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quarta-feira, 16 de junho de 2021

"O que eu não sei!!!" O vício da curiosidade


Incomodado com a invasão da Teoria Quântica aos meus paradigmas físicos tipo Newtonianos, resolvi ler um pequeno livro (268 pág): “
Taking the Quantum Leap - The new Physics for non-scientists” de Fred Alan Wolf .

Depois de o ler, fiquei indeciso - "Agora saberei mais ou saberei menos da Teoria Quântica?? ou não saberei nada?"

Resolvi ver a bibliografia do livro e os 90 títulos que lá estavam confirmaram-me que dantes "eu era insciente mas agora era ignorante, pois agora sabia que havia muito que não sabia". A minha curiosidade ficou irritada.

Sem desistir, mas interessado em Pedagogia resolvi estreitar a procura e foquei especificamente esse tema. Assim, comprei o livro - “The beginner’s guide to Quantum Psychology” de Stephen Wolinsky, PH.D - com apenas 174 páginas. No fim, a bibliografia de aprofundamento mostrou-me mais 80 títulos.

Decidi abandonar o aspecto geral e aprofundar a pedagogia para o século XXI.  Comprei um livro base - “The accelerated Learning Handbook” de Dave Meier, já mais especializado, estilo prático com 250 páginas. O livro era interessante e com uma Bibliografia, reduzida mas seleccionada de 130 títulos.

Durante a leitura do livro, houve um tema que me interessou bastante que foi o “fluir da experiência” e que me atraiu a curiosidade e o interesse. Fiquei contente pois tinha encontrado um ponto de partida, um ponto de vista para me posicionar.

No livro, o autor citado que mais me atraiu foi Mihaly Csikszentmihalyi - “Flow: The psychology of optimal Experience”- um livro difícil de encontrar, mas que por pesquisas na NET e “trocas informativas” por e-mail, encontrei um em 2a mão (USA). Comprei, estudei  as suas 250 páginas e a bibliografia de 500 títulos.

Conclusão:

Para aprender algo sobre Teoria Quântica e a “aprendizagem acelerada” a minha curiosidade levou-me a estudar 4 livros, num total de 942 páginas: 268+174 +250+250, que me abriu um mundo desconhecido de não-conhecimento de 800 livros: 90 +80+130 +500.

Esses 800 livros, com uma média de 250 pág. por livro, significavam que tinha uma ignorância de 200.000 pág. de informação, isto é, tinha passado de insciente da Fisica Quântica a ignorante de 200.000 pag. de ideias desconhecidas.
O estudar, se não for decorar para "palavrear", tira-nos presunção e dá-nos humildade.

No pensar Zen, a sabedoria é saber que nada sabe, pois [...qualquer aprender nem sequer é um grão de areia na praia do saber...], quanto mais se sabe, menos se sabe... [o ignorante ao adquirir saber fica mais sábio, o sábio ao adquirir saber fica mais ignorante...].

O exemplo descrito é a situação normal no século XXI que, com milhões de livros, e-papers, artigos, blogs, etc, publicados, é [...um oceano de ideias] onde nos afogamos só à sua superficie, pois é indiferente para o afogado afogar-se na banheira ou no oceano com 5 Km de  profundidade.

Só em 2019 (USA) foram vendidos 690 milhões de livros impressos e a Google em Out. 2015 informou que o total de livros digitalizados foi mais de 25 milhões.
Isto coloca uma pergunta incomodativa, porque se a informação cresce exponencialmente,:

Como é que um "sábio" pode andar actualizado? ou, filosoficamente,
Que sabedoria não actualizada ensinam os professores? e as -... universidades?

Um exemplo simples, com números que ficam muito aquém da realidade (Vide Alvin Tofler “O choque do futuro”.).
Imaginemos uma universidade em Portugal que todos os anos adquire 10% dos novos livros técnicos publicados e cuja quantidade duplica todos os anos. O que acontecerá?

Em gráfico:

Começando o gráfico com 10.000 livros novos publicados e a universidade adquirir 10% deles (1.000) isso "retira" 9.000 livros novos do acesso dos alunos a novas actualizaçoes.
Mantendo o ritmo de os livros novos e as aquisições duplicarem sempre, no último 5º ano a universidade adquire 32.000 livros novos e "retira" 288.000 livros novos do acesso a novidades pelos alunos.

Na idade média com poucas novidades e reduzidas aquisições era um equilíbrio aceitável mas no sec. XXI com a explosão do conhecimento é drástico,

Em resumo, na totalidade em 5 anos, a universidade equipou-se com mais 63.000 livros novos para criar competências nos seus formados mas retirou-lhes 567.000 livros de novas informações de modelos, teorias, hipóteses, etc,... ou seja, recém formados e já desactualizados.

A pergunta, talvez simples demais, é "- Nesta situação a universidade estará preparando os alunos para caminhar para o futuro ou "cegando-os" ao futuro???

É óbvio que a solução não é comprar a totalidade do que é publicado, mas também não me parece que seja recusar o problema, em conclusão, o paradigma da formação tem que ser mudado.

No séc XXI, o poder cultural deixou de ser posse para ser movimento, deixou de ser armazenar para ser caminhar, deixou de ser “guardar” para ser fluir... ou seja, a universidade tem que ser outra, o ensinar não é "despejar" e, fundamentalmente, aprender não é "engolir".

A universidade deve ser "expansão" da curiosidade e fornecer modelos e apoio para a usar no oceano de conhecimentos que anda à solta por aí e cada vez mais é mais profundo.

Acabar a formação não é o seu fim, na verdade é o verdadeiro inicio do seu começo.


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