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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Big Bang e tempo, 7 perguntas 2 experiências

Perguntas estúpidas obrigam a respostas inteligentes,
Perguntas inteligentes originam respostas estúpidas!

Ando entretidíssimo a ler teorias sobre o tempo e a consciência, variando entre a Quântica, o Gato de Schrödinger, Big Bang, Biocentrismo, Teorias das Cordas, etc.

Não sendo um cientista, limito-me a passear no mundo das ideias como um turista que apenas pensa sobre o que vê, não se preocupando se o quadro é de Chagall com reminiscências russas ou de Picasso espanhol com pinceladas francesas, e se a Igreja e suas estátuas são românicas, renascentistas ou modernas. O turista apenas saboreia, pensa, tira conclusões e vive o que encontra utilizando a capacidade de aprender que recebemos à nascença.

Assim, o turismo de ideias é o meu hobby favorito e neste momento ando a turisticar "o tempo e a consciência".

Encontrei a teoria do "Big Bang" mas penso que ela é muito tradicional e de uma grande simplicidade, pois baseia-se na velha escala temporal do "Passado-Presente-Futuro". Ou seja,


Assim, insistindo que não sou cientista, e como uma criança à procura de compreender a realidade, tenho o direito de fazer perguntas parvas pelo que sete questões me ficaram a incomodar. Até à quarta, resolvi pesquisar mas, na quinta, decidi parar e mudar a perspectiva das perguntas.

1ª - Donde é que aparece o Big Bang?

A teoria diz que primeiro existe NADA, depois existe TUDO.
Admitindo que o "tempo não anda para trás", portanto o Futuro (Universo) não pode ter criado a explosão que o originou, pois neste caso o TUDO seria criado a partir do NADA.
...e aparece a segunda questão:

2ª - Como é que o NADA cria uma explosão ?

Considerando que:
1. por um lado, com uma explosão feita com NADA, nada deve explodir. 
2. por outro lado, quem fez a explosão? Se ela se fez a si própria como é que NADA pode fazer alguma coisa, ou seja, no caso desta teoria como NADA pode explodir?
Logicamente NADA só pode fazer nada ...ou então o NADA é qualquer coisa, logo não pode ser NADA.

3ª - Então o que é o NADA ?

Segundo a Teoria dos sistemas, o sistema de controlo tem sempre que ser mais complexo que o sistema controlado.
Quando o Big Bang origina o desenrolar das etapas sucessivas para a criação do Universo, o sistema criador do Big Bang tem que ser mais complexo que o resultado produzido. 
Então, sob o ponto de vista lógico, no inicio existiria o TUDO e, com o Big Bang, passariam a existir partes (slices) do TUDO inicial e, assim, o Universo seria uma parte do TUDO que o originou.
O esquema da escala temporal altera-se:


O meu turismo de ideias está a ficar complicado porque esta conclusão baralhou-me a compreensão.

Assim, surge-me a 4ª questão:

4ª - O Universo e/ou Multiversos fazem parte do TUDO inicial?

Analisando diferentes religiões, todas elas dão a este TUDO inicial vários nomes diferentes mas, basicamente a regra é sempre a mesma "DELE tudo se origina, para ELE tudo regressa" e surge o conceito de DEUS.
Em muitas religiões, o conceito de Deus integra a Onipresença (por ex, a Bíblia tem várias referências) mas, em algumas, encontrei a metáfora de que (parafraseando) [...tudo que existe faz parte e está em Deus, pois ELE é uma espécie de oceano que tudo contém e os humanos são apenas gotas de água nesse oceano e feitas à sua imagem].

Na perspectiva do BigBang, suportado pela sua escala temporal, esta metáfora é lógica se aceitarmos o conceito de Deus como Onipresente, todavia origina uma conclusão intrigante.

Se existe algo no universo que não faz parte de Deus, então Deus não é tudo o que existe e, portanto, a sua existência é condicionada* pelo que não é Ele, logo não é Onipresente e Onipotente (vide referências na Bíblia).  
*Ex.: Quer Eu seja superior ou inferior a uma pedra eu sou condicionado por ela, [por ex., ...onde ela está eu não posso estar...].

Se Deus é Onipresente, Deus não pode estar em mim porque, neste caso, existe Deus em mim e existo EU, logo Ele não é Onipresente. Para Deus ser Onipresente eu não posso existir sem ser Ele, logo EU tenho que ser Deus (ver Biocientrismo). 

PS- Aceitar o diabo é aceitar o bicefalismo no poder divino, ou seja, existir uma entidade que não é deus e se lhe opõe, logo Ele não é Onipotente. Nesta perspectiva, as mitologias grega, romana, nórdica, etc, com a existência de vários deuses cada um com seu pelouro são bastante lógicas.

Assim, surge-me a quinta pergunta:

5ª - Eu sou DEUS e não morro? 

Neste momento cheguei à conclusão de que a Teoria do BigBang nos conduz a posições mentais e perguntas estranhas, pelo que deve haver um Bug em qualquer lado. 
Assim, abandonei as respostas a esta pergunta e fiz outra um pouco diferente:

6ª - Numa sala só com móveis, e com total isolamento acústico, se um sistema sonoro tocar uma sinfonia existe música nessa sala? 

A resposta é fácil, basta saber um pouco da Ciência Física estudada na Escola Secundária.
Se a sua resposta é SIM, está errada porque a resposta correcta é NÃO porque nessa sala não existe qualquer córtex para transformar vibrações em som, logo não há música.
A música só existe no córtex, por isso só existirá música se existir observador a receber as vibrações e como a sala tem isolamento acústico isso não acontece.
[ver Pinçamentos "Árvores a cair e o pensar" clickar aqui]

Se analisarmos o modelo do Big Bang e se retirarmos a variável tempo toda a Teoria cai pela base, pois sem uma escala de tempo a teoria não tem sentido.
Sem o conceito de tempo, os paradoxos da passagem do "Nada ao Tudo" ou do "Tudo ao semi-Tudo" e ainda de "Deus não ser Tudo" ou de "Tudo ser Deus" não existem.

Então à semelhança do som e da música, SERÁ QUE... o tempo é apenas uma construção mental que só existe com observadores e, na verdade, tudo é estático?

Ou seja, a sétima questão:

7ª - O tempo existe? 

Que o tempo não é constante é uma verdade aceite desde Einstein mas, então, se não é constante pode "alargar-se" e "encolher-se" em função de certas variáveis? Parece que sim.

E poderá chegar a zero? Se pode, então, será possível não haver tempo e tudo estará estático. Tudo ficará parado e o tempo não existe.

Será possível acontecer que tudo esteja em "tempo parado" e o "tempo mexido" seja apenas uma função de córtex de observadores? Será possível que o tempo seja apenas a resultante de uma função neural para possibilitar compreender sucessivas situações estáticas? ...tudo semelhante ao que acontece com o som???

Duas perguntas sob forma de experiência:

Experiência A

Põe-se um DVD no gravador e vê-se um filme na TV. 
A história desenrola-se do princípio ao fim, vê-se o presente tornar-se passado e o futuro nascer e cair para o passado. Fica-se preso ao passar do tempo. Afinal o tempo existe e foi vivido.
Tira-se o DVD, guarda-se e o tempo fica lá PARADO à espera de alguém o tornar outra vez tempo MEXIDO.
O que se passou???

Será que um DVD é apenas um pacote de tempo parado e o tempo mexido só existe no córtex do espectador com a "ajuda" da TV?

Será que a vida funciona do mesmo modo? Vemos tempo mexido de coisas que estão com tempo parado? Será o tempo apenas um "truque" resultante de um mecanismo neural que só funciona em observadores? Será semelhante à música que é resultante do processamento neural de vibrações e só existe como sensações no e do córtex do observador-ouvinte?

Será possível que, sem esse mecanismo neural, tudo esteja realmente parado, susceptível de se passar do passado para o futuro e vice versa? Será este o mecanismo das viagens no tempo, ou seja, viajar no tempo será apenas alterar o modo como o cortex funciona?
Será este o "truque" de videntes, shamanes, profetas, místicos... tais como o conde Saint Germain, Nostradamus, Sor Faustina, S.Malaquias, Rasputin, Edgar Cayce, H. Blavatsky, Agripa (El Nigromante), etc, que contam "coisas" do futuro?
Na verdade, e como analogia, manipulando o DVD e as suas situações estáticas (tempo parado) conhece-se o passado, presente e futuro (tempo mexido) de qualquer momento do percurso temporal da história*.
*Ex.: Quando o filme me aborrece costumo fazer isto,... chama-se a estratégia do "get to the point!".

Experiência B

Nestas fotos o que é que esta criança está dizendo?


Se não conseguem compreender o que diz é porque o vosso córtex está incapaz de estruturar o conjunto dos sucessivos bits que está recebendo, isto é, há nele uma função neural que não está a utilizar.

Todavia, com uma pequena ajuda para ver as fotos, o córtex consegue resolver o problema:

               

Afinal, parece que o tempo está no córtex pois, quando os estímulos (fotos estáticas) foram percepcionados numa sucessão mais rápida, o córtex estruturou as suas diferenças sob forma de movimento, aplicando o truque "tempo". Assim, compreendeu a mensagem não verbal do dedo e suas alterações cujo conjunto  significa "NÃO".
As fotos são exactamente as mesmas, apenas se sucedem rapidamente e, como o cortex só percepciona uma de cada vez, tem que resolver a situação da sua sobreposição de outro modo, isto é na gíria, com "visão temporal".

Quando a sucessiva entrada de imagens com pequenas variações chegam vagarosamente no córtex, ele não consegue estruturar essas diferenças de modo a obter compreensão e, assim, o significado do conjunto não é obtido. Foi o que aconteceu com o olhar normal sobre as fotos estáticas.

Quando a visão das mesmas imagens e sua substituição sucessiva se tornou mais rápida, a mão do jovem não era percepcionada mas as diferenças transformaram-se em movimento, pois o cortex criou a sensação de tempo e resolveu o problema: o sinal gestual de NÃO apareceu e a compreensão do seu significado foi possível.

Para este mecanismo neural acontecer duas soluções são possíveis:

1º - passar rapidamente os olhos pelas fotos sem procurar fixar detalhes e, de repente, o dedo parece   mover-se de um lado para o outro. No córtex a sensação de tempo foi criada e este "truque" sensitivo permitirá obter compreensão, apesar das imagens continuarem estáticas.
Esta técnica permite também descobrir pequenas diferenças entre duas imagens aparentemente iguais, isto é, se não olhar para os detalhes de nenhuma mas alternar rapidamente o olhar entre uma e outra, as diferenças "mexem-se" e percebem-se, o mecanismo do tempo permite a percepção.

2º - Os olhos ficarem quietos e as imagens estáticas sucederem-se rapidamene, criando no cortex a sua sobreposição, impedindo a sua percepção cognitiva e originando o truque do tempo-movimento como solução. É o caso do cinema em que, por exemplo, esse efeito pode ser obtido com a passagem de 24 imagens por segundo. Se se aumentar ou reduzir o número de imagens por segundo, também a sensação de tempo no cortex se altera ficando o tempo fílmico acelerado ou retardado.

Como conclusão, últimas perguntas:

A - O tempo é um fenómeno da realidade ou um subproduto do córtex como a música?
B - Sem tempo, a velhice e a juventude existirão em simultâneo pelo que o envelhecer é só uma percepção temporal neural que pode ser alterada? *.

* - Por ex. pode surgir nos EAC (Estados Alterados de Consciência) por drogas, alucinógenos, induções psy, etc, ou simplesmente na velhice em sonhos de "reviver" o passado com sensações dos 20 anos?
Este fenómeno chama-se "recordar" na voz popular e "catarse" na voz psicanalítica (ver Freud, Breuer, kierkegaard, Lacan, etc, no "Recordar, Repetir, Elaborar")

Portanto, três alternativas:

1 - A juventude, o adulto e a velhice são todos estáticos e coexistem simultaneamente,


2 - ou, inserindo o tempo, vê-se um de cada vez e nunca será possível "andar para trás", isto é voltar a ser jovem;

3 - o tempo é subjectivo, um truque do córtex para detectar micro-diferenças estáticas e é possível andar  "para trás e para a frente"(??)


Depois disto tudo que conclusão se poderá tirar?
Vou continuar a procurar e a fazer perguntas!


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Ensinar a aprender melhor


Pensar é natural, faz parte da programação genética como correr e saltar. Mas é possível aprender a pensar melhor do mesmo modo que correr e saltar se pode fazer melhor.


Aqui estão dois exemplos de actividades para apoiar, estimular e desenvolver o gosto e a eficácia de estudar.

1 - Experiência de pensar: "caçar" o significado comum

Apresentar esta imagem a um jovem ou a um grupo:


Depois, por grupo (numa folha colectiva) ou individual (num A4), escrevem-se duas ideias "lembradas" por cada imagem (max. 6 palavras), mas deixando sempre espaços em branco entre cada conjunto:


Depois de escritas, devem-se procurar ideias/palavras comuns nas várias frases, o que permitirá escolher a ideia central do conjunto. Caso não exista nenhuma, procurar fomentar diálogo de exploração* (não dar informação mas dinamizar associações) e ir escrevendo os resultados obtidos até algo de comum surgir. 

Por exemplo, a ideia de vento é vulgar aparecer rapidamente mas a percepção de força aparece "escondida" noutros conceitos (empurrar, tirar, fazer subir, etc).


Consoante a idade dos participantes, e continuando o diálogo de exploração, podem chegar a outros conceitos tais como energia controlada (moinho, barco, papagaio) ou energia não controlada (árvore e chapéu). As possibilidades são infinitas:


Uma forma simples de desenvolver inferências (deduções) é contarem uma história em que entrem todas as imagens, quer donde vêm quer para onde vão, isto é, os porque's e os para's do raciocínio. 

No fim, uma etapa interessante é avaliarem na sua história o que seria mais fácil acontecer e o mais dificil, o mais interessante e o menos atractivo, o que gostam mais e o que gostam menos. A lucidez é um aspecto importante do raciocínio.


2 - Experiência de pensar: Para além do óbvio

Qual a ideia central do extracto de texto de "Cães-guia e não só"


Cães guias e não só
Os Cães são muito usados como guias de pessoas com deficiência visual.
Porém pequenos cavalos, os poneys, também são uilizados como guias. Eles são ensinados como os cães e são óptimos nesse trabalho.
Estes cavalos miniaturas chegam a aprender 25 comandos. Podem ver no escuro e aprendem a bater com uma pata na porta se querem sair.
Uma vez um homem levou um cavalo-guia num avião.



Sublinhar no texto as 6 palavras mais significativas.

PS- Num texto não se deve sublinhar mais de 10% das palavras e este texto tem 67 palavras.

Vendo as palavras sublinhadas, responder às perguntas:

1 - Qual é a ideia principal do texto (escolher uma):

A . Existem cães guia;
B . Um cavalo-guia viajou num avião;
C . Cavalos são guias de pessoas com deficiência visual;
D . As pessoas com deficiência visual gostam de animais.

2 – Qual é um detalhe significativo em relação à ideia principal:

A . Cães guia ajudam pessoas;
B . Cavalo miniatura quer dizer cavalo pequeno;
C . Cavalos-guia aprendem 25 comandos;
D . É vulgar viajarem cavalos-guia nos aviões.

3 - Quais as 2 palavras a sublinhar no título e porquê ?


Obtidas estas respostas, deve-se ir fazendo o diálogo de exploração*, levando a que o participante vá aprofundando continuamente as ideias por ele expostas, de modo a que encontre por si próprio outras associações que permitam desenvolver os vastos significados dessas ideias. 

Seja qual for a palavra sublinhada, o fundamental é relacionar a referência base "cães-guia" com as possibilidades que rodeiam essa alternativa, criando possibilidades de divagação lógica**

Um jovem de 11 anos, em poucos minutos, ficou intrigado e entusiasmado com a sua ideia da possibilidade de golfinhos-guia para náufragos.

Como exemplo de diálogo de exploração:
- Porquê "não só"? 
-"não só" o quê?

Com base no diálogo de exploração ele deverá inferir-concluir "não só cães-guia mas também outros animais"
É importante que nenhum "pedaço" (slice) dessa informação-conclusão lhe seja dado, mas apenas se deve abrir campos de referências e associações "a latere". 

Se não surgirem inferências, apenas se devem dar dicas de relações mais óbvias, do tipo "Porque é que os cães guiam? O que é que ajudam ? e, se necessário,  por fim "...e se não há cães?".

* - Dialogo de exploração - É uma conversa em que nunca são dadas informações sobre o resultado mas apenas perguntas que abrem outras áreas com conexões com o resultado. O caminho a seguir e as ideias surgidas (plop up) são tarefa autónoma do participante. 
Tecnicamente chama-se "Juggling" de ideias (malabarismo, ligeireza, equilíbrio, dinâmica..) pois oscila entre aprofundar a referência base (inside) com foco na sua análise e ao mesmo tempo alargar as conexões com o contexto (outside) procurando pontos de semelhança e contacto, mediante abertura receptiva.
Como exemplo, aprofundar o conceito "cães" alargando a outros animais (golfinho como nadador salvador) e o conceito "guia" referindo-se a outras formas (farol que guia através de luz e/ou som).

** - Divagação lógica - É a técnica de caminhar no "inside" e no "outside" sempre com conexões claras, definindo os "porque's" da sua ligação. O grafismo deve ser sempre do tipo:





quinta-feira, 2 de abril de 2015

Estudar e "Tanto me faz..."(revisto)

- Qual queres?
- "Tanto me faz"; 

...ou a escolha de "não escolher" pois a curiosidade adormeceu, todavia esta situação é bastante diferente da que tinha aos 4 anos.

Segundo um estudo noticiado pelo "The Telegraph" News (UK) em 28 Mar 2013, uma criança britânica de 4 anos faz mais de 390 perguntas por dia, cerca de 1 pergunta por cada 1m 56s no período acordado, com uma média horária de 23. Esta média é superior à do 1º Ministro David Cameron (22), à dum professor (19) ou de um médico e enfermeiro (18).

As perguntas mais comuns que uma criança faz aos pais são:
- Porque é que a água é molhada? (35%)
- Onde acaba o céu? (34%)
- As sombras são feitas de quê? (33%)
- Porque é que o céu é azul? (20%)
- Como é que o peixe respira debaixo de água? (18%)
http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/9959026/Mothers-asked-nearly-300-questions-a-day-study-finds.html

Esta postura "perguntadora" é uma posição de vida bastante diferente da posição de "tanto me faz" de crianças mais velhas, adolescentes e adultos.
Na verdade, a curiosidade é um impulso vital inerente à vida,


Nos humanos, no princípio, este impulso é poderoso mas, depois, é amortecido por bloqueios disfuncionais.

Segundo Prof. Hackett Fisher (Univ. Brandeis) [...as perguntas são mecanismos (tools) mentais para converter a curiosidade em pesquisa...], porém convém distinguir as "perguntas-intrigantes"(trouble) das "perguntas-google". 

As "perguntas-intrigantes" são aquelas cujas respostas têm que ser construídas e vão fazer "estremecer" paradigmas instalados, eventualmente obrigando a reformular pontos de vista. São a porta de entrada da inovação, uma porta escancarada para a entrada do conhecimento atraído pela ânsia de aprender que é a essência da curiosidade.
Como exemplo, nestas empresas, tudo começou com uma pergunta:

A - Polaroid: "Porque esperar pela fotografia?" e nasce a fotografia instantânea;
B - Pixar: "A animação pode ser "cuddly"? (abraçar, aconchegar, acariciar) e nasce animação afectiva;
C - Liquid Paper: "Os erros podem ser pintados?" e nasce o corrector para máquinas de escrever.

Nas "perguntas-google" não se exige construção da resposta mas sim "caçar a resposta". É a obtenção de um package informativo de aplicação imediata, uma espécie de conhecimento "fast food", do tipo "Que idade tinha o Napoleão na Revolução Francesa?" cuja resposta a rede Google e congéneres podem fornecer.
Este conhecimento pode ser utilizado tal como está, tipo "faits divers", ou inserido numa pergunta intrigante situada quer a montante quer a jusante, por exemplo:

Quando um médico utilizando um "Watson Software System" no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center pergunta:
- "Num doente, qual é a indicação dada pelos sintomas "A", "B" e "C"?"

A resposta do sistema Watson é do tipo "pergunta-Google", porém a pergunta tem uma elaboração prévia na selecção dos sintomas "A", "B" e "C" que o médico escolheu, fazendo portanto parte de uma "pergunta intrigante" mais global.

Do mesmo modo, a pergunta sobre a idade do Napoleão pode também fazer parte de uma "pergunta-intrigante" mais vasta que procura construir conhecimentos sobre a dinâmica das revoluções na relação "individuo-contexto". 

A pergunta como base do estudar tem que fazer parte de uma "pergunta intrigante" ou então faz parte de um simples enciclopedismo memorizante que não é aprendizagem, mas sim robotização mental.

Quer isto dizer que, por exemplo, as perguntas atrás citadas como as mais vulgares nas crianças de 4 anos, para essas crianças, não são perguntas-google mas sim perguntas-intrigantes, portanto as respostas a dar devem ter relações de respeito, carinho, apoio e importância, pois elas são expressões de vida a desabrochar no acto fundamental de aprender.   Não ter esse cuidado é empurrar essas crianças para o padrão "tanto me faz".

Porém, na prática, à medida que se cresce essa média de perguntas reduz-se substancialmente e a escola por sua vez valoriza dar respostas e não valoriza fazer perguntas ou, numa alternativa pior, amesquinha e ridiculariza quem as faz.

Na verdade, os testes apresentam temas sobre os quais pedem respostas e nunca perguntas "intrigantes"a partir deles, ou seja, não se valoriza impulsos de pesquisa e desejo de saber o que se desconhece.
Na prática, o padrão de se solicitar e valorar perguntas sobre a matéria obrigaria a mudar um modo de ensinar com séculos de existência e enraizamento.
Em épocas estáticas e de rotina a memória de respostas aprendidas é fundamental. Porém em épocas de complexidade e mudança fazer boas perguntas é o cerne da eficácia.


(ver também Stuart Firestein, Ignorance)

Como dizia Einstein [...o importante é não parar de fazer perguntas...] e também a perspectiva da inovação quando diz [...se se tem uma hora para resolver um problema vital então 55 minutos são para fazer perguntas...].
Na cultura generalizada fazer perguntas é um crime de "lesa-autoridade" pois as perguntas desafiam estruturas instituídas ao fomentar como pensar e fazer diferente o que pode alterar redes de poder.

Todavia se se quer mudar ou inovar soluções existentes, é necessário alterar os paradigmas que as sustentam, acção que perguntas-intrigantes fazem com eficácia e facilidade. Uma boa pergunta reconhece-se porque faz "estremecer" o ponto de vista vigente e destrói o "tanto faz" com que se vive.

Quando se desencoraja o perguntar motiva-se o não-estudar:

Na prática, perguntar implica duas decisões:

1 - Decidir o que não sabe!
2 - Decidir que quer saber!

Quando essas duas decisões não existem significa, por um lado, que "tanto me faz" ser ou não consciente do que sei ou não sei e, por outro lado, "tanto me faz" saber como não saber. 
Estas duas posições pessoais são exactamente o oposto da curiosidade porque nela o 1º impulsor é "não sei aquilo" e o 2º impulsor é "quero saber".

Para estes dois impulsores existirem é preciso que o perguntador esteja consciente e confortável na sua ignorância não sendo amesquinhado e/ou ridicularizado por ela existir, exista segurança na aquisição das respostas, isto é, o caminho seguido para o desconhecido seja balizado por conhecimentos existentes e ainda que haja permanentemente vitórias do esforço feito, em que:

A - lista dos erros constitui as "aprendizagens do que não é";
B - lista dos certos constitui as "aprendizagens do que é";

o seu somatório chama-se conhecimento adquirido flexível.

A noção de "conhecimento adquirido flexívell"é o conhecimento que tem consciência da sua própria fragilidade, isto é, sabe que a sua validade depende das múltiplas variáveis do contexto onde ele é válido. Um exemplo, hoje bem nítido, é a evolução da Física desde Newton (válida em determinado contexto) até à Relatividade e Quântica onde novos contextos originam novos conhecimentos.

Parafraseando Joi Ito (MIT), antigamente eramos "early-life learners" e agora precisamos ser "lifelong learners". Dantes os bons experts, actualizados ou não, não faziam perguntas, só davam respostas, porque sabiam tudo. Hoje os bons experts mesmo actualizados fazem muitas perguntas porque sabem que a sua actualização é uma gota de água no oceano do já inovado e cuja quantidade e qualidade aumenta exponencialmente todos os dias.

PS - Como referência, só em 2009, USA, surgiram 288.355 livros novos e em 2005, UK, foram  206.000, ou seja, entre ambos existe meio milhão de novos livros disponíveis, não contabilizando as revistas técnicas e edições electrónicas universitárias e outras e ainda edições de outros países e/ou outras línguas. 
(ver "Dilemas da formação ou talvez não", Nelson Trindade, 2012, www.Pluridoc.com, www.Sociosistemas.com)
Clickar aqui

O aparecimento da posição de vida "tanto me faz" no estudo pode surgir por:

A - disfuncionamentos cognitivos, como por exemplo a informação fornecida ser desestruturante, isto é, em vez de apoiar com referenciais de entendimento e autonomia, provoca dependência e confusão. 

B - disfuncionamentos técnicos, como por exemplo estar a usar metodologias erradas de estudo e/ou de baixa eficácia e eficiência, cuja falta de resultados provoca o "não sou capaz" ou o "não gosto".

C - disfuncionamentos afectivos, como por exemplo, contextos de aprendizagem desconfirmantes, agressivos e/ou stressantes que reduzem e/ou bloqueiam as duas decisões fundamentais atrás citadas:


quando a verdade é que o "tanto me faz" não faz parte da programação de nascença pois a atracção de aprender é natural: