A mãe preocupada, queria que ele acompanhasse a irmã, mas ele não estava interessado. Então, a mãe disse:
- É importante, vais ser o "anjo da guarda" dela…!
- O que é um "anjo da guarda"? - perguntou ele.
- É uma espécie de detective que espreita para ajudar!, ... e convenceu-o.
Tive um choque. De um lado para o outro, na minha cabeça saltitavam as ideias, ditadura, democracia e "anjo da guarda" tudo misturado com dois irmãos felizes, passeando.
Percebi e acalmei. Sociológicamente, tratava-se do uso da proximidade, quer seja psicológica (empatia, simpatia,..) quer seja física (companhia, relação,..), e que pode ter um uso positivo (apoio, liberdade,…) ou negativo (recusa, bloqueio,..).
Na prática, a diferença entre ditadura e democracia resume-se a diferenças na proximidade.
A ditadura baseia-se no uso da proximidade negativa. Policias secretas e informadores disseminados "à espreita" para controlar, prender, bloquear pessoas; militarizados espalhados nas ruas "à espreita" para enquadrar, obrigar, inactivar pessoas; instituições "à espreita" para impedir, anular, "bagunçar" alternativas diferentes que, então, se chamam Oposições; etc.
A democracia baseia-se no uso da proximidade positiva. Técnicos disseminados "à espreita" para apoiar, ajudar, tratar pessoas; profissionais em prevenção nas ruas "à espreita" para orientar, socorrer, encaminhar pessoas; instituições "à espreita" para fomentar, recolher, estruturar outras alternativas e soluções diferentes que, então, se chamam Parcerias; etc.
É impensável numa Ditadura, uma pessoa ir "bater à porta" da instituição e dizer "Eu tenho outra ideia, façam o vosso trabalho… prendam-me". Na Ditadura, o que é real é ela ter clandestinos espalhados pela sociedade para ir a casa dessas pessoas e "apanhá-las". Numa palavra, é o uso, em pleno, da proximidade negativa.
Mas na actual Democracia sucede o contrário. São as pessoas que vão "bater à porta" da instituição e dizem "Eu tenho uma necessidade, façam o vosso trabalho… ajudem-me".
Na verdade, isto é não-proximidade positiva, é apenas disponibilidade positiva.
Como exemplo, se o conjuge não der afectividade aos filhos (e à mulher) mas apenas o fizer quando vão ter com ele e lha pedem, isto não se pode chamar proximidade afectiva mas apenas burocracia afectiva, muitas vezes com rotinas instaladas, entrada e saída de casa, etc.
Em conclusão
Esta Democracia é do tipo "faz-de-conta", pois é apenas uma "NÃO-Ditadura" sem chegar a ser Democracia. Na verdade, ela não contém a proximidade positiva que a define.
Actualmente, apenas as campanhas eleitorais e as crises fazem aparecer "fogachos" de proximidade positiva (abraços, beijos, choros, risos, ...) mas depois tudo regressa à burocracia de proximidade Kafequiana tipo "espera e vai-te embora!!" (vide filas de espera nos locais de apoio).
ps1- As ditaduras têm votações e comícios "democráticos", portanto, essas evidências não provam nada. A lógica é procurar, principalmente, O QUE NÃO EXISTE e não listar o que existe.
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