Lendo sabedorias e ideias "cultivadas" que andam por aí, resolvi passar para a vida tribal dos incultos para descansar um pouco e aprender muito.
Algures em África |
Recordando um episódio do meu passado, uma noite em África conversando à volta da fogueira e sendo "o casamento" o tema da conversa perguntei porquê se separavam.
No silêncio que se seguiu o mais velho disse:
No silêncio que se seguiu o mais velho disse:
- "Ainda...!!",
e a conversa mudou de rumo pois o "ainda" significava apenas que precisava de tempo para saber a resposta.
Dias depois veio falar comigo:
-"Quando a dormir não lhe ponho a mão em cima.".
Fiquei calado e com "respeito" perguntei suavemente:
Fiquei calado e com "respeito" perguntei suavemente:
- " Como sabe,… se está a dormir?"
Ele respondeu:
- "Adormeço separado e acordo agarrado!"
Tive a sensação que nem o Freud diria assim.
Tive a sensação que nem o Freud diria assim.
Com "sabedoria" semelhante em culturas tribais ditas primitivas, encontrei duas premissas, tipo orientações sociais "freudianas", para possibilitar teias relacionais saudáveis.
Uma delas é um dogma religioso para rezas aos deuses que afirma […nunca se pedir nada que afecte a livre escolha do outro…], ou seja, [...qualquer reza que afecte alguém, mesmo que seja para o curar, é preciso sempre pedir-lhe primeiro autorização para o fazer…].
Em reforço e complemento, afirmam que não obedecer a este dogma é fazer "Magia Negra", é fazer rezas de destruição do outro mesmo que seja com intenções de ajudar porque desprezam a sua vontade.
Talvez agora perceba porque é que um dia, em África, o Malé me disse que esse não era o verdadeiro nome dele. Esse nome só ele e a mãe sabiam para ninguém lhe poder fazer Bruxaria Negra, pois ela precisa sempre ser feita com o nome real.
Depois perguntou-me se eu também tinha um e, quando disse que não, olhou-me com pena e concluiu que andava desprotegido e devia estar cheio de "lixo".
Fiquei a pensar no muito "lixo" que me acompanhava e estive quase para lhe explicar que quando isso acontece vamos ao psiquiatra para ele o tirar.
Depois perguntou-me se eu também tinha um e, quando disse que não, olhou-me com pena e concluiu que andava desprotegido e devia estar cheio de "lixo".
Fiquei a pensar no muito "lixo" que me acompanhava e estive quase para lhe explicar que quando isso acontece vamos ao psiquiatra para ele o tirar.
Quando tentei aprofundar, ele só me disse que uma "reza" sem o nome verdadeiro não era concedida e portanto, assim, não podiam fazer pedidos sem ele ou a mãe saberem, mesmo que fossem bons ou maus.
Achei este dogma interessante porque,... a aceitá-lo…, a humilhação de outro, imposição autoritária ou caridades bem intencionadas transformam-se em Bruxaria Negra na tentativa de destruição da livre decisão do outro por ser à sua revelia.
Por exemplo, velas acesas, promessas e rezas aos deuses com pedidos para "gostar de mim" seriam, assim, truques de bruxaria negra em que o "apaixonado(a) resultante" é apenas um "boneco(a) reprogramado(a)" por entidades extra-humanas(??) consideradas (ou não) divinas, na prática… torna-se uma estranha forma de amor fazer, para proveito próprio, o outro passar de "pessoa livre" a um "adito em paixão".
Algumas tribos têm outro hábito interessante que é terem à entrada da porta um cesto para as "impurezas". É uma espécie de ritual de purificação semelhante a benzerem-se com água benta ou a acenderem uma vela antes de entrar num templo, mas funcionando ao contrário.
Na verdade, o facto de salvar pessoas não anula ter morto outras, ou fazer o BEM não anula o MAL feito ou obter perdão não desfaz o acto a perdoar. Noutras palavras, adquirir uma "purificação" não é o mesmo que descartar uma "impurificação".
Enquanto que os rituais de entrada num templo têm o objectivo de adquirir "pureza" para lá entrar, o cesto de "impurezas"tem o objectivo de abandonar ideias, intenções, emoções e sentimentos ruins que nos enchem e vão contaminar e sobrecarregar a vida dos outros, pelo que se devem deixar à porta antes de entrar em casa de amigos.
Na prática, todos nós construímos "verdades" a partir de significados atribuídos a símbolos obtidos através de sinais recebidos.
Como exemplo e experiência, tentar construir uma história com base na seguinte animação:
Se o fez, esteve apenas a construir significados a sinais recebidos… o que fazemos constantemente.
Se se pedir a várias pessoas (crianças e adultos) para construirem uma história sobre a animação anterior, essas histórias terão diversos aspectos comuns.
Todavia, se antes de o fazer se conversar e falar em diversas ideias susceptíveis de serem integradas na história, os aspectos comuns serão mais numerosos.
Como conclusão, os significados originados nos sinais recebidos são sempre função do que se recebe e do que já temos em stock na mente, ou seja, as nossas "verdades" são construídas com percentagens diversas (e desconhecidas) de sinais da realidade e sinais dos "fantasmas" que nos habitam e que trazemos às costas e que, segundo as culturas tribais, […convém deixar no "cesto das impurezas" à porta da casa dos amigos…] para não os sobrecarregar.
Somos uma espécie de caracol que anda sempre com cargas psicológicas às costas, vendo a vida através delas e construindo as verdades do mundo com esses materiais.
Na verdade, o facto de salvar pessoas não anula ter morto outras, ou fazer o BEM não anula o MAL feito ou obter perdão não desfaz o acto a perdoar. Noutras palavras, adquirir uma "purificação" não é o mesmo que descartar uma "impurificação".
Enquanto que os rituais de entrada num templo têm o objectivo de adquirir "pureza" para lá entrar, o cesto de "impurezas"tem o objectivo de abandonar ideias, intenções, emoções e sentimentos ruins que nos enchem e vão contaminar e sobrecarregar a vida dos outros, pelo que se devem deixar à porta antes de entrar em casa de amigos.
Na prática, todos nós construímos "verdades" a partir de significados atribuídos a símbolos obtidos através de sinais recebidos.
Como exemplo e experiência, tentar construir uma história com base na seguinte animação:
Animação criada com base em G. Johansson
e no filme "Theory of Mind".
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Se se pedir a várias pessoas (crianças e adultos) para construirem uma história sobre a animação anterior, essas histórias terão diversos aspectos comuns.
Todavia, se antes de o fazer se conversar e falar em diversas ideias susceptíveis de serem integradas na história, os aspectos comuns serão mais numerosos.
Como conclusão, os significados originados nos sinais recebidos são sempre função do que se recebe e do que já temos em stock na mente, ou seja, as nossas "verdades" são construídas com percentagens diversas (e desconhecidas) de sinais da realidade e sinais dos "fantasmas" que nos habitam e que trazemos às costas e que, segundo as culturas tribais, […convém deixar no "cesto das impurezas" à porta da casa dos amigos…] para não os sobrecarregar.
Somos uma espécie de caracol que anda sempre com cargas psicológicas às costas, vendo a vida através delas e construindo as verdades do mundo com esses materiais.
Porém, com realidade ou com fantasmas, esses significados conclusivos podem ser VERDADE ou MENTIRA…e esta é a aventura de pensar com o risco e o prazer de ouvir e falar.
Como exemplo, um pequeno filme, em que as "impurezas" não foram deixadas à porta antes de entrar:
Porém, por vezes os fantasmas trazem informações preciosas que são retratos reais daquilo que não se vê mas se intui e muitas vezes as "impurezas" que nos acompanham são apenas pedras preciosas tapadas por camadas estranhas e ainda por clarificar.
Um pequeno teste:
Alguns anos atrás, durante uma workshop sobre "relações interpessoais" uma participante no intervalo conversava comigo dizendo que a sua vida em casa era como "andar sempre em cima de cardos", tudo a irritava até coisas pequeninas, como por exemplo:
- "…ir-se deitar e as almofadas estarem trocadas…"
Com uma certa curiosidade, perguntei:
- "Mas as almofadas são diferentes ???"
Respondeu:
- "Não… mas não posso com o cheiro, quase vomito!!!"
Fiquei a pensar que … ou o divórcio vem rápido … ou algo vai acontecer.
Ao mesmo tempo também concluí que aqui está um pequeno teste, simples e rápido, para diagnóstico em casamentos.
Sem o outro saber, trocam-se as almofadas.
Se o outro adormecer com um sorriso feliz… a "lua-de-mel" continua.
Se ficar irritado e irrequieto… a "lua-de-mel" ficou azeda.
Usamos pouco o olfacto para análise destes problemas.