O anjo da da biblioteca é uma imagem de Arthur Koestler referindo-se a, preocupados com um problema e procurando informação, ela de repente (artigos, livros, etc) cai-nos nas mãos sem qualquer lógica excepto o acaso. Isto já me tem acontecido algumas vezes.
Esta manhã, na pastelaria, bebendo o meu café e lendo um livro no tablet, fui "invadido" por dois jovens de 7 e 10 anos (soube depois). Ele, calmo e discreto acompanhava a irmã irrequieta nos seus 7 anos que pôs o nariz no meu tablet e disse: "Que giro tem uma caneta do telemóvel".
Respondi que era do tablet, pu-la no seu buraco, tirei-a e disse que era boa para desenhar. Abri um programa de desenho, fiz riscos e disse (fazendo) que podia usar várias folhas, escondendo ou não as que queria ou juntando tudo.
Em décimos de segundo ela concluiu: "Que giro,... posso desenhar aos bocados e juntar tudo".
A minha boca ficou aberta de espanto, ela acabava de resumir uma função importante dos layers, vide o Photoshop. Mas, ela não parou, logo a seguir perguntou: "Pode ser com várias cores?". Mostrei que sim e ela perguntou "Pode-se pintar?". Também mostrei e perguntei se já tinha visto isto, disse que não e sem descanso perguntou se eu estava a ler uma história.
Sem pensar disse que não, que era um livro sobre "crianças Hado"e instantaneamente perguntou o que era isso. Tive a sensação que eu não estava a explicar nada, estava apenas a ter os meus neurónios repuxados por uma jovem agitada de 7 anos.
Fiquei a pensar o que dizer, não queria falar nas frequências de ondas cerebrais, nas visualizações, nas antecipações lógicas de situações, multi-percepção de estímulos, etc e resolve falar "português simples" pelo que disse (não muito feliz) "são crianças que olham com uma piscadela de olhos e sabem o que é". O irmão respondeu "Não percebi" e ela explicou rapidamente "Elas percebem logo".
Virou-se para mim e perguntou "O que é que isso faz mais??". Na cabeça dela a questão estava resolvida e queria partir para outra. Para um professor tradicional, habituado a explicar e a ser seguido, deve ser um pavor ter que andar a correr atrás das perguntas e à procura de respostas em "português simples". A solução (também tradicional) para este pavor é chamar a família para a tratar e acalmar.
Neste momento chegou o avô que me pediu desculpa de me estarem a incomodar mas ela era assim e quis levá-los. Eu disse que tinha gostado e tinhamos conversado acerca do tablet... apeteceu-me acrescentar (o que não fiz) ... "não a estrague...".
Lembrei-me do "anjo da biblioteca" e da visita que ele tinha acabado de me fazer.
De facto, entre análises e comportamentos possíveis de uma criança Hado, eu nunca lhe tinha criado uma imagem. De repente, ela caiu-me nas mãos, a criança Hado "é uma criança que nos puxa os neurónios obrigando-nos a pensar correndo atrás dela". Agora conhecia uma.
De facto, entre análises e comportamentos possíveis de uma criança Hado, eu nunca lhe tinha criado uma imagem. De repente, ela caiu-me nas mãos, a criança Hado "é uma criança que nos puxa os neurónios obrigando-nos a pensar correndo atrás dela". Agora conhecia uma.
Não é o aluno que acompanha o professor e o seu programa, é o professor que corre atás do aluno e do seu caminhar.
Como será uma escola cheia de crianças Hado? Ou talvez outras perguntas igualmente importantes... como serão os seus professores? ... e os seus pais? ... e a sociedade?
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