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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Bisbilhotice e educação por osmose


A bisbilhotice, "cientificamente" chamada curiosidade, faz parte da vida pois é um instinto de sobrevivência, inquieto e activo, a fazer perguntas […o que o contexto me traz??, o que me vai acontecer??. o que posso fazer??].

A minha amiga Vadel
e a sua curiosidade
Esta bisbilhotice/curiosidade na cultura burguesa chama-se má educação e pode ser uma "doença"  psicológica oscilando entre desde o voyeurismo (prazer sexual por observar) até à paranóia da perseguição (angústia de ser vítima), porém animais não-bisbilhoteiros correm o risco de rapidamente serem alimentação de outros,

Quando a bisbilhotice/curiosidade é nula, a sociedade considera tratar-se de um transtorno psicológico chamado "falta de motivação e interesse", ou seja, alguém incapaz de se implicar.

Em alternativa há profissões baseadas na bisbilhotice, com grande dignidade e poder social, sendo chamadas de investigador, por ex., polícias ou impostos,  diagnosticador, por ex., médicos ou psicólogos. Se são bisbilhoteiros amadores são moralmente e eticamente bem considerados e legalmente chamam-se testemunhas.

Como regra geral na cultura burguesa, dadas estas múltiplas alternativas, tem que se ter muito cuidado em que bisbilhotice nos vamos meter e procurar sempre fugir da coscuvilhice de vizinhos e titulá-la de debate democrático da vida do bairro.

Às vezes não é fácil, fazer bisbilhotices nas Universidades chama-se fazer observações pois lá ninguém faz bisbilhotices de macacos ou de pessoas mas sim observações de macacos ou de pessoas, quando não são observações chamam-se mexer...icos pois anda-se a mexer na vida dos outros.

A História tem imensos casos de Teorias consideradas cientificas e que mais tarde se descobre não passarem de um chorrilho de mexericos a interferir com a vida dos outros, dizendo o que devem pensar para serem aceites.
Um dos mais conhecidos é o mexerico da Terra ser plana e um cientista (Galileu) que a renegou foi por isso condenado em Tribunal. Este mexerico era dos bons porque a condenação só foi rectificada e retirada quatro séculos depois.

Como exemplo, uma bisbilhotice


pode originar nos paranóicos da moralidade o mexerico de "pervertido sexual", enviando o observador para tratamento na psiquiatria, apesar de ele apenas estar no "lugar errado no momento errado" a almoçar um frutito.

Para evitar estas "titulagens" desclassificantes uma das formas mais simples é usar sempre óculos escuros como fazem os agentes secretos, guarda-costas, etc e também aproveitar situações propícias para bisbilhotice sem uma acção activa de investigação.

A excepção da necessidade destas defesas é quando se está Licenciado para o fazer e tendo disso evidências objectivas, por exemplo, consultório médico ou de advogado, esquadra da polícia, repartição de impostos ou inquéritos para estudos com validação de empresa jornalística ou marketing, etc.

PS - O uso de óculos escuros na praia não é por causa do sol mas sim para poder bisbilhotar à vontade sem chatices de familiares, vizinhos ou pessoa observada. 
Bisbilhotar nus no museu é educação cultural, mas bisbilhotar nus na praia, no PlayBoy ou PlayGirl é libido doentia …o problema não é bisbilhotar é onde se está quando se bisbilhota.

As regras são simples, é preciso considerar sempre os níveis normais de bisbilhotice aceitáveis na sociedade em questão desde cultura, classe social, estatuto, profissão (por ex., paparazzi é um bisbilhoteiro fotográfico consentido), ou então ter desculpas aceitáveis …- "Que pecados tens, meu filho??", neste caso é fundamental ter um tom amoroso, terapêutico, judicial ou institucional.

Assim, em função das variáveis anteriores, é importante definir parâmetros possíveis para a bisbilhotice, do tipo quanto, quando, onde, o quê, como, com quê, etc, mas o fundamental é a cultura vigente. 
Há países em que os limites são mais alargados e outros em que os limites são mais estreitos, nuns a paranóia do voyeurismo é mais intensa e noutros menos intensa, etc.

Por exemplo, e para não ter "azares" sociais, em certos países com grande paranóia de assédio sexual e hábito de indemnizações em tribunal, é fundamental logo à chegada ao aeroporto comprar óculos escuros e ter máquina fotográfica com telescópio para poder fotografar à distância sem se poder detectar o alvo.

Por causa desta problemática, ontem, por acaso, descobri uma "janela de bisbilhotice" perto de casa e, daqui em diante, vou passar a ter cuidado com ela:



Uma "janela de bisbilhotice" é uma janela-montra gigante com vidro de um lado e espelho do outro, muito em uso nas policias e noutras bisbilhotices.

No caso da esplanada, é uma montra-janela gigante que por efeitos de luz, às vezes, funciona como espelho de fora para dentro e vidro de dentro para fora.  

Assim, se sentado do lado de dentro, as pessoas do lado de fora ficam tão perto que se vê a linguagem não-verbal  em "zoom", isto é, em tamanho real perto dos nossos olhos, distinguindo pequenas rugas expressivas e micro expressões  quer antes, quer durante e depois do falar. 

Mas como diz o ditado "uma imagem vale mil palavras" e a proximidade e intimidade comunicativa criada é maior do que se estivesse lá fora sentado na mesma mesa, ou seja, a intensidade e significado das mensagens é maior e mais evidente.

Simplesmente do lado de fora as pessoas sentem-se sozinhas perto de um "espelho" protector de olhares indiscretos, chegando a compor o cabelo e maquilhagem na imagem reflectida, conversando à vontade e sentindo-se sem "bisbilhotices do exterior".

Como exemplo, um micro gesto de enfado que parecia um berro por altifalante para quem o viu tão perto, não ficou registado nas duas mentes conversadoras porque a conversa continuou "normal" entre ambos.



Nas educações familiares há dois sistemas: a educação dirigida e a educação por osmose. 
A primeira funciona com o receptor na posição activa de actor e a segunda quando o receptor está na posição activa de espectador.

Por exemplo:

educação dirigida - "quando já adultos vão a casa dos vossos pais e o vosso pai zanga-se convosco…" não sei o que aprendem mas aprendem qualquer coisa, nem que seja a bloquear tudo. Neste caso  aprenderam por terem sido actores na relação de ensino.

educação por osmose - "quando já adultos vão a casa dos vossos pais e vêem o vosso pai a zangar-se com a vossa mãe…" não sei o que aprendem mas aprendem qualquer coisa, nem que seja a bloquear tudo. Neste caso  aprenderam por terem sido espectadores numa relação de ensino.

Uma pergunta:

- " Em que situação se sentirão mais perturbados???"

A diferença é que a segunda aprendizagem é muitíssimo mais violenta e marcante afectivamente do que a primeira, ou seja, tem uma maior "carga" educativa, aprendemos "mais fundo" por espectadores do que por actores.

Na família os filhos são educados por educação dirigida quando o pai ou mãe se dirige a eles e por educação por osmose quando o pai e a mãe se dirigem um ao outro e o filho assiste numa espécie de "janela de bisbilhotice" vendo o que se passa… e aprendendo.

ver uma zanga do pai e mãe…depois…
nada será anulado por raciocínios (neocortex)
pois o sistema límbico já injectou tristeza…
e emoções são "imunes" a lógicas.
Quando a educação dirigida e a educação por osmose 
ensinam "coisas" diferentes 
a educação por osmose é que ganha.

Em conclusão, a bisbilhotice é na realidade responsável por muito do que se aprende…mas isso não acontece de forma linear. Quer dizer que […um trauma negativo pode ter consequências positivas ou negativas e um trauma positivo pode ter consequências positivas ou negativas] neste processo a complexidade domina,
"não é por se conhecer a semente 
 que se conhece a árvore, pois
a árvore é que decide como que vai ser"
(Zen)


Como bisbilhotice final

Os viventes vivem da pesquisa e percepção de sinais do contexto.
No plano cultural este mecanismo tem diversas palavras para o expressar e no texto utilizaram-se várias:

bisbilhotice
curiosidade
mexericos
coscuvilhice
investigação
diagnóstico
observação
testemunhar
etc.

qualquer delas é utilizada pelo neocortex para criar raciocínios lógicos, simplesmente, todas elas têm conotações emocionais que o sistema límbico "agarra" e impregna com emoções as conclusões do neocortex.
Mas,…afinal quem manda…se a palavra afecta os dois? A razão ou a emoção? ?

Um discurso político é […a arte de jogar com emoções através de raciocínios lógicos usando as palavras necessárias para o fazer…].
É uma espécie de cocktail que leva o remédio misturado ou, por analogia com o antigo ditado popular "na família quem manda é o homem, mas quem manda no homem a mulher", neste caso pode dizer-se que:

"nas decisões quem manda é o raciocínio, 
mas quem manda no raciocínio são as emoções" ?

Assim, que frase preferem:

A - Levei ontem a minha mulher ao médico para ele lhe bisbilhotar o corpo!

B - Levei ontem a minha mulher ao médico para ele lhe observar o corpo!

A vossa escolha é comandada pelo neocortex (raciocínio) ou pelo sistema límbico (emoção) ????


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Ver outras realidades…como ver (!?!?)


-…the mind is embodied, not just embrained"
António Damásio, neurologista

Se os resultados da mente dependerem do córtex a situação é complexa, mas se agora se considera que os resultados da mente dependem de todo o corpo, realmente, o raciocinar é um processo muito complexo.

Numa perspectiva sistémica, a mente ser incorporada no cérebro ou ser incorporada no corpo são situações muito diferentes.

cérebro como sistema tem as suas fronteiras e tem um contexto (o corpo) com o qual se relaciona e  cria inter-dependencias. Se a mente está incorporada no cérebro então necessariamente mente e corpo estão ligados, por interdependentes.


Mas se a mente está incorporada no corpo, então mente e natureza estão ligados porque c corpo como sistema tem outras fronteiras e outro contexto que é toda a rede de "seres" exteriores, por interdependentes.
PS - Retoma-se a teoria quântica e da Matrix?


Conclusão interessante porque é uma das bases comuns aos vários shamanismos dispersos pelo planeta e sem contactos entre si. Por exemplo, a Vision Quest shamanica baseia-se exactamente em intensificar esta união com a natureza e, de certo modo, a Vision Quest católica com suas meditações, rezas e isolamento também faz integração "mente-contexto" (vide regras de I. Loyolla e J.M. Escrivã).

Admitindo que a mente, quer incorporada no córtex quer incorporada no corpo, está em íntima inter-dependência com o corpo, então pensar e seu resultado estão fortemente dependente do corpo, ou seja, ideias e emoções estão entrelaçadas, intercondicionando-se.

Em consequência, existem duas possibilidades metodológicas para se pensar um tema: a religiosa partindo da emoção para a lógica e a ateia partindo da lógica para a emoção.

Na religiosa começa-se por ter fé (isto é, crença emotiva) com base em emoções (sistema límbico) e depois constróiem-se as provas racionais da existência de Deus/Deuses com base em raciocínios lógicos (neo-cortex), para validar a fé já existente …como analogia é uma espécie de "pescadinha de rabo na boca" […vai-se para onde já se está].

Na ateia começa-se por raciocinar encadeando lógicas (neo-cortex) e se as conclusões forem de existência de Deus/Deuses, então a fé instala-se por adesões emocionais (sistema límbico).
Não conheço relatos em que esta sequência […raciocínios a originar emoções] tenha alguma vez funcionado quer em emoções religiosas quer amorosas, políticas, artísticas, etc

Em relatos encontrados, desde a conversão de S. Paulo na Bíblia até às paixões loucas de namoros nos romances, passando por adesões políticas a "q'ridos lideres", há sempre no percurso um "trauma emotivo" positivo a abrir a porta límbica ou negativo a fechá-la, ficando depois a fé activa ou des-activa a controlar a validade dos raciocínios feitos depois e ...nunca o contrário.

Como exemplo duas situações vulgares: política e casamento.

--> na política

21 Jun 2014
os raciocínios são para entreter pois o fundamental são as emoções grupais provocadas por aplausos ou vaias.

Ao longo da História, em revoluções (francesa, comunista, …), em evoluções (Hitler, Luther King…) e em estimulações (gurus religiosos, lideres empresarias e vendedores de feira) os discursos, campanhas e manifestações são formatadas em vagas emocionais de medo ou alegria, energia ou apatia, ódio ou amor, raiva ou amizade, etc.

O motor escondido e actuante nestas diferentes formas de adesão é a energia da emoção e os raciocínios apenas actuam como "cola" e "embrulho", eventualmente necessários para consolidar o edificio.

--> no casamento

Sistema límbico ===> neocortex racional
ninguém se apaixona por raciocínios lógicos, há sempre um "trauma emotivo positivo" que é a sua semente original ou, segundo os poetas, […é quando se vêem estrelas].
Quando a dominante são raciocínios isso não é um casamento é um "negócio casamenteiro".

Mas se o "namoro" desaparece do casamento fazem-se tentativas de recuperação por análises racionais de "bugs, culpas, perdões e soluções".

Se estar apaixonado é um produto do sistema límbico não me parece que activando o neo-cortex com raciocínios lógicos se possa recuperar o namoro perdido, apesar de se poder obter algum prazer intelectual e compensações de imagem social, mas é um esforço inglório no campo emocional.

Quando a situação se recompõe, após várias sessões deste "tratamento" de limpeza de traumas, culpas e bugs através de "conversas de polícia bom", esquecendo os momentos difíceis em que se saltou para as "conversas de polícia mau", não nos deixemos enganar ...nada se modifica pois o casamento continua sem o "namoro" inicial.

No dia-a dia após o "tratamento", nos interstícios da interacção diplomática e polida que foi obtida, continuam a saltar faíscas tempestuosas que vão crescendo de poucas, pequenas e rápidas a muitas, grandes e prolongadas à medida que o efeito "tratamento" deixa de actuar.

A família (pais e filhos) e amigos sabem o que se passa, mas vivem a síndrome do "rei vai nu, mas está bem vestido" enquanto esperam o resultado final de […o tratamento ter sido um êxito, o corpo estar saudável mas o doente continuar morto…].
Quando o casamento perdeu o "namoro" não é o casamento que se deve "tratar", mas sim o "namoro".


Como 1ª conclusão,

para se ver outra realidade parece necessário começar-se pelo sistema límbico e provocar uma mudança de fé (crença emocional) no que se investiga porque, parafraseando o sociólogo P. Bourdieu, "só encontramos o que já encontrámos" (objectivism fails to objectify its objectifying relationship), ou noutras palavras […é a crença que valida a lógica e não a lógica que valida a crença].

Assim, nesta pesquisa "shamanismo versus não-shamanismo e ver diferente", resolvi apoiar-me na posição de António Damásio da mente estar incorporada no corpo e, na alternativa das duas metodologias possíveis, optar pelo seguro e jogar nos dois campos ao mesmo tempo, ou seja:

1º - por um lado, à partida, acreditar no shamanismo, tendo nele a crença emocional que é verdadeiro (sistema límbico), e
2º - por outro lado, analisá-lo e validá-lo apenas com raciocínios de crença oposta (neocortex), isto é, com informação não-shamanica ;

ou resumindo em estilo de humor, é uma estratégia do tipo "reforçar a fé em Deus, apenas com raciocínios ateus" e não do tipo vendedor ou missionário que quer convencer com raciocínios de quem já está convencido (vide o estilo usado pelas "Testemunhas de Jeová" e dos "Comícios políticos").


Como fazer???

Em vários relatos de shamanes de locais diferentes e sem contactos entre si, é vulgar falarem e descreverem o que vêem nas suas alucinações com os mesmos conteúdos. 
Apesar de não existirem fotos ou filmes dessas alucinações, existem pinturas rupestres ou registos pintados em superfícies diversas cujos conteúdos têm sido reconhecidos como conhecidos por shamanes estranhos e em lugares e tempos distantes.

Pintura rupestre em Santa Barbara, California,
de figuras geométricas reconhecidas de serem
das primeiras fases de um transe shamanico
Como fé de partida vou acreditar que os shamanes vêem realmente realidades diferentes.

Assim, há 2 problemas a pesquisar na ciência ocidental não-shamanica:

1 - Que realidades se podem ver.

2 - O que é ver.


Que realidades se podem ver

Na Ciência oficial não-shamanica a resposta é fácil: ou é a realidade ou são alucinações. Portanto se os shamanes vêem realidades diferentes estão a ver alucinações, tipo viagens dos drogados, q.e.d.
Analisando, surgem  duas questões: 

- O que são alucinações?, e a resposta "oficial" é que são visões fora da realidade normal.

O que sugere perguntar se a ciência ocidental não-shamanica considera que...

- As visões de Santos Religiosos (Lourdes, Fátima,…) fora da realidade normal são alucinações ?

A resposta "oficial" é que há uma grande diferença entre visões por intoxicação com alucinógenos e visões sem intoxicação de alucinógenos, o que é também uma explicação interessante considerando que o próprio organismo produz os seus próprios alucinógenos e os consome e não há análises clinicas aos visionários no momento das visões.

Considerando a produção natural de alucinógenos pelo organismo, as perguntas que surgem são:

Quando faz? Quanto produz? Que substâncias? Porquê e Para quê?

e ainda..

"Qual a relação com a vida e sobrevivência? Porque existe este mecanismo e função? Qual a intenção? Será para alterar o equilíbrio interno e/ou para alterar a relação com o exterior?"

Pesquisando relatos de uso de alucinógenos, há muita documentação sobre eles, principalmente quando o uso de LSD era legal, pois na altura houve pesquisas laboratoriais de seus efeitos e funcionamento, como por exemplo, John C. Lilly e sua equipa.

Uma conclusão é que nas visões do LSD, os "alucinados" continuavam a ter uma percepção do real mas com sobreposição de imagens surgidas na mente, sentindo-as como sinais originados no córtex, ou seja, tinham duas visões a real do exterior e a alucinada do interior.

Pelo contrário nos relatos dos shamanes "alucinados" com chás de plantas (e de pesquisadores que o beberam) a percepção relatada é da total substituição da imagem exterior pela visão, sentindo-a única e originada no contexto envolvente (à semelhança do relatado pelos místicos).

A diferença é que o LSD é um produto sintético laboratorial e os chás são produtos naturais, pelo que uma possível conclusão é que no LSD os inputs são "faíscas" produzidas nos neurónios e nos chás há uma substituição dos inputs que chegam aos neurónios.
Não conheço estudos sobre visões de místicos e  religiosos.

Esta diferença arrasta a questão do processo produtor de uma alucinação artificial ou natural que parece poder acontecer por três vias diferentes (isoladas ou complementadas):

A ==> plano químico
mediante a alteração química do organismo por ingestão de alucinógenos.

Por analogia é uma alteração do harwdare de produção, na medida em que os alucinógenos alteram equilíbrios internos criando um organismo diferente dependendo das substâncias serem naturais ou laboratoriais.

É interessante notar que os shamanes fazem dietas especiais antes da toma de alucinógenos, parecendo ser um método para criar condições propícias ao processo de produção. 

É de relembrar que segundos relatos existentes, místicos e santos religiosos costumam jejuar o que na prática é um controlo químico do organismo, eventualmente facilitador da actuação de possíveis alucinógenos naturais produzidos no próprio organismo. 
Relembra-se também que relatos médicos de prisioneiros em tortura da fome (alteração química do organismo) registam o aparecimentos de alucinações .

B ==> plano físico
quando se alteram os canais de recepção e os tipos de sinais, por exemplo:

uso de som, música, cores e estimulações tácteis, desde cânticos e ladainhas religiosas até ao tanque de suspensão laboratorial de John Lilly (alteração de estimulações tácteis e quinestésicas) passando por luzes nas discotecas, ambientes de recolhimento nos templos, eremitismo, rezas e mantras para indução de "comas psicológicos" com ou sem visões místicas, situações vulgares em cerimónias religiosas de seitas  e estimulações por "icons e imagens milagrosas".

Não esquecer as marchas militares rítmicas e repetitivas com sons de tambores e trombetas para alucinações de "coragem" nos combates e ataques (vide relatos de ataques vikings, época napoleónica e  guerra de independência dos USA).

Por analogia é uma alteração de inputs fornecidos para a produção, mudando a "alimentação"  fornecida ao organismo para este "digerir", originando novos sincronismos e ressonâncias, portanto, outros processamentos com outros sinais.

C ==> plano mental
mediante a alteração do modo de funcionar, procurando processar os inputs recebidos com um método diferente, por alteração de scripts mentais.

Por analogia é uma alteração do software de produção, na medida em que apenas a "mastigação mental" é diferente, com diferentes circuitos neurais, mas sendo os os mesmos sinais e o mesmo organismo.
Como exemplo é o que acontece quando se aprende a ler, a guiar um carro, etc, ou quando se criam e alteram padrões de comportamento.

Pode incluir-se aqui técnicas de meditação, visualização, auto-sugestão, hipnotismo, etc.


Dos três planos, não estou interessado no plano químico, pois incomoda-me a perda do controlo próprio, quer seja por acção de um chá de tília, barbitúrico ou alucinógeno.

O plano físico interessa-me, mas basta vivê-lo e experimentá-lo no quotidiano, mas lúcido e consciente, decidindo acolher ou recusar as estimulações possíveis de "portas de percepção".
Assim, o plano mental surge como o mais atractivo para entrar no campo das alucinações ou, por outras palavras, parece ser a ponte ideal para entrar e sair de "outras realidades", ou seja, manipular os scripts, o software com que se usam os neurónios

Scripts

Um dos aspectos mais falados no shamanismo é a forma de ver a realidade, ou seja, é como se o shaman visse de forma diferente com ou sem alucinógenos, como se para ele o mundo tivesse um "rosto" diferente.

No shamanismo fala-se do […olhar desfocado, … de não ver nada e ver tudo, … de ver o detalhe a as conexões ao mesmo tempo, …de ver e perceber relações e não pormenores] e tudo isso excluindo a problemática das alucinações.

Acreditando que é verdade, e excluindo as vias química e física, a questão resume-se ao mecanismo de ver e aos scripts com que é utilizado, o que se traduz numa simples pergunta:

- "É possível ver com outros scripts?"

Pesquisando informação não-shamanica, encontram-se muitas compreensões pormenorizadas do funcionamento dos alucinógenos mas apenas compreensões globais do mecanismo das alucinações.

De um modo geral parece que a composição da maior parte dos alucinógenos se aproxima bastante do serotonin, uma hormona produzida pelo córtex humano e que funciona como "mensageiro" entre neurónios. 

Assim, será que as alucinações (incluindo visões místicas) são apenas o resultado da intensificação de redes inter-neurónios? ...por intensificação de receptores como o serotonin orgânico, o psilocybin dos cogumelos, a dimetiltriptamina da ayahuasca, etc?

Será que ao diversificar a visão da realidade e aumentar a operacionalidade da outras relações com o contexto através de novos scripts neurais e novas redes de neuro-transmissores, se está a usar uma capacidade humana bloqueada culturalmente e que obriga a ver a realidade apenas por um "buraco de fechadura"??? 

GRRRRGGRRR… por onde é que andam a passear os místicos e os shamanes??  

- "Pode-se experimentar ???"


Uma experiência

Alguns anos atrás, no meu passado distante, interessei-me por "Imagens 3D in" (salitsky dot), imagens que se olhadas de modo diferente do normal são vistas com conteúdo diferente, isto é, vê-se o que não se via mas que estava lá.

Utilizando os conceitos anteriores, para quem tem a nova visão o seu hardware não é alterado (não se bebem alucinógeneos), os seus inputs não são modificados (não se acrescentam sinais), apenas o software com que vê é transformado noutro (os scripts alteram-se) e a visão a duas dimensões passa a três dimensões e a ter conteúdos diferentes.

Na época achei que eram experiências interessantes mas que não passavam de experimentações e assim apesar de ter adquirido 62 pranchas e 3 posters, apenas armazenei como recuerdos.
Exemplo:

Imagem vista em 2D
SE... olhada normalmente

Imagem vista em 3D e a cores 
SE… olhada com o novo script
De repente, ao ler as descrições de shamans acerca do seu olhar diferente para observar a realidade e verem diferentes realidades, estas experiências vieram-me à memória e… resolvi re-activar neurónios no novo script.

Sucintamente, [ver é … o que se pensa quando se olha], ou seja, é a imagem construída no córtex a partir dos sinais recebidos e não, "linearmente", COM os sinais recebidos.


quer isto dizer que se recebem milhares de sinais por unidade de tempo e desses sinais, uns são aproveitados e outros não, em função de "filtros" seleccionadores "facilitadores" do processamento o que traz vantagens e inconvenientes.

Pela retina entram fotões que lá se transformam em informação electroquímica que os nervos ópticos conduzem ao córtex visual onde são processados em categorias (forma, movimento, cor, etc), criando uma imagem tridimensional interna no cérebro.


Portanto a imagem vista, ou melhor, construída no córtex, é função de variabilidades nos sinais recebidos e nos filtros aplicados e também no processamento feito aos que foram "consentidos". 

O interessante é que o processamento origina imagens que após produzidas se podem transformar em referências filtrantes de sinais posteriores e do controlo do próprio processamento, as chamadas "crenças referenciais" que [...só permitem ver o que já foi visto], criando o conhecido "bug" de não acreditar no que vê, mas apenas ver aquilo em que acredita:


ou com uma imagem mais técnica:

não vendo o que é, mas vendo o que acredita que é
Regressando às "Imagens 3D in" o controlo é feito no controlo de fotões  que entram na retina, alterando assim o processamento.

Existem vários métodos de treino mas a sua base é: adoptar um olhar desfocado, utilizando a visão lateral para percepcionar o total, focando a atenção do ver no pormenor, em esquema:


procurando controlar o ponto de focagem situando-o no espaço antes (ou depois) da pintura de modo que esta fique dentro da visão periférica mas fora do ponto de focagem:


Com algum treino esta prática é cada vez mais fácil e rápida.

O interessante é que a imagem 3D é construída com sinais que o córtex sempre recebeu mas só processou quando a entrada foi efectuada na visão periférica.

Se se considerar esta visão como alucinação dado que a visão normal não a vê, é uma des-compreensão dos factos (misunderstanding) porque ela é uma visão real que não existia apenas porque os seus sinais não eram processados (desprezados??), ou seja, a sua origem está no exterior tal como dizem os shamanes com chás e não no interior como dizem os drogados com LSD.

Será possível que o que sucede com os místicos e shamanes seja um processo semelhante ?? Será que é esta a função dos alucinógenos naturais no funcionamento neural ???

Não tenho resposta, mas por experiência pessoal quando se olha com o olhar desfocado e se vê o Todo e se foca a atenção no Detalhe o que acontece é:

1 - fisicamente há uma nítida sensação de relaxe no estômago, barriga e rins, perde-se a noção do tempo e a consciência do contexto;

2 - visualmente vê-se tudo mas nada é visto, é como olhar um filme sem se reparar no que está vendo, ou como andar na rua sem ver as pessoas mas sentindo-as e desviando-se delas, ou como guiar um carro sem ver o trânsito mas não chocando;

3 - mentalmente veem-se particularidades em zoom mas mergulhadas em redes de relações que não param de aparecer, desaparecer e reaparecer, relacionando-se o que era irrelacionável e fazendo realçar pormenores.
É como ver um filme em que o realizador nos mostra os movimentos e também os pormenores, o interessante é poder ver a vida deste modo quando somos ensinados a ver ao contrário, isto é, a fixar pormenores e depois estabelecer relações entre eles.

Como exemplo:

Ontem, na manhã de Domingo no Café, entrou um casal (30 anos?) com uma criança (2/3 anos). Olhando o grupo tive a nítida sensação de "dança entre eles", um sincronismo natural que os levou da porta por entre mesas a um local onde se sentaram. Não houve ordens nem orientações simplesmente foram com uma vivacidade alegre.

Sentaram-se sem tensões relacionais, corporais ou vocais, tudo fluía sem precisar de acordos, indicações ou abdicações, parecia que cada um "sabia para onde ia e sabia para onde os outros iam", uma espécie de ballet natural.
Estava espantado, o grupo orientava-se em conjunto sem "ordens".
Em segundos saí do meu refúgio mental, abdiquei do meu iPad e fiquei a bisbilhotar com o ar desfocado de quem não incomoda ninguém.

Acontecimentos na teia de relações:

1 - Na mesa, a criança sentada entre os dois e falando com o pai aceita com na boca, e sem olhar, um pedaço de bolo que do outro lado a mãe lhe dava. O bolo não foi ter ao olho da criança, a conversa pai-filha não se interrompeu, e ao mesmo tempo a mãe participou e a filha respondeu.
Tudo se passou em segundos, fluiu sem engulhos, e a vida grupal não foi interrompida. Parecia um bailado bem treinado.

2 - Caiu um pacote de açúcar no chão. O pai baixou-se para apanhar e foi ocupar espaço corporal da filha que falava com a mãe. A criança sem olhar para ele deu um jeito e adaptou-se e a mãe por sua vez recuou dando-lhe espaço. Segundos depois o pai sentou-se normalmente e todos refizeram posições. 
O interessante é que nada foi interrompido e nenhum deles teve consciência da sua mútua inter-dependência e sincronismo e ficariam muito espantados se eu lhes dissesse.

Olhando para outras mesas vi os costumados encontrões, quid pro quo's e desculpas para se encaixarem no pouco espaço existente, pelo que me apeteceu deitar outro pacote de açúcar para o chão para poder ver o fluir daquela dança outra vez.

3 - Durante todo o pequeno almoço a criança relacionava-se com os dois, de forma fragmentada mas sempre em estilo "bailado", nunca fora do ritmo, do movimento e do fluir dos movimentos e conversa. 

Há muito tempo que não via um "bailado relacional" tão bom, foi uma manhã de domingo muito feliz.

Para terminar e regressando ao tema, a observação com o olhar desfocado dos shamans é centrado em relações e POR ESTA ORDEM:

1º Sentir o que se passa sem pôr o neocortex a dar dicas;
2º Deixar-se levar pelo fluir das relações, surfando nas suas ondas;
3º Observar pormenores que deixaram marcas nas fases anteriores.
4º Pensar sobre eles a partir do conjunto.

…E NUNCA AO CONTRÁRIO…

pois os pormenores só "nascem" na 3ª fase, por ex., o pacote de açúcar e os movimentos de encaixe sincrónico só surgem significativos por influência das fases anteriores, pois sem elas é apenas um pacote de açúcar que cai e se apanha com alguns truques de aproveitar o pouco espaço… e a vida continua uma chatice e a manhã de Domingo não fica diferente.



segunda-feira, 16 de junho de 2014

Corvo "quebra-nozes" e o paradoxo da espécie humana


O corvo "quebra-nozes" (Nucifraga columbiana) é uma ave pequenina que esconde, enterrando comida para "tempos difíceis", entre 22.000 e 33.000 sementes num ano, em cerca de 7.000 esconderijos (de 1 a 14 sementes em cada um) num espaço de dezenas de Km2.

O mistério que atrai tantos investigadores não é isso acontecer, mas sim anos depois, a pequena ave recordar não só onde são os esconderijos, como também lá ir directamente como se tivesse GPS, quando afinal são locais de escolha aleatória e que não se repetem.

Dos muitos estudos e livros existentes, resolvi aprofundar dois, um estudo de Russel Balda & Alan Kamil de Northern Arizona University & University of Nebraska e o livro "Made for each other" de Ronald Lanner (Oxford University Press, 1996).

Um rápido resumo das dezenas de páginas do Relatório de R. Balda & A. Kamil pode ser sintetizado dizendo que eles criaram uma sala experimental, com várias referências implantadas e tendo pequenos buracos com areia (330) para servir de esconderijos:


A pequena ave tem na garganta um saco para transporte que vai esvaziando durante a viagem e a cujos esconderijos regressa mais tarde quando quer comer .
O gráfico em baixo mostra os sítios da deposição e uma fase de recolha:


E agora começa o mistério...

Parece não haver dúvida de que naquela pequenina cabeça existe uma memória espacial extraordinária, mas isto é só metade do problema porque a outra metade é como é que ela decide a navegação a fazer para pontos que não se repetem e localizados aleatoriamente.

Qualquer navegador aéreo ou marítimo sabe que para o fazer precisa de calcular triangulações (com ângulos e distâncias) se for no plano ou usar trigonometria esférica se for a 3 dimensões no espaço (por ex., com observações solares).
A espécie humana consegue fazê-lo com o uso de notações numéricas, tabelas, papel e lápis, e muito tempo e gasto de neurónios, já não considerando o uso de instrumentos como o sextante.

O prof. Stephen Vander Wall, PhD, da University of Nevada, Reno, resolveu fazer a experiência de alterar "marcos geodésicos naturais", por ex. grandes rochas, que se tivessem servido para efectuar triangulações iria impedir que agora fossem correctas para voltar a encontrar o local, pois distâncias e ângulos estariam alterados. 
Seria o mesmo que alterar posições de faróis sem avisar os navegadores dos navios, aliás técnica muito utilizada por piratas para naufragar navios e roubá-los sem problemas.

Na experiência do Prof. Vander Wall o resultado foi que muitos esconderijos se tornaram inlocalizáveis pois agora as aves iam a sítios que não eram esconderijos.

A conclusão foi que o corvo "quebra-nozes" para localizar as suas sementes usa triangulações matemáticas com ângulos e distâncias:

Onde estou?? …e...  Para onde vou??

Uhau… Uhau... continuo a pensar que o século XXI é o século de ruptura e mudança dos paradigmas biológicos científicos vindos do passado, porque...

...se este pequenino pássaro faz estas observações e cálculos matemáticos sem erros, em décimos de segundo e sem fazer notações escritas, então ...na hierarquia do calculo matemático, esta espécie está muito acima da espécie humana, devido à sua grande capacidade para o fazer.

Mas o paradoxo habitual vigente na espécie humana leva-a a considerar-se o "máximo" da criação de Deus e com o direito de colocar tudo o resto ao seu serviço, com a habitual cegueira dos homo sapiens stupidus.

Considerando que cada esconderijo tem cerca de 1,5 cm2 num espaço de 20 Km2,  é muito grande a precisão do cálculo matemático no pequeno volume de neurónios daquela cabeça para conseguir obter a localização correcta inclusive debaixo de neve:


Isto sugere que deve existir uma forma muito sofisticada de triangulação talvez até só com dois "marcos geodésicos naturais" que fixam na sua memória.

Se se pensar na irregularidade deste marcos e da importância da posição relativa perante eles quando foi feita a memorização, acontece que a ave tem que estar na mesma posição relativa para a reconstituição dos ângulos e distâncias ou então os cálculos sairão errados.

Por outro lado, as distâncias e os ângulos têm que ser medidos e registados com precisões de milímetros e graus e tudo feito "a olho nu" e instantaneamente ou então morrerá de fome.

Como cada triangulação tem valores diferentes das restantes e cada ave faz e regista 20.000 a 30.000 esconderijos por ano, operacionais durante 2/3 anos, a questão interessante é saber qual será o sistema usado para manter activas e operacionais tantas variáveis numa cabeça tão pequena.

Ahai…Aaahai…mas como é que eles fazem ???

Pensando que neurónios são neurónios e olhando para este ar "espertalhão"...




fico a pensar se seria possível "este colega matemático" me ensinar a usar alguns dos meus neurónios (eventualmente inactivos) da mesma maneira.

Entretanto, resolvi adiantar-me e comecei a fazer experiências de "cálculo matemático geométrico holístico" para acordar e ginasticar neurónios.

Como exemplo:

1º - Numa mesa de jantar, fixar bem a localização de um garfo na sua posição relativa a outros objectos da mesa;
2º - Quando fixar várias referências de distâncias e ângulos para esses "marcos geodésicos naturais" agarrar no garfo e colocá-lo noutra posição, deixando-o ficar;
3º - Passado algum tempo voltar a pô-lo onde estava….
MAS, USANDO ESTE MÉTODO…

A - mover apenas meio caminho e avaliar, perguntando a si próprio se está a ir na posição correcta;
B - se tiver a sensação interna de que está errado, altere novamente um pouco a posição em direcção ao que sente ser o local final…e faça a mesma avaliação;
C- se tornar a ter a sensação interna de que está errado torne a mover apenas um pouco e repita até se sentir satisfeito.
D - parar quando sentir que está no local.

Ao fazer este método está-se a usar uma "forma holística de diferenciais matemáticos" em vez de uma forma linear por aproximações numéricas. Aprende-se a aplicar e desenvolver a sensação de distância e relação, usando no cálculo Matemático a par do neo-cortex também o sistema límbico.

PS - Métodos semelhantes são descritos em culturas tribais para "cálculos geométricos" sem usar as notações matemáticas habituais dos letrados

Esta actividade pode ser transformada em jogo colocando com vários objectos numa mesa, na qual a criança altera para longe a posição de um objecto que depois volta a recolocar no lugar inicial com este método.
É uma actividade bastante divertida e motivante quando a criança verifica que consegue… o que muitas vezes nem acredita.

A prova de que foi capaz pode ser feita fazendo previamente um sinal "invisível" no local do objecto que só é mostrado quando é recolocado ou com uma fotografia prévia e outra posterior tiradas ambas da mesma perspectiva, para manter ângulos e distâncias das relações existentes.

A primeira forma é boa no início porque cria excitação motivante e faz querer repetir com outros objectos; a segunda é boa para se motivar a usar notações matemáticas de ângulos e distâncias para validar a correcção da sua reposição, o que é muito operacional se forem fornecidas impressões das fotografias.

Uma semana depois, se a mesa continuar intocável apenas sem o objecto que foi mudado, é vulgar a criança conseguir recordar as varáveis e conseguir recolocá-lo exactamente na mesma posição.

Esta actividade é muito enriquecida se for feita ao ar livre na natureza com pedagogia experiencial (outdoor learning).

domingo, 15 de junho de 2014

Espécie humana como paradoxo


Estando a ler sobre antropologia e shamanismo encontrei um estudo interessante sobre a Ayahuasca,


nome de origem inca de uma bebida psicadélica sacramental feita por cozedura de duas plantas nativas da floresta Amazónica.

Uma delas, a Psychotria viridis, contém o princípio ativo da dimetiltriptamina, substância alucinógena (parece que também é naturalmente produzida no córtex) mas que se for engolida não produz qualquer efeito porque o estômago produz uma enzima monoamina oxidase que a bloqueia.

Porém, a segunda planta Banisteriopsis caapi traz consigo várias substâncias que inactivam a enzima estomacal, possibilitando que o alucinógeno alcance o cortrex. 

Assim, cozendo as duas plantas  em conjunto produz-se uma bebida psicadélica.

Esta produção tem milénios de uso naquelas populações e não me parece que nesse passado longínquo existissem microscópios electrónicos ou manuais botânicos para orientação.

Claro que tudo é simples e lógico e não há mistério para desvendar. 

Ao longo do tempo, a espécie humana por "tentativa e erro" e com o método da "selecção natural" foi combinando e cozendo diferentes plantas e bebendo o seu resultado até que deixaram de morrer ou, simplesmente nada acontecia, mas pelo contrário, passaram a obter viagens psicadélicas e a modificar a consciência. 
Finalmente a Ayahuasca estava descoberta os shamans podiam-na usar nas suas cerimónias, q.e.d.

Como se vê, usar o raciocínio é a essência do progresso da espécie humana e a base das conclusões cientificas, sociais, políticas, e da análise causas-consequências.

Continuando a aprofundar a ciência cientifica, descubro que a floresta amazónica num calculo aproximado e, num mínimo, tem cerca de 80.000 espécies de plantas.

Huau…resolvi fazer contas,…ou seja, saber quantas combinações são possíveis fazer de 2 plantas em 80.000?
Aplicando a fórmula Matemática do calculo de  "2" combinações num conjunto "80.000":


o resultado é que em 80.000 plantas combinadas duas a duas temos 3.199.960.000 alternativas.

Se entre "procurar, colher, cozer, experimentar e registar" conclusões se necessitar de um mês, a espécie humana precisou de 266.663.333 anos para aplicar o método de tentativa e erro só neste problema.

Huau…Huau... 266 milhões 663 mil e 333 anos para fazer um cházinho

Realmente a espécie humana é uma espécie trabalhadora e aplicada e os nossos cientistas fazem profundos raciocínios nos estudos científicos.

Abandonando o tema resolvi descansar e ver o telejornal, ao ver e ouvir o que dizem e o que garantem ser verdades e soluções ...de repente surgiu-me outra conclusão:

A espécie humana é um animal de raciocínios,
mas não é um animal racional...

acredita e diz cada parvoíce….


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Leitura e estado de sonhador …ou não!


- "Estar na natureza não é ver plantas e animais
é sentir a vida que transportam consigo…!!!!",
diz o Shaman para se viver a Vision Quest.

- "Ler não é vocalizar palavras 
é sentir os seus significados (dreaming state)…!!!",
diz o leitor para se viver a leitura.

Refraseando o núcleo destas declarações (statements), e num ponto de vista dialéctico, pode dizer-se que expressam a dança do paradoxo "forma e conteúdo" que  nos "assombra" a vida em muitos dos seus aspectos, entre eles ...a leitura.

Assim,… uma questão de partida:

- "Como nos ensinam a ler ???" ou
- "Como lemos???"

… e um axioma de partida:

Aprender a ler não é reconhecer palavras e conseguir vocalizá-las, é "surfar" nos significados que elas transportam consigo,

ou seja, aprender a ler é aprender a "sonhar acordado", é ser empurrado e manipulado por palavras escritas cujos significados se tornam tão intensos que tudo o resto desaparece,... as palavras, o livro, o contexto, nós próprios deixamos de existir, tudo se resume a significados (ideias-emoções) entranhados nos nossos neurónios…e embrenhados na leitura passamos a "sonhar acordados".

Jovens e adultos que não gostam de ler é porque não conseguem alcançar este patamar psicológico…é porque para eles […ler formas domina com tal intensidade o conteúdo existente que o sonho acordado nunca acontece…. Quando este equilíbrio se inverte e ler formas desaparece para se saborear conteúdos, então, nasce o leitor.]

Há vários métodos e técnicas que podem favorecer ou bloquear este nascer do LEITOR, muitos de transmissão tradicional e que são usados com inconsciência dos seus efeitos.


A dança "forma e conteúdo"
(citado no Blogue Pinçamentos "As portas da percepção" de 03 Jun14, em http://pincamentos.blogspot.pt/2014/06/as-portas-da-percepcao.html )


Como exemplo, […quando uma criança ouve uma ave cantar, ouve o seu contentamento, a sua alegria no viver, a sua vibração feliz…] que vem [... directamente do "background" do canto da ave…].

Esta situação em que não se percepciona a "forma" mas se sente o "conteúdo", é aquilo que os shamans chamam o "ver antigo", isto é, o ver sem intermediários, situação habitual e normal nas crianças de pouca idade,
[... crianças pequenas, porque as "portas de percepção" ainda estão muito abertas, são por natureza mais atentas aos fluxos sensoriais que lhes chegam e respondem com maior implicação às suas estimulações sensoriais, consideradas irrelevantes pelos adultos…] (S.H.Buhner)
Obs - English
[…younger children, because gating is still much more widely open, are by nature more attentive to the sensory flows coming in to them and respond with greater attentiveness to the feeling of the stimuli, considered irrelevant by adults…]   

Porém por processos de aculturação, esse predomínio do conteúdo sobre a forma pode ser invertido ficando a "forma" (veículo) a dominar a recepção, abafando o "conteúdo" e até negando a sua existência. Assim, quando: 

[… um adulto se aproxima e diz que a ave é um canário cantando para outros canários ouvirem…]

o cantar passa de algo "consumatório" a ser sentido (um conteúdo) e transforma-se num recurso "instrumental" (uma forma-veículo) para ser usado como ponte para os conceitos "canário" e "canto-informação". Deste modo o "ver antigo" transforma-se em "ver conceptual".

PS - Talvez num exemplo mais corriqueiro e óbvio, é quando o "beijo consumatório" da despedida no namoro se transforma, mais tarde,  no "beijo instrumental" da despedida na rotina.
Esta perda de conteúdo pode ser embrulhada em frases rituais de emoção tipo "gosto muito de ti…" enquanto se ajeita o penteado ou se procuram as chaves, portanto, também as frases perdem o consumatório e passam a instrumental num ritual.
(Com filhos este esvaziamento "instrumental" também é vulgar).


Aplicando esta diferença à leitura

Uma simples experiência permite viver esta diferença em ler com ou sem "dreaming state" (posição de sonhador), onde o conteúdo é primordial e não a forma das palavras.

- Num expositor de venda de jornais e revistas, normalmente observam-se os seus títulos procurando palavras grandes e depois médias (ou vice versa) e abandonando as letras minúculas excepto se em imagens.
É um processo de controlo mental inconsciente, primordialmente centrado na forma das palavra e no seu impacto visual e só depois passará ao critério da preocupação com o seu conteúdo (significado).

Normalmente o intervalo de tempo entre estas duas etapas é grande se o leitor se aproximar do polo analfabeto ou se for numa língua que não domina e será pequeno se for um leitor treinado.
Porém qualquer que seja o caso, raramente a leitura das manchas de um jornal ou revista é feita na "posição de sonhador" (dreaming state), isto é, num estado apenas dominado pelo conteúdo (vide técnicas e estratégias de design de grafismo).

Em resumo, neste caso…vêm-se as palavras e depois pensa-se nos seus significados.

- Pelo contrário quando devido a diversos factores, em que os mais vulgares são o interesse do que se lê e o treino de ler na língua escrita, por ex. ler por "dreaming state" em português não significa poder fazê-lo em alemão ou vice versa, é possível adquirir condições para passar a um nível diferente de leitura que é:

em resumo, neste caso ...pensa-se e "mergulha-se" nos significados, não se vendo as palavras.

Quando isto acontece…entrou-se no "dreaming state" do leitor "inside in" (virado para dentro).

Uma vivência que muitos já sentiram, mesmo não sendo leitores profundos, é "mergulhar" de tal modo na história do livro que se "esquecem" de tudo que se passa à sua volta, inclusive o próprio livro, as páginas e as palavras lidas.

É vulgar quando "regressam à terra" admirarem-se com o tempo gasto, o número de páginas lidas e com o barulho que de repente sentem à volta.

Mesmo crianças, ainda leitores iniciais que se embrenham na leitura de uma história, podem entrar neste estado de "dreaming", sendo muito vulgar não ouvir a mãe ou o pai chamar, motivo porque depois eles se zangam com a sua falta de respeito em não responder, exigindo que tal não aconteça… não percebendo que acabam de estragar uma vivência importante do seu desenvolvimento como futuros leitores e estudantes eficazes.

Assim, existem duas alternativas:

1 - falta do "dreamig state" na leitura,
criando um processo dominado pela percepção do sinal gráfico "palavra" que, de forma secundária, trás "colado" a si um significado cognitivo-emocional. Este funcionamento é característico dos semi-analfabetos e semi-alfabetos e de quem aprende a ler numa língua desconhecida.

Segundo estudos feitos ( M. Zovko, M. Kiefer, etc) há uma dinâmica neural entre a percepção forma-conteudo, que se pode resumir dizendo que [...o foco na forma inibe a habilidade de determinar os significados que são a base da forma. O efeito ocorre a nível inconsciente, no controlar os canais sensoriais…]

Obs - English:  
[...focus on form inhibits the ability to determine the meanings that underlie form. The effect takes place at the unconscious level, at the level of sensory gating channels…]

2 - presença do "dreamig state" na leitura, 
criando um processo dominado pelos significados do sinal gráfico e à revelia da consciência do seu uso, dá-se um curto-circuito nos intermediários. 

O background do processo de ler (significados produzidos no córtex) tomou o controlo do resultado e colocou os intermediários (palavras escritas) fora das "portas da percepção". Vive-se uma espécie de estado de "sonambulismo" provocado pelo fluir de veículos "palavras" na mente em que [… o foco contínuo no significado das palavras treina a habilidade futura de determinar o significado, independentemente do meio utilizado. Entretanto, se o foco passar para a classificação das  palavras pela forma, a habilidade de determinar o conteudo reduz-se…]

Obs - English:
[...continued focus on the meaning of words enhances the future ability to determine meaning irrespective of the medium conveying it. However if the focus is shifted to classifying letters by shape the ability to determine meaning decreases…]


Como exemplo, alguns investigadores pediram a várias pessoas que identificassem numa lista quais as palavras referentes a um ser vivo e quais as referentes a uma coisa inanimada (árvore, pedra, bola, menina, planta). 
Verificaram que com a experiência as pessoas se tornavam subliminarmente mais activas para atender ao significado das palavras e mais rápidas a interpretar frases.

Por outro lado, se pediam que identificassem também numa série de palavras as que terminavam por vogal ou por consoante (jardim, garrafa, oceano, folha) tornavam-se subliminarmente mais activos para se concentrar nas formas das palavras e não nos seus significados inerentes, levando mais tempo a interpretar as frases lidas.

PS - A ser assim, para ajudar uma criança a interpretar uma frase, discutir se é substantivo ou adjectivo e qual é o tempo do verbo, talvez não seja um bom caminho, como também talvez seja um mau caminho.


Uma história

Um jovem de 12 anos não gostava de ler, quando lia vocalizava mentalmente as palavras para procurar depois o seu significado (estilo analfabeto), tinha grande dificuldade e lentidão em interpretar e quando acabava apresentava muitos erros. 

Na prática, ele na vida quase só vivia para o futebol, pensava futebol, sonhava futebol e coleccionava cadernetas com fotografias de jogadores pelo que, para o entusiasmar a ler, foi criado um "jogo de leitura" com futebol.

O objectivo do jogo era, na leitura, procurar tirá-lo da focagem na forma das palavras e substitui-la pela concentração no seu conteúdo, ou seja, neste jogo o importante de ler não era dizer as palavras escritas mas sim pensar-sentir o seu significado.

Dentro dos factores considerados relevantes para detonar o "dreaming state"na leitura, está a "intenção emotiva" colada e obtida com o resultado do ler, por ex., normalmente, a razão pessoal para se implicar na leitura está na intensidade de […querer saber o que acontece aos personagens…]. 

Assim, foram feitas várias listas com 50 nomes de jogadores e não-jogadores e o objectivo do jogo era ele conseguir, nos poucos segundos atribuídos (7, 5, 3 s), seleccionar o maior número de jogadores.

A dificuldade não estava na escolha a fazer (que ele conhecia bem) mas sim na rentabilidade da leitura nos poucos segundos atribuídos.
Por sua vez, o "fun" da actividade foi centrado na quantidade dos que tinha deixado de fora e não nos que tinha encontrado, ou seja, o critério era quantos menos jogadores deixados de fora, mais rápido tinha sido.

Rapidamente percebeu que não tinha tempo para vocalizar, por isso "treinou-se" em conseguir apenas com uma vista de olhos saber se "era ou não jogador".
Sem reparar deixou de fazer uma leitura apoiada nas sílabas das palavras para fazer uma leitura apoiada na palavra global, fase intermédia facilitadora do "dreaming state".

As listas forma-se complicando com critérios adicionais (jogadores estrangeiros-nacionais; com e sem castigos; etc) e ele, que não gostava de ler, divertia-se cada vez mais com o "jogo da leitura", de tal modo que se começou a fazer listas doutro tipo, por ex, cidades e vilas com e sem campos de futebol, etc…a imaginação era o limite.

O importante do jogo foi que para eleo ler tornou-se mais divertido do que encontrar respostas.
Sem o notar, tinha-se tornado um leitor, tinha passado a gostar de ler, ou seja, tinha adquirido o script "dreaming state" do leitor profissional… o futuro era dele.


A questão fundamental

O "dreaming state" é a etapa final do processo de aprender a ler ou é uma etapa inicial ????

[...every individual in every species have 
their own “default” setting in their .sensory gating channels…]
("Maturation of sensory gating performance in children with processing disorders", Davies, Chang, Gavin, )

Soldados com ESPT (Estado de Stress Pós-Traumático) têm sensibilidade "exageradamente intensificada" a certos sinais exteriores e hiper-focalização emocional em seus significados,  originando permanentes estados de alerta e de resposta a situações de possível agressão. 

As suas "portas de percepção" estão muitos abertas a pequenos sons, movimentos e diferenças desprezáveis, normalmente na vida normal excluídos da consciência, para pesquisar perigos potenciais. 

Segundo estudos efectuados se este estado persistir mais de 2 anos pode tornar-se uma "modificação duradoura da personalidade".
(vide Organização Mundial de Saúde, Transtornos Mentais e Comportamentais)

A conclusão a tirar é que tudo se passa em scripts e templates neurais por relação experiencial com situações contextuais que […abre ou fecha funcionalmente as "portas de percepção"…]. 

O "dreaming state" do leitor implicado é uma "modificação duradoura da personalidade de leitura" obtida por empolar a aprendizagem nos significados dos sinais o que vai abrir e fechar certos aspectos das "portas de percepção", diferentes das obtidas com a aprendizagem por empolamento da vocalização. 

Ou seja, aprender a ler, qualquer que seja o método, provoca sempre "modificações duradouras da personalidade", […aprender a ler não é uma simples destreza, é um re-nascer, é começar a ser e pensar diferente…].



Qualquer analfabeto que não lê letras, 
conhece o significado de símbolos visuais e sonoros.

Há métodos de alfabetização em que a palavra é apresentada como um sinal gráfico, um rabisco semelhante a um símbolo tipo emblema, por ex., quando se vê um grafismo-com-leão "lê-se" Sporting, mas se se vê um grafismo-com-águia lê-se Benfica. 

Portanto, se as palavras forem percepcionadas como grafismos ("desenhos de rabiscos") e atribuídos conteúdos, podem ser lidas frases com elas construídas sem usar processos de vocalização que se desconhecem:


percepcionadas como grafismos e não como símbolos de sons

Quando já se domina uma certa quantidade de símbolos gráficos e seus significados, fazendo a "leitura-compreensão" de seus conjuntos sem o uso de vocalização, é introduzida uma mudança qualitativa no script de leitura, pela apresentação do abecedário e da lógica de seus arranjos e combinações silábicas e fonéticas. 

Quer num método quer noutro, no final deve usar-se a leitura-formal e a leitura-significado, simplesmente na sua génese as etapas estão invertidas. No método da vocalização começa-se por usar o neo-cortex com a lógica silábica e às vezes nem saem dessa etapa e não gostam de ler, no método simbólico começa-se pelo significado com o sistema límbico a activar a emoção e só depois se passa à lógica silábica. 

É interessante notar que o método de alfabetização de Paulo Freire apesar de também começar por lógicas silábicas, todavia considera fundamental usar palavras bem inseridas "emotivamente" na cultura local, devendo nela ter importante e bem conhecido significado. Apesar de activar o neo-cortex, ele pretende também activar o sistema límbico dos significados pela sua conexão emotiva.

Como conclusão

e respondendo à questão colocada, o "dreaming state" da leitura não é uma consequência obtida apenas pela sobrecarga de se ler muito, pois o principal factor não é a "quantidade de acções de ler" mas sim a "qualidade das acções de ler", se bem que o aumento quantitativo em condições favoráveis possa ocasionar a mudança qualitativa.

Do mesmo modo, a compreensão do texto não está na razão directa das vezes em que é lido nem da performance do conhecimento da gramática pois os analfabetos, sem precisar de repetições, percebem  as conversas que têm e nem sabem a gramática das frases que ouvem

Compreender um texto e gostar de ler é um problema de operacionalidade em:

1º) - ter o script de como gerir significados; 
2º) - saber utilizá-lo.

Conselhos do Homengarbo (Dr.)
Por analogia, não é por empanturrar o filho de comida que ele fica bem alimentado, pois a quantidade resolve a angústia de quem quer solucionar mas não resolve o problema de quem o tem.