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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A vida, o extra-ordinário e o ordinário

"A vida é uma moeda com duas faces, 
extra-ordinária e a ordinária, que
nunca podem ser vividas simultaneamente."

Na vida, as dedadas com marcas felizes resultam sempre do extra-ordinário que nos acontece, pois quando mergulhados na rotina ordinária do "déjà vue" e do "déjà vivido" somos uma "espécie de cadáveres debaixo de água", como diz Sigrid Undset.

O problema da feliz oscilação entre estas duas situações é que não é possível a sua simultaneidade, ou se está no extra-ordinário ou no ordinário, tem que se largar um para agarrar o outro.

"A felicidade é como o vento… saboreia-se, 
não se pode possuir nem prender."
(Zen)

Por analogia, a vida pode ser comparada a uma moeda em que… ou não se vê face nenhuma (só se vê o bordo), ou se vê uma face ou se vê a outra.

Se alguém vos disser que, com um espelho, é possível ver as duas faces,

não acreditem, é mentira…

…o que se vê é uma face e uma imagem da outra, construída pelo espelho em função das suas características (irregularidades, concavo, convexo, etc).

Com as pessoas é o mesmo…ou não vivem nada, passando o tempo em esquinas de "NIM's", o bordo da vida entre o sim-não, ou deambulam pelo ordinário sem destino, ou caem no extra-ordinário de mimificar outros, na rotina de copiar um "déjà vue".

Na verdade, o extra-ordinário da vida não pode ser dado, tem que ser construído pelo próprio, não pode ser visto num espelho, tem que ser visto na realidade.

Qualquer aspecto da realidade tem sempre uma porta (uma possibilidade) de extraordinário, como no caso de uma simples chuvada.

Na prática, a chuva é uma proposta de extra-ordinário, mas é necessário que o próprio percorra o caminho para lá chegar. Todas as crianças o sabem fazer:

complecto em
http://www.youtube.com/watch?v=PCRqNsRflHM
Esta criança viveu uma situação extra-ordinária na consciência alterada de manifestações motrizes, vocais e gestuais, esquecida de tudo excepto da chuva e vivendo dentro de emoções pessoais. 

Todavia não fica adita, pois oscila em regressos à situação "ordinaria", por ex., de contacto com a mãe e nesse momento "apesar de estar à chuva não está dentro da chuva", está com a mãe.
É esta duplicidade oscilatória que é a dinâmica da dupla ordinário-extraordinário (vide à frente um modelo taoísta). 

PS- É um pouco o modelo de Stanilasvisky para o Teatro: "viver o personagem e ver-se a viver o personagem".

Quem vê o filme da criança à chuva e gosta ou até se comove e participa, não se engane, não vive nenhuma situação extra-ordinária. Apenas os seus neurónios-espelho activam circuitos neurais, mas o sistema neuro muscular fica fora do processo. É uma espécie de masturbação emotiva pois, sob o ponto de vista neural "dança à chuva", mas sob o ponto de vista existencial está "sentado no sofá", isto é, não sai da consciência ordinária.

Em resumo:
O extraordinário só pode ser vivido se se largar o ponto de vista ordinário e depois tem que largar este e voltar a agarrar o outro. Nunca se pode ter os dois ao mesmo tempo, nem sequer ter "um pé em cada um".

Viver esta duplicidade não é dificil, todas as crianças de tenra idade o fazem, estão continuamente neste estado oscilatório entre viver o ordinário e maravilhar-se com o extra-ordinário,… daí o seu sorriso feliz...

e os animais também…

Foto de Jimmy Nelson






"Vidrados" a viver
o extra-ordinário










Um quadro, uma foto, uma frase, um poema,…UMA RELAÇÃO, não são nunca uma entrega de extra-ordinário, são apenas uma proposta para isso pois… 

"…são uma porta e não um caminho
O caminho só existe quando 
o caminhante caminha." (Zen).

Quando uma foto passa de extraordinária a banal, a rotina, não foi a foto que mudou foi o apreciador,
Do mesmo modo, quando a paixão desaparece, com ou sem mudança do objecto amado, há sempre uma mudança em quem ama. Numa conexão quando um polo se altera o outro também não pode ficar sem alteração. 

O segredo na vida é conseguir um equilibrio na oscilação constante entre "consciência ordinária" e "consciência extra-ordinária" ou "consciência alterada". Num esquema poder-se-á ter um modelo da vida como um pendulo que oscila entre dois extremos:


ou seja, normalmente existe uma alta percentagem de viver em "déjà vue" e "déjà vivido" e uma pequeníssima percentagem de viver os "Ahhhh!"'s de espanto marvilhado.

Se aos 50 anos se se analisar a vida vivida, encontra-se vulgatmente 80 a 85% do tempo na consciência normal/ordinária do "déjà vue" e "déjà vivido"e 10 a 15% do tempo na consciência extra-normal de "Ahhhh!"'s, englobando infância, namoro, inicio casamento, nascimento de filhos e mais alguns fugazes momentos.  

Na civilização actual a "capacidade de espanto", de "se maravilhar", tornou-se deficiente. Habituaram-nos a maravilhar com as imagens de "espelho"da TV, dos jornais, das opiniões dos outros, dos modelos, etc.
Todo o Extra-ordinário que se vive são cópias de Ordinários diferentes que nos são entregues como extra-ordinários… [ama-se como nos filmes…] ou [...esta paisagem é tão bonita que parece o Jardim da Gulbenkian]. 
Perdeu-se a alegria da infância ficou-se com a tristeza do adulto.

O segredo é que o extra-ordinário está em todo o lado, só é preciso saltitar entre pontos de vista, encontrar uma porta, entrar nela e caminhar para ele. 

O Extra-ordinário é como um caminho, não se conquista, não se domina, não se perde…

"o caminho só existe quando se caminha,
e só o caminhar constrói o caminhante" (Zen).

COMO exemplo,….
  Uma casa banal no ponto de vista de todos os dias…




mas mudando o ponto de vista…




fica EXTRAORDINÁ|RIA...




é o que acontece quando se fica apaixonado(a) por um conhecimento de longa data…
só muda o ponto de vista com que se passa a viver esse conhecimento  !!!


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