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domingo, 21 de julho de 2013

A dança "SIM-NÃO" no educar, chefiar (revisto)

(ver blog "Palmada e educar/chefiar de "emmerdeur")

Quem é educado "não-directivamente" com negativas, para não existirem "repressões" por SIM's, aprende a viver com anti-objectivos, do tipo: 

 - "Não te esqueças", - "Não faças maldades"

ou a viver com abandonos através de não's disfarçados: 

- "Tu é que sabes", - "Depois queixas-te", - "…e vens pra cá chorar".

Como resultado, no meio de toda a confusão criada, o problema é não conseguir definir objectivos PRÓ mas, algo fica claro, tem sempre que saber do que foge, não precisando saber do que se aproxima.

Quem é educado "directivamente" com afirmativas, para não existirem "baldas" com NÃO's, aprende a viver só com objectivos bem definidos, do tipo:

 - "Faz isto", - "Faz aquilo", - "Faz aqueloutro"

ou preso em "sim's que trazem consigo não's" disfarçados:

 - "Pergunta sempre", - "Só fazes se eu autorizar".

A consequência é a impotência em decidir não só objectivos PRÓ, como também objectivos ANTI. Mas algo fica claro, só pode ter objectivos fornecidos e só lhe é permitida uma pergunta - "O que me disseram para fazer..!!?". Só assim a sua assertividade pode aparecer, ser aplicada e ser grande.

A pergunta possível que permitiria definir objectivos próprios, isto é,

- "O que me dizem para não fazer?",  

está-lhe vedada. Em consequência a sua assertividade, não é apenas nula, é negativa pois só a hipótese de sair das baias permitidas lhe dá "angústias bloqueantes", do tipo:

 - "Não sei", - "Não consigo", - "Não sou capaz". 

Como exemplo, os alunos em que nos exames onde têm que decidir sozinhos sem pequenos sinais de confirmação (os habituais apoios motivantes) são um calvário, mas depois cá fora sabem tudo. 


A dança do SIM-NÃO









O fundamental é a dança com harmonia do SIM e do NÃO.
Juntar a operacionalidade do SIM com a flexibilidade do NÃO.

Segundo René Spitz, o NÃO aparece cedo. Ainda recém nascido, quando ao mamar no seio da mãe este lhe foge para o rosto, o bebé instintivamente procura-o com movimentos laterais esquerda-direita, semelhante ao abanar da cabeça para sinalizar NÃO.

Simplesmente, este sentir "NÃO tenho seio", não é um bloqueio à acção, mas sim, um impulsor de acção, exigindo descoberta, pesquisa, solução. Nesta perspectiva, o NÃO não é um bloqueador de liberdade, pelo contrário, é um instrumento para a sua aplicação.

Quando um jornalista perguntou a Edison, aquando do invento da lâmpada, se não se sentia frustado com centenas de experiências de NÃO êxito, ele respondeu que eram vários SIM'S de êxitos em saber caminhos a evitar. 
(Transcrição pessoal e livre do diálogo havido). 

Em síntese, este é o "NÃO" das inventores, não é o "NÃO" dos autoritários e ditadores; é o "NÃO" do Princípio da Realidade do Freud, não é o "NÃO" das Moralidades dos Inquisidores; é o "NÃO" que abre caminhos, não é o "NÃO" que fecha em muralhas.

Numa palavra, é o "NÃO" da Pedagogia., pois o "SIM" tem outras particularidades e segundo Freud (citado por René Spitz):

 […na análise nunca se descobre um "NÃO" no inconsciente.]

Ainda segundo R.Spitz, o inconsciente é incapaz de negar. O "NÃO" precisa da existência à priori de um "SIM", mas paradoxalmente este também precisa daquele.

Por exemplo, quando uma cão abocanha a mão do dono e não morde, isso é um "SIM" ou um "Não"?

Na prática é um ..."NÃO" mordo... não verbal porque está dizendo  de modo não verbal:

- "SIM" POSSO MORDER mas não o faço!

Num outro exemplo, quando a mulher pergunta ao marido como lhe fica o que está vestindo e este  responde sempre - "Sim, fica-te bem!", isso significa que, ou já está treinado a concordar, ou é indiferente a ela e ao que veste. Um "SIM" só tem significado quando também existem "NÃO's".

(PS- Se ela não perceber e ainda continuar a perguntar, convém procurar tratamento para sensibilidade à percepção comunicativa.)

Segundo R. Spitz o "SIM" faz parte da programação genética da "sucção" de mamar, não só nos humanos como nos próprios animais. Quando sugam o mamilo a cabeça vai em frente, quando engolem o leite a cabeça recua e tudo se repete. Esta forma não verbal de dizer "SIM" (frente-trás), um pouco ao estilo japonês, aproxima-se mais da programação inata do que a forma ocidental com o modelo "cima-baixo".

De qualquer modo, parece que o "SIM" genético está mais relacionado com "incorporação" do que com "aceitação", isto é, dizer "SIM" é mais "compreender" do que "cumprir".

Nesta ordem de ideias, para surgir um "SIM" tem que ser por explicação e não por comando, deve ser por cumplicidade e não por seguidismo.

Na pedagogia, este é o "SIM" que interessa, pois é aquele que possibilita o "Ahhh!... Ahhh!…" da descoberta do conhecimento, objectivo de quem aprende e também o objectivo de quem ensina.


A dança do SIM-NÃO


Como em qualquer dança, cada cada elemento do par coage o outro mas ao mesmo tempo adapta-se a ele, é uma harmonia constante de coacção (obriga) e co-acção (adapta). Assim também é a vida entre o "SIM" e o "NÃO".

Quer o "SIM" quer o "NÃO", em si próprios, não são prisão mas impulsores de liberdade para o desconhecido. Simplesmente partem de sítios diferentes: 



1 - O "SIM" parte da segurança de usar o que tem para procurar outros "SIM's e/ou NÃO's".

2 - O "NÃO" parte da segurança de não usar para a pesquisa de outros "NÃO's e SIM's".
(Como disse Edison sobre a sua descoberta da lâmpada eléctrica, (parafraseando) […as centenas de insucessos forma centenas de sucessos em como não fazer…])

Os "SIM's e os NÃO's" são apenas a porta de entrada no conhecimento desconhecido. Este é o caminho da aventura do aprender.

Normalmente, o uso que se dá aos "SIM's e aos NÃO's" são muralhas bloqueantes que encerram quem aprende nos "dogmas" em vigor, fechando-lhe o horizonte.



Tudo depende do processo em que o SIM e/ou o NÃO são inseridos.

Quer um quer outro devem ser baseados na explicação e não na imposição. A partir da explicação o horizonte abre-se para pesquisa e desafio, a partir da imposição as muralhas crescem para prisão e abandono (ou revolta).

Duas técnicas

1 - Duplo vínculo

O pai está a ver TV e o João (3 anos) vai à cozinha beber água. Ruído de um copo a partir.

1ª hipótese:

Pai:   - "João, partiste um copo?".

Independente da comunicação não verbal, mais ou menos directiva, a frase é de vínculo único:

Juiz (pai) versus  Réu (João).

2ª hipótese:

Pai:   - "João, penso que partiste um copo?".

Independente da comunicação não verbal, mais ou menos directiva, a frase é de duplo vínculo:

1º- Juiz (pai) versus Réu (João) acerca do partir o copo.
2º- Juiz (João) versus Réu (pai) acerca do pensar certo ou errado.

Alternativas:

Dependendo da educação já existente, o João tem várias respostas possíveis:

A - "Parti" (isto é, EU) ou "Partiu-se" (isto é, indeterminado). Se opta pelo o 1º vínculo é a posição de réu, se opta pelo segundo quer negociar;

B - "Tens razão", opta assim pelo 2º vínculo, ou seja, a posição de juiz que avalia a correcção do pensar do pai;

C - "Tens razão, parti (ou partiu-se)", adoptando com os dois vínculos.

A escolha não é aleatória, depende da relação interpessoal que entretanto já foi construída. Esta dinâmica encontra-se não só na relação pai/mãe-filho, como também na professor-aluno,  marido-mulher, entre colegas, etc. 
Nas discussões é vulgar trocarem-se ciclicamente de posições juiz-réu em função da argumentação que se vai usando, no jogo "ora tu, ora eu".


2 - Vínculos contaminantes

Numa sessão de treino de pensar, a Maria (11 anos) recebeu 38 cartões com pequenas frases soltas e independentes, com o objectivo de encontrar a solução onde todas seriam verdade.

No inicio, de forma oral foram feitas 5 sugestões de método possível, entregue papel e lápis, mas salientando que faria sozinha e como quisesse, podendo conversar e fazer perguntas a que eu poderia dar resposta ou não, pois não queria interferir no que estava fazendo.

Disse-lhe que possivelmente, às vezes, eu iria perguntar o que estava pensando apenas para eu perceber o que estava fazendo, mas que ela responderia se quisesse. 

Aceitou as regras e começou o trabalho  de formal concentrada e esforçada, ao mesmo tempo que ia conversando.

Ao fim de uma hora e meia, tinha agrupado alguns cartões e tirado algumas conclusões de 10 outros, restando ainda uma grande confusão de 28 cartões.

Propuz-lhe continuar na próxima vez e perguntei-lhe se queria, o que aceitou, pelo que lhe pedi para me ajudar a dizer o que queria que fotografasse para poder reconstituir, e como queria arrumar os cartões, apontamentos e rascunhos. 
De repente, muito séria, ela disse:

- "Vai ser uma grande confusão".

Sorri, e respondi: - "Pois vai !".

Ficou séria, olhou para mim e fiquei à espera. Depois, sorriu também. A dificuldade tinha sido transformada em desafio.

Na próxima sessão acabou a "investigação", encontrou a solução e quando lhe perguntei como se sentia, respondeu: - "Foi fácil."

A confirmação de ser válida a sua avaliação de que iria ser um grande confusão, a sua cumplicidade na autorização de continuar e a ajuda e "dicas" de preparação para isso contaminaram-se num "Sou capaz", saído da posição de "pessoa" e não de "gentinha" ("person" e não "people") sem poder.

A humilhação por pedagogias/chefias directivas faz uma contaminação destruidora da força para desafios:

com base em The Wall, Pink Floyd

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