Translate

segunda-feira, 24 de março de 2014

Há dois estilos de relação, qual é o seu?


Continua em: (clickar)

2  - (cont.) O Porquê e o Para-quê na vida,  de 27 Mar 2014.
3 - (cont.)  Novo partido e o Porquê, Para-quê e Como, de 02 Abr 2014


Todos nós nos relacionamos com outros por pensar, agir, comunicar e, independentemente do conteúdo, a questão principal é... como o fazemos? Qual é o estilo?

Extremando (zeroing) posições pode dizer-se que só há dois modos para o fazer, por manipulação ou por inspiração.

Se depois de uma conversa com alguém sente que apetece "mandar tudo ás urtigas", fazer nudismo no Polo Norte, enfiar-se na cama a chorar para cima do saco de água quente, assistir a 10 ou 20 descargas de autoclismo, ou...amarrar um sapato no topo da cabeça e ir dançar para a discoteca…

…então sim, se isso aconteceu, não há dúvida, acabou de ser manipulado(a).

Se ainda lhe aparece um sorriso na cara e sente um certo conforto na alma é porque sofre de masoquismo e precisa dele em dose cíclica ou, em aditismo grave, de uma dose diária. 

A arte do "chico esperto" não é manipular os outros, é manipulá-los mas eles gostarem, agradecerem, quererem mais e convidá-lo para ir lá a casa conhecer a família e casar com a filha ou se é político tornarem a votar nele ad aeternum.

Quando vai ao supermercado com a lista de promoções e descontos, está a ser manipulado na decisão. 
Quando vê uns sapatos que lhe trazem sonhos diferentes, ficando com o corpo mais leve, sentindo-se elegante e com um sorriso distraído no rosto, então está com a inspiração a controlar a decisão.

Pois é, os supermercados jogam na manipulação que sossega as pessoas e as modas jogam na inspiração que as sobressalta, uns usam táticas de vida-rotina, os outros usam táticas de vida-aventura, mas para alguns isto também é manipulação. 

A diferença está em que a inspiração pode funcionar em dois processos distintos.
Num deles o resultado está fechado (closed), pré-determinado, por exemplo, viver a aventura de comprar o vestido da montra.
No outro o resultado está aberto (open), indeterminado, por exemplo, viver a aventura de se vestir diferente, desde uma camisa havaiana e chinelos para ouvir ópera no S.Carlos até um pijama de gala com medalhas e boina para dormidas de cerimónia.

Como analogia, pode-se pensar num autocarro público em que o motorista conduz o carro e o passageiro vai para onde o motorista quer. Pelo contrário, num taxi público o motorista conduz o carro mas vai para onde o passageiro quer. O primeiro caso corresponderia a um processo de manipulação e o segundo a um processo de inspiração.
As democracias e seus lideres também têm a mesma diferença:

- Uns inspiram liderados para ouvirem bem e obedecer mais e irem para onde os lideres querem. As técnicas utilizadas são de diálogo fechado e reforço da "repressão democrática".

- Outros inspiram os liderados para ouvir bem e pensar mais e melhor, decidindo para onde querem ir. As técnicas utilizadas são de diálogo aberto e destruição da "repressão democrática".

É fácil diagnosticar um ou outro estilo, basta ouvir as frases banais desde um diálogo amoroso, político ou entre amigos, até conversa pais-filhos, argumentações inter-colegas ou sociais, de preferência quando em crise ou conflito pois neste caso tudo vem à superfície e as máscaras caem. 

Imbecil manipulador
Os índios Lakota (Sioux) dizem que se deve agradecer aos deuses a sorte de existir um imbecil a perseguir-nos com manipulações. 
Na verdade, eles são uma prenda dos deuses, um desafio oferecido para nos desenvolver e divertir, pelo que se deve bater palmas e dizer -"Que bom...!!!", considerando essa perseguição como "material pedagógico" para fazer experiências e aprender a "via do guerreiro". 

Ficar com raiva, fúria ou ódio é o mesmo que todos os dias tomar veneno para acabar com uma doença. Realmente a doença acaba porque se morre e os cadáveres não têm doenças, para haver doença é preciso o corpo estar vivo.


É por isso que a medicina-que-trata-doenças nunca faz erros, ou seja, ou a doença desaparece ou a doença deixa de existir porque o corpo morreu. 
Todavia, a medicina-que-trata-doentes pode ter insucessos, pois falha quando o doente morre. Assim, ser "médico de doenças" é uma profissão menos arriscada do que ser "médico de doentes".

PS- Um médico de doenças pode chegar atrasado e deixar as doenças à espera, porque as doenças não se zangam, nem fogem, até ficam mais visíveis e desenvolvidas.
Porém, um médico de doentes não pode chegar atrasado, nem deixá-los à espera sem tratamento, porque podem piorar e até morrer.
Penso que são duas profissões diferentes apesar de parecidas, exactamente como sucede com o médico que opera e o médico que faz autópsias, pois as preocupações profissionais e os resultados a obter não são os mesmos. Num hospital convém checkar bem se o destino não está trocado e vão mesmo para operação e não para autópsia.


Quem estiver atento reconhece facilmente o "chico esperto" pois a manipulação é sempre óbvia, por isso é que funciona. Ninguém faz raciocínios complicados para ser manipulado, deixa-se "levar" e acontece. O truque é exactamente este, funciona porque ninguém pensa, se pensar não funciona. Aliás a frase mais comum dita depois de manipulado é:
 -"…mas que parvo que fui…não pensei!".
Exemplos:
- "Eu sou de confiança, pode acreditar em mim!"
- "Sou o teu melhor amigo, tens que me fazer isto!"
- "Nunca enganei ninguém, todos sabem disso!"
- "Claro que fui fazer serão, TU conheces-me…se não fosse dizia-te!"

De uma forma sucinta as manipulações tem duas vias que se podem complementar:

1 - Por medos que afastam do objectivo a recusar, podendo (ou não) aproximar do desejado;

- "Os que votarem a proposta [A] são despedidos",

tal não significa que votem na [B].

2 - Por aspirações que aproximam do objectivo desejado, podendo (ou não) afastar do recusado;

- "Os que comprarem o produto [A] têm um bónus de X%",

o que não impede a compra do produto [B].

Nesta perspectiva, várias técnicas podem ser usadas, tais como, alterar preços, fazer promoções e descontos, criar medos, fomentar aspirações, criar identificação com mitos, apresentar novidades e inovações, fazer pressão de pares e/ou de autoridades, etc.

Por exemplo,


…e agora neste anúncio, sentem algo diferente?


Os comprimidos funcionam ou não? Qual é a mensagem? Ela está validada ou não? Qual é o problema apresentado?

Entretanto, apareceu-lhe um sorriso na cara???

Se sim…sofreu uma inspiração. Por outras palavras, fez uma alteração de status quo psicológico.

Segundo o modelo teórico quando há inspiração "dá-se um salto para outro registo" e mesmo que a direcção possa ser prevista há sempre imprevisto na possibilidade aí optada e colapsada…isto é, a decisão decidida depois da alteração de status quo.

A dinâmica de manipulação versus inspiração processa-se entre o Porquê, Como e o Para quê (sendo este normalmente apenas versões de "o quê se faz"), existindo vários padrões possíveis de interacção. Como exemplo, existe o modelo de Simon Sinek, o W2W (Why-to-What) ou, na Pedagogia, os modelos de motivação inspiracional, bem distintos da motivação manipulatória para incentivar o estudar, usada em mais de 90% dos casos escolares e/ou familiares.

A motivação inspiracional na Pedagogia baseia-se em criar sucessivos pontos de alteração de status quo da perspectiva pessoal acerca de descobrir o conhecimento (que vulgarmente se chama estudar).
A dinâmica dos hackers está exactamente em serem aditos a descobrir o conhecimento, ou seja, são aditos em estudar.

É interessante que quando são presos e os Tribunais os condenam, nas prisões é-lhes proibido continuar a estudar a sua área, isto é, a internet fica-lhes vedada mas podem estudar religiões ou o jogo do berlinde, só o seu "vício" não é permitido.


Dinâmica do Porquê-Como-Para quê



Porque é que o Sr. José 

vai a correr para a estação do combóio ???

O que responde ????

Quer experimentar responder ???

A maior parte das vezes (em mais de 50%) a resposta é:

- "Como é lógico é para apanhar o combóio…!!!!

Pois, o problema é muito simples, apesar de ir apanhar o comboio não é por isso que ele vai a correr.

A pergunta pretende saber qual é a causa da corrida e a resposta diz qual é a consequência da corrida.

O Porquê é a causa, mas o Para quê...é a consequência.

A causa da corrida é estar atrasado e pretender reduzir o tempo gasto no caminho. Se não estivesse atrasado, continuaria a querer apanhar o combóio, mas não só iria mais devagar como até se podia sentar um pouco a ver os passarinhos.

Esta troca, esta promiscuidade mental entre causas e consequências, é um factor importante na cofusão entre manipulação e inspiração.

Se se considerar que há três factores, Porquê, Como e Para Quê/O Quê, as suas relações têm o modelo:


em que a Inspiração só nasce no Porquê e a Manipulação nasce no Para Quê/O Quê e/ou no Como.

A Inspiração origina o nascimento de um novo status quo, um novo estilo de vida, uma alteração da crença e/ou perspectivas existentes e portanto dá origem a novos "Como's" e "Para Quê's". Deste modo surgem novos inventos, teorias, religiões e conversões a novas vidas, estilos, etc. Fomenta lealdades e tem durações de longo prazo.

As Manipulações fazem contractos de trocas a curto prazo e não criam lealdades, pois o Supermercado dá-me 30% de desconto mas não lhe fico leal, nem choro com os seus problemas. É tudo apenas negócio, com o padrão "relação para usar e deitar fora".

Quando os pais/professores manipulam para que se estude, estão apenas a propor um negócio com efeitos a curto prazo que só funcionará enquanto existir um lucro "apetitoso". O problema é que esta técnica faz a relação com o manipulador tornar-se cada vez..."menos apetitosa". A médio-longo prazo o manipulador perde a guerra.

Há vários filmes sobre relações amorosas em que este modelo de manipulação é apresentado.
Simplesmente na maior parte, o argumento faz aparecer perto do fim o explodir de um "Porquê com efeitos de Inspiração" e tudo se recompõe no padrão "Cinderela", isto é, [...casam e são muito felizes] e os espectadores também saem felizes com o dinheiro gasto.

Porém há filmes, poucos, em que o efeito "Cinderela" não aparece, os chamados "drama". Como exemplo, o filme "A guerra dos Rosas" e não a "Guerra das Rosas" como foi traduzido em português, pois Rosas é o apelido da família em guerra e não uma luta de flores no jardim ao estilo Walt Disney.

PS - É interessante notar que um filme de guerra em que morre muita gente menos os protagonistas que casam e são felizes como a Cinderela é chamado um filme de acção ou aventura. Mas se ninguém morre excepto os protagonistas é chamado um drama. Conclusão: quando os outros morrem é uma aventura, quando eu morro é um drama.


O modelo "Inspiração-Manipulação" na política e partidos

Se se aplicar este modelo "Inspiração-Manipulação" à politica e aos partidos ainda é tudo muito mais interessante.

Numa Democracia todos os Partidos se constituem PARA "ser governo", portanto, "ser governo" não é o Porquê do Partido, não é a causa que origina a sua existência, mas sim é a consequência da sua existência.

Ser governo é muito simples, é só colectar dinheiro, gastar dinheiro em acções-resultados desejados e claro gerir esse equilíbrio, o que pode ser bem ou mal feito. É PARA isto que se quer ser governo.

Assim, o factor crucial é ser bem ou mal feito o que depende das decisões que se tomam e assim chegamos ao COMO do ser partido, ou seja, qual é a técnica de tomada de decisões.

Assim, a captação de adesões partidárias (vide as campanhas eleitorais) baseiam-se só no PARA QUÊ, nas diferenças onde se vai gastar o dinheiro (Objectivos) e no modo como o colectam (Impostos), argumentando a favor da sua proposta e contra a dos adversários. É como decidir qual é o supermercado que se usa a partir dos descontos e promoções futuras.

Não tenho nada contra, mas realmente está-se no jogo das manipulações negociais, isto é, quando a vantagem se tornar menos apetitosa muda-se de fornecedor. Se nenhuma for apetitosa torna-se absentista.

Em 1974, e durante algum tempo, o PORQUÊ da participação política era claro, sentia-se uma "Inspiração" que correu mundo e o mundo correu para cá, e a participação explodiu. Depois o modelo passou para "manipulação" e o absentismo cresceu.

Todos os partidos dizem o mesmo com algumas variações no PARA QUÊ, todos usam a mesma técnica de COMO tomar as decisões, é o chamado modelo do tropismo social democrático: uns (poucos) decidem e os outros (muitos)  abanam a cabeça. 
Alguns maldizentes chamam-lhe a técnica do agricultor: fazer rebanhos e levá-los como e para onde se quer, os bendizentes chamam-lhe disciplina partidária democrática.

De qualquer modo, parece que na dinâmica das adesões só entra o PARA QUÊ pois o COMO é subentendido, óbvio e pressionado a não se alterar (vide o recente caso do Manifesto dos 70).

As adesões partidárias vivem da mesma dinâmica das adesões ao Continente ou ao Pingo Doce ou à mercearia da esquina. Vive-se de negócio político e não de inspiração política.

O interessante é que nas adesões a clubes de futebol estes têm todos têm o mesmo PARA QUÊ e o mesmo COMO, mas cada "fan" chora, ri, tem ataques cardíacos em frente à TV com o clube da sua alma. É uma lealdade a longo termo que, quer ganhem ou percam jogos e campeonatos, não desistem nem abandonam o clube, chegando a fazer sócio o neto da filha grávida que ainda nem nasceu.

Segundo os teóricos o que se passa com os partidos são sintomas de manipulação pura (talvez de "chicos espertos" com técnicas de venda) e o que se passa com o futebol são sintomas de inspiração. 
A minha expectativa é conseguir encontrar o PORQUÊ, o que ainda não consegui, apesar de discretamente me cansar a perguntar:

- "Porque é que é do Benfica? ou do Sporting? ou do Alguidares de Cima Futebol Clube?

As respostas obtidas são muitas vezes do tipo PARA QUÊ, mas deve ser apenas um problema de clarificação porque não agem como tal…para mim é ainda um mistério provocante.

- "Quer que o seu filho estude? Não use Manipulação…use Inspiração."

- "Quer que o seu par goste de si? Não use Manipulação…use Inspiração."

- "Quer adesões partidárias? Não use Manipulação…use Inspiração."

A inspiração vem das emoções, e elas nascem no PORQUÊ, provocam rupturas no status quo e inovam COMO's e PARA QUÊ's.

Se um novo Partido não detona inspirações será apenas mais um novo velho partido com PARA QUÊ's e COMO´s iguais aos outros e terá vida curta
apenas com mais uns melgas a pedir votos


Sem comentários:

Enviar um comentário