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domingo, 8 de março de 2015

Motivação 1.0, 2.0 e 3.0 e métodos de liderança


Harry Harlow, Professor de Psicologia na Universidade de Wisconsin, ao estudar o comportamento dos primatas obteve um resultado inesperado numa experiência que realizou quando colocou 8 macacos Rhesus perante o seguinte problem-solving:


ou seja, para encontrar a solução de levantar a tampa "C" era preciso uma sucessão de 3 etapas pela seguinte ordem:

1º - Tirar o espigão "A";
2º - Afastar o gancho "B";
3º - Levantar a rampa "C".

Os investigadores colocaram aparelhos dentro das jaulas para os habituar a eles e depois poderem prepará-los e induzi-los a fazer o teste dentro de uma semana.

Mas, sem qualquer influência exterior, algo estranho aconteceu. 

Quase imediatamente, começaram a manipular o aparelho, concentrados, determinados e alegres. Em pouco tempo encontraram a sequência solucionadora que depois repetiam, chegando alguns a demorar apenas 60 segundos. Ninguém os ensinou a tirar o espigão, afastar o gancho e/ou abrir a tampa e, muito menos, a exacta sequência necessária.

O mais estranho não foi a sua "habilidade" mental, foi a não-existência de impulsor motivacional para o fazer.

Na verdade, os três impulsores básicos biológicos comer, beber e sexo (motivação 1.0, ver Daniel Pink) não estavam presentes e os dois impulsores sociais prémio e castigo (motivação 2.0, ver Daniel Pink) também não.

A questão que se levantou a Harry Harlow era saber qual era o motivador em jogo que impulsionava os macacos, considerando que nenhum dos outros motivadores estava ainda actuando.

Pensando em situações motivacionais, há seitas religiosas que usam a motivação 1.0 (comer, beber, sexo) através de orgias para alcançar Deus, enquanto outras usam a motivação 2.0 (prémio, castigo) acenando com o Céu e o Inferno.

Do mesmo modo na política, há partidos que propõem Poder, Riqueza, Estatuto  usando  a motivação 1.0  possibilitando recursos para "comer, beber, sexo", enquanto outros mais ascetas usam o Prémio-Castigo da motivação 2.0 propondo lutas entre partidos SEM asneiras/subornos (Céu) versus partidos COM asneiras/subornos (Inferno), uns atraindo "chicos espertos" e os outros "missionários moralistas".

Ainda hoje nas empresas (e nas escolas) a dominante é o Prémio-Castigo da motivação 2.0 (salário/prémios versus despedimento) apesar de após Elton Mayo, com a sua teoria das relações humanas, a influência da motivação 1.0 ter sido trazido à ribalta .

Considerando Cristo, Buda e a própria cosmologia hindu (além do trivial não conheço muito do Alcorão e Maomé) parece-me que motivavam e motivam também fora da motivação 1.0 e 2.0 A questão que surge é - " Qual será ela?".

Qualquer que seja a hipótese da motivação 3.0, não me parece que o Workólico  esteja usando as duas primeiras, nem que elas sejam dominantes nas manifestações políticas, apesar de existir uma percentagem de manifestantes que procura viver teias relacionais (motivação 1.0) e/ou catarse céu-inferno por anti-partido versus pro-partido (motivação 2.0).


Regressando aos macacos, na altura Harry Harlow resolveu reforçar a motivação com comida e o resultado foi negativo pois criou rupturas. 
Muitas vezes isto acontece nas empresas com os prémios de desempenho, pois esquece-se que ganhar o 1º prémio pode ser obtido por se tentar ser o melhor e/ou tentar que os outros sejam piores. Numa palavra, "pode ser pior a emenda que o soneto" para se criar motivação, pois só depende do tipo de "inteligência estratégica" usada pelos concorrentes e da "cegueira" dos organizadores.

A conclusão de Harry Harlow foi que era preciso ver com outros olhos a problemática da motivação e "abandonar grande parte do lixo teórico" com que pensamos (close down large sections of our theorical junkyard).

 Autonomia versus automatia

Parece que uma grande diferença entre motivação 2.0 e a possível motivação 3.0 estará em que a primeira exige conformidade (automatismo) e a segunda compromisso (autonomia).

O método do Prémio-Castigo aplicado a um acto vai fazer com que o acto passe a ser secundário e o principal passe a ser o SIM-PRÉMIO (a chamada motivação colateral) ou, se não o prémio, pelo menos o NÃO-CASTIGO (a chamada motivação inversa). 
Viver a vida com motivações pela inversa parece ser um castigo inventado por um Deus maquiavélico, cuja religião são princípios culturais definidos pela negativa.

O compromisso, irmão gémeo da cumplicidade, exige impulsores motivacionais mais "sofisticados" que os biológicos básicos e os sociais básicos, como ficou revelado na experiência dos macacos.

Pensando na actual política em Portugal não me parece que uma nova proposta motivante possa ter como alicerce a habitual motivação 1.0 mobilizadora de "chicos espertos" em procura do básico "Poder Estatuto Dinheiro", nem apoiar-se na motivação 2.0 atraindo "missionários" de combate ao Mal e/ou na procura do Bem.

Passeando fora das estruturas comunicativas "oficiais" vemos que na sua periferia existem vários manifestos de vozes fora de motivação 1.0 e 2.0
A situação actual de uma sociedade quieta não é o "quietismo português" mas, talvez e apenas, o "standby português" na sua expectativa de arranque. Só falta o sinal de partida com uma proposta do tipo motivação 3.0. A motivação já existe, só falta expressá-la, é outra espécie de descoberta de um caminho marítimo que já existe só falta percorrê-lo.


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