Não podemos forçar um flor a desabrochar,
isso é controlado pelo seu "script".
É tudo um problema de "script".
Nós vemos o mundo com os nossos cinco sentidos e deste modo o mundo transforma-se no nosso mundo.
Na prática, cada sentido tem um script neurológico que nos permite construir aspectos parciais da realidade:
Visão - formas, cores, movimentos,…
Audição - sons de palavras a músicas, ruídos de estrondos a zunidos,…
Tacto - de pancadas a encostos e festas,…
Paladar - de azedos a açucarados, de insípidos a saborosos,…
Olfacto - de agradável a desagradável, de atractivo a repelente,…
do seu conjunto nasce a nossa visão da realidade e o nosso caminho na vida.
Se um script tiver alterações, por exemplo, se a visão não "trabalhar" com certas frequências o mundo dessa pessoa passa a ser diferente pois tem menos cores (daltónico),
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O mundo do daltónico perdeu as florzinhas |
se o script doutra pessoa tiver "diplopia"o seu mundo passa a existir em duplicado, pois o auto-focus deixou de funcionar, o script avariou.
(Por experiência pessoal, de repente, vê-se o mundo simultaneamente em dois écrans diferentes, sendo possível ver o bonito em duplicado com os dois olhos, mas ver o feio em singelo se fechar um olho).
A conclusão é que sem scripts ou com scripts parciais os nossos sentidos serão outros e o nosso mundo também, … pelo que o nosso caminhar não poderá ser o mesmo.
Mas a pergunta que me interessa é:
- "E se tivermos mais sentidos? Por exemplo, seis ou sete sentidos?"… o nosso mundo será diferente?
O nosso córtex é mais desenvolvido que o dos animais mas eles têm sentidos que nós não temos, por exemplo, o sentido magnético de orientação das aves que não precisam de GPS para encontrar o caminho. Todavia, esta capacidade não parece ser um problema de orgão receptor mas sim de script, pelo que a pergunta que me interessa é:
- "Nós não temos esses scripts?? …ou estarão apenas inactivos??"
o que arrasta outra questão interessante:
- "
Se estão apenas inactivos… como se activam?"
Os aborígenes australianos conseguem orientar-se em centenas de quilómetros no deserto através das songlines, seus sons e ritmos.
Será que um europeu, com as crenças, paradigmas e a normal consciência ocidental, também conseguiria?
Na crença aborígene todo o território Australiano pode ser "lido" como uma partitura musical (pag 13 e 14) com conteúdos de geologia:
"cada lugar está vivo pelas canções, cada jornada é um caminhar ritual nas pégadas dos ancestrais (walkabour)", "…para os aborígenes o território só existe quando é percebido e cantado", "…existir é ser percebido."
Crença verdadeira ou não, eles têm um script (uma consciência) que eu não tenho, com songline ou sem songline, sózinho no deserto, eu ia definhar num buraco.
Se os meus neurónios são iguais aos deles qual é o script que me falta??? Se não me falta como o activo??
Resolvi pesquisar esta questão
Pensando no nosso corpo, ele funciona em três registros: energia, bioelectricidade e químico.
Os processos químicos são os mais divulgados pois fazem parte da cultura escolar. Aprende-se que o nosso corpo é uma "democracia" pois todos os elementos fazem o que devem fazer para benefício do conjunto e não têm "guerras" entre si, por exemplo, os glóbulos vermelhos e os brancos coexistem sem lutas e o corpo vive feliz. Todos têm os seus próprios "scripts democráticos" para funcionar.
Parece que no caso do cancro os scripts celulares foram alterados e há relatos de pesquisas em Hospitais em que com meditação mesmo em grupo se obtêm alterações positivas, todavia não conheço conclusões definitivas.
Nos processos energéticos e bioeléctricos existem algumas áreas a pesquisar, por exemplo, a acupuntura.
Espetando umas agulhas em pontos definidos e seguindo um padrão as doenças transformam-se em saúde. Para uns isto é real mas para outros são efeitos míticos criados por placebos mentais.
Talvez sim…talvez não!
Joss, o meu cão-de-água, era diabética de intensidades irregulares, tinha artroses e problemas na coluna necessitando de TRAMAL para se poder mover e ainda tinha glaucoma nos olhos.
Durante mais de 3 anos fez 20 minutos de acupuntura quinzenal, os diabetes ficaram controlados com doses mínimas diárias de insulina, não tomava Tramal e movia-se feliz e a glaucoma desapareceu.
Se era efeito placebo, isso para mim é um mistério porque eu não lhe expliquei o tratamento nem, psicologicamente, a influenciei.
Simplesmente, durante as sessões ficava imóvel, às vezes babava-se e abanava a cauda, quando acabava dormia uma hora ou duas e acordava cheia de vida e energia. Se era placebo…era um placebo forte e muito bom.
Ainda tenho uma dúvida.
Segundo a teoria, a agulha espetada intervém nos circuitos energéticos internos (meridianos) mas será porque os altera ou porque os sintoniza com energias subtis exteriores, ou são as duas alternativas?
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Dr. R. Kelly (médico) |
De um modo simples, a questão é se a agulha espetada:
1 - "arranja" o interior
2 - é "antena" para o exterior ou
3 - é os dois simultaneamente?
A hipótese de ser antena é provocante pois trás uma questão interessante:
- "Poderão existir scripts mentais para fazer essa ligação apenas pela pele?"
o que obriga a outra pesquisa:
- "Existirão energias subtis bioeléctricas à nossa volta?"
Talvez sim…talvez não!!
Por efeitos electro-magnéticos da nossa bioelectricidade nós estamos em constante contacto com a vida à nossa volta num emaranhado de "redes subtis", talvez o Ki, Chi, Prana,…das filosofias orientais.
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"The Human Antenna", Dr. Robin Kelly, pags 225 e seguintes |
O bio-fisico alemão Fritz Albert Popp detectou nos seres vivos uma energia subtil (biofotónica) na qual biofotões (partículas) estavam envolvidos e que conseguiu medir com dispositivos sensíveis.
Descobriu que células cancerosas tinham mais energia biofotónica do que as saudáveis, mas em meditação tinham menos.
Por outro lado, segundo o fisico-quântico John Weeler, dentro dos átomos o espaço vazio tem um número infinito de vortex's (wormholes) com conexões não-locais.
Peter Gariav do Instituto de Genética Quântica, em Moscovo, tem feito muitas experiências demonstrativas da relação do campo com os electrões (efeito da condensação Bose), por exemplo, usando laser para passar a saudáveis orgãos doentes de ratos envenenados.
No plano prático parece que nós e o mundo estamos em constante conexão viva para além da estabelecida com os cinco sentidos, devido aos campos químico (alimentação, respiração, osmose,..) (vide a disseminação da droga), energético e bio-eléctrico.
A questão é:
-"Podemos gerir estes processos ou não??", e se o fizermos os nossos canais de relação com o mundo aumentam? E se aumentam o mundo que nos rodeia continua a ser o mesmo?
Há duas situações extra-quotidianas que fazem ver o mundo doutro modo (outros sentidos??) e que são muito comuns na História.
São as vivências com alucinógeneos e as vivências místicas, na prática ambas com EAC's (Estados Alterados de Consciência), uns à procura de outras dimensões e outros à procura de deus(es), mas estes dois processos estão muitas vezes entrelaçados, na tentativa de com drogas reforçar o místico.
Sobre os EAC's com alucinógeneos voltei a reler passagens de um livro interessante, O cientista, de John Lilly (Porto, Ed. Via Optima).
John Lilly por muitos considerado o cartógrafo da mente, fazia experiências em si próprio com LSD, tanques de isolamento e drogas expansoras da consciência, para estudar os seus efeitos no seu "espaço interior" e procurar os "limites das crenças".
A sua teoria da mente contida e da mente não-contida abre um mundo e o seu controlo por dosagem das drogas (em particular a droga "K") cria um leque de dados e interrogações.
Sobre os EAC's de situações místicas na procura de outras dimensões ou de contactos divinos, o seu campo é vasto desde receitas de bruxaria, vudu e shamanismo até regras de meditação religiosa, passando por artes marciais e artes energéticas orientais, pelo que há muito por onde investigar.
Neste caso, do seu conjunto, a conclusão a que cheguei foi que, com ou sem misturas de alucinógeneos, a sua base são RITUAIS, pois todas as religiões os têm, fazem e obrigam a cumprir em cerimónias e missionações, todas as bruxarias e shamanes os utilizam e são a base das artes marciais e das energéticas.
Parece que os rituais, como sequência padronizada de actos e ideias é uma chave para abrir scripts.
Neste sentido os rituais (corporais ou orais) são uma técnica imprescindível de manipulação de scripts neurológicos, quer para os criar quer para os activar, basta ler os livros de Harry Porter e pensar o porquê da sua atracção e êxito.
Todas as religiões, evoluídas ou primitivas, têm os seus rituais de cerimónias e aculturações, todas as seitas religiosas, profanas e mistas usam rituais de integração, de actos a roupas, slogans e símbolos.
Politicos, Empresas, Universidades, Ordens religiosas e profanas, Partidos, etc, todos vivem de e com rituais oscilando entre dois extremos, desde o "soft" baseado em "fun no gun" até ao "hard" baseado em "gun no fun".
Por exemplo, os casamentos começam em "hard na Igreja (gun no fun: não se brinca) e terminam em "soft" (fun no gun: é pra brincar) no banquete de comida, bebida e danças.
De um modo geral, os rituais podem funcionar em 3 níveis:
1 - soma -->psíquico - actividades corporais repetitivas e/ou vocalizações (litanias) que criam estados de espirito correspondentes, tal como acontece em recrutas religiosas, militares, prisionais, educativas ou outras. Normalmente são feitas de modo a "esvaziar" a consciência, criando scripts automáticos.
2 - psico -->somático - actividades de activação mental pressionando estados de espirito até o script pretendido ser dominante, tais como, cantares colectivos, participação por slogans, discursos circulares, discurso "banha da cobra"(cheat speech), …
PS -
O discurso "banha da cobra" é um discurso circular que usa provérbios, anedotas, verdades aceites, afirmações à "La Palisse", venda pessoal, venda do produto, tudo num aparente discurso lógico em sequência de faits-divers (fáceis, rápidos e divertidos).
Enquanto que os dois níveis anteriores são de controlo exterior e usados preferencialmente na cultura ocidental, o
3º nível é de controlo interior e muito utilizado nos ensinamentos orientais.
3 - psico <=> soma - actividades que usam, simultaneamente, os dois anteriores, de tal modo que um processo detona, complementa e reforço o outro. Assim, ter um Ego a gerir o processo é fundamental.
A activação de scripts EAC parece exigir este método, pois a Consciência Alterada tem um "
Ego potenciado" e não um "
Ego perdido" como acontece nas "viagens" por usos químicos quer sejam drogas suaves ou duras, barbitúricos ou álcool, pelo que a técnica a usar é a gestão de Rituais.
Este jogo conjunto corpo-consciência mediante rituais é citado desde místicos cristãos até mestres orientais, passando por shamanes desconhecidos de tradições culturais diversas.
Por exemplo, o ritual de silêncio e isolamento para criação, destruição ou transformação de scripts é usado há milénios em muitas tradições, quer por factores somáticos, quer psíquicos quer os dois em conjunto.
Nos conventos, celas de isolamento e silêncio sempre foram usadas para criar novos scripts para encontrar o caminho do Divino. Dizia St. António […um monge fora da cela é como um peixe fora de água...] propondo um conjunto de meditação e controlo corporal para ver o não-visivel..
Todavia, as prisões também usam o isolamento para destruição de scripts e os educadores com a permanência de crianças em armários fechados tentam transformá-los.
As técnicas e métodos deste jogo corpo-consciência talvez sejam mais claros com uma analogia re-fraseada de
um exemplo do biólogo Rupert Sheldrake no seu livro sobre o 7º sentido, de 2003,
"The sense of being stared at",
comparando a
consciência a uma amiba e seus pseudópodes (projecções corporais que emite para se deslocar ou alimentar).
Supondo que no início a amiba vagueia num contexto e vai emitindo pseudópodes até encontrar algo (uma crença, um paradigma, uma religião) a que se agarre. Quando isso acontece prende-se e cria uma forma a partir da qual se relaciona com o que a rodeia.
Mas, se entretanto mudar de religião, crença ou paradigma (…
as conversões), "agarrar-se-á" a outro lado e mudará de forma, mas funcionará do mesmo modo,
Porém o caso do EAC é diferente, pois aqui o
funcionamento muda quer a consciência continue (ou não) com a mesma forma,
Na prática é como se emitisse pseudópodes até encontrar uma outra estrutura, ficando então a relacionar-se com um mundo de duas configurações. É o que sucede nas experiências místicas de religiões e nas artes marciais e energéticas orientais.
Este
jogo corpo-consciência mediante rituais é o meu preferido na tentativa de criar scripts.
De um modo geral, no
plano da consciência é uma síntese de
atenção e
intenção (
ver exercícios de auto-disciplina de Inácio de Loyola), com
visualizações (
rezas e slogans), integração de
ritmos (
cânticos, ladainhas e sons/músicas) e activação e controlo de
emoções (
até comas psíquicos e histeria).
PS -
A gestão de emoções é uma linha dominante no caso de shamanismo, vudu e algumas situações religiosas.
No
plano do corpo, há técnicas variadas desde medievais de auto-suplício (
por ex, cilícios) complementado com mantras, até formas mais "soft" de:
- intensificação da sensação quinestésica (
por ex, sentir o peso da gravidade no interior do corpo, gerindo a posição do centro de gravidade corporal),
- potenciação da percepção (
por ex., a luta marcial de envolvimento ou batimento (mas não contacto constante) feita com olhos vendados) e o
- conhecimento corporal in-out (de dentro para fora) (
por ex., com o chamado "duche de ki, chi, prana", isto é, o sentir do fluir da energia).
- etc…
Como conclusão:
A criação de scripts faz parte da História Humana, mas parece que descobrir novos mundos pode fazer-se encontrando outros scripts pessoais para ver este…[…a fronteira do desconhecido está em nós.]