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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

"o melhor possível…", esta frase irrita-me

Grrrr…. Grrrr…. irrita-me

O doente entrou no hospital e o responsável disse à família: "Foi tratado o melhor possível!!"

O que é que isto quer dizer, "trataram?", apenas "estabilizaram?", ou "fazem cuidados paliativos até morrer?"

O normal é os familiares, perante esta resposta habitual, ficarem "normais" e conformados com a situação.

No caso do incêndio de Pedrogão, em que morreram 65 pessoas, o comentário de várias entidades (incluindo massmédia) foi "Fez-se o melhor possível!!!".  O que é que isto quer dizer? 

Se tivessem morrido 564 pessoas também seria o melhor possível? …e se tivessem morrido só 10? …e se ninguém tivesse morrido? E o bombeiro ferido que levou 10 horas para chegar ao hospital… era também o melhor possível? …E se demorasse uma semana… porque o melhor possível era ir de carroça?

A verdade é que a frase "Fiz o melhor possível" não significa nada, é um bluff lógico, é uma muleta de uso para qualquer política amaciadora. É um truque de propaganda clandestina para inserir a afirmação de "está tudo bem".
Mas isto não é o pior.

O pior acontece quando, além de aceitar, também se começa a usar a "burla lógica" com a melhor das intenções (vide o video da SIC, a seguir). A "mentirinha" torna-se normal nas relações sociais, pois a mentira, não expressa mas induzida, é sinal de habilidade e honestidade política, de ser um Q'rido Lider e ganhar votos.

A frase "Fiz o melhor possível" com sua aparência de lógica clara e óbvia é, na verdade, uma frase errática e "vagabunda" de sentido indeterminado que activa em cada um a expectativa desejada. 

Na teoria da propaganda, chama-se a este mecanismo "manipulação clandestina", ou seja, é fazer "normal" o que não o era e depois vulgarizar.

Porém, viver em sociedade significa sofrer este processo de padronização, i.é., sofrer uma educação por osmose, o que sucede desde aceitações de moda até alimentação e remédios, passando pelo guiar à esquerda ou à direita, etc. Este mecanismo não é o problema, é apenas uma solução para a flexibilidade e evolução humana que se chama culturização.

O problema está na perda de lucidez, na aceitação ou recusa de certas normalidades. O "deixar andar", a "falta de atenção aos sinais", o abúlico "sim senhor" é que são o problema, normalmente completado pela velha e esfarrapada confissão de mea culpa à procura de absolvição, quando já é tarde para evitar. 

Esta falta de lucidez e o "deixar andar" são as "epidemias" disseminadas pelos movimentos populistas e pelas claques partidárias para diluir oposições.

Como disse Edmund Burke (séc XVIII) […para o mal triunfar, só é preciso que os bons não façam nada…] e o não-pensável torna-se -à, não só pensável como, real.

Há aqui uma pergunta importante a fazer: "Quando?", quando é que "os bons" actuam, quando é que eles acham que "já chega".

Como é lógico, os movimentos populistas e as claques políticas procuram atrasar esse momento até obterem um número suficiente de "claquistas". As manifestações e os slogans não procuram introduzir lucidez, mas sim criar vagas de "claquistas" (vide o clássico "Le viole des foules").

As Democracias "activas" possuem o mecanismo de "enough is enough" com o sentido de "pouco é suficiente", pois há consciência de que o "já chega" muitas vezes vem tarde de demais. Exemplo:

USA, um dia depois da marcha de ódio em Charletesville (11 Ago), há manifestações (12 Ago) demissões (13 Ago) (14, Ago) mostrando claras posições de cidadãos (smart mobs?), soltas de enquadramentos partidários:


Porém, as Democracias "adormecidas" têm "injecções culturais" de apaziguamento com o "barbitúrico" "fez-se o melhor possível", um misto de lógica confusa (não informa nada) com crendice afectiva de  segurança (não garante nada).


Este pastel de nata do "melhor possível" tem muitos irmãos gémeos de "lógica manipulativa":

- "Prometo que, logo que possível, se fará".  Quando é o possível?.
- "Já está tudo esclarecido… ", portantotudo fica por eslarecer.
- "Não é secreto, é segredo de justiça… ", portanto, tudo continua escondido.
- "Não sou responsável ninguém me avisou... ", portanto, responsável só com aviso prévio.
- "Já está resolvido, vai-se legislar… ", portantooficialmente, não ter solução é problema resolvido.
- "Agora ajudamos quem chora, depois procura-se responsáveis… ", portanto, procurar responsáveis é adiado. Exemplo, Ago17, queda de árvore no Funchal:


Mas, não se pode fazer as duas? Não poderia ser "Prioridade é apurar responsabilidades e apoiar familias e feridos"?
Na verdade, todas estas frases são frases não-democráticas.

Desde a antiguidade grega que Democracia não é a votação, é LUCIDEZ para a votação, ou seja, Democracia é o diálogo que, na praça pública, antecedia essa votação. Segundo estes filósofos "…na votação a democracia já acabou… pois ela existiu no diálogo prévio que a antecede…" (P. Senge, The Fifth discipline, UK, 1992, pg 10 e 240).

In brevis, a essência da Democracia é lucidez individual da decisão tomada. Votos drogados, submissos, comprados, enganados, confusos, falsificados,… não são votos democráticos é burla democrática.

Tudo o que escamoteia a lucidez e procura criar "crendices" (afirmações sem garantia) é anti-democracia. Tecnicamente, a essência do populismo é, exactamente, o crescimento de crendice e a redução da lucidez, mesmo que tenha legalidade democratica… mas perdeu a legitimidade democrática.

O direito à palavra nunca é retirado na ditadura, nela todos podem falar… desde que seja concordância, aumente a crendice ou reduza a lucidez. A marcha de Charlottesville foi um "discurso" nazi bem claro e que explicou muito bem o que é um nazi… ninguém pode dizer que não percebeu.

Na Democracia, o direito à palavra não é um direito de quem fala é um direito de quem ouve para obter informação e lucidez suficiente para poder decidir se vota nele, ou não.

Isto é muito claro neste pequeno video quando o discurso de captação cria lucidez de recusa:



A seguir, está um exemplo de como as frases de lógica manipulativa tiram lucidez ao discurso, mesmo quando usadas honestamente por quem apenas assimilou a cultura de "democracia travesti". Vide entrevista na SIC sobre falta de recursos na PSP e GNR (9Ago17)

O entrevistado foi claro nas suas afirmações e, sem as negar, acaba por lhe reduzir a lucidez ao utilizar o  conceito "o melhor possível" na resposta a uma pergunta da entrevistadora.


Diálogo:

Entrevistadora:
- Podemos dizer que a operacionalidade da GNR está posta em causa?

Entrevistado:
- Não,... nessa parte não quero acreditar nunca e nunca irei referir que isso possa acontecer. Há uma parte muito importante que são os profissionais […]
- […o profissional...] tentará sempre fazer o melhor, independente dos meios que tenha
.

Isto pode ser verdade e a ideia do entrevistado pode estar correcta, mas introduziu falta de lucidez ao estilo da cultura da "democracia travesti" disseminada nas redes institucionais.

Assim, é credível que um profissional GNR que corra o melhor possível atrás do carro do ladrão o apanhe?

A operacionalidade da GNR é uma integração de "profissionais e recursos" e, por muito que um profissional GNR se esforce, se não tem recursos, a operacionalidade GNR é baixa.

Aos cidadãos que apoiam o esforço dos profissionais (GNR, PSP, médicos, enfermeiros, professores, militares, etc) é preciso dar lucidez sobre o problema, e não misturar esforço e competência destes com o esforço e competência das organizações em que trabalham. Fazê-lo não é proteger a sua imagem, é deixá-los a aguentar culpas que não têm.

Penso que a resposta correcta, de acordo com as ideias expostas pelo entrevistado, seria do género:

- SIM,… porque apesar dos profissionais GNR fazerem o melhor possível, não havendo recursos, a operacionalidade GNR está posta em causa.


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

SEMPRE ESTAREI VIVO…!!!

Há dois dias que ando mergulhado na Teoria Quântica e na problemática do tempo. Hoje acordei de madrugada com uma certeza que me relaxou:

NUNCA POSSO ESTAR MORTO!!!

…é tudo um problema de lógica da mais simples.

Para se estar morto é preciso estar-se vivo para saber isso.

Se estou morto e não sei que estou morto, então NÃO ESTOU MORTO, simplesmente NÃO ESTOU... nem morto, nem vivo, nem nada.

Se estou morto e sei que estou morto (noutra dimensãono inferno, no céu, com ou sem virgens, depende da crença) é porque estou vivo, logo NÃO ESTOU MORTO.

Conclusão, 

Sempre estarei vivo !!!!!

Voltei adormecer com um sorriso nos lábios, SEMPRE ESTAREI VIVO (eu e minha lucidez)… ATÉ À ETERNIDADE e quando esta acabar … nunca saberei que acabou pois para mim ela é eterna.

Quod erat demonstrandum

PS - Viver perseguido por paradoxos lógicos é uma chatice


sábado, 12 de agosto de 2017

Comam só o que está cozido...

A propósito dos temas e discussões do tipo funciona bem-funciona mal sobre incêndios, Tancos, SIREP, escolas, hospitais, etc" recordei uma história que me foi contada por um trabalhador cabo-verdiano nos meus tempos da Lisnave.

O que ele me contou foi:

Quando era pequeno (7/8 anos) brincava cá fora e a mãe chamou-o para ir buscar uns "gravetos" para o lume, para ela fazer o almoço.
Mais interessado na brincadeira do que no pedido, agarrou tudo o que encontrou à frente e levou à mãe. Ela olhou e só lhe disse "Não tens vergonha?". Envergonhado mas interessado na brincadeira foi-se embora.

À hora de almoço, ele e os irmãos queixaram-se que a "cachupa" estava mal cozida. A mãe olhou para ele e, muito séria, disse: "Comam só o que está cozido".

Ele parou e envergonhado, não almoçou, foi apanhar gravetos. Desde essa altura, nunca, nunca mais, deixou de se preocupar em ser competente em tudo o que faz. 

Acrescentou que o aviso "Come só o que está cozido..." era algo que, de brincadeira. sempre foi dito na família quando alguma ajuda era pedida. Sorrindo disse que, ainda hoje, ele, irmãos e filhos também o fazem. 
A história fazia parte da cultura viva daquela familia.

Recordando o clima de queixas, lamentos, justificações, versões paralelas, argumentações, desculpas e acusações, esta história parece-me actual.

Ou se aprende a ser competente em tudo que se faz ou nos habituamos a "Comer só o que está cozido…" e deixamos a "sem vergonha" andar por aí à solta.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

"Politicamente correcto", correcto ou incorrecto?

Li hoje dois artigos, Nunca lutes com um porco, Fernanda Câncio (DN, 7Ago17) e O "politicamente correcto", um embuste direitista, de A. Russo Dias (Medium, 7Ago17) e fiquei com o problema de:

Politicamente correcto, é correcto ou incorrecto?

A primeira ideia foi pensar se este conceito apareceria no século XVIII ou XIX fora dos círculos "intelectuais". Concluí que não, pois a política ainda vivia nos ghettos culturais das classes (muito ou pouco) dominantes e à procura de domínios. 
Os "populares" só se preocupavam com o comer e o dormir, e até o "escrever. ler e contar" não fazia parte das suas reocupações.

PS- Sobre este tema, um livro lido que sempre recordo: O mundo que  perdemos, Peter Laslett, Ed. Cosmo, Lisboa, 1975

Pensando no significado do "politicamente correcto", recordei outra frase da minha adolescência com um significado parecido e uma pequena diferença: "Maria vai com as outras…".

A igualdade é que ambas significam alguém que acompanha a corrente de opinião do grupo a que  pertence. Na verdade, a exclusão social sempre foi um estigma para fugir.

A pequena (e grande) diferença é que, na versão antiga, a tónica eram as preocupações sociais mas, na versão actual, a incidência é a posição política. 

A conclusão a tirar é que, desde o séc. XVIII ao séc XXI, a política saiu do "proibido social" e passou para o quotidiano normal de todos os cidadãos.

Assim, agrada-me esta nova versão e fico contente com a sua existência. Ela não é um reforço, nem uma "munição verbal", é um ponto de partida para obter conclusões políticas.

Isto significa que a sociedade a que pertenço é uma sociedade de cidadãos preocupados com política, querem saber se a ideia exposta é válida sob a sua perspectiva política e afirmá-lo depois de comparar e validar. 
Fazer a afirmação "politicamente correcto" como um "papagaio de feira" sem perceber o que diz, não invalida a frase, invalida o papagaio.

Se sabe o que diz, ao afirmar:

- "Hoje, defender a escravidão é politicamente correcto"
- "Hoje, combater a escravidão é politicamente correcto"

o conceito "politicamente correcto" torna-se um auxiliar ÚTIL para diagnóstico do seu autor.

"Politicamente correcto", elogio ou insulto

A conclusão do "politicamente correcto" ser um elogio ou um insulto depende de dois factores: como se concorda e o que se concorda.

1 - Como se concorda

- "Zézinho, come com talheres!!!", diz a mãe.

Se o Zé decide cumprir o "politicamente correcto" naquela família e o "Zé vai com os outros irmãos…" e come com talheres, então o Zé torna-se uma criança educada, quer acredite ou não que deve comer com talheres.

Se, depois, os pais dizem que ele [...come com talheres porque é o "politicamente correcto"], isso é um elogio e ninguém se preocupa em saber se o faz por acreditar ou por ser obrigado.

Todavia, para quem come com pauzinhos (chineses) isso é um insulto pois significa que é incapaz de  comer como deve ser e apenas segue o "politicamente correcto".

Nos partidos políticos, da esquerda à direita, acontece exactamente o mesmo. 
A mesma acção e a mesma classificação de "politicamente correcto" dita pela direita é um elogio (i.é., pessoa digna) mas dita pela esquerda é um insulto (i.é., papagaio de feira)… e vice versa.

2 - O que se concorda

- "Zézinho é esperto como um burro !!!", diz a mãe.

Isto é elogio ou insulto ?

- "Zézinho é esperto como uma raposa !!!", diz a mãe.

E agora, isto é elogio ou insulto ?

A única diferença existente é entre burro e raposa. Para quem pensa que o burro é uma animal inteligente e leal será um elogio e que pensa que a raposa é um animal matreiro e falso será um insulto.

No conceito "politicamente correcto" acontece o mesmo, a diferença não está nele mas naquilo a que se refere. A questão central é saber "politicamente correcto DE QUÊ e EM QUÊ" ??? 

- "Hoje, defender ...bla, bla,bla,... é politicamente correcto"
- "Hoje, combater ...bla, bla,bla,... é politicamente correcto"

Se este "bla, bla,bla"  não é claro não é elogio nem insulto… é só parvoice instalada.

Mesmo o simples facto do "politicamente correcto" só facilitar ou dificultar acções políticas em curso, a questão tem sempre que se colocar, "QUAIS ACÇÕES POLÍTICAS??", acções de prisões indiscriminadas e linchamentos ou de julgamentos legítimos?

NÃO "Politicamente correcto"


- "O meu primo está em Paris". A informação, quer seja pouca ou muita, é clara e útil, sabe-se onde o primo está e sabe-se onde não está.

- "O meu primo não está em Paris". A informação tem 0,0001 de utilidade, pois não se sabe onde está e, excepto em Paris, pode estar em milhares de sítios possíveis. É apenas uma "informação de complemento".

Do mesmo modo, dizer "é politicamente correcto" fornece informação útil se for trabalhada correctamente. Mas, dizer "não é politicamente correcto" é um "cheque em branco" sem qualquer garantia.

Essa afirmação apenas nos diz o que se recusa mas nada diz sobre o que se quer… sabe-se do que se afasta mas não do que se aproxima. Todos os projectos políticos de base ANTI têm esta característica. Como exemplo na História recente, há várias lutas ANTI ditadura A que originaram PRÓ ditadura B.

PS- Concertações e consensos sociais de base ANTI são, normalmente, cheques em branco sem garantias, com alta probabilidade de se "fugir do crocodilo para cair no jacaré". 

No caso de uma campanha política baseada em movimentos anti-politicamente-correcto, dadas as habituais emotividades detonadas e a indefinição de objectivos pró é, de forma clara, o mundo do infantilismo de cidadania
Sabe-se o que-não-vai-acontecer mas não se tem a mínima ideia do que-vai-acontecer, e são milhares de probabilidades.

Em conclusão, 

concordo com o conceito "politicamente correcto" e o seu uso operacional mas o conceito "não politicamente correcto" é apenas um "placebo lógico" para encher vazios argumentativos.


domingo, 6 de agosto de 2017

Democracia e "proximidade"

No café, uma mãe e dois irmãos, ela (5/6 anos) traquinava na esplanada, ele (10/11 anos) traquinava no telemóvel.
A mãe preocupada, queria que ele acompanhasse a irmã, mas ele não estava interessado. Então, a mãe disse:
- É importante, vais ser o "anjo da guarda" dela…!
- O que é um "anjo da guarda"? - perguntou ele.
- É uma espécie de detective que espreita para ajudar!, ... e convenceu-o.

Tive um choque. De um lado para o outro, na minha cabeça saltitavam as ideias, ditadura, democracia e "anjo da guarda" tudo misturado com dois irmãos felizes, passeando.

Percebi e acalmei. Sociológicamente, tratava-se do uso da proximidade, quer seja psicológica (empatia, simpatia,..) quer seja física (companhia, relação,..), e que pode ter um uso positivo (apoio, liberdade,…) ou negativo (recusa, bloqueio,..).

Na prática, a diferença entre ditadura e democracia resume-se a diferenças na proximidade

ditadura baseia-se no uso da proximidade negativaPolicias secretas e informadores disseminados "à espreita" para controlar, prender, bloquear pessoas; militarizados espalhados nas ruas "à espreita" para enquadrar, obrigar, inactivar pessoas; instituições "à espreita" para impedir, anular, "bagunçar" alternativas diferentes que, então, se chamam Oposições; etc.

democracia baseia-se no uso da proximidade positivaTécnicos disseminados "à espreita" para apoiar, ajudar, tratar pessoas; profissionais em prevenção nas ruas "à espreita" para orientar, socorrer, encaminhar pessoas; instituições "à espreita" para fomentar, recolher, estruturar outras alternativas  e soluções diferentes que, então, se chamam Parcerias; etc.

É impensável numa Ditadura, uma pessoa ir "bater à porta" da instituição e dizer "Eu tenho outra ideia, façam o vosso trabalho… prendam-me". Na Ditadura, o que é real é ela ter clandestinos espalhados pela sociedade para ir a casa dessas pessoas e "apanhá-las". Numa palavra, é o uso, em pleno, da proximidade negativa.

Mas na actual Democracia sucede o contrário. São as pessoas que vão "bater à porta" da instituição e dizem "Eu tenho uma necessidade, façam o vosso trabalho… ajudem-me". 

Na verdade, isto é não-proximidade positiva, é apenas disponibilidade positiva. 
Como exemplo, se o conjuge não der afectividade aos filhos (e à mulher) mas apenas o fizer quando vão ter com ele e lha pedem, isto não se pode chamar proximidade afectiva mas apenas burocracia afectiva, muitas vezes com rotinas instaladas, entrada e saída de casa, etc.

Em conclusão

Esta Democracia é do tipo "faz-de-conta", pois é apenas uma "NÃO-Ditadura" sem chegar a ser Democracia. Na verdade, ela não contém a proximidade positiva que a define.

Actualmente, apenas as campanhas eleitorais e as crises fazem aparecer "fogachos" de proximidade positiva (abraços, beijos, choros, risos, ...) mas depois tudo regressa à burocracia de proximidade Kafequiana tipo "espera e vai-te embora!!" (vide filas de espera nos locais de apoio).

PS - Posso não saber o que se passa na Venezuela (Julho 2017), nem saber quem tem razão, mas posso procurar descobrir quem não tem proximidade positiva e quais as formas e intensidades da proximidade negativa.
ps1- As ditaduras têm votações e comícios "democráticos", portanto, essas evidências não provam nada. A lógica é procurar, principalmente, O QUE NÃO EXISTE e não listar o que existe.