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domingo, 16 de fevereiro de 2014

O extra-ordinário, o estudar e o quotidiano



O extra-ordinário é o que está fora do ordinário.

Uma questão fundamental é decidir se isso acontece porque algo de diferente surgiu ou porque se viu o "normal" doutra maneira.
Se se reparar esta aparente dupla alternativa tem, na prática, o mesmo problema.

Na verdade, quer seja diferente, quer seja normal é sempre preciso VER DIFERENTE






Qualquer "pré-histórico" que descobre um avião e o "vê" como mais um pássaro lá no alto, nunca encontrará algo de extra-ordinário.



Em resumo, o extra-ordinário da vida está na capacidade de ver diferente e o espantoso é que a igualdade que vemos no que nos rodeia é uma abstracção, enquanto que a diferença é o concreto. 
Não há duas pessoas iguais, não há duas árvores iguais, as folhas de uma árvore são todas diferentes, nós próprios não somos iguais em dois dias seguidos... mas passamos a vida inteira sem nunca ver algo diferente, mergulhados na rotina da igualdade.

Outro dia conversando com um jovem (12 anos) sobre como estudar dizia-lhe quer era só preciso ver as diferenças que existem e pensar sobre elas. Ele respondeu-me que estudar era sempre o mesmo -"… é só ler, resumir e decorar o que lá está..." e concluía -"…o livro não muda é sempre o mesmo!".

Gostei da segunda afirmação, significava que nele o pensar estava activo, a ser aplicado e o conceito "diferença" estava a ser usado, agora só era preciso "complicar".

Levantei-me, levei-o à janela e pedi-lhe para me dizer qual era a cor das folhas da árvore que estava em frente. Respondeu-me -"São verdes".
Pedi-lhe para me dizer quantos verdes ele via e passado algum tempo começou a encontrar vários verdes e a ficar divertidíssimo.
A brincadeira continuou com outras árvores e pedi-lhe que me contasse o que tinha encontrado. No fim disse-lhe: -"Estiveste a estudar as árvores". Ficou sério e calado.

Regressámos à sala e pedi-lhe para "estudar" as diferenças entre duas cadeiras "iguais" e depois entre duas pernas da mesma mesa.

A seguir perguntei-lhe:

- Porque é que há pintores famosos que são franceses?

(PS - Querem tentar responder? No fim há algumas dicas.)


Deu-me uma resposta e foi uma longa conversa sobre ela, sobre diferenças e sobre estudar.

Na sessão seguinte disse-me que a professora tinha dito "hifi" e não "haifai" e perguntou como se deveria dizer. 
Foi outra vez uma conversa interessante sobre a sua capacidade de apanhar diferenças e o inteligente cuidado a ter no seu uso com quem o rodeia e também o modo de dizer palavras doutra língua na sua própria língua.

Mas o que foi muito claro para mim foi que a porta da caça do extra-ordinário estava aberta…pelo que o universo do estudo estava à sua espera.

A minha esperança é que não estraguem isso, isto é, que os "pré-históricos" não o castrem,






DICA

A - Porque é que há pintores famosos que são franceses?

B - Porque é que há pintores franceses que são famosos?


A resposta não é a mesma apesar de ambas terem igualdade nas 3 áreas de diferenças:

1 - ser ou não pintor
2 - ser ou não famoso
3 - ser ou não francês

mas há uma diferença na estrutura que as contém:

A - pintores ==> famosos ==> franceses  
=> resposta: porque nasceram em França, se tivessem nascido na China eram chineses.


B - pintores ==> franceses ==> famosos 
=> resposta: porque as suas pinturas são muito conhecidas … se positivamente: famosos por BONS, se negativamente: famosos por MAUS.
Se não conhecidas, são não-famosos (desconhecidos).

Normalmente responde-se a "A" com a resposta de "B"… o córtex gere as diferenças como lhe "apetece".


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