Translate

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Destruir o outro para o bem dele


Nem de propósito, ...pois enredado no tema sem saber como começar ... de súbito, no café, a vida veio ter comigo e empurrou-me.

Na mesa à minha frente, um pai e uma filha (4 anos?) tomavam o pequeno almoço. Acabaram e o pai deu-lhe uma nota de 5€ para ir ao balcão e pagar.
A criança "aterrorizada" não queria ir, "congelada", olhava o pai de olhos arregalados... mas o pai insistia e, com voz "caridosa", obrigou-a. A empregada "sentiu" o estado da criança, saiu do balcão, agachou-se e facilitou-lhe a vida. 

De olhos no chão, ela regressou à mesa, depois ambos se levantaram e saíram. O pai, com ar de toureiro cuja faena "dominou o bicho", procurava aplausos ...não lhos dei e acrescentei um discreto trejeito de reprovação.

O tema "destruir o outro para o bem dele" tinha vindo ao meu encontro.

PS - Mais tarde, junto da empregada (minha conhecida) disse-lhe que tinha gostado. Não percebeu a que me referia e eu expliquei.  Espantada, continuou a não perceber, não tinha notado nada.
Agora fiquei eu espantado, concluí que quer para destruir o outro quer para apoiá-lo, tudo acontece fora da consciência. Que ....raisopartiça... @%$;Grrr©!!!.... de automatismos são estes????

Segundo vários pedagogos se não há alegria no educar não é educar é torturar, se tortura sem reparar  não é ser-humano é ser-máquina. Ensinar com stress e angústia é o ingrediente essencial da domesticação.

Aprender significa adquirir o que não tem, domesticar significa perder o que tem, com stress não se inova, mutila-se [vide Sapolsky]. 

A questão fundamental é saber "o  que se faz?" para destruir, ou não, o outro.

A resposta é fácil,

é só perguntar porque é que a coruja sobe escadas em vez de voar?

A resposta é óbvia, sobe escadas e não voa .... porque ASSIM O DECIDIU!!!
Porém, talvez já não seja tão óbvio procurar saber porque tomou essa decisão.

Na verdade, a tomada de decisão é o sintoma central da vida... o morto não decide. O agricultor põe a semente na terra, junta adubo, deita água, etc, mas a árvore é que decide como vai ser.
O médico dá o remédio ao doente mas as células do corpo decidem como lhe respondem, se estiver morto o remédio não faz efeito... por isso a expressão "o remédio estava certo, o doente é que estava errado por isso morreu" não tem qualquer sentido.

Qual é a diferença entre um cavalo selvagem e um cavalo doméstico?


O cavalo selvagem toma as suas decisões, o cavalo doméstico não decide nada, só usa as decisões do dono, foi castrado da tomada de decisões. 

Ser domesticado é um eufemismo para ser obediente e este é outro eufemismo para tomada de decisão castrada, por sua vez, esta é uma camuflagem de  usa as minhas decisões.
A expressão hierárquica "não está cá para pensar está para fazer" tem todo o sentido e ilustra bem a "domesticação". A recruta em qualquer organização... tem este objectivo principal. A chamada integração é outro eufemismo para ensinar a obedecer às regras, aos chefes, aos protocolos, etc.

Na gíria, "ser bem educado" é usar decisões introjectadas porque "educado" é cumprir decisões aprendidas
Exemplo, diálogo mãe-filha:

- Não gosto disto!! - diz a Maria para a mãe;
- Gostas sim!!! - responde a mãe e continua:
-... não vês que isto é bom... 
- ... prova e verás que tenho razão... 
- ... é verdade, não é? 

ou seja, primeiro usa autoridade (imposição), depois dá certezas (limpeza), seguida de confirmação (pressão) e, por fim, "amarra" (submissão).
Mais tarde alguém pergunta à Maria:

- Gostas disto???
- A minha mãe diz que sim, ...GOSTO!!!- responde ela.

Acabou de passar de pessoa (person) para gentinha (people) destruída (decisão castrada) e depois a zombie construído (decisão inserida).
Este zombismo depois de nascido vive sob forma de crenças não-conscientes que gerem e tomam decisões em nosso nome. Como dizia o duque perante a filha, jovem adolescente, e grávida do rei: "A desonra da minha filha é uma honra".

Estes processos em [double bind] (coexistência dupla contraditória) podem ser expressos pela história da rã que, atirada para a panela com água quente, salta cá para fora. Todavia, se atirada atirada para uma panela com água fria e depois aquecida ...acaba por morrer "feliz" e cozida.
A decisão de fugir não se coloca, as diferenças "discretas" fazem a  habituação tornar tudo normal.

Ao longo da História, o Princípio de "impor a MINHA decisão aos outros para o bem DELES" é um hábito de tal modo divulgado e praticado que é naturalmente aceite por quem o faz e por quem o recebe. O resultado, para quem obedece, é ser gratificante não tomar decisões e, para quem assiste, é ser regozijante a submissão pois "é para o bem dele".

É a história da "rã e água quente" no seu melhor. Destruir a capacidade de decisão é uma das soluções mais usadas para conviver com os outros pois [...quando os outros tomam decisões, conviver é sempre difícil...].

Relembrando o conhecido e antigo (...actual??) costume de "os pais obrigarem a filha a casar com quem não quer", nele pode encontrar-se um exemplo concreto desta situação. 
Na verdade, o facto de escamotear que isso é obrigar a ter relações sexuais com quem não deseja não é discutido. Combate-se o estupro e as violações mas é aceite e apoiado que apareçam netos resultantes de dever conjugal, nome diplomático e religioso para violação legalizada.

O interessante é que, nesta posição parental, a análise da relação sexual nunca aparece, apesar dela ser a coluna vertebral da instituição casamento. Repare-se que, se a relação sexual não existir, legalmente, é condição de anulamento do casamento por "não consumado".

No concreto (sec XXI) já assisti a algumas conversas deste tipo (muito "soft") e os argumentos normais do pai são "gosto dele, é um bom homem, vai ser um bom marido, ganha bem, é trabalhador...". Em conclusão... pode violar à vontade.
PS- Estou a admitir que este pai não é homossexual e não se está projectar nas suas apreciações!!"

Porém, há outra área mais vasta e generalizada "de destruir o outro para o seu bem"que gostaria de aprofundar: a LIDERANÇA.
Um exemplo:

O João, com os seus 7 anos, decide ver o futebol. O pai chega a casa e diz:

- João vai estudar!!!

Duas alternativas podem acontecer:

1ª- O João substitui a sua decisão "Ver futebol" pela decisão do pai "Vai estudar" e abandona a TV.
      Neste caso o pai tem liderança sobre o João.

2ª- O João não substitui a sua decisão (futebol) pela do pai (estudar) e continua a ver a TV.
      Agora, o pai NÃO tem liderança sobre o João.

Num outro exemplo, o Manel decide sair do trabalho às 1700 horas para ir namorar. O chefe chega e diz-lhe para ficar a trabalhar até à meia noite. 

A questão é simples, é saber se o Manel substitui a sua decisão "namorar" pela decisão do chefe "trabalhar"? Se SIM, o chefe tem liderança, se NÃO, o chefe não tem liderança.

Em conclusão, liderar é alterar as decisões dos outros e substituí-las pelas suas

Segundo Deborah L. Rhode, Amanda K. Packel da Stanford Law School, em "Leadership Law, Policy and Manage", 2011 (600 pag), hoje existem 1.500 definições de líder e 40 teorias de liderança. 

Como se vê, ao longo da civilização, foram criadas muitas "receitas" de como destruir as decisões dos outros e inserir as suas. Diplomaticamente, chama-se a esta técnica de destruição-substituição da capacidade de tomar decisões as "técnicas de ensinar a liderar".

Porém, no liderar podem ser considerados dois "caminhos".

Um deles pode ser simbolizado na "lead" (trela) em que o dono da "lead" (
leader) conduz o "rebanho",  numa acção contínua de destruir-substituir as decisões do outro pelas suas, procurando destruí-lo como pessoa e torná-lo objecto.

Simbolizando o modelo, pode dizer-se que é uma permanente luta de domínio em "quem fala mais alto", utilizando recursos diversos desde "soft", tais como, autoridade, abafamento, bloqueios, medos, chantagem, etc, até "hard", tais como, força, torturas, prisões, drogas, etc.

Em complemento dos dois videos apresentados a seguir, quero salientar que o modelo visualizado não pertence a perfis partidários ou individuais, mas refere-se a um "vírus" cultural disseminado na sociedade e que é usado normalmente nos cafés, na família, no trabalho, entre amigos, etc. 

Uma eventual solução não parece estar em leis ou missionação moral, mas sim na responsabilidade do pequeno quotidiano, quer isto dizer que não é uma questão de implantação mas de implementação de novos comportamentos. (vide doc's pdf em anexo).

Repare-se como em cada vídeo os dois comportamentos em oposição são iguais, isto é, são o mesmo "vírus", ou seja, o hábito de "destruir as decisões do outro e inserir as suas".







Porém, há um outro caminho que parece ter uma origem diferente da do "leader" que no séc. XIX controlava as multidões operárias e/ou citadinas, mantendo "a trela apertada" (a tight lead).

Na verdade, no inglês antigo existe a palavra leadan (leden, loeden) com o significado de "to make go, show the way", inspirar, impulsionar, fomentar decisões,... ou seja, muito mais na perspectiva de um Ghandi do que de um Hitler. Neste caso, leader seria o leadan do grupo.

Neste século a pedagogia está mais perto do ponto de vista leadan do que estava no século XX, apesar de muitas das suas raízes se encontrarem lá.

Por exemplo, no sistema Montessori, as crianças têm grande liberdade de expressão (i.é., tomam de decisões de como agir) e aprendem agindo e em formas "organicas" (i.é., de implicação pessoal).
Ex-alunos, por exemplo, são Jeff Bezos (fundador da Amazon), Gabriel Garcia Marques (Prémio Nobel), Jimmy Wales (fundador Wikipedia), Sergey Brin e Larry Page (co-fundadores Google), etc.

Viver é tomar decisões, matar essa capacidade é matar a vida,



...ou como me disse uma amiga minha há dezenas de anos: [...ninguém pode ser castigado por querer viver...] e tomar decisões é querer viver.

Na verdade, um sistema militar que libertasse as decisões pessoais no sentido de aumentar a eficácia da acção necessária para realizar o objectivo, precisaria de diferentes métodos de treino.
A sua essência seria dar o objectivo e cada um decidisse como fazer:




PS- Na prática, hoje, esta é a essência das táticas (militares, policiais, empresariais, etc) em sistemas complexos pois, perante a incerteza e surpresas das situações, não há soluções pré-fabricadas. 
Vide "Creativity inc" de Ed Catmull (Pixar Animation)]. 

Documentos em Pdf
Escolas em Carcavelos
Prisões na Noruega



sábado, 13 de agosto de 2016

Negócio bancário, fazer omeletes e devolver os ovos


[Publicado também em"Varrer os bugs da Democracia" 
com o nome "Diferença entre a Democracia e a Banca"]

O massmedia tem imensas notícias sobre Portugal e a UE, mas a palavra empréstimos salta por todos os lados. Resolvi tentar perceber o que é um empréstimo no negócio bancário e qual é a igualdade e diferença deste negócio com o negócio mercearia.

A igualdade parece estar na essência do negócio. "O produto compra-se barato e vende-se caro", quer sejam bens, quer sejam serviços no Banco e na Mercearia.
No caso dos serviços o preço da compra é o salário pago a quem faz a actividade e a venda é o preço-hora dessa actividade pago pelo cliente, quer seja entregar batatas em casa do cliente ou comprar acções.

Porém a diferença do Banco com a Mercearia torna-se nítida no produto empréstimos.
Na verdade, na mercearia cada saco de batatas só é VENDIDO UMA VEZ e não é retornado. No Banco cada depósito pode ser vendido MUITAS VEZES porque depois de utilizado tem que ser devolvido em bom estado e pode ser vendido outra vez [aqui não se chama vender, chama-se fazer empréstimos e o pagamento da venda chama-se pagar juros de empréstimo].

Sempre que um Banco vende um empréstimo feito com dinheiro depositado que ele compra de 0% a 1,5% [aqui não se chama comprar depósitos, chama-se juros de depósito] e vende de 10% a 35% [aqui chama-se receber juros de empréstimo] realiza o negócio bancário de forma semelhante à mercearia.
A fase seguinte é que é diferente. O dinheiro de empréstimo tem que ser devolvido em bom estado para ser vendido (emprestado) outra vez, o que não acontece na mercearia pois o cliente depois de utilizar não devolve o produto.

Numa analogia, o banco faz e consome as "omeletes" (os juros dos empréstimos) que faz com os "ovos" ( os depósitos) que depois torna a devolver ao depositante.

Uhau… fiquei contente e esclarecido… é uma espécie de rent-a-car, isto é, aluga-se um carro, o carro é devolvido e aluga-se outra vez. Mas pensando melhor, não é bem o mesmo,… há diferenças significativas.

Num Banco, e principalmente na Rede Bancária, é possivel emprestar outra vez o mesmo dinheiro sem ele precisar ser devolvido desde que seja depositado por outro cliente (ou pelo mesmo noutra conta ou com intenção diferente). 
Esta hipótese não pode acontecer no rent-a-car pois o carro não pode tornar a ser alugado antes de ser devolvido.
Pode parecer confuso mas o processo é simples [vide video]. Este processo é o truque base do negócio bancário tornando possível que com 10.000€ se façam 90.000€ de empréstimos a render juros de 20% (18.000€) a 30% (27.000€) [vide video].

Uhau... isto está cada vez mais interessante, gostava de saber quem foi o inventor.

A grande vantagem da Rede Bancária" (séc. XX e XXI) é que possibilita uma grande compressão do tempo de vender dividas (passa de meses/anos a horas/dias) e multiplica as "rodovias de circulação" do dinheiro.
Realmente, o Banco foi inventado há séculos mas, agora, com a "Rede Bancária" o tempo foi comprimido e as "omeletes" são feitas rapidamente com os mesmos "ovos".

Definindo "Rede Bancária", ela é um conjunto de entidades autónomas (Bancos) que, em autogestão, funcionam por liderança integrada na circulação do dinheiro. 
Quando o dinheiro lhes chega (depósitos) o truque é vender dívidas, (empréstimos) recebendo juros e devolvendo o dinheiro à circulação, esperando (e acreditando) que outro Banco da Rede (parceiro no negócio e não competidor) o receberá e o devolverá à Rede.

Na prática, quanto mais empréstimos mais probalidades de receber depósitos, pois os empréstimos são para comprar e quem vende porá o dinheiro nalgum Banco da Rede para o irá emprestar outra vez. Até parece um enredo simplista de um filme do Walt Disney.

Os raciocínios são interessantes, simples e fáceis... é só "seguir o dinheiro" e fazer algumas contas com um Excel [vide video].

Fiquei a pensar … o exemplo é feito com 10.000€, mas na UE circulam milhões, ou seja, comparando com os mesmos números, com 10 milhões em dinheiro vendem-se dívidas de 90 milhões a pagar juros de 18 milhões??? O que se faz aos 18 milhões??? Torna-se a emprestar ??? Segundo o Excel os valores vão para o dobro, mais ou menos.

Fiquei com enxaquecas e fui-me deitar.

Junto apresento um video com duas partes. 
A primeira, fala de "Um banco" (5m), a segunda da "Rede Bancária"(6m).




Revisitando o video, o conceito de compressão do tempo de empréstimos é interessante. 
Tradicionalmente, um Banco para emprestar segunda vez o mesmo dinheiro é preciso esperar que seja pago o que pode levar meses ou anos. Todavia, talvez, não seja preciso, há um truque.
Um exemplo:

- às 10:00 horas o Banco A faz o empréstimo do dinheiro  xyz.000€;
- às 10:15 horas com o empréstimo xyz.000€ compra-se um carro;
- às 10:30 horas o vendedor deposita xyz.000€ no Banco B;
- às 11:00 horas o Banco B faz o empréstimo do mesmo dinheiro xyz.000€;

numa hora duplicaram-se as dívidas e os juros com o mesmo dinheiro, retirando os 10% de retenção obrigatórios

Apesar de isto poder acontecer só com o Banco A em que comprador e vendedor são ambos seus cliente, porém, na Rede Bancária as probabilidades desta circulação aumentam.

Como conclusão,
para isto acontecer é fundamental que os Bancos funcionem entre si num "governo integrado" baseado em "liderança integrada" e não numa "competição desintegrada" traduzida em des-governo. 
Esta condição exige:

- a nível dos inputs: saber que PARTILHA se fazer de que recursos?
- a nível do througtputs: saber que COLABORAÇÃO fazer em que actividades?
- a nível dos outputs: saber que COOPERAÇÃO integrar de que resultados?

Uma pergunta final:

Na Democracia, as organizações democráticas funcionam autonomamente em liderança integrada?

Se não funcionam… ∑@%!!!®¥GRRR!!!… que "raizopartiça" de competição desenfreada e des-governo Democrático é este????


PS- Nesta pesquisa tive grande ajuda do "Anjo da Biblioteca"…!!!
["Anjo da Biblioteca" é uma imagem de Arthur Koestler quando, sem qualquer lógica e ao acaso, informações lógicas nos "caem no colo"]


sábado, 6 de agosto de 2016

O anjo da biblioteca


O anjo da da biblioteca é uma imagem de Arthur Koestler referindo-se a, preocupados com um problema e procurando informação, ela de repente (artigos, livros, etc) cai-nos nas mãos sem qualquer lógica excepto o acaso. Isto já me tem acontecido algumas vezes.

Esta manhã, na pastelaria, bebendo o meu café e lendo um livro no tablet, fui "invadido" por dois jovens de 7 e 10 anos (soube depois). Ele, calmo e discreto acompanhava a irmã irrequieta nos seus 7 anos que pôs o nariz no meu tablet e disse: "Que giro tem uma caneta do telemóvel".

Respondi que era do tablet, pu-la no seu buraco, tirei-a e disse que era boa para desenhar. Abri um programa de desenho, fiz riscos e disse (fazendo) que podia usar várias folhas, escondendo ou não as que queria ou juntando tudo.

Em décimos de segundo ela concluiu: "Que giro,... posso desenhar aos bocados e juntar tudo".
A minha boca ficou aberta de espanto, ela acabava de resumir uma função importante dos layers, vide o Photoshop. Mas, ela não parou, logo a seguir perguntou: "Pode ser com várias cores?". Mostrei que sim e ela perguntou "Pode-se pintar?". Também mostrei e perguntei se já tinha visto isto, disse que não e sem descanso perguntou se eu estava a ler uma história.

Sem pensar disse que não, que era um livro sobre "crianças Hado"e instantaneamente perguntou o que era isso. Tive a sensação que eu não estava a explicar nada, estava apenas a ter os meus neurónios repuxados por uma jovem agitada de 7 anos.

Fiquei a pensar o que dizer, não queria falar nas frequências de ondas cerebrais, nas visualizações, nas antecipações lógicas de situações, multi-percepção de estímulos, etc e resolve falar "português simples" pelo que disse (não muito feliz) "são crianças que olham com uma piscadela de olhos e sabem o que é". O irmão respondeu "Não percebi" e ela explicou rapidamente "Elas percebem logo".

Virou-se para mim e perguntou "O que é que isso faz mais??". Na cabeça dela a questão estava resolvida e queria partir para outra. Para um professor tradicional, habituado a explicar e a ser seguido, deve ser um pavor ter que andar a correr atrás das perguntas e à procura de respostas em "português simples". A solução (também tradicional) para este pavor é chamar a família para a tratar e acalmar.

Neste momento chegou o avô que me pediu desculpa de me estarem a incomodar mas ela era assim e quis levá-los. Eu disse que tinha gostado e tinhamos conversado acerca do tablet... apeteceu-me acrescentar (o que não fiz) ... "não a estrague...".

Lembrei-me do "anjo da biblioteca" e da visita que ele tinha acabado de me fazer.

De facto, entre análises e comportamentos possíveis de uma criança Hado, eu nunca lhe tinha criado uma imagem. De repente, ela caiu-me nas mãos, a criança Hado "é uma criança que nos puxa os neurónios obrigando-nos a pensar correndo atrás dela". Agora conhecia uma.
Não é o aluno que acompanha o professor e o seu programa, é o professor que corre atás do aluno e do seu caminhar.

Como será uma escola cheia de crianças Hado? Ou talvez outras perguntas igualmente importantes... como serão os seus professores? ... e os seus pais? ... e a sociedade?


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Lógica fora da lógica



Li ontem alguns textos e folheei livros sobre Thomas Edison. Fiquei a saber que ele, por motivo de doença, só foi para a escola quando tinha 8 anos e, nessa altura, houve na aula um incidente curioso. 

Ele perguntou ao professor se 1+1 tinha que ser 2. O professor, espantado, disse que sim e perguntou se tinham percebido o que tinha explicado. Todos disseram que sim, excepto Edison que continuou a não perceber porque não podia ser 1+1=1, pois "1 copo de água mais 1 copo de agua é igual a 1 copo de água"... 
...ou seja,  1+1 = 1, talvez um "1" maior [nota do autor].

PS- Tempo depois, Edison abandonou a escola e ficou em casa a estudar com a mãe que era professora e tinha paciência e apoiava as dúvidas.

Uhau, uhau... adoro a ilógica inteligente... principalmente de jovens, apesar das noites de insónia que me provocam.

Esta lógica ilógica de Edison trouxe-me meditações nocturnas com várias questões [não são insónias pois insónias é não ter sono e querer dormir ... e eu não queria dormir]. 

Fiquei a pensar na possibilidade de matemática escrita com números maiúsculos e números minúsculos. 
Pode parecer estranho, mas isso acontece com as letras pois, por exemplo, no computador há "p" e "rmas também há "P" e "R"
Os jornais escrevem "Presidente da República" e nunca "presidente da república" referindo-se a quem está em funções. Se o fizerem pode até ser considerado ofensivo escrever com "p" e "r" pequeninos, por crime de "lesa protocolo". 

Assim, uma Matemática escrita com números maiúsculos e minúsculos seria muito interessante, resolvia a dúvida dos 8 anos do Edison e também certos problemas do quotidiano. Por exemplo:

- na política, Portugal-2015, se partidos com menos votações, mas escritas com números maiúsculos, ficassem à frente de partidos com mais votações mas registadas com números minúsculos, então, não haveria discussões e os de menor votação seriam automaticamente eleitos.

- no desporto, no EURO-2016, a final Portugal-França teve o resultado de 1- 0 a favor de Portugal. Se o "1" de Portugal fosse um número minúsculo e "zero" Francês um número maiúsculo, então a França seria automaticamente o campeão Europeu, sem ser necessário fazer o baixo-assinado francês para repetir o jogo.

Depois da Matemática passei para o Casamento.

Na cerimónia do casamento afirma-se que "no casar os 2 são 1, até que a morte os separe". Matematicamente, volta a aparecer o conceito "1+1=1" que incomodava Edison.

Porém neste caso, à semelhança do copo de água atrás citado, há ajudas para a sua compreensão. Apenas basta perguntar ... no casamento, os casados são "UM" em quê??? 
Aparecem algumas respostas e também possíveis (e questionáveis) pesquisas a fazer.

Na campo das respostas, o divórcio é uma ajuda clara. Os casados SÃO "UM" no dinheiro, nos bens, nos filhos, etc, daí as muitas "guerras" conhecidas e vulgares entre os proponentes à separação. Se se listar as várias leis e os muitos julgamentos feitos para gerir essa "guerra", o campo do "UM" é claro.

A problemática do "UM" na religiosidade do casamento também não parece difícil. A afirmação "SÃO UM em Deus" porque casaram acontece porque eles (humanos) decidiram casar-se. Portanto, se eles (humanos) decidiram separar-se só resta voltarem a "SER DOIS em Deus"... como eram antes do casamento (q.e.d.).

Nesta lógica, o facto da decisão humana de casar ser feita por livre arbítrio ou por influência divina (consoante as religiões) não altera a lógica porque, então, a decisão humana de DES-casar terá as mesmas variáveis (livre arbítrio ou influência divina). 

Nalgumas religiões, é um erro (pecado?) o livre arbítrio de des-casar pois é fugir à vontade divina de estar casado. Na verdade, esta lógica é um paradoxo pois, exactamente, a definição de livre arbítrio é "fazer o que decide sem aceitar influências". Isto é, se o livre arbítrio for sujeitar-se por obedecer ao arbítrio divino, então não é livre arbítrio é apenas "obediente arbítrio". Neste caso, o "livre arbítrio" não existe será apenas marketing.
Como dizia Henry Ford perante o mercado cheio de carros italianos com várias cores: "O cliente é livre de escolher a cor de carro que quiser tem é que ser preto".

Por outro lado, se não há livre arbítrio o problema é mais simples pois, se decidiu casar-se por influência dos deuses também decidiu separar-se por influência Deles (q.e.d.).

Porém, a problemática do "UM" (1+1=1) na relação pessoal do casamento precisa de uma pesquisa cuidadosa.
A questão de arranque parece ser perguntar "o que acontecerá de diferente no plano pessoal, antes e depois do casamento?"

Em consequência desta pergunta surgiu-me a ideia da transplantação de órgãos.
Tempos atrás andei a "bisbilhotar" neste tema e entre as pesquisas, hipóteses, teorias e conflitos prós-contra, uma ideia ficou em standby, as migrações de memórias do doador ao receptor de cada orgão.

Sem nela tomar posição, mantive-me como espectador de argumentos SIM e NÃO, comprei livros e continuei a passear neste "mar desconhecido" da transmissão das memórias nos transplantes.

Sem entrar em detalhes (vide apenas 2 pag.) sobre as memórias celulares nos transplantes e, como exemplo, eis uma história que li algures sobre uma jovem que, após um transplante de coração, começou a ter memórias vivas de situações de guerra na Ásia.

Posteriormente analisadas, essas memórias cheias de detalhes e informações concretas pareciam verdadeiras mas impossíveis. Curiosamente, analisado o doador, ele era um ex-soldado combatente no Vietname que, ferido, regressara aos USA e morrera. Foi o inicio de uma pesquisa de muitos outros casos que se alargou e intensificou.

Relacionando esta problemática com o casamento, o seu "1+1=1" e admitindo a existência de memórias celulares veiculadas em trocas de células, poderá colocar-se a pergunta se, o que fica comum no casamento, é uma base de dados de memórias celulares trocadas e integrada pelos cônjuges nas suas relações íntimas. Será esta a base biológica da chamada intuição conjugal de um acerca do outro?

Na verdade, com a relação sexual a mulher recebe e, se ficar grávida, incorpora e utiliza células masculinas do cônjuge durante os 9 meses da gestação, talvez produzindo no plano das memórias efeitos similares ao que parece suceder com os transplantes.

A questão que se coloca é investigar se ela recordará também memórias alheias do marido. Outra questão é saber se o filho incorporará as respectivas memórias celulares do óvulo e do espermatozoide, sabendo nós, HOJE, que incorpora os ADN's idos com essas células.

Por outro lado, como só com a saliva se detecta o ADN do "produtor", a troca de beijos amorosos trocará também as memórias celulares idas com a saliva? 

É bom salientar que durante a gravidez a mãe tem o sistema nervoso preparado para ter uma "ligação por cabo" com o filho e assim comunicar com ele durante 9 meses. Quanta informação celular é trocada? 
O homem está excluído deste "upgrade", pois para comunicar com o filho só o pode fazer depois dele nascer e só por "weireless" o que a mãe também faz mas agora apoiada num background de sincronismos criados por "cabo" durante os 9 meses da gravidez.

Segundo a Bíblia, Deus criou o homem e depois a mulher, ou seja, tudo acontece como na Informática, os segundos modelos de computadores e telemóveis trazem sempre aperfeiçoamentos.

Realmente, esta é uma investigação apaixonante.
E... já agora, a propósito, uma pergunta... ao alimentar-se de carne crua "come-se" também as memórias celulares do animal? Curiosamente, lendo pesquisas antropológicas e sociológicas sobre crenças tribais é vulgar encontrar essa ideia com o nome de "adquirir o espírito do animal". Em forma mais extrema, em certos rituais de culturas antropofágicas as suas crenças dizem que [...comer o inimigo valoroso é ficar com o seu espírito...].

Na verdade, fazendo perguntas ilógicas, este mundo torna-se uma caixinha de surpresas de respostas possíveis e prováveis. Só Thomas Edison registou 2.332 patentes (vide Biography by Matthew Josephson).

Para terminar, e sem detalhes de aprofundamento, apenas uma questão a incomodar-me. Será que, numa expressão matemática, a Democracia é:


o que me coloca uma questão técnica: Qual será a essência onde esta unidade pode acontecer????

O século XXI trouxe-nos um "mar desconhecido" de muitas questões à procura de respostas que, às vezes, perturbam as respostas instituídas. Os Edisons, Galileus, Teslas, Newtons, etc, andam à solta por aí....

Uma pergunta para pesquisar em futuro próximo:

O "=1" da Democracia será uma espécie de unidade construída por uma "web de ressonância" como parece acontecer com bandos de pássaros, cardumes, manadas, etc, e às vezes em multidões e transes colectivos de danças tribais com seus sons/danças binaurais (e suas ondas theta no cortex)?