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terça-feira, 8 de abril de 2014

Crise em Portugal e escadas no Centro Comercial

"Há dois tipos de leis: justas e injustas…
… as injustas são as imorais."
M. Luther King

…as leis que obrigam a passar fome são degradantes e imorais,
qualquer justificação legal é ainda mais imoral.


Os problemas são um BEM pois são criadores de invenções, é por causa deles que elas aparecem.

O problema dos problemas não são eles, são as soluções que não só não-solucionam como até os aumentam.
Por exemplo e por analogia, é como obrigar a subir uma escada que desce mais depressa do que se consegue subir:

quando afinal a solução é simples:

- mudar para uma escada que sobe... ou pelo menos está quieta;

ou

- parar a escada.

A crise da crise em Portugal não é ela existir, mas sim ser vivida com soluções que não resolvem…e obrigam a passar fome o que é degradante e imoral e qualquer legalidade nesse sentido é ilegítima.
Como qualquer problema, a actual crise tanto pode originar desastres como produzir inovações, depende do que se faz para resolver.

A História está cheia de exemplos de soluções negativas, tais como o trabalho escravo ou infantil para melhorar a economia ou bolsas de desempregados para baixar salários ou campos de dissidentes para calar protestos. 

Antes do 25 Abril o cidadão, fora ou até dentro do partido vigente, não participava em qualquer decisão política apenas sofria a legalidade instituída … a isso chama-se ditadura.

O Porquê do 25 Abril e o que fez explodir o "abraço colectivo" (a Pertença de todos à mesma causa) que se originou na sociedade portuguesa foi o "tornar possível que todos participassem na decisão política"...a isso chama-se democracia.

PS - Convém não confundir decisões político-sociais com decisões politico-técnicas para as executar: [...a decisão de operar é do doente ou família mas as decisões de como fazer é do médico…],
[…em casos graves, pode ser declarado o Estado de sítio, em que são retiradas aos cidadãos certas decisões político-sociais.]
Ver Blogue  Novo partido e o Porquê, Para-quê e Como, de 02 Abr 2014

O slogan [...A democracia dá-me o direito de falar...] fez época e ainda hoje é usado como argumento nas democracias vigentes e também como crença fundamental a ser seguida pelos democratas verdadeiros ou disso mascarados.

Simplesmente, o slogan é falso e está errado, é uma armadilha intelectual.

A mudança de Ditadura para Democracia não se faz criando o direito de falar que nunca foi tirado, isto é, não há nenhuma ditadura que proíba o direito de falar. Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, etc, nunca tiraram o direito de falar.

O que tiraram foi o direito de falar contra, o direito de criticar, porque se for a favor da ditadura vigente não só é permitido como recebem aplausos, prémios e regalias.

É exactamente o mesmo que acontece com a chamada "disciplina partidária democrática" que não permite posições contra e usada nos partidos ditos de direita, centro, esquerda ou mesmo na vox populi bem adestrada quando tenta impedir qualquer Manifesto (dos 70, 700, 7.000 ou outros,..) que se atreva a criticar o estabelecido. 

O interessante (tristemente interessante) é que até críticos eventualmente honestos combatam o Manifesto não nas suas ideias (que é o direito de crítica da Democracia) mas sim na sua existência (que é o direito de repressão da Ditadura) e alguns fomentem racismo de gerações, outros racismo cultural, etc.

Como é óbvio esta confusão intelectual favorece a ditadura numa espécie de versão política da síndrome de Estocolmo, ou seja, de quando o raptado (neste caso o adestrado) começa a concordar com o raptor (neste caso o ditador… quer ele seja de estilo doce ou azedo).

Até agora os modelos adoptados para solução da Democracia estavam contaminados pelos dogmas massificadores do século XIX, pelo que tinham uma orientação BOA mas um percurso MAU, pois originam a chamada "ditadura doce" ou a "Democracia governada" (ver M.Duverger) em que […democraticamente se escolhe a quem depois, ditatorialmente, se obedece.]

Porém no século XXI este modelo está sofrendo a acção de "bugs" epidémicos e endémicos, bastando estar atento e observar eventos críticos e movimentos sociais nas sociedades que usam o modelo. A maioria dos cidadãos "sentem-se a subir escadas que descem". Na Europa o fenómeno já é conspícuo.



Há dois modelos que podem ajudar a pensar este processo.

1º - "coincidência dos 3 factores"

de Bernadette Jiwa

Quando existe uma Verdade acerca de uma situação e vivida sob a forma de crença emocional, do género cocktail de raciocínio lógico [neocortex] com impulso emotivo [sistema límbico] essa verdade pode ser mesclada com uma Oportunidade/Possibilidade activada e então a Acção transformante torna-se não só provável como viável, quer se trate de uma Pessoa, Grupo ou Sociedade.

Neste último caso, a questão que se coloca é qual é o nível e velocidade da propagação grupal e, para a resposta, surge a necessidade do segundo modelo para gerir a acção.



2º - "intensidades de adesão"

de R. Everett
Segundo R. Everett, no plano da apetência a novidades existem 5 níveis de velocidade de adesão cujos indivíduos, numa sociedade, estão  distribuídos em diferentes percentagens.

Os Inovadores que aderem rapidamente, aditos em serem dos primeiros, constituem uma percentagem mínima de 2,5% com adesões rápidas.

No nível seguinte, os Entusiastas, com cerca de 13,5%, são os que depois de verem as primeiras experiências e motivados pela emoção da novidade, apoiados em raciocínios lógicos baseados nos resultados já obtidos, deixam-se contaminar e aderem com relativa facilidade.

Quando no contexto envolvente já existem mudanças suficientes para a adesão não ser uma novidade e se poder "discretamente" fazer parte do novo grupo, cria-se uma Maioria Activacom normais 34%.  A sua dinâmica é a existência, no plano emocional, de uma mudança de status quo que já não levanta problemas e é apoiada por lógicas racionais relativas aos seus factores.
A adesão e mudança são feitas com suavidade baseadas na segurança da pergunta padrão - "Se os outros fazem e tudo está bem... porque não hei-de fazer?"…pelo que o salto a dar é pequeno.

Depois de uma adesão já com mais de 50% (2,5+13,5+34) o critério altera-se. Deixa de haver uma pergunta a balizar o caminho e passa a haver uma afirmação securizante -"Se os outros fazem também tenho que fazer!".
Ou seja, agora já não há resposta a dar, mas sim uma afirmação a seguir, pois o mimetismo social tem as suas regras e dinâmicas própria. Surge então a Maioria Atrasada, com normais 34% na sociedade.

O último nível, os Retardatários com os seus 16%, ou nunca farão adesão ou se o fizerem é protestando e "entrando de costas para sair com facilidade".



Integrando os dois,


A fronteira de viragem "irreversível" da mudança, uma espécie de Ponto-sem-Retorno", acontece quando as adesões passam do lado esquerdo da curva para o lado direito.



1 - Modelo da "intensidade de adesões"

Toda a estratégia deve ter dois pontos chave:

1º - utilizar os Inovadores (2,5%), não para fazer mudança, mas para fermentar o crescimento do grupo de Entusiastas (13,5%).

2º - utilizando os Entusiastas (13,5%), não para fazer mudança, mas para fermentar o crescimento do grupo de Maioria Activa (34%) e também começar a construir a organização a nível dos Para-quê's e Como's.

Pode acontecer que a dinâmica do bloco "coincidência de 3 factores" seja tão elevada que se passe directamente de meia dúzia de Inovadores para as duas Maiorias (Activa e Atrasada), como penso que aconteceu no 25 Abril 1974.

No caso actual, Portugal 2014, talvez seja interessante pensar apenas no modelo da "coincidência de 3 factores", pois lendo na internet as redes sociais, os massamedia, as propostas de referendo, os comentários e likes, os números necessários para o êxito do modelo de Everett são perfeitamente acessíveis.

Na verdade, considerando que no caso português, e no plano democrático, o grupo total médio de referencia é de 9 milhões (abstraindo contas de discussão com eleitores fantasmas) e se usarmos o valor habitual de abstenções de mais de 40%, para calcular o modelo Everett  o valor de referência baixa para 5,4 milhões.
(PS - Abstenções autárquicas:  ver Pordata, Portugal  )

Portanto, os números necessários para o modelo de Everett funcionar com êxito, em Portugal de 2014 poderão ser:

- Inovadores --> só são precisos 135.000 cidadãos.
Se se dividir este número pelas cidades portuguesas dará uma média de 800 a 900 cidadãos por cidade;

- Entusiastas --> só são precisos 729.000 cidadãos.
Se se dividir este número pelas cidades portuguesas dará uma média de 4.500 cidadãos por cidade.
Em resumo, basta que cada Inovador entusiasme 5 amigos.

- Maioria Activa --> só são precisos 1.836.000 cidadãos.
Se se dividir este número pelas cidades portuguesas dará uma média de 11.500 cidadãos por cidade.
Em resumo, basta que cada Entusiasta entusiasme 3 amigos.


2 - Modelo da "coincidência de 3 factores"

Acerca da Acção

o exposto anteriormente (Everett) analisa este factor no plano da dinamização numérica a nível da força-de-vontade, porém no plano da vontade-de-fazer-força são os aspectos da Verdade e da Oportunidade que se tornam o seu factor crítico por actuarem no sistema límbico detonando emoções.


Assim, acerca da Verdade

Aqui o conceito refere-se à "verdade" que  coincide e se sincroniza nas emoções partilhadas entre os diversos indivíduos.
No caso concreto, lendo a vox populi que nos rodeia, parece que a emoção sentida como dominante é uma mistura de diferentes percentagens de "raiva, tristeza e angústia" com a degradação humana da fome que nos rodeia nas crianças, nos idosos e nos adultos.

A verdade é que isto…


existe em generalização crescente.

Assim  a partilha emocional que sinto à minha volta quer seja dos que já lá estão, quer seja dos que assistem e sofrem empaticamente com os "amigos de peito" do sua própria comunidade obrigados a isso…
...a posição afectiva é que:

"…não percebo porquê, não quero isto, sinto-me mal e assusta-me o futuro para onde vamos…"


Oportunidade

refere-se não directamente ao indivíduo mas ao campo de forças do contexto que o envolve e com o qual interage.
No caso concreto é tudo o que pressiona e torna claro a necessidade de mudança de status quo e que se apresenta sob a forma de um dilema paradoxal, pressionado pelo tempo embrulhado na emoção "quanto mais tarde pior":

- "Estou numa Democracia, sou cidadão responsável, não quero isto que estou a consentir".

Uma analogia do crescer da oportunidade poderá ser:



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