inconsequentes.

Isto não significa fugir a análises e muito menos fugir a decisões, significa apenas fugir a não considerar os muitos "talvez's" envolvidos:


Na vida real as situações são um fluir de causas e consequências numa rede de interacções que se podem pesquisar para saber para onde vão e por onde [...análise "causa-consequência"...] ou donde vêm e por onde [...análise "consequência-causa"...] através de um emaranhado de evidências e inferências.

Esta dupla, evidências entrelaçadas com inferências, está sujeita a opções lógicas, umas conscientes outras subconscientes como por ex. o uso de certos paradigmas.

O resultado destes três factores aparece nos "talvez's", obrigando a uma sua cuidadosa avaliação para evitar as "areias movediças" do pensar onde acontecem tantos afogamentos... é preciso treinar a caça aos "talvez's".


O prazer de jogar o "Kakuro" (um jogo de "talvez's" com números) é o prazer desta caçada, pois nele, quanto mais difícil é, maior é a "bagunça dos talvez's".
Considerando que só há um resultado, o progresso aumenta a eficácia do "desbagunçar" o emaranhado com a alegria de, por fim, conseguir no nível difícil passar de 2 horas para 10 minutos.

Muitas vezes, sem o parecer, a bagunça tem lógica, é só preciso pesquisá-la caminhando pelos TALVEZ's e separando o "trigo do joio":




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