Esta perspectiva arrasta três vírus culturais actuais que nos parasitam o pensar sobre ensinar alojados em FORMAR, INFORMAR e AULA. Um pequeno passeio turístico sobre os três vírus.
A - FORMAR
Qual é a igualdade e a diferença entre uma maçã e um professor??
A igualdade é que com ambos se pode, ou não, aprender, e a diferença é que só o professor pode ensinar, a maçã não pode.
Uma história simples conta que quando Newton estava debaixo de uma árvore e uma maçã lhe caiu na cabeça, ele teve um "relâmpago" na mente e nela fez nascer a ideia da gravidade, ou seja, uma aprendizagem nasceu.
A maçã ensinou-o?? A maçã coitada não fez "ensinança" alguma, apenas se limitou a fazer o que as maçãs fazem há milhares de anos: caem das árvores.
Tudo aconteceu na cabeça do Newton pois apenas com um "relâmpejar neural" privado e secreto isso foi criado, isto é, ele aprendeu e, nestes casos, só o próprio o sabe e às vezes nem mesmo ele.*
* - Algumas aprendizagens negativas não conscientes têm efeitos no futuro, Freud chamou-lhe traumas.
Na escola, o professor emite ensinos (prelecção) fazendo uma aula cheia de "ensinanças". Na perspectiva da eficácia o problema é simples...
...se estas "ensinanças" não provocam "relâmpagos criativos" nas mentes dos alunos e eles não criam novas "conexões neurais", houve ensino mas não houve aprendizagem.
Porém, poderão ser criadas outras aprendizagens tipo [...isto é uma chatice e quero fugir daqui...] ficando desmotivado e desatento da aula e motivado e atento a outras áreas, exterior, jogos, colegas, sonhos, etc*.
* - O ser humano se não está morto nunca estará desmotivado (sem intenções), apenas estará motivado por algo diferente, desmotivado não existe, é um bug cultural: o suicida está motivado (tem a intenção) de não estar vivo.
O ser humano tem sempre activo o mecanismo de aprendizagem, pois todo o estímulo o afecta quer sendo ACTOR quer sendo ESPECTADOR, tira conclusões e aprende consciente ou não. Uma história:
O pai do Zézinho ensina 2 filhos, um por ser protagonista e outro por ser espectador da acção educativa:
Lamentava-se o Zézinho:
- Pois é, eu estudo, tenho boas notas, e o cabulão do meu irmão num teste tem uma nota positiva e o pai oferece-lhe logo um fim de semana no Algarve.
Vou passar a ser também um cabulão, senão… só apanho sol na varanda.
Conclusão:
Da "ensinança" do pai não sei o que o irmão do Zézinho aprendeu (nem o pai sabe) pois ele pode deixar de cabular, continuar a cabular ou só estudar quando quer ir ao Algarve, ou etc,.
Mas o Zézinho com sua conclusão mostrou que, por ser espectador, aprendeu as vantagens de cabular para obter do pai o que quer.
Possivelmente e sem ter disso consciência, aprendeu também a expandir essa conclusão para a vida futura numa espécie de trauma Freudiano positivo(??), talvez a ensinar aos filhos, que o importante não é o próprio actuar mas sim obter as respostas que quer dos outros, ou seja, as suas próprias intenções* dependem das intenções dos outros.
Esta aprendizagem poderá tornar-se uma [...arma de dois gumes para andar no fio de navalha entre a pomba e o vampiro relacional*].
* - Ver livros do perito consagrado Dale Carnegie com suas receitas, mézinhas e truques relacionais de "como usufruir dos outros".
B -INFORMAR
Qual é a igualdade e a diferença entre um chinês e um português??
Prevendo o desastre com o camião, o chinês grita várias vezes em chinês a palavra CUIDADO mas isso é apenas um DADO transmitido e não é uma informação transmitida.
Na verdade, o dado transmitido só terá sentido se a mente do ouvinte lhe incorporar também o significado de cuidado e assim transformar o dado em informação mas isso só acontecerá se quem ouve souber chinês... doutro modo as palavras gritadas serão apenas gritaria sem sentido.
Em simplex, palavras sonorizadas ou escritas em chinês SÃO DADOS que só têm significado para quem saiba chinês, isto é, quem tenha o seu córtex a elas estimulável e lhes "associe" a intenção* inerente, deste modo surgirá a INFORMAÇÃO correspondente.
* - Ver Sistemas de informação e Sistemas de Dados: o empowerment das pessoas, NelsonTrindade, Paula Silveira, Cap. 17, obra colectiva "Sistemas de Informação Organizacionais", Ed. Silabo, Lisboa, Dez 2005.
A igualdade entre o português e o chinês é que ambos constroem INFORMAÇÃO a partir de DADOS VERBAIS e a diferença é que... um só o faz em português e o outro só o faz em chinês*.
*- O namoro entre um português e uma chinesa, ignorantes da língua do outro, hoje é possível, fácil e eficaz se conversarem face-a-face usando os dicionários dos telemóveis para o fluir de significados entre si ... às vezes até dará casamento.
Na verdade, as palavras faladas/escritas são apenas DADOS [...ruídos sem alma...*] pois sem conhecer a língua desconhece-se a intenção inerente à palavra usada e não há INFORMAÇÃO.
*- ou seja, [...quando a diferença não provoca diferença...], segundo P. Watzlawick.
Saber uma língua é conhecer os significados das suas palavras, isto é, saber passar da palavra-dado à palavra-informação, ou seja, não é saber a gramática, saber ler, falar ou escrever, pois cegos, mudos e analfabetos podem conhecer várias línguas.
Mas a relação palavra-dado e palavra-informação é ainda mais complexa.
Conseguem ler a INFORMAÇÃO deste telejornal?
Penso que não, portanto são apenas dados de que não extraem qualquer informação (significado). Para o fazer teriam que saber ler o Gaélico Escocês e então perceber a intenção significativa de cada palavra.
Obs. É apenas a metereologia para o dia seguinte, anunciando bom tempo.
Quando a palavra vai para a tela TV é apenas um dado (sem alma), sem significado. Só se for ouvida por um ouvinte que lhe atribua um significado dos possíveis armazenados na sua memória, então passará a informação.
Diferentes informações significa diferentes significados atribuídos, por exemplo, a notícia "A Hermengarda é uma boa garota profissinalizada" criará informações distintas num português e num brasileiro, pois a palavra "garota" em Portugal e Brasil tem simultaneamente significados comuns e distintos, desde o inócuo a não inócuo.
Este quid quo pro dado-informação pode suceder com qualquer estímulo recebido pelo córtex desde gestos, palavras, descrições, fotos, comportamentos, etc.
Exemplo com uma foto:
A Maria (pessoa casada) foi jantar com um homem, alguém viu, tirou uma foto e divulgou na empresa.
Este DADO saltitou no rumor grupal e nasceram quatro INFORMAÇÕES consoante os significados atribuídos por quem viu, sejam esses significados verdadeiros ou não:
Surgiram adeptos defendendo a sua versão com "argumentos" que garantem que aquela evidência (dado) afinal é prova (informação).
Segundo a célebre afirmação de P. Watzlawick a - informação é uma diferença que fez diferença -, ou seja, houve um vestígio de algo (o dado) que foi parasitado por um significado (verdadeiro ou não) e se tornou a diferença renascida da anterior diferença e, então, chamada informação.
Este processo afinal é a essência da investigação criminal e a essência dos tribunais:
Começa-se por procurar vestígios do evento criando uma base de DADOS.
A esses vestígios - EVIDÊNCIAS - "colam-se" significados, às vezes vários para o mesmo dado, criando INFORMAÇÕES, às vezes várias para o mesmo dado.
Estas informações são investigadas e validadas e serão as PROVAS da culpa ou da inocência.
A essência do Tribunal é fazer o julgamento culpa-inocência, ou seja, gerir o confronto Tese-AntiTese, Defesa-Acusação, sobre validades de dados, evidências, informações, provas, relatos.
Na verdade, toda a dinâmica do DADO-SIGNIFICADO-INFORMAÇÃO acontece escondido dentro do cortex dos protagonistas mas, às vezes, pistas expressivas conseguem escapar*, exemplo:
*- A psicanálise é uma técnica de "bisbilhotar este escondido.
1º caso, não há dúvida que os "dados recebidos" ficaram "dados mortos e enterrados" sem nenhum significado produzido.
2º caso, não há dúvida que o "dado tigre" recebido pelo gato detonou um significado explosivo ficando activo, vivo e criou "informação".
As duas alternativas, dado-morto e dado-vivo no ouvinte fazem toda a diferença para no aprender se situar no memorizar ou no compreender:
C -AULAS
A sua antiga base era "O prof. fala, aluno ouve e aprende o que ele diz",
a sua base actual é "O prof. fala, aluno pensa e aprende o que pensou"
A diferença é enorme pois o "fazedor" (formador???) da aprendizagem não é cérebro do professor é o cérebro do aluno... e com cérebros parados ninguém aprende... dormindo com máscara de acordados ou não:
Dança-de-significados é cada interlocutor partir sempre do significado que pensa ter vindo do outro apesar de ter sido ele que o escolheu entre os seus conhecidos e depois responde-lhe em concordância.
Por ex., "Como está???" pode significar interesse na saúde do outro ou protocolo de venda para "anzolar" afecto ao possível comprador, podendo haver des-sincronismo (natural ou provocado) entre ambos:
- Daqui Endesa, Bom dia, então como está?
- Não muito bem, as dores nas costas aumentaram!
- (silêncio....)Ahhh! mas não sou médica!
- Umm, Umm..., então enfermeira Endesa, pode ligar para ele?
- (silêncio)(silêncio....) Daqui é a electricidade Endesa.
- Há avarias?? Uuumm..., pode chamar uma enfermeira???
-- (silêncio)(silêncio)(silêncio)(silêncio)
A chamada cai, telefone fica desligado!!!
Neste quid pro quo, tecnicamente, chamado "saída pela tangente" pois simultaneamente está e não está síncrono, é sempre interessante a expectativa de assistir como o outro tenta sincronismo ou desiste.
Em síntese
Uma aula não é um dança de palavras "eu digo e tu ouves", é uma dança dança de significados "eu proponho e tu escolhes".
Em esquema um exemplo com a palavra ANTIGUIDADE:
Repare-se que o DADO Antiguidade com seus multi-significados origina três informações diferentes consoante o significado usado/escolhido.
Nós aprendemos porque ouvimos ou aprendemos porque pensamos??? Ouvir muitos telejornais é aprender muito ou des-saber muito?
No século XXI, a principal questão é: - Estar-se-á aprendendo com a mesma velocidade com que o mundo muda?
Em séculos passados o aprendido numa geração servia ainda a muitas gerações no futuro, hoje os netos ensinam os avós a usar o telemóvel.
O importante não é o que se sabe, mas a velocidade com que se aprende o que não se sabe. O motor deste “empurrão” é a angústia de identificar - O que é que eu não sei???, ou seja, a curiosidade é uma capacidade que não pode ser definhada, pelo contrário deve ser intensificada e potenciada desde a pré-primária até na 3ª idade.
O produto de uma aula não é memorizar para papaguear ou repetir é ficar com curiosidade e caminhar para O que eu não sei!
Em conclusão,
a diferença entre viver e vegetar é que
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