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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Eleições, capitalismo, casamento e máquinas de jogar



…pois é…mas nas eleições acreditamos, confiamos e votamos em quem não conhecemos.!!

O jogo que nos propõem é: 

"Não nos conhecemos, mas acredita em mim eu sou confiável.!!!"… mas, dos que não conheço , só confio em Deus !!

É o chamado jogo paradoxal em que "a raposa diz à galinha…confia em mim".


Por outras palavras, o jogo propõe que "não se tendo confiança, se confie nessa "não-confiança" para se acreditar que é confiável". Isto só é possível aceitar com um molhe de neurónios todos enleados e cheios de nós.

O jogo pode continuar porque, ao hesitar, surge o argumento: - "Não me diga que desconfia de mim???".
A proposta parece simples e inteligente: - "Se não tem provas para desconfiar de mim, então sou confiável, não é verdade??".

Isto é apenas um argumento com um dilema de manipulação do tipo "OU…OU", por exemplo, "Se não é gato é coelho". 
Quando pelo contrário o raciocínio com não's abre sempre alternativas, pelo menos MAIS UMA, ou seja, nenhuma delas, o que neste caso será: - "Não tenho provas para não-confiar, nem para confiar". Ou melhor, a ausência de prova não é prova.

Outra manipulação é dar provas de confiável noutras áreas esperando que contamine a área-alvo e lá apareça confiança. É uma técnica normal de vendas.
Em eleições isto é feito trazendo a família para o mass-média, mostrando-se confiável como pai de família, ou mostrando-se afável dando apertos de mão, beijos aos filhos e festas aos cães de quem lhe aparece pela frente.
PS - Festas a gatos, mesmo ao colo, é de evitar, pois podem arranhar, eles não confiam à primeira.

Penso que todos nós sabemos isto, faz parte do senso comum, mas é como jogar nas máquinas do Casino, é sempre bom acreditar no Pai Natal.
Este tipo de eleições é como jogar nas máquinas, pomos o dinheiro, recebemos esperança, a máquina faz o que quer e o Casino é que ganha.

Este é um jogo "viciado" porque não tem solução por muito que se melhore as discussões, as campanhas, os controlos de" lobby's", a "pureza" dos candidatos, etc.

Na verdade o problema não é este, não está na melhor ou pior exposição de venda de candidatos, ou seja, não se melhora a Democracia melhorando as eleições.O problema está no que acontece DEPOIS, é aqui que está o problema, é aqui que se tem que procurar soluções de melhoria da Democracia.

É como o casamento. Em todas as histórias infantis [Branca de Neve,…Príncipe Sapo,…Gata Borralheira,…] elas terminam com "casaram e foram muito felizes", porém a festa do casamento não é o fim da história, é apenas o seu princípio, é agora que vai começar aquilo de "o que Deus uniu, os homens não podem separar".

Concordo que "os homens não podem separar o que Deus uniu", porque SÓ quem pode separar é APENAS "aquele homem e/ou aquela mulher", decidindo acabar com o casamento, isto chama-se divórcio, e concordo que mais ninguém se pode meter no assunto. Esta é a garantia da regra assumida, mas outras interpretações tem andado por aí mal contadas.

O que valida tudo é o que acontece depois da cerimónia, não é a validade desta que obriga à continuação do casamento. Um casamento livremente aceite e com uma cerimónia rectificadora não legaliza a continuidade da violência doméstica.

Do mesmo modo nas eleições.

O que valida uma eleição é o que acontece depois dela, não é a validade da sua cerimónia. É bom não esquecer que Hitler foi eleito. O argumento eleição livre não é prova para a validade da continuidade, do mesmo modo que no caso da violência doméstica.

A questão fundamental para a melhoria da Democracia é:


Como se controla o eleito depois da eleição ??


Os eleitores precisam de usar a regra base do capitalista-com-êxito:

"Escolho quem penso que é o melhor para gerir o que é meu, mas depois controlo o seu "dia-a-dia" o máximo que puder",  ou seja, se não pode controlar o que o delegado faz não lhe entregue a gestão do que é seu.
Pense-se no BPN e nos "Capitalistas sem êxito" que por lá apareceram..!!!!


Na Política é semelhante. 

Hoje, com um vazio operativo, que talvez não seja um vazio jurídico mas apenas uma gordura jurídica inoperante, o poder da Política está em eleitores-sem-êxito, que entregam o voto e a esperança e não controlam a sua gestão. É isto que tem que ser alterado.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Vida, sonhos, filmes e neurónios




"Eu tenho um cérebro, meu caro Watson, e o resto de mim é um mero apêndice."
Sherlock Holmes





Uma hipótese surpreendente (ver Francis Crick) é considerar que a nossa consciência e sentido de existência pessoal são só o resultado da actividade de biliões de pequenas entidades que se juntaram numa caixa e aí vão funcionando, os chamados "neurónios dentro dum crânio". Em resumo, em relação a eles seremos apenas os seus transportadores que, presos ao crânio, os levamos de um para outro lado.

Vamos imaginar que a neurociência se desenvolve tanto que é possível ter um cérebro numa cuba de nutrientes, receber estímulos e funcionar como se estivesse num ser vivo.

A consciência e a personalidade criadas por si, e para si próprio, nunca saberão se são parte de um ser vivo ou algo solitário encerrado numa cuba. São iguais nos dois casos. 

(ver o filme "The Matrix").

Dizer que a vida na cuba não é real, é o mesmo que dizer que a vida fora dela também não é, pois fora do cérebro não há cérebro só há estímulos e dentro dele não há estímulos, só há consciência e personalidade.

UHhau..! UHhau..! O absurdo desta hipótese permitirá pensar...



…que, para além das cinco provas da existência de Deus de S.Tomás de Aquino, esta hipotese possa ser a 6ª prova com o absurdo da eventual Sua não-existência, fundamentada e nascida deste ilógico da NeuroCiência?? 
Complementar-se-ia assim a alternativa do Ponto Omega do Padre Jesuíta Teilhard du Chardin?




Por outras palavras, seremos uma espécie de imagem televisiva (um holograma produzido algures) com a "mania que é gente" ou seremos gente que produz imagens televisivas que funcionam em auto-consumo? Como diria o poeta: - "That is the question!"...






...para entrar nesta discussão com o apoio da Física [Quântica, Hologramas, Teoria das cordas, etc]  poder-se-á ter como arranque o "The Holographic universe", de Michel Talbot, e o "The self-Aware Universe", de Amit Goswami, Ph.D, Prof. de Física, Univ. Oregon.




Uma questão interessante para complicar o problema é: -"E se não existissem as tais entidades (neurónios) dentro do crânio???" Ainda seríamos NÓS??

Uma notícia:

Dr Lionel Feuillet, 
Department of Neurology, Faculté de Médecine de Marseille, Université de la Méditerranée, Assistance Publique hôpitaux de Marseille—Hôpital de la Timone, Marseille, France


Em 2007, dá entrada no Hôpital de la Timone, Marseille, France, um funcionário público de 44 anos com fraqueza na perna esquerda. Por motivo de diagnóstico foi feito um scan ao crânio e estava "oco":



Pai de 2 filhas e um QI cerca de 75, com uma vida normal apesar de em vez do córtex ter toda a cavidade central preenchida com um fluido que, em pessoas normais, serve para amortecer o contato do cérebro com o crânio. Segundo o Dr. Lionel Feuillet, - “Isso não evitou o seu desenvolvimento, nem o impediu de construir redes sociais”.

Para simplificar, e sem entrar na discussão se o córtex faz falta ou se tudo se encontra algures e ele é só uma espécie de receptor-sintonizador (tipo TV ou telemóvel), o facto é que vivemos, sonhamos e vemos filmes.

Para cada um de nós qual é a diferença e a igualdade de cada uma daquelas situações ?

Num exemplo, o orgasmo como actividade orgânica pode ser detonado por três estímulos diferentes.
Há orgasmos com estímulos ao vivo, com estímulos fílmicos e com estímulos a sonhar. Em qualquer um, eles entram para o córtex e este activa o corpo. Ou seja, há igualdade no resultado e diferenças no início.
Mas se tudo vai para o córtex: - "O que acontece lá??"

É simples, no córtex o activador de orgasmos não distingue diferenças nas três situações de estimulação. O córtex responde da mesma maneira em cada uma delas.

Uma possível explicação começou no século passado com os italianos Giacomo Rizzolati e Vittorio Gallasse. Trabalhando com primatas, repararam que neurónios pré-motores activavam-se do mesmo modo com uma acção quer quando a faziam quer quando a viam. Não havia diferença. Chamou-se a este tipo de neurónios os "neurónios espelho".

Por exemplo, antes do neurónio motor controlar o aparelho neuro-muscular para abrir uma porta, os neurónios espelho eram activados de uma certa maneira. Simplesmente, essa exacta activação também acontecia se apenas vissem abrir a porta, apenas neste caso os neurónios motores não eram activados a seguir.

Noutro exemplo, jogar futebol ou ver jogar futebol na TV tem o mesmo efeito nos neurónios espelho, apesar de nos neurónios motores ser diferente. Todavia em caso de muita activação, o bloqueio dos neurónios motores escapa ao controlo. É vulgar além dos gritos e das conversas com a "TV-jogadores", também surgirem impulsos neuro-musculares, semi voluntários, de pontapés entusiasmados.
PS - Por segurança, convém estar longe dos fanáticos quando vêem futebol na TV.

Será que viver, sonhar ou ver filmes tem a mesma activação nos neurónios espelho, apenas com conexões diferentes nos neurónios motores? 

No caso dos orgasmos, o processo é semelhante ao futebol, apenas a "fuga ao controlo" e a conexão com efeitos neuro-musculares-sexuais tem origem hormonal, fazendo a ligação directa "neurónios espelho-neurónios motores" e o orgasmo aparece. Numa palavra, "está tudo na nossa cabeça".

Em conclusão:

Os três estímulos são iguais e são diferentes, em:

A realidade provoca estímulos, mas ela não é facilmente controlável, tem que se "negociar com ela", ou seja, procurar a vida que se quer viver.

Os sonhos são anárquicos, provocam o que querem, oscilando entre o pesa-delo e o leve-delo, só se sabe depois de acabar. São incontroláveis, apesar das técnicas do "sonho lúcido" (lucid dream) que os tentam influenciar, mas mesmo com treinos são mais as surpresas que os controlos.

Os filmes são totalmente controláveis e pode-se alterar instantaneamente as situações que os neurónios espelho estão a viver. Com os DVD's, em segundos, sai-se das agruras da guerra para os musicais de Hollywood ou para as brincadeiras do Pato Donald, chora-se com um, canta-se com outro e ri-se com aqueloutro.


Com as drogas os estímulos ficam incontroláveis e nem se sabe bem onde estão. Acaba-se por controlar só o bilhete mas não a viagem…e o que é pior é que depois vive-se dentro da bilheteira.


sábado, 27 de julho de 2013

Poker com cartas marcadas


Ao meu lado no Café, dois amigos conversam-discutem informática.
Um que sim... é possível, o outro que não... não é possível.
As "coisas" aquecem e apostam 20 euros. A verificação é simples, um faz e o outro verifica se fez.

É um jogo de Poker com cartas marcadas.
Um deles aposta no que sabe e disso tem a certeza, o outro aposta no que não sabe, isto é, na probabilidade de não ser possível  ou de ser e o outro não saber.

Na verdade, dizer -"Sei que não é possível!" significa dizer -"Não sei se é possível!". Ou seja, um aposta na certeza do conhecido, o outro na incerteza do desconhecido.

A "ignorância escondida em assertividade" dá sempre posições anómalas, o que neste caso significa perder 20 euros.

Mas a aposta de "ser possível" pode ser um "bluff" esperando que o outro desista ao perceber o risco da grande incógnita da sua posição.
Mas, se foi "bluff", talvez o outro sem pensar, dominado pela sua "ignorância assertiva", aceite o risco e obtenha a vitória.

Eu gostaria de conhecer o resultado mas, qualquer que seja, a regra fundamental do Poker mantém-se: "Jogar poker nunca é com as cartas, mas sim com a personalidade do outro, ...manipulada pelas cartas".


Em qualquer conversa-discussão (casados, namorados, amigos, colegas...) muitas vezes esta regra é verdadeira, isto é, o problema só tem importância para ser uma bola entre jogadores.

Esta forma de estar não é genética. Olhando à minha volta, concluo que é apenas uma aprendizagem obtida pelas relações que, enquanto crianças, assistem-vivem com os pais.
Tecnicamente, chama-se "modelagem cultural", ou seja, a regra é "como tu aprendes, ...como tu serás".


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Macacos, motivação e um outro olhar para educar, liderar


Harry Harlow, Professor de Psicologia na Universidade de Wisconsin, ao estudar o comportamento dos primatas obteve um resultado inesperado numa experiência que realizou quando colocou 8 macacos Rhesus perante o seguinte problem-solving:



ou seja, para encontrar a solução de levantar a tampa "C" era preciso uma sucessão de 3 etapas pela seguinte ordem:

1º - Tirar o espigão "A";
2º - Afastar o gancho "B";
3º - Levantar a rampa "C".

Os investigadores colocaram aparelhos dentro das jaulas para os habituar a eles e depois poderem prepará-los e induzi-los a fazer o teste dentro de uma semana.

Mas, sem qualquer influência exterior, algo estranho aconteceu. 

Quase imediatamente, começaram a manipular o aparelho, concentrados, determinados e alegres. Em pouco tempo encontraram a sequência solucionadora que depois repetiam, chegando alguns a demorar apenas 60 segundos. Ninguém os ensinou a tirar o espigão, afastar o gancho e/ou abrir a tampa e, muito menos, a exacta sequência necessária.

O mais estranho não foi a sua "habilidade" mental, foi a não-existência de impulsor motivacional para o fazer.

Na verdade, os três impulsores básicos biológicos comer, beber e sexo (Motivação 1.0, ver Daniel Pink) não estavam presentes e os dois impulsores sociais prémio e castigo (Motivação 2.0, ver Daniel Pink) também não.

A questão que se levantou a Harry Harlow era saber qual era o motivador em jogo que impulsionava os macacos, considerando que nenhum dos outros motivadores estava ainda actuando.

Pensando em situações motivacionais, há seitas religiosas que usam a Motivação 1.0 (comer, beber, sexo) através de orgias para alcançar Deus, enquanto outras usam a Motivação 2.0 (prémio, castigo) acenando com o Céu e o Inferno.

Do mesmo modo na política, há partidos que propõem Poder, Riqueza, Estatuto  usando  a Motivação 1.0, possibilitando recursos para "comer, beber, sexo", enquanto outros mais ascetas usam o Prémio-Castigo da Motivação 2.0, propondo lutas entre partidos SEM asneiras/subornos (Céu) versus partidos COM asneiras/subornos (Inferno), uns atraindo "chicos espertos" e os outros "missionários moralistas".

Ainda hoje nas empresas (e nas escolas) a dominante é o Prémio-Castigo da Motivação 2.0 (salário/prémios versus despedimento) apesar de após Elton Mayo, com a sua teoria das relações humanas, a influência da Motivação 1.0 ter sido trazido à ribalta .



Considerando Cristo, Buda e a própria cosmologia hindu (além do trivial não conheço muito do Alcorão e Maomé) parece-me que motivavam e motivam também fora da Motivação 1.0 e 2.0. A questão que me surge é - " Qual será ela?".


Qualquer que seja a hipótese da MOTIVAÇÃO 3.0não me parece que o Workólico  esteja usando as duas primeiras, nem que elas sejam dominantes nas manifestações políticas, apesar de existir uma percentagem de manifestantes que procura viver teias relacionais (Motivação 1.0) e/ou catarse céu-inferno por anti-partido versus pro-partido (Motivação 2.0).


Regressando aos macacos, na altura Harry Harlow resolveu reforçar a motivação com comida e o resultado foi negativo pois criou rupturas. 
Muitas vezes isto acontece nas empresas com os prémios de desempenho, pois esquece-se que ganhar o 1º prémio pode ser obtido por se tentar ser o melhor e/ou tentar que os outros sejam piores. Numa palavra, "pode ser pior a emenda que o soneto" para se criar motivação, pois só depende do tipo de "inteligência estratégica" usada pelos concorrentes e da "cegueira" dos organizadores.

A conclusão de Harry Harlow foi que era preciso ver com outros olhos a problemática da motivação e "abandonar grande parte do lixo teórico" com que pensamos (close down large sections of our theorical junkyard).

 Autonomia versus automatia

Parece que uma grande diferença entre Motivação 2.0 e a possível Motivação 3.0 estará em que a primeira exige conformidade (automatismo) e a segunda compromisso (autonomia).


O método do Prémio-Castigo aplicado a um acto vai fazer com que o acto passe a ser secundário e o principal passe a ser o SIM-PRÉMIO ou, se não prémio, pelo menos o NÃO-CASTIGO. É a chamada motivação pela inversa
Viver a vida com motivações pela inversa parece ser um castigo inventado por um Deus maquiavélico, cuja religião são princípios culturais definidos pela negativa.

O compromisso, irmão gémeo da cumplicidade, exige impulsores motivacionais mais "sofisticados" que os biológicos básicos e os sociais básicos, como ficou revelado na experiência dos macacos.

Pensando na actual política em Portugal não me parece que uma nova proposta motivante possa ter como alicerce a habitual motivação 1.0 mobilizadora de "chicos espertos" em procura do básico Poder_Estatuto_Dinheiro, nem apoiar-se na Motivação 2.0 atraindo "missionários" de combate ao Mal e/ou na procura do Bem.

Passeando fora das estruturas comunicativas "oficiais" vemos que na sua periferia existem vários manifestos de vozes fora de motivações 1.0 e 2.0. 
A situação actual de uma sociedade quieta não é o "quietismo português" mas, talvez e apenas, o "standby português" na sua expectativa de arranque. Só falta o sinal de partida com uma proposta do tipo Motivação 3.0. A motivação já existe, só falta expressá-la, é outra espécie de descoberta de um caminho marítimo que já existe só falta percorrê-lo.

Criei um desafio para mim próprio, até fins de Setembro, navegar nos mares do:

- Flow - com Mihaly Csikszentmihalyi
- Zone - com Michel Murphy
- Motivação 3.0 - com Daniel Pink

à procura do Impulsor 3.0.



domingo, 21 de julho de 2013

A dança "SIM-NÃO" no educar, chefiar (revisto)

(ver blog "Palmada e educar/chefiar de "emmerdeur")

Quem é educado "não-directivamente" com negativas, para não existirem "repressões" por SIM's, aprende a viver com anti-objectivos, do tipo: 

 - "Não te esqueças", - "Não faças maldades"

ou a viver com abandonos através de não's disfarçados: 

- "Tu é que sabes", - "Depois queixas-te", - "…e vens pra cá chorar".

Como resultado, no meio de toda a confusão criada, o problema é não conseguir definir objectivos PRÓ mas, algo fica claro, tem sempre que saber do que foge, não precisando saber do que se aproxima.

Quem é educado "directivamente" com afirmativas, para não existirem "baldas" com NÃO's, aprende a viver só com objectivos bem definidos, do tipo:

 - "Faz isto", - "Faz aquilo", - "Faz aqueloutro"

ou preso em "sim's que trazem consigo não's" disfarçados:

 - "Pergunta sempre", - "Só fazes se eu autorizar".

A consequência é a impotência em decidir não só objectivos PRÓ, como também objectivos ANTI. Mas algo fica claro, só pode ter objectivos fornecidos e só lhe é permitida uma pergunta - "O que me disseram para fazer..!!?". Só assim a sua assertividade pode aparecer, ser aplicada e ser grande.

A pergunta possível que permitiria definir objectivos próprios, isto é,

- "O que me dizem para não fazer?",  

está-lhe vedada. Em consequência a sua assertividade, não é apenas nula, é negativa pois só a hipótese de sair das baias permitidas lhe dá "angústias bloqueantes", do tipo:

 - "Não sei", - "Não consigo", - "Não sou capaz". 

Como exemplo, os alunos em que nos exames onde têm que decidir sozinhos sem pequenos sinais de confirmação (os habituais apoios motivantes) são um calvário, mas depois cá fora sabem tudo. 


A dança do SIM-NÃO









O fundamental é a dança com harmonia do SIM e do NÃO.
Juntar a operacionalidade do SIM com a flexibilidade do NÃO.

Segundo René Spitz, o NÃO aparece cedo. Ainda recém nascido, quando ao mamar no seio da mãe este lhe foge para o rosto, o bebé instintivamente procura-o com movimentos laterais esquerda-direita, semelhante ao abanar da cabeça para sinalizar NÃO.

Simplesmente, este sentir "NÃO tenho seio", não é um bloqueio à acção, mas sim, um impulsor de acção, exigindo descoberta, pesquisa, solução. Nesta perspectiva, o NÃO não é um bloqueador de liberdade, pelo contrário, é um instrumento para a sua aplicação.

Quando um jornalista perguntou a Edison, aquando do invento da lâmpada, se não se sentia frustado com centenas de experiências de NÃO êxito, ele respondeu que eram vários SIM'S de êxitos em saber caminhos a evitar. 
(Transcrição pessoal e livre do diálogo havido). 

Em síntese, este é o "NÃO" das inventores, não é o "NÃO" dos autoritários e ditadores; é o "NÃO" do Princípio da Realidade do Freud, não é o "NÃO" das Moralidades dos Inquisidores; é o "NÃO" que abre caminhos, não é o "NÃO" que fecha em muralhas.

Numa palavra, é o "NÃO" da Pedagogia., pois o "SIM" tem outras particularidades e segundo Freud (citado por René Spitz):

 […na análise nunca se descobre um "NÃO" no inconsciente.]

Ainda segundo R.Spitz, o inconsciente é incapaz de negar. O "NÃO" precisa da existência à priori de um "SIM", mas paradoxalmente este também precisa daquele.

Por exemplo, quando uma cão abocanha a mão do dono e não morde, isso é um "SIM" ou um "Não"?

Na prática é um ..."NÃO" mordo... não verbal porque está dizendo  de modo não verbal:

- "SIM" POSSO MORDER mas não o faço!

Num outro exemplo, quando a mulher pergunta ao marido como lhe fica o que está vestindo e este  responde sempre - "Sim, fica-te bem!", isso significa que, ou já está treinado a concordar, ou é indiferente a ela e ao que veste. Um "SIM" só tem significado quando também existem "NÃO's".

(PS- Se ela não perceber e ainda continuar a perguntar, convém procurar tratamento para sensibilidade à percepção comunicativa.)

Segundo R. Spitz o "SIM" faz parte da programação genética da "sucção" de mamar, não só nos humanos como nos próprios animais. Quando sugam o mamilo a cabeça vai em frente, quando engolem o leite a cabeça recua e tudo se repete. Esta forma não verbal de dizer "SIM" (frente-trás), um pouco ao estilo japonês, aproxima-se mais da programação inata do que a forma ocidental com o modelo "cima-baixo".

De qualquer modo, parece que o "SIM" genético está mais relacionado com "incorporação" do que com "aceitação", isto é, dizer "SIM" é mais "compreender" do que "cumprir".

Nesta ordem de ideias, para surgir um "SIM" tem que ser por explicação e não por comando, deve ser por cumplicidade e não por seguidismo.

Na pedagogia, este é o "SIM" que interessa, pois é aquele que possibilita o "Ahhh!... Ahhh!…" da descoberta do conhecimento, objectivo de quem aprende e também o objectivo de quem ensina.


A dança do SIM-NÃO


Como em qualquer dança, cada cada elemento do par coage o outro mas ao mesmo tempo adapta-se a ele, é uma harmonia constante de coacção (obriga) e co-acção (adapta). Assim também é a vida entre o "SIM" e o "NÃO".

Quer o "SIM" quer o "NÃO", em si próprios, não são prisão mas impulsores de liberdade para o desconhecido. Simplesmente partem de sítios diferentes: 



1 - O "SIM" parte da segurança de usar o que tem para procurar outros "SIM's e/ou NÃO's".

2 - O "NÃO" parte da segurança de não usar para a pesquisa de outros "NÃO's e SIM's".
(Como disse Edison sobre a sua descoberta da lâmpada eléctrica, (parafraseando) […as centenas de insucessos forma centenas de sucessos em como não fazer…])

Os "SIM's e os NÃO's" são apenas a porta de entrada no conhecimento desconhecido. Este é o caminho da aventura do aprender.

Normalmente, o uso que se dá aos "SIM's e aos NÃO's" são muralhas bloqueantes que encerram quem aprende nos "dogmas" em vigor, fechando-lhe o horizonte.



Tudo depende do processo em que o SIM e/ou o NÃO são inseridos.

Quer um quer outro devem ser baseados na explicação e não na imposição. A partir da explicação o horizonte abre-se para pesquisa e desafio, a partir da imposição as muralhas crescem para prisão e abandono (ou revolta).

Duas técnicas

1 - Duplo vínculo

O pai está a ver TV e o João (3 anos) vai à cozinha beber água. Ruído de um copo a partir.

1ª hipótese:

Pai:   - "João, partiste um copo?".

Independente da comunicação não verbal, mais ou menos directiva, a frase é de vínculo único:

Juiz (pai) versus  Réu (João).

2ª hipótese:

Pai:   - "João, penso que partiste um copo?".

Independente da comunicação não verbal, mais ou menos directiva, a frase é de duplo vínculo:

1º- Juiz (pai) versus Réu (João) acerca do partir o copo.
2º- Juiz (João) versus Réu (pai) acerca do pensar certo ou errado.

Alternativas:

Dependendo da educação já existente, o João tem várias respostas possíveis:

A - "Parti" (isto é, EU) ou "Partiu-se" (isto é, indeterminado). Se opta pelo o 1º vínculo é a posição de réu, se opta pelo segundo quer negociar;

B - "Tens razão", opta assim pelo 2º vínculo, ou seja, a posição de juiz que avalia a correcção do pensar do pai;

C - "Tens razão, parti (ou partiu-se)", adoptando com os dois vínculos.

A escolha não é aleatória, depende da relação interpessoal que entretanto já foi construída. Esta dinâmica encontra-se não só na relação pai/mãe-filho, como também na professor-aluno,  marido-mulher, entre colegas, etc. 
Nas discussões é vulgar trocarem-se ciclicamente de posições juiz-réu em função da argumentação que se vai usando, no jogo "ora tu, ora eu".


2 - Vínculos contaminantes

Numa sessão de treino de pensar, a Maria (11 anos) recebeu 38 cartões com pequenas frases soltas e independentes, com o objectivo de encontrar a solução onde todas seriam verdade.

No inicio, de forma oral foram feitas 5 sugestões de método possível, entregue papel e lápis, mas salientando que faria sozinha e como quisesse, podendo conversar e fazer perguntas a que eu poderia dar resposta ou não, pois não queria interferir no que estava fazendo.

Disse-lhe que possivelmente, às vezes, eu iria perguntar o que estava pensando apenas para eu perceber o que estava fazendo, mas que ela responderia se quisesse. 

Aceitou as regras e começou o trabalho  de formal concentrada e esforçada, ao mesmo tempo que ia conversando.

Ao fim de uma hora e meia, tinha agrupado alguns cartões e tirado algumas conclusões de 10 outros, restando ainda uma grande confusão de 28 cartões.

Propuz-lhe continuar na próxima vez e perguntei-lhe se queria, o que aceitou, pelo que lhe pedi para me ajudar a dizer o que queria que fotografasse para poder reconstituir, e como queria arrumar os cartões, apontamentos e rascunhos. 
De repente, muito séria, ela disse:

- "Vai ser uma grande confusão".

Sorri, e respondi: - "Pois vai !".

Ficou séria, olhou para mim e fiquei à espera. Depois, sorriu também. A dificuldade tinha sido transformada em desafio.

Na próxima sessão acabou a "investigação", encontrou a solução e quando lhe perguntei como se sentia, respondeu: - "Foi fácil."

A confirmação de ser válida a sua avaliação de que iria ser um grande confusão, a sua cumplicidade na autorização de continuar e a ajuda e "dicas" de preparação para isso contaminaram-se num "Sou capaz", saído da posição de "pessoa" e não de "gentinha" ("person" e não "people") sem poder.

A humilhação por pedagogias/chefias directivas faz uma contaminação destruidora da força para desafios:

com base em The Wall, Pink Floyd

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Palmada e educar/chefiar de "emmerdeur" (só faz m…)





Para encher um saco só é  preciso despejar lá para dentro, se for à força entra ou rompe.Para encher de conhecimentos não é despejar e se for à força não entra nem rompe, mata o aprender.

Aprender é um processo automático em auto-controlo como a digestão e também pode ser influenciado. Como qualquer influência tem que ser consentida pelo próprio.

Há influências bem intencionadas mas que só produzem asneiras. Ter boa intenção, e fazer o melhor que sabe, não significa perícia. A incompetência não desaparece com a boa vontade.

Os conhecimentos são como alimentos, não basta engolir, têm que ser digeridos.


Pensar com SIM's ou com NÃO's


- "O meu primo está em Madrid. Onde é que está?"
A resposta é óbvia…está em Madrid.

- "O meu primo não está em Madrid. Onde é que está?"
A resposta agora não é óbvia, há milhões de locais onde pode estar. 

Pensar com NÃO's é excluir e abrir possibilidades (bom para criatividade), pensar com SIM's é incluir e fechar possibilidades (bom para operacionalidade).




Quem é educado com uma sucessão de SIM's e sempre proibido de "passear" pelos excluídos,  ficará um "robot" bem formatado, com grande assertividade e grande capacidade decisória dentro da programação absorvida e digerida. 
Não esperem grandes "voos", nem mesmo pequeninos, é uma espécie nova nos seres viventes, semelhante a uma águia depenada nas asas sem poder voar (a "doença" da pedagogia Directiva) .



Quem é educado com uma sucessão de NÃO's, sem nunca ter SIM's, ficará um robot de espécie diferente. É perito em andar por todo o lado sem nunca conseguir decidir. Formatado na decisão ser sempre outra, "algures fora do não"…torna-se um não-capaz por excelência. 
Tem grande assertividade "em recusar", em colocar objecções, em dizer NÂO. Dizer SIM é que é o problema.

Também não esperem nem grandes, nem pequenos "voos". É outra espécie, águia de asas caídas e, igualmente, sem poder voar ("doença" da Pedagogia não-Directiva).


Neste último caso, é educado "democraticamente" sem formatações, apenas com uma sucessão de negativas, pelo que aprende a viver de anti-objectivos, do tipo "não acidentes". O problema é sair com objectivos PRÓ da confusão em que vive. Ou seja, sabe do que tem que fugir, mas não sabe do que tem que se aproximar.


Como exemplo, são as propostas políticas de "anti-fascismo, anti desemprego, anti-crise…" que, por muito válidas que sejam, trazem a incógnita de para onde se vai… "foge-se do crocodilo e cai-se nos braços do jacaré".




A ditadura dos "falsos NÃO's" (aqueles que dizem NÃO para ser SIM)

- "António, não te sentes no chão".
O António já aprendeu e senta-se em cima da mesa.

- "António, não te sentes em cima da mesa".
O António já aprendeu e senta-se em cima do piano.


- "António, não te sentes em cima do piano".
O António já aprendeu e senta-se em cima da avó.
……….. etc

Se assim continuar, o que recebe são licenças para fazer tudo excepto o proibido e o que se pretende nunca é claro, deste modo as escolhas só têm como limite a imaginação. . 
Se o habitual é ouvir "NÃO's", quando não dizem nada é porque não repararam ou se confirmam é porque autorizam. Autonomia e independência são realidades existentes no horizonte longínquo e que quando se aproxima afastam-se.
A formação adquirida é de que "sou incapaz, preciso de confirmação, sou inseguro a decidir".


A palmada é um "NÃO" com companhia


O João tem 3 anos, foi á praia com a mãe e claro entrou dentro de água.
A mãe ficou em pânico, correu, tirou-o de lá e no meio de - "... é perigoso...não quero...podes morrer...sai daí...." levou uma palmada.O "ser perigoso e poder morrer" foi confuso de entender, mas a mãe não querer e dar-lhe uma palmada foi claro: NÃO PODE IR PARA DENTRO DE ÁGUA.

A situação agora, além da dinâmica inerente ao pensar com "NÃO's", trás um reforço pela negativa, "se não fazes sofres". 
A fuga ao sofrimento é um instinto básico e automático, sempre de alta prioridade, pelo que esta "companhia" faz mudar as prioridades dos problemas. Agora ir para dentro de água deixou de ser O PROBLEMA, pois o principal passou a ser "não levar a palmada". 

Como se referiu atrás, para objectivos pela negativa só a imaginação é limite para a sua solução. Neste caso, o mais imediato é:

 - "Se ela não estiver a olhar, posso ir para dentro de água".

 A mãe distrai-se, o João entra na água, a mãe corre e conclui: - " O meu filho é estúpido !" e bate-lhe outra vez.
O João que não é estúpido conclui: -"Esta não resultou, tenho que esperar que ela se vá embora!"
 Realmente há estupidez no ar,...mas não é do João.


Mais tarde, esta sequência  vai ser usada em diversos situações do tipo "não fumar, não drogas, não aqueles amigos, não cabular, não aquele namoro…", e sempre o problema detonador muda de campo passando a secundário e o principal passa a ser "se não fazes sofres", pelo que muitas soluções são inventadas, cada vez mais requintadas e eficazes, até "ganhar a guerra".

Numa palavra, se por estar estupidificado a palmada funciona como reflexo condicionado, então não era precisa. Se não está estupidificado a palmada não funciona, apenas vai abrir uma guerra de resultados problemáticos. A palmada é apenas a droga para alimento do "emmerdeur.