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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Esquizofrenia cultural, …QUE BOM...!!!



Esquizofrenia = cisão das funções mentais
[grego: schizo (divisão) + phrenos (mente)]

Ao longo da História a mestiçagem cultural sempre foi usada pelos colonizadores  e/ou pelos ditadores, quer disfarçados de democratas quer mesmo por ditadores já assumidos e como tal disfarçados de deuses, que utilizam uma técnica bastante simples:

criam nos indivíduos do grupo colonizado, 
e do grupo colonizador, a
esquizofrenia cultural colonizador-colonizado,
ou seja, 

[… agarra-se num "indígena" e ele é re-educado no país colonizador, regressando depois ao país de origem para ser um bom agente de enquadramento nos níveis inferiores da hierarquia. 
Em complemento, agarra-se num "colonizador" e é re-educado no país colonizado para ser um bom agente de enquadramento nos níveis superiores da hierarquia.
Os casamentos mistos (na gíria com "samoas") e a sua descendência reforçam a esquizofrenia cultural consolidando a mestiçagem.]

PS - Na sociedade e nas suas organizações existem processos semelhantes de mestiçagem cultural entre os "com poder/estatuto" e os "sem poder/estatuto" em que […o criado do duque é mais ducal do que o próprio duque…]. 
(É interessante ver o filme "The remains of the day" com Anthony Hopkins como mordomo")

O resultado da mestiçagem são duas estruturas de paradigmas em sobreposição de seus aspectos parciais que ficam integrados ou mutilados ou bloqueados ou em standby ou em conflito, etc., muitas vezes resultando apenas uma "caixa de Pandora" em risco de "explodir".

Mestiçagem cultural de "A" com "B", 
enquadrada em contexto social fechado

MAS…(felizmente há sempre um "mas") esta "técnica" não só tem uma face muito positiva, como a História bem documenta (vide biografias de chefes revolucionários), como também na época actual surgem várias correntes em que esta mestiçagem cultural é a solução de futuro para a actual sociedade tecnológica (ex., Digital Aboriginal de R. Tarlow e P. Tarlow).  

Na verdade a mestiçagem cultural permite ver o mundo com dois olhos diferentes e pensar nas situações com duas perspectivas listando mútuos pontos fortes e fracos, isto é, possibilitando criar alternativas mais lúcidas, eficientes e operativas para os problemas. 

Enquanto que o objectivo primário da mestiçagem cultural é criar inteligência para dominar a cultura do colonizado, o seu reverso é que vai criar também inteligência no colonizado para combater esse domínio… isto é, quando a perspectiva de luta é  dominante esta "solução" de paz é semente de guerra.
(ex., India com Ghandi versus UK com 1º Ministro C. Atlee e Governador da India Lord Mountbatten).

MAS(felizmente há sempre um "mas") como foi atrás citado, origina também outra alternativa que não é um problema de "quem domina quem", mas sim um problema de "quem é cúmplice de quem". Neste caso o objectivo é construir cumplicidades culturais para encontrar as imensas possibilidades SEMPRE existentes "fora da caixas de qualquer dos paradigmas" e, aqui, esta "solução" de paz é semente de paz.

Em resumo, paz ou guerra não é inerente à mestiçagem cultural mas sim ao processo em que ela se insere e, como é óbvio, ao método utilizado.

Esta última alternativa é a que me atrai e agrada, ou seja, caminhar […sempre a procurar passar para além do Bojador, pesquisando o mar desconhecido…] como os antigos marinheiros ...e como eles, esses "marinheiros cientistas" das caravelas, procurar aprender o desconhecido, neste caso os paradigmas de outras culturas e procurar ser delas participante vivendo a aventura de uma mestiçagem saudável:
…olhar o futuro…apoiado no que conhece
para procurar o que existe e não conhece...
Assim, 
cada vez mais o passeio pelo shamanismo e pelas culturas tribais se está a tornar uma aventura interessante e atractiva.


Seguindo o pensamento do Mestre Kenji Tokitsu na sua diferença entre Princípio e Regras e preocupando-me mais com os Princípios "escondidos" (undercover) debaixo das Regras do que com as próprias regras, cheguei à conclusão de que […em formas diferentes o ser humano trilha o mesmo caminho…] e, por baixo das roupagens, a espécie humana "viciada" na curiosidade de saber é toda igual, somos todos irmãos…

…desde "palitos" no nariz até "abajurs" na cabeça todos fazem a mesma "dança"

No duo Princípio-Regras do Mestre Kenji Tokitsu as Regras são normalmente impostas pela organização formal "dona" do Princípio para manter o próprio poder, com o risco de se […ficar aprisionado nas regras afirmadas autênticas(??) e ignorar o Princípio…], tal como acontece com algumas religiões e outras ideologias totalitárias ou democráticas, surgindo então os fanáticos do fanatismo.

Pensar a diferença princípio-regras é semelhante a pensar a diferença onda-partícula na Quântica. 

Poder-se-á dizer que o Princípio é o garante das possibilidades possíveis de existência (semelhante à Onda da Quântica), enquanto que as Regras são o garante dos métodos de aplicação, isto é, as possibilidades colapsadas da Quântica, ou seja, as Partículas ou, numa linguagem muito U.S.A., o Protocolo para cumprir fielmente.

De qualquer modo os dois são necessários, pois sem Regras (Protocolo) o conhecimento é fugidio e sem poder de actuação, mas sem Princípios o conhecimento é uma prisão sem flexibilidade para mudar, encerrados no Protocolo. 
Como exemplo, ensinar Matemática só pelo cálculo é uma prisão aborrecida, mas ensinar só pela compreensão é uma liberdade vazia,  o mesmo sucedendo com a Física, a História, etc.


Comparações culturais

Nestes passeios de comparação cultural encontrei Wallace Black Elk, medicine-man dos Lakota (Sioux) que diz:

"Se há Diabo na Terra ele está entre as duas orelhas",

[…para o guerreiro da vida derrotar o medo é preciso persegui-lo até ele fugir…]

se bem entendo, e pensando como Black Elk, eu concluiria:

 - "…e sair do meio das minhas orelhas",

mas o problema é saber como faço pelo que resolvi procurar descobrir o "Protocolo" e depois encontrar o "Princípio" que ele expressa.

Como é habitual nos processos tribais, o método que é simples sem ser simplista apresenta duas etapas:

1 - Observar minuciosamente o medo,

por exemplo:
--> detectar onde se sente o medo no corpo? (estômago? coração? músculos? intestinos? garganta?);
--> aumentar a sensibilidade nesse local (o que sente: pressão? calor? tensão-dor? tremuras?…);
--> procurar aumentar e expandir essa sensação pelo corpo todo;
--> Imaginar que forma tem? (agulha? faca? pedra? peso? martelo?…)
--> …e cor? e textura ? (áspera?, macia?, picos?) e quente ou frio?
--> atitude provocada: irritação? solidão? tristeza? melancolia? raiva? fraqueza? fuga? impotência?
--> se fosse um animal o que seria ? e que animal gostaria de ser para o enfrentar?
[…e assim sucessivamente…]

Como o Protocolo é simples e claro fui à procura do seu Princípio nos conceitos da cultura ocidental e repentinamente ele entrou-me pelos olhos adentro … é o Triângulo de Karpman.
Este conceito é o alicerce que suporta a estrutura dos dramas em filmes, séries, telenovelas, romances, banda desenhada, etc.

A ser assim, pode concluir-se que o importante não são as perguntas nem as respostas mas a atitude criada, pois passa-se do papel de Vítima do medo para o papel de seu observador ou, no conceito de Karpman, para seu Perseguidor, facilitando deste modo criar e assumir o papel de Salvador destruindo o medo.

Ou seja, o Triângulo de Karpman:
Triângulo de Karpman
(existem variantes)
Numa rede de relações há três papeis a desempenhar: o que persegue, o que sofre, o que salva.
Qualquer história é o relato das relações entre estes papeis, como se dinamizam entre si, como se transformam e como se entrelaçam com outros papeis secundários e terceários de vitimas, salvadores e perseguidores participantes na situação. Exemplos:

1 ==> O Robin dos Bosques é o Salvador, o Principe João/Xerife de Nottingham são os Perseguidores e o povo é a Vítima.
2 ==> A Cinderella é a Vitima, a madrasta é a Perseguidora e a fada/Príncipe são os Salvadores.
3 ==> O Superhomem é um Salvador por excelência, excepto no seu amor pela jornalista e quando aparece a Kriptonite (o meteorito do seu planeta de origem) que lhe tira o poder e o transforma em vítima a precisar ser salvo.

Porém nestes exemplos a trama é simples pois cada papel é genuíno, isto é, não é uma máscara para outro papel escondido em que o "Salvador afinal era um Perseguidor disfarçado". Quando isso acontece a trama é complexa. Exemplo:

4 ==> Uma conexão entre 3 personagens (marido=vitima; mulher=salvador; ex-marido=perseguidor) em que cada um deles, sucessiva e alternadamente, troca de papeis… as vezes que for preciso enquanto houver audiências para manter.

Em determinada situação, por intrigas, a vitima (marido) passa a perseguidor do seu salvador (mulher) que assim se torna vitima, sendo salva pelo antigo perseguidor (ex-marido) que esclarecendo a intriga fica no papel de salvador. 

Com esta reviravolta de papeis a saga continua enquanto houver mercado que os aguente pois só é preciso imaginação para criar um interessante novo suspense cuja arranque deve ser sempre no fim do episódio anterior para manter o espectador preso ao episódio seguinte.

5 ==> A serie TV "24 horas" com as suas 8 temporadas num total de 192 episódios foi a série que vi com mais reviravoltas do triângulo de Karpman, não só inter-episódios como intra-episódio, com situações de total(?) impasse de solução lógica, todavia uma pequena reviravolta desprezável e lógica possibilita a continuação da história sem ser com habituais soluções "parolas", tais como "um terramoto que mata todos" seguido de choros em enterros tipo "cerimónia de Oscares".

Regressando à cura shamanica do medo, o "Princípio terapêutico" que subentende o Protocolo é a mudança de atitude do medroso passando de Vítima a Perseguidor do medo, pois deste modo a situação entre as "orelhas do medroso" é alterada, pois o medo precisa da uma Vítima para existir e ela acabou de desaparecer ao transformar-se em Perseguidor.

6 ==> É semelhante ao autoritarismo.
Observar o autoritário é sempre fugir ao seu domínio […é deixar de lhe ser obediente…], pois deixa de ser Vitima da autoridade. Por isso o protocolo de relação com o poder/estatuto considera errado olhar fixamente para os seus agentes, os ditos "Suas Excelências", classificando isso de "má educação" e de "falta de respeito".

Como experiência, ao sofrerem uma relação de autoritarismo tentem observar o que o autoritário faz e tirem conclusões "entre as vossas orelhas", a sensação é semelhante a verem palhaços no Coliseu… e se usarem a imaginação vendo-o em "trajes mais que menores" têm que controlar o riso. Isto dá sempre muito resultado na relação com fardas de nível superior.

Por outro lado, ser olhado fixamente em observação (to be stared) cria uma sensação desagradável sem saber como se comportar, o que fazer com as mãos e pés, onde pôr os olhos, etc., situação vulgar nos elevadores em que se fica a apreciar a gravata do parceiro.

Os Lakotas dizem que quando os Deuses gostam de um guerreiro da vida põem-lhe um perseguidor (a hard clown) a "chateá-lo" para ele aprender a "tirá-lo de entre as orelhas" pois é aí que ele se instala.
Há um pequeno livro importante nesta perspectiva (já reli algumas vezes) mas visto numa perspectiva ocidental que é "Um psicólogo num campo de concentração" de Viktor Frankl (Ed. Vega, Lisboa), um relato vivido de um psicólogo judeu num campo de concentração.

Regressando ao shamanismo e medo, o que achei mais interessante no seu protocolo foi a sua segunda etapa que propõe, uma espécie de "pesquisa de traumas freudianos existentes", ou seja:

2 - Que lembranças este medo traz ??

Sem pretender fazer psicanálise, esta etapa é, nas suas palavras, [...procurar as sementes onde nascem os medos…] e fazer para elas uma análise semelhante à da 1ª etapa.

Penso que o Princípio também é o mesmo, sair da perspectiva de vítima do passado que é o perseguidor do presente (Freudismo??), e observá-lo em suas características como sendo uma espécie de Base de Dados a usar para obter informações de controlo, e assim passar de vítima a perseguidor.

Analisando o protocolo shamanico fiquei com a sensação que são truques que, parafraseando como neurociência,  se limitam a [… tirar o passado da área do sistema límbico (emoções) e colocá-lo na área do neocortex (lógica racional)…] talvez o contrário do processo de se deitarem no divã do psicanalista a chorar emocionados por "causa da relação com a mãe" e dos complexos de Édipo ou Electra.


Outro passeio interessante foi aprofundar a

Vision Quest… um ritual para abrir uma porta em que se aprende a […sentir a vida dentro da vida…] adquirindo percepção da teia de ressonâncias que nos cercam.

Desde relatos de culturas tribais em isolamento na natureza, até relatos religiosos de Profetas Bíblicos mergulhados no deserto, passando por rituais de crescimento dos Indios nativos americanos, penso que a leit motiv comum é […estar na natureza não é ver árvores ou animais, não é con-viver com eles, é senti-los, é sentir outra realidade que também existe…].

O aspecto importante parece ser uma intensificação dos sentidos na captação do que os rodeia e o ponto fulcral não é a sua duração temporal (dias, meses ou anos a fio como nos relatos Bíblicos) mas da qualidade da "escuta".

No shamanismo dos índios americanos, muitas vezes o ritual começa com a construção de um "medicine wheel circle" pessoal.


Einstein e cultura nativa índia

Pensando na "medicine wheel circle" do shamanismo e em Galileu e Einstein, parece que para além das diferenças nos seus Protocolos surgem semelhanças nos seus Princípios.

Para esta comparação há duas palavras chave: ressonância e "Field" (campo quântico) a partir das quais se pode obter uma possível compreensão da VisionQuest shamanica com paradigmas ocidentais .

(sobre "Field", ver Blog "Possibilidades, decisões embebidas e 5 experiências", de 24 Out 2013)
(sobre "ressonância", ver Blog "Apaixonados ou não???… é uma questão simples", de 2 Mai 2014)





O modelo tradicional de átomo ensinado na escola é um espaço vazio onde "flutua" um núcleo de protões e neutrões rodeado de electrões. Com este modelo constitui-se um paradigma que manipula e estrutura a compreensão do mundo à nossa volta e com ele defendemos as nossas verdades(??) assim compreendidas:


Em complemento, surge o modelo do campo de energia:


Entretanto o conceito de o átomo com os seus 99,999% de espaço vazio foi alterado e passou para o paradigma em que ele está preenchido com "energia subtil"- THE Field  (O campo) - ou a Matrix que impregna tudo, é omnipresente e é a base de tudo e onde tudo existe.
O Field é "energia in-formada"(formatada de dentro),
David Bohm (Prémio Nobel da Física) chama "in-formation", ou seja,
 [...a message that actually "forms" the recipient.].
Os físicos quânticos chamam-lhe o "zero-point field"
(semelhante(??) ao Ponto Omega do Padre católico Teillard du Chardin ??) 
ou só chamam "The Field", O campo de todas as possibilidades.
Einstein:
"The field is our only reality"

Porém este novo paradigma para pensar o mundo à nossa volta parece "irmão gémeo" dos Princípios shamanicos apenas vestindo outra roupagem.

Se todos nós somos um "pacote" de átomos e se eles são campos de energia, então todos nós (incluindo animais, plantas, minerais) somos emissores de frequências "invisíveis" aos nossos 5 sentidos, mas possivelmente não só "visíveis" umas às outras mediante ressonâncias, como também visíveis a outras formas de percepção (outros sentidos?) como acontece com animais.

A questão levantada pela VisionQuest quando diz "estar na natureza não é ver árvores ou animais... é senti-los…" poderá significar (na perspectiva de Newton) que é "entrar em ressonância" com as (na perspectiva de Einstein) "frequências do Field pessoal dos seres que nos rodeiam"???

A ser assim, na experiência de VisionQuest a perspectiva shamanica junta no mesmo "barco" a perspectiva de Newton e a de Einstein…Uhau…Uhau….

Noutras palavras, a VisionQuest será apenas uma espécie de workshop para treino de "sentidos" que temos "embotados" e se os bloqueios forem tirados […do meio das nossas orelhas…] o nosso mundo tornar-se-á um mundo diferente.

Não tenho experiência de VisionQuest mas tenho experiência de potenciar um sentido e de repente o meu mundo ser diferente.

Durante algumas aprendizagens de Tai Chi Chuan com orientações de um Mestre de Singapura, tentei fazer o "duche de Ki". Na prática, era procurar sentir a energia ki que nos envolve a derramar-se pelo corpo, "escorrendo" ao longo dele como se fosse um duche de água. 

A perspectiva do Tai Chi Chuan que foi apresentada é que o ki está sempre à nossa volta e conectando connosco como um campo de força em que estamos mergulhados, se seguirmos a regra de que [… a energia segue sempre a intenção…] apenas é preciso criar intenção, pelo que o Protocolo sugerido e orientado foi aumentar a […sensação e a emoção de contacto e conexão…].

Na prática e em resumo,  foi concentrar e aumentar a sensação quinestésica da pele em todo o corpo seguindo um percurso de pontos a visualizar e a focar de modo a possibilitar o sentir global.

Após tentativas de resultado nulo no "duche de ki" mas talvez com êxito na abertura do caminho (nas palavras do Mestre), … não sei se senti o "ki" mas sei que senti o "duche" e sei que o resultado é um misto de "estranho" e "bom", num paradoxo de calma+relaxação com energia+tensão. 

Desde aí, o meu mundo tornou-se diferente, agora sempre que quero tenho um duche revigorante "à mão de semear", ninguém vê ou sabe […tudo se passa no meio das minhas orelhas…].

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