Para conversar pode-se considerar dois modelos, o estilo burguês de "sussurrar no ouvido do outro" no espaço da mesa ou no segredo da alcova e o estilo não-burguês de "gritar a plenos pulmões" no espaço da sala ou no colectivo da fogueira.
Os meus pequenos almoços no Café costumam ser … nem um nem outro. Costumo conversar com os meus neurónios, olhando e beberricando a grande chávena de café, e fraseando a conversa com escritos nos guardanapos.
Hoje isto não foi possível…fui tomar o pequeno almoço a um Café onde ainda é legal fumar, apesar de não ser fumador mas com tanto fumo de escape um cheirinho a tabaco não deve fazer mal (deixemo-nos de muralismos), porém a minha rotina não foi possível...
… a conversa era colectiva para toda a sala.
Esqueci os meus neurónios e entrei nas possíveis ajudas à gravidez inesperada e solteira da Luísa, à cabeça partida do Mário no futebol da esquina e nas lágrimas que acompanhavam a doença da Ti Maria no hospital.
Com espanto não ouvi falar do Ronaldo, nem dos "engravatados" que se passeiam pela TV a botar ideias.
Também não vi "Expressos" nem jornais "A Bola"ou o "Correio da Manhã" em cima da mesa… e com espanto meu as pessoas pareciam pessoas e não "robertos" de marionetes.
Esqueci o relógio e senti-me regressar às conversas à fogueira na África profunda ou aos acampamentos selvagens no Portugal distante.
De súbito, saí do sonho e regressei à realidade.
Sentado perto da porta, de repente uns avós e uma neta ao sair olham para mim sorriem e despedem-se:
- " Bom Dia... vizinho!!!!
Em choque, não estou habituado a estar tão acompanhado, nem a ser vizinho, fiquei a matutar:
- "Onde raio ...AhAhGhGGGRRrr...acordei hoje??... Estou no estrangeiro???…ou este é o Portugal dos meus avós onde dantes vivia???
Não tenho resposta mas o sorriso continua na minha cara!!!… e os Ronaldo's e os engravatados ainda estrebucham por aí!!!!
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