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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

As praxes e as zonas cinzentas


As zonas cinzentas são aquelas zonas cuja indefinição entre o "SIM" e o NÃO" criam zonas de conforto pessoal que nos permitem dormir descansados à noite na paz dos anjos porque nada se decide. São as zonas do "NIM", com as conversas de:

- "NÃO, Não, não,…MAS reparem que TALVEZ… sim, Sim, SIM,..."

e também,

- "SIM, Sim, sim,…MAS reparem que TALVEZ… não, Não, NÃO,…"

Na História encontramos muitos casos desta promiscuidade de NIM's em posições pessoais sobre diversas questões desde o esclavagismo ao racismo, passando pelo machismo e servilismo. Todas estas "indecisões" se baseiam em preciosismos que mutuamente se anulam em contradições sem fim, como por exemplo com legalidades ilegitimas, como aconteceu no caso dos judeus no nazismo, dos negros na escravatura, da violência na educação e do miserabilismo das sociedades na solução de crises.

Esta "dúvida metódica", intelectualmente bonita mas inócua na acção, bloqueia a decisão de "BASTA É BASTA" e/ou "NÃO É NÃO"…quando não deve ser um tempo de espera, mas sim um tempo de mudança.

Nas muitas séries televisivas de advogados e tribunal todo o jogo se passa nestas zonas cinzentas em que a defesa e a acusação lutam entre si para transformar os NIM's em SIM's ou em NÃO's consoante o que mais lhes convém. 
É um jogo de "esconde-esconde" e "toca e foge" que serve para crianças e para brincar, mas não serve para quando morrem pessoas ou ficam estropiados por falta de se terem tomado posições para o impedir. 

Passeando pela internet encontrei esta imagem:


e fiquei na duvida se se referia a escravatura, autoritarismo ou praxe... ou talvez apenas exercício para a coluna vertebral. 
Realmente a "dúvida metódica" é uma boa actividade intelectual e permite esquecer as três primeiras alternativas e ir dormir descansado com a boa fisioterapia a que se assistiu. A parábola de "meter a cabeça na areia"dá sempre muito jeito no quotidiano, pois evita ir para a psiquiatria.

Nestes passeios pela internet também encontrei um artigo de Daniel Oliveira que gostei e que clarifica o problema,
http://expresso.sapo.pt/ha-abusos-nas-praxes-as-praxes-sao-o-abuso=f852734
Se se analisar o racismo ele vai desde formas suaves a formas duras, umas inaceitáveis outras aceitáveis como brincadeiras inócuas (??), racismo centrado desde a cor da pele à idade, passando por saudáveis versus doentes, preferencias sexuais, etc, até formas corporais (gordo-magro) ou modos de vestir (VIP ou parolo).

Na verdade, a questão central é a fronteira que separa o abuso do não-abuso, o negativo do positivo, a legalidade da ilegalidade, a legitimidade da ilegitimidade,  é uma "área cinzenta" em que se discute o "sexo dos anjos", sendo portanto a área preferencial de trabalho dos advogados acusação-defesa para ganharem causas e dos políticos para ganharem votos.

Porém o problema é simples, nesta questão não há fronteira. Racismo é racismo…só há que dizer BASTA. Racismo é a diferença desvalorizante. Racismo não é a diferença, é a diferença que faz um indivíduo ser inferior. 
Ser mulher não é racismo é diferença, mas quando ser mulher a transforma em inferior ao homem essa diferença é racismo, porque a desvaloriza como pessoa.

O racismo não é um problema de fronteira positivo-negativo, o seu problema é ele próprio, é ele existir. Não há racismo positivo … nem por brincadeira.

Daniel Oliveira põe exactamente o mesmo problema acerca da praxe.
Na praxe não há zona de fronteira boa-má a ser gerida (a tal "zona cinzenta") o problema é a própria praxe.

Praxe é um acto humilhante, porque é-se obrigado a existir/agir fora da sua zona de conforto, em áreas que estropiam psicologicamente, chegando a limites de suicídio.

Não há humilhações aceitáveis por serem dentro de regras, divertidas, legalizadas, com objectivos positivos, educativas, com cobertura legitima. Humilhação é humilhação, nela nunca pode haver construção de respeito pelo outro, nem construção de dignidade própria.

Daniel Oliveira tem razão "ninguém consegue traçar a linha onde acaba o tolerável e começa o abuso, quando a base fundamental desta tradição é a própria banalização do abuso", ou seja, parafraseando poderei concluir que "a humilhação não tem excepções", isto é, não há zonas de promiscuidade moral, ética e intelectual, não há talvez's, BASTA É BASTA… 

… devemos isso aos nosso filhos e netos que dão agora os primeiros passos na vida adulta, em que a porta de entrada no novo caminho não pode ser a humilhação.

Treinadores de humilhação

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sexologia, neurociência e política

Todos nós nascemos de um EAC
 (Estado Alterado de Consciência
dos nossos pais, chamado orgasmo.

Toda a espécie humana começa e depende de um simples EAC que por vezes só dura alguns segundos, mas que existe há milhões de anos e perdura.
É um tema interessante e tem sido pivot em todos os desenvolvimentos, regressões e mutações da História.

Resolvi fazer turismo na sexologia, quer na Geografia quer na História. Muitas questões se levantaram e poucas respostas se afirmaram.

Passeei desde tribos até civilizações antigas do Mediterrâneo Oriental (Sumérios, Micénicos, Minóicos, Egípcios, Gregos,…), incluindo Extremo Oriente (India, China, Japão,…), e algumas semelhanças e diferenças surgiram. Entrei por culturas, legislações, negócios, tabus, bruxarias, hábitos, mitos e religiões,… o sexo tudo invadiu e em todos o lado surge, se impõe e controla.

Existe longe e está à nossa porta...

e nos animais também… com uma diferença fundamental.

Nos animais o sexo existe para reprodução e continuação da espécie. A situação é clara, são controlados pelo CIO que "legisla" quando há e quando não há sexo.

A prostituição é um negócio dos mais antigos, mas ele só é possível porque os humanos não estão condicionados pelo cio, porque para os humanos o sexo não tem época. 
Os humanos têm sexo com ou sem cio, doutro modo o negócio da prostituição não poderia funcionar.

A questão que se coloca é se a falta desse controlo feito pelo cio é um defeito genético ou uma vantagem a ser potenciada…, isto é, se é um erro dos deuses ou se é uma melhoria por eles introduzida.

Na História, quando os humanos estipulam que o sexo é apenas para reprodução surgem duas alternativas lógicas.
Uma é estarem a emendar as "asneiras no plano dos deuses", o que me parece ser uma arrogância abusiva quando um simples mortal pretende corrigir planos divinos. 
A outra alternativa é estarem a "animalizar o sexo humano" pois estão a impor o modelo dos animais "sexo só com cio, só na época fértil", portanto fazendo uma regressão ilegítima da intenção inserida no plano original.

Se se recusar estas duas alternativas, aparece a questão fundamental, que é…:

- "Sexo para quê, além da reprodução??"

Na maior parte das civilizações antigas, sexo e religião estavam intimamente conectados, "…era um modo de comunicarem com os deuses…" e quando esse contacto alcançava o "falar com os deuses" (rezar??) aparecia o poder de "…criar vida…", nasciam crianças como oferta divina [vide sacerdotes e sacerdotisas da linha sexual em várias religiões].

Em algumas culturas ditas primitivas, sexo sem "hetaera" (do grego hetaira, literalmente "companhia") era impensável, a violação era um crime contra os deuses, o sexo era sagrado.

Em culturas antigas não existia prostituição do modelo "ginástica sexual", mas em contrapartida existia o que, nos conceitos actuais, se poderia chamar prostituição de "companhia sexual", pois a relação pessoal era dominante e não se resumia a uma mera massagem física. Neste sentido na antiga Grécia existia uma classe de cortesãs intensamente cultas, as chamadas hetaeras.


No campo político e na sua relação com o sexo, vários exemplos desse integração se podem encontrar,

…por exemplo, na Monarquia.

O direito de alguém ser Rei é originado na prévia legalidade do sexo que deu nascimento a esse alguém. Se o sexo dos pais não tem legalidade passa de alguém a ninguém (nobody).

Quer dizer que o sexo do Rei com a cozinheira não origina filho com direito ao trono e o sexo da Rainha com o moço da estrebaria também não origina futuros reis. Realmente a bastardia é uma doença endémica da Monarquia e não existem vacinas.

Isto quer dizer que na Monarquia a mulher do Rei faz parte do sistema político, ela é o garante da continuidade desse poder político. Neste sistema, o sexo real é um desempenho político importante, pois sem ele não é possível manter a linha monárquica.

Esta é uma diferença fundamental para a República, pois neste sistema o sexo não tem função política. O cônjuge republicano só tem uma função marital em relação ao ocupante do cargo político, a República é assexuada, quando não o é... são só complexos monárquicos não resolvidos, infiltrados no sistema.

Na verdade na República, o Presidente da República não tem esposa, ela não faz parte do sistema político, ela não é necessária para o operacionalidade do sistema, pois a continuidade política não depende do "dever conjugal", ao contrário do que sucede na monarquia. Na Republica quem tem esposa é o cidadão que ocupa a função e não o funcionário político.

O Duque de Lisboa tinha esposa (a Duquesa de Lisboa), todavia o Presidente da Camara Municipal de Lisboa não tem esposa, pois ela não é a Presidenta da CML. O mesmo sucede com qualquer cargo político, desde o 1º Ministro aos Presidentes de Junta.

Nas Repúblicas o sexo não faz parte do sistema político, mas nas Monarquias o sexo é um factor fundamental a considerar e muitas guerras foram nele originadas com questões de sucessão.

Regressando à pergunta inicial, qual será a outra função do sexo além da procriação, e porque motivo, nos humanos, ele está liberto das condicionantes limitativas do cio?

Esquecendo o factor religioso comum em algumas religiões, a pesquisa pode ser dirigida apenas ao...


... factor individual.

Das pesquisas feitas, este aspecto surge-me como fulcral.
O interessante é que ele está intimamente conectado com diversas actividades do nosso quotidiano desde simples passeios até picos de alta performance no desporto, passando por situações de relação interpessoal em que "…o tempo pára…".

Nas diversas análises, descrições e métodos ele aparece com vários nomes, mas "zona" é um dos mais significativos no mundo desportivo:

"...when happen it's like to be in a zone or to be the zone…"

ou seja, parafraseando M. Murphy e Rhea White seria um EAC desportivo a que chamam Estado de Percepção Alterada, um "flow state" no qual picos existenciais de energia e consciência fazem o tempo ficar vagaroso, o contexto  desaparecer e o indivíduo metamorfosear-se na situação:

[…eu deixo de correr, eu sou a corrida…], diz o atleta olímpico;
[…deixo de escalar, eu sou a montanha…], diz o alpinista;
[…eu deixo de lutar, eu sou a luta…], diz o boxeur;
[…o sexo desaparece e cada um É OS DOIS…], dizem religiões antigas e saberes tribais.


Alguns filmes tentam mostrar o que é a "zone" no desporto (atletismo, alpinismo, basebal, golf, box…) normalmente através de 3 das suas 12 características. 
Como exemplo,

--> tudo se move devagar;
--> a energia flui de forma implosiva;
--> o mundo desaparece com a intenção concentrada;

clickar aqui, "The legend of Bagger Vance" (1 minuto)


Segundo o alpinista e skiador Patrick Vallençant:

[… quando me concentro o mundo desaparece… eu faço parte de tudo… 
tudo fica intenso, fico com uma compreensão para além do normal, 
… toda a beleza da montanha está dentro de mim e do meu sangue…]


Colette Richard
uma alpinista cega que, só com uma pequena percepção de luz, pesquisa montanhas e faz espeologia aperfeiçoando seus EAC's. Na prática usa a "zone", como nos relatos de artes marcais onde archeiros cegos acertam em alvos.

Sem visão, ela vê a imensidão das alturas e dos abismos físicos e espirituais, pois como diz […coragem é ter medo e ser o único a sabê-lo…]. 
Desce à gruta de Carvas, passa lá a noite, dorme sozinha… [ouvindo o silêncio vivo, sentindo a montanha, pois silêncio não é vazio, silêncio é vida e complemento da palavra...]

Será que a falta de CIO nos humanos é apenas para possibilitar EAC's e abrir novos mundos no mundo ??? ...que convêm aprofundar e desenvolver ???

Será que o EAC sexual é apenas uma porta para manter o ser humano no caminho de consciências alteradas em direcção a outras realidades, como era o axioma de religiões antigas que conectavam sexo e religião ??? Será que ele é tão fundamental que é ele que origina vida ?? Como pode ser relegado para a função de apenas garantir a espécie ou ser apenas uma  diversão QB (Quanto Basta) para alegrar o quotidiano??

Encontrei centenas de exemplos de EAC's (zone's) em performances físicas, quer nas culturas ocidentais, quer orientais ou tribais, no presente e no passado.

Como exemplo, o lumg-gom-pa.

Alexandra David-Neel no seu livro "Magic and Mystery in Tibet" fala neste EAC a nível de endurance e velocidade conseguida por mensageiros que corriam em transe centenas de milhas:

[É preciso compreender que o lumg-gom-pa não se baseia em treinar e fortalecer os músculos, mas sim em desenvolver estados psíquicos que tornam possível estas extraordinárias marchas.

…de face impassível e calma, olhos bem abertos de olhar fixo num ponto distante algures no céu, parecem não correr mas elevar-se do solo por pequenos pulos com a elasticidade de uma bola, repercutindo cada vez que o pé toca no chão. Os passos têm a regularidade de um pêndulo.]

Se compararmos esta descrição de um lumg-gom-pa com uma corrida normal, é estarmos a comparar energia gerida por uma consciência normal com energia gerida por um estado alterado de consciência (EAC).

Se usarmos esta comparação como analogia para actividades sexuais, as conclusões podem tornar-se muito interessantes.

EAC's são sempre manipulações de energia com alterações de consciência, algumas vezes apenas com scripts embutidos geneticamente como o andar, respirar, pensar, procriar, outras vezes com aperfeiçoamentos introduzidos por destrezas socio-culturais adquiridas.

Simplesmente, estas destrezas socio-culturais podem ser de progressão ou regressão,  e no caso dos EAC's sexuais talvez a diferença se torne óbvia.

Quando na sociedade o sexo é reduzido a procriação ou diversão QB, o factor consciência relacional vai desaparecendo e fica apenas o factor energético a vigorar. Assim, não é de admirar que existam duas variantes regressivas activas e muito conhecidas, a violação com o seu aspecto legal de Dever Conjugal e a pornografia com o seu aspecto primário de Ginástica Sexual.

Se se pensar que os EAC's sexuais se activam na puberdade e, na actual cultura, o seu método de desenvolvimento é o mesmo do que é usado para andar e correr…isto é, "desenrasquem-se" por entre os mitos, tabus e regras à solta por aí, não é difícil compreender as variantes negativas e com bugs existente neste EAC.

Quando oiço dizer que antigamente não havia educação sexual nas escolas… isso é mentira. Todos éramos educados pelos colegas nos corredores. 
Dizer que hoje existe educação sexual nas escolas, talvez sim, talvez não. É preciso não se confundir informar/instruir (fazer cognição) com educar/formar (fazer emoção), como exemplo, [… num lado instrói-se que a droga é mau, noutro lado educa-se que a droga é bom…].

De acordo com o modelo "sexo como um EAC activado", isto é, como um conjunto de manipulação energética e consciência, o polo consciência é o factor imprescindível para entrada num nível diferente de vivência da qual o orgasmo é o nível imediato de energia explosiva.
Simplesmente, de acordo com algumas teorias orientais (ying-yang, prana, ki,..) e ocidentais (por ex, Viktor Shauberger) existe também o seu complemento, a energia implosiva, com causas e consequências diferentes. 

No plano humano podem encontrar-se manifestações das duas, na unidade corpo-espirito do estado Mu do zen (e artes marciais) com o sua energia ki (Japão), ou ch'i (China) ou Prana (India), que alguns autores ocidentais chamam intrínsecas para a diferenciar da energia muscular. Porém, o seu objectivo base é alcançar o estado "zone" ou "one mind"com o todo que nos envolve.

No respeitante ao sexo, e

como conclusão,...

o centro do EAC sexual não é uma gestão energética ou imaginativa de modelos sexuais, mas sim de "consciência activa de companhia (hetaera)", isto é, a "consciência de criar um Nós, no qual os Eu's se dissolvem", potenciando a energia explosiva e implosiva existente que não são musculares mas intrínsecas produzidas por EAC's.

Se se fizerem introspecções de orgasmos (vide William Reich) em cada um de nós o EAC acontece sempre, mesmo que durante milésimos ou décimos de segundo ou minutos/horas, localizados ou generalizados, intra ou intra-extra corporal.

Em casos de violência por violação ou ginástica muscular ele é apenas um instante de décimos de segundo, micro localizado e do tipo "switch off" (liga-desliga, começa-acaba), isto é, não perdura numa "zone" alargada e contaminante durante algum tempo.


Para terminar, considerando os vários campos que este tema "invadiu", este turismo pela sexologia abriu-me uma autêntica "Caixa de Pandora" que não consigo esgotar nem fechar, pois neste momento a bibliografia já encontrada tem 2.335 livros e cuja quantidade cresce de dia para dia.
Para conseguir caminhar, o meu projecto terá que ser...

… ler e estudar por dia pelo menos 2 livros e conseguir que as 24 horas do dia não incluam a noite...

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O correr 100 metros e o estudar (versão revista)


As crianças caminham, as crianças estudam:

klee

Aprendem sozinhas as duas acções, mas…

…elas podem ser melhoradas ???

Para os Jogos Olímpicos, ensina-se a correr 100 metros …

…e para a Universidade, ensina-se a estudar  ???



Os pais ensinam a andar pondo-os de pé e ensinam a estudar pondo-os a ler livros… e depois eles que se "desenrasquem". 
Quando não conseguem andar não se zangam com eles, mas quando não conseguem estudar zangam-se. Qual a diferença ??

É simples, quando não andam é porque não conseguem, quando não estudam é porque não querem. 
No 1º caso levam beijinhos, no 2º caso levam estaladas, porque andar é difícil e não sabem ensinar, mas estudar é fácil e todos dizem como é, afirmando - "…eu também estudei !!!".




O que é andar ?

Definição: Andar é pôr sucessivamente um pé à frente do outro.

Se se quiser ser um pouco mais específico poder-se-á dizer que

- "Andar é jogar aos desequilíbrios".


Começa-se por gatinhar (quadrúpedia) porque é mais fácil pois, não só o centro de gravidade está mais baixo, como a base de sustentação é maior:


Para acontecer desequilíbrio é preciso o centro de gravidade (a vermelho) sair de dentro da base de sustentação (a amarelo) definida pelas mãos e pelos pés, o que é raro acontecer.
Depois é fácil, é só ir deslocando o centro de gravidade mantendo-o dentro da base de sustentação, ou seja, estando sempre  em equilíbrio.

É um jogo que engloba vários factores desde percepção espacial e corporal, sincronismos neuro-musculares e fortalecimento de músculos, até coordenação e potenciação do sistema nervoso, em particular no importante mielinizar das fibras nervosas possibilitando "equilíbrio, coordenação e agilidade".

O processo é complexo, a acção é simples. Depois "é só gatinhar durante o tempo necessário" até adquirir novas capacitações e o interessante é que a criança sabe quando acabou esse período e já está em condições de subir o centro de gravidade e reduzir a base de sustentação, isto é, PÔR-SE DE PÉ:


Agora, já pode dar um passo em frente pondo o centro de gravidade fora da base de sustentação, desequilibrando-se e retomando o equilíbrio ao deslocar o pé mais para a frente, ou seja,



É novamente uma acção simples que implica um processo ainda mais complexo e que arrasta consigo todo um novo conjunto de activações e alterações corporais, percepções  e equilíbrios internos.

Neste simples jogo de equilíbrio <==> desequilíbrio  <==> equilíbrio está uma aprendizagem que o transforma num ser diferente, mais desenvolvido e potenciado. Felizmente ninguém o tenta ensinar, é um problema que ele resolve por si próprio.

Porém mais tarde, quando além de correr para o autocarro, quer correr 100 metros vai ter que particularizar desenvolvimentos, desde posições e actos corporais até alterações orgânicas, resistência, endurance, rapidez de reacções, etc. Há uma bagagem de conhecimentos a aprender e a absorver pois para além do genético tem uma herança social à disposição.



O que é estudar ?

Definição: Estudar é substituir "não-sei" por "sei".

Se se quiser ser um pouco mais específico poder-se-á dizer que

- "Estudar é criar significados para estimulações dos sentidos".



Começa por se procurar estimulações e uma das primeiras a ser feita é pôr "coisas" na boca, provando-as e concluindo -"Como ou não como?" e deste modo os significados vão aparecendo: cospe, engole ou continua provando. 

Mais tarde outras estimulações aparecem, outros significados são construídos e o estudo nasce. Ninguém o ensina, aprende por si próprio. A acção é simples, o processo é complexo.

A significação é um problema que integra cognitivo e emoções, directamente relacionado com circuitos neurais.
Neste simples jogo de experimentação-significação está uma aprendizagem que o transforma num ser diferente, mais desenvolvido e potenciado. Felizmente ninguém o tenta ensinar a estabelecer novos circuitos neurais, é um problema que ele resolve por si próprio.



Esta relação estímulo-significação é um factor crítico (key-point) no estudar e por falta de "destreza" (skill) não se distinguem um doutro, não se diferenciam os tipos e principalmente não se gere o espaço de tempo entre eles, pois não são simultâneos. Este último aspecto é importante na operacionalidade do estudo e existem várias actividades para o treinar. 

Por exemplo, basicamente consideram-se dois tipos de estímulos, interiores cujo trabalho de significação se encaminha para a meditação e exteriores que se encaminha para a concentração. Ambos devem ser usados de forma complementar, por exemplo, treino de olhos vendados nas artes marciais, mas no aspecto prático de estudar é a concentração o mais operacional num 1º nível.

Ver em computadores 2 filmes ao mesmo tempo
À semelhança da importância da mielinização das fibras nervosas para o andar, também aqui é importante"abrir" a colagem estimulo-significação do pensar infantil.

Depois de já ter algum desenvolvimento, uma boa actividade de treino que solicita e estimula muito a gestão do tempo entre o estimulo e a significação é ver dois filmes ao mesmo tempo, procurando não só detalhes como também a estrutura da história e fundamentalmente os seus pontos e charneiras criticas semelhantes em qualquer estudo, criando: 

"agudeza e rapidez na recolha de detalhes,
construção de significados e estruturas, 
integração e ruptura em redes,
entrar pelo impossível para achar o possível".

Na verdade, assistindo aos dois filmes simultaneamente, perante uma imagem, palavra (ouvida/escrita) e/ou som (musica/ruídos) não se lhe poderá colar automaticamente um significado, pois ele dependerá da estrutura prévia (o filme) em que se vai "encaixar"… "uma porta que se abre sozinha" num deles poderá significar a "chegada do filho esperado" e no outro "a chegada os assassino inesperado".

Como exemplo deste principio de descolar estimulo-significado e do seu uso em inteligência colectiva, há a técnica de numa votação quando todos estão de acordo ter que exisitir um que tem a função e a obrigação de defender exactamente o contrário, procurando e investigando argumentos, evidências e opiniões que demonstrem pontos fracos da opinião votada e fortes do seu contrário e que nunca poderá desistir dessa posição.

Por experiência pessoal é uma actividade divertida, pois ver um só  filme é monótono, apesar de haver alguns que exigem o prazer de um visão única e em écran normal.

Há muitas variantes nesta actividade:

1 - Ver em dupla velocidade ou superior e neste caso as legendas, vocalização e detalhes desaparecem e fica só a estrutura;
2 - Ver com ou sem legendas, em português, inglês, etc, ambos na mesma língua ou em línguas diferentes. Neste último caso obriga a pensar simultaneamente em duas linguagens.
3 - Ver sem legendas e só com audio. Mesmo se ambos em português torna-se difícil pois olhando para uma imagem ouve-se mensagens da outra o que não acontece com as legendas. 
Se um for em português e o outro em inglês facilitará a apreensão das mensagens,
Neste caso, quando o padrão estiver estabelecido convem trocar outra vez as linguagens de cada filme, obrigando a destruir um padrão e estabelecer outro.

Treinar o estudar é como treinar correr os 100 metros, não basta correr com a herança genética é preciso desenvolver as potencialidades que essa herança possui.

Por detrás do simples andar está um processo complexo que implica e utiliza a integração corpo-mente. Do mesmo modo, estudar também é complexo e também exige potenciar o conjunto neuro-orgânico.

Qualquer saber é uma gota de água
no oceano da ignorância.
Isaac Newton

Não podemos andar só a passear, temos também que aprender a correr os 100 metros mentais.


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Rescaldo do Natal: as prendas

Dar uma prenda é uma arte difícil, pois existem muitos factores em jogo.
Entre eles, parece que um dos mais comuns é o factor surpresa.

Porém, há surpresas agradáveis e desagradáveis:


…não me parece que a fotografia mostre um acto de "prendar" alguém, mesmo que ele desejasse muito ter um camelo como animal de companhia e até ficasse contente de o ter.

Para além da surpresa, o choque inicial tem que ser agradável em 3 aspectos: 

1 - ter recepção com expectativa positiva;
2 - ser uma oferta inesperada;
3 - ter um conteúdo imprevisível.

No Natal há expectativa positiva, talvez  conteúdo imprevisível mas não há oferta inesperada. É um "cocktail" que deve ser fabricado com sensibilidade e saboreado com cuidado.

Criar expectativas negativas […este ano não há prenda!] para aumentar o prazer de receber uma oferta, parece-me a técnica de "primeiro dar um estalo para o beijo saber melhor". Pode servir para aliviar a culpa de não saber, poder ou querer beijar, mas isso não justifica que o outro além do beijo também receba uma cara inchada.

Não dar a prenda previsível e substitui-la por uma imprevisível a seu gosto para aumentar a surpresa, é uma técnica de "auto-prenda por tabela", por exemplo, [… ela queria o vestido encarnado mas dá-lhe o vestido amarelo que ele gostou muito]. Esta técnica é muito usada com os filhos (…para os educar, claro!).
Segundo alguns autores é uma confusão de meios e fins, pois confunde-se a pessoa com o manequim, pois "o vestido serve para a pessoa ficar bem, o manequim serve para o vestido ficar bem".

A oferta não pode ser uma repetição da rotina usual, ou seja, em que tudo é o esperado e cumpre as regras conhecidas, pois como diz o ditado popular […a fruta fora de época é a que sabe melhor].
A prenda tem que ser uma porta para um desconhecido quotidiano que fica disponível nesse momento, não é […uma espécie de beijo rotinado que se dá para aproveitar fazer outra coisa].

Na verdade uma troca de prendas com os três factores activos traduz-se num aumento da tensão positiva (e não amolecimento) e fomenta excitação (e não relaxação) que não desaparecem instantaneamente, não têm "switch off" (interruptor que se desliga).
Segundo alguns autores, o valor da prenda mede-se pelo tempo que se leva a desligar dela, quanto mais a pessoa fica "vidrada" nela mais se sentiu "prendada".

No caso do Natal, na distribuição das prendas tem que existir tempo para isto acontecer, doutro modo é como comer uma iguaria e beber um bom vinho como se estivesse num "fast food" para conseguir apanhar o comboio.


Em Africa, aprendi na cultura local que dos factores citados se considerava ser "mais prenda" quando a oferta era inesperada  (uma fruta, um peixe, uma pequena flauta) do que quando tinha um conteúdo imprevisível. Lá, o valor estava na "lembrança", […prendar é lembrar, tu estás aqui, eu estou aqui], o divertido era o inesperado.

Na época, desconhecendo teorias e perguntando porquê, a resposta obtida foi que […era melhor lembrar-se deles do que se esquecer para se preocupar com as coisas para levar…].

A neurocientista Susan Barry, Ph.D., diz que receber uma prenda é “voltar à infância“ na surpresa, curiosidade e expectativa do que será, na excitação e antecipação do que irá encontrar. E quanto mais sintónico consigo é o que encontra, maior é a alegria e maior o reconhecimento próprio e do outro.
Noutras palavras, nesse momento há uma intensificação e potenciação da relação e não um seu amolecimento. Ou seja, num dizer africano [… a alegria deve saltar por todos os lados e não desaparecer…]

O conceito chave aqui salientado e a reter, é que a prenda em sua existência e conteúdo deve ser sintónica com quem a recebe. Este aspecto é importante para a sua análise e diferenças de outras opções, por exemplo, prémios e recompensas.

Segundo Susan Berry, o sentir de antecipação e descoberta com a surpresa da prenda promove mudanças sinápticas no córtex e essas emoções activam neurônios e libertam neurotransmissores em áreas corticais necessárias para a aprendizagem e recuperação. Uma prenda é uma estimulação de vida. 

Em resumo
a prenda existe por si própria, baseia-se em sintonias relacionais e a elas se dirige, tem o seu centro na surpresa seguida de excitação e antecipação, e na experiência de encontrar algo inesperado. É um regresso à infância.

Analisando o conceito e partindo de duas definições de Dicionário:

A. Prenda é algo dado de bom agrado e gratuitamente a alguém, e
B. Prenda é algo oferecido de forma voluntária e sem remuneração.

conclui-se que existe um dador, um receptor e uma relação entre os dois… e ainda que...

Por um lado, o prendar deve ser voluntário de parte a parte e não uma obrigação em dar ou em aceitar, logo […aqui tens a prenda de Natal] significa que se não fosse Natal não tinha prenda? ou apenas simboliza a alegria de estarem juntos nessa época? Como diferenciar os dois aspectos, como fazer sair da obrigação social para o prazer da relação?

Por outro lado, o dador dá com agrado e não é remunerado, realmente se for remunerado não é prenda é tarefa. 
Se existir troca de prendas terá que se realçar que não é retribuição do tipo [...se digo que gosto de ti, tens que dizer que gostas de mim], pois neste caso é necessário "negociar" a equivalência económica, intensidade, valor, etc. das duas prendas o que normalmente é feito de forma discreta.
Se no Natal, a motivação para dar prenda é para não se sentir culpado, então será esse o pagamento pretendido? Se for assim, a prenda não é prenda é negócio de absolvição.

Por fim, para o receptor ser gratuito este não pode ter que retribuir, pois neste caso deixará de ser prenda para ser suborno, pois suborno é uma oferta que tem um retorno garantido no futuro […dou-te a prenda, mas tens que passar o ano]. 
Se pelo contrário, a prenda é consequência de um resultado realizado também não é prenda é recompensa, ou seja, não é símbolo da relação é símbolo do resultado obtido através da relação [aqui tens a prenda, pois  passaste o ano], ou seja, ele não é importante para ter prendas, o importante é ter feito o resultado.

Nenhuma destas situações são erradas, estão apenas disfuncionais e criam erros. O que está errado é não distinguir entre prenda, recompensa e prémio e misturar tudo em relações distorcidas. Quando é prenda é prenda, quando é recompensa é recompensa, quando é prémio é prémio.

Vários autores e culturas colocam a essência de uma prenda em “dar o que eles querem”. 
F. Gino e F. Flynn num estudo feito em 2011 concluíram que, para grande número de pessoas, esta é a essência de uma prenda.

Daqui o hábito de nos casamentos, Natal, aniversários, etc, se fazerem  listas das prendas pretendidas ou perguntar o que se quer receber. 
Na prática, quem oferece transforma-se numa espécie de empregado de supermercado gratuito por encomenda, isto significa que a linha de reconhecimento-confiança mútuos, coluna vertebral da prenda, é inexistente e neste caso, realmente, a entrega em dinheiro é bastante mais prática, pois evita a deslocação à loja. 

Todavia, outro grupo de pessoas põe a tónica no ser gratuito, isto é, para ser prenda tem que não existir pagamento, portanto “quanto mais valioso melhor”, pois provoca um reconhecimento mais intenso. Aqui novamente o importante não é a oferta mas o valor económico incorporado.


Prenda, Recompensa e Prémio

Uma história de leite com chocolate

Três mães, cada uma com um filho de 13 anos que à noite, pelas 23 horas, lhe leva um lanche de leite com chocolate e um bolo.


MÃE "A" percebeu que ele jantou pouco, ainda está acordado no quarto com trabalho da escola e leva-lhe o lanche: 

- "Aqui tens para comer antes de te deitares, vai-te saber bem".
Significa uma prenda.

MÃE "B" percebeu que ele jantou pouco, ainda está acordado no quarto com trabalho da escola como tinha prometido e leva-lhe o lanche.

- "Aqui tens para comer antes de te deitares, foi um bom esforço, mereces".
Significa uma recompensa.

MÃE "C" percebeu que ele jantou pouco, ainda está acordado no quarto com trabalho da escola como ambos tinham acordado e leva-lhe o lanche.

- "Aqui tens para comer antes de te deitares, cumpriste o horário pelo que aqui tens o prometido que esperavas".
Significa um prémio.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Pensar com NÃO's…ou talvez não!




Aprender a sentir a música
não ensina a dançar…
mas sem sentir a música
não se pode dançar!


O "Não" é como a música, não é um caminho é uma orientação e sem ela fica-se perdido e bloqueado.

A anti-crise, o anti-fascismo, a anti-agressão, o anti-Norte ou anti-Sul…não são caminhos, são orientações. O caminho é sempre um PRÓ.

Um raciocínio saudável de PRÓ […ou seja, diferente de teimosia…] é sempre acompanhado por quatro cúmplices de suporte: O quê, Quando, Condições, Oportunidades
J. Kennedy, discurso 25 Maio 1961
Políticas com projectos "Anti" não são Projectos são FUGAS […sabe-se do que se afasta, mas não sabe do que se aproxima…]. Do mesmo modo, Pedagogias com apoios Anti não são pedagogias são ANTI-PEDAGOGIAS.
Exemplos:

A
O Objectivo político de tirar um buraco (NÃO-buraco) não diz se fica SIM-jardim, SIM-lixeira ou SIM-poço!

B
O Objectivo político de resolver a crise (NÃO crise) não diz se o resultado é SIM-bem-estar, SIM-miséria ou SIM-anexação!

C
A pedagogia familiar de:
- "Não sejas burro, tens que estudar!".

implica para o António que o problema estava simplificado, "burro já era" agora só lhe faltava estudar, o que fazia com aplicação, mas dizia com ar triste:

- "Farto-me de estudar e não aprendo nada... sou burro!".

O problema a resolver não era ensiná-lo a estudar, era ensiná-lo que não era burro… e isso não podia ser feito com missionações anti do género [- "Não és nada burro"], ou com contra missionações feitas de crenças contrárias do género [- "És muito inteligente"], em que os dois processos introduzem lutas intrapsíquicas para saber em que acreditar e não conseguindo…confirma-se [-"Sou mesmo burro"].

D
A pedagogia de missionação por instalação de crenças:

- "Tens que não ser mau aluno,…. tens que ter vontade e motivação para resolver isso!"

possibilita que ele resolva …ao deixar de ser aluno. Começa a faltar e a comportar-se como não-aluno, arranja trabalhitos para ganhar dinheiro e diz:

 - " Não quero estudar mais, quero trabalhar", e assim já não é mau aluno, porque deixou de ser aluno.



Na verdade, o "NÃO" é um conceito da linguagem verbal, pois ele não existe na linguagem não-verbal, nesta só existe o "SIM".

O abanar da cabeça para simbolizar o "NÃO", segundo Spitz, tem a sua origem quando o bebé ao mamar perde o seio materno e o procura à esquerda e à direita, simbolizando assim o "NÃO" isto é, "não tenho seio".

Todavia numa outra interpretação de lógica verbal sobre o não-verbal, o comportamento de abanar lateralmente a cabeça poderia ser  expressão do "SIM", ou seja, da afirmação "sim quero o seio e procuro".
Por sua vez,  o mover verticalmente  expressaria o "NÃO", a identificação de uma falta, de uma ausência "não tenho seio, onde estará?". 
Nesta alternativa os símbolos não-verbais (comportamentais) simbolizando o SIM e o NÃO estariam ao contrário da actual cultura vigente.

Como conclusão, a comunicação não-verbal (imagem, comportamento) não permite o conceito NÃO, o seu significado em símbolos comunicativos não-verbais depende de aproveitamentos e colagens feito à linguagem verbal (quando existe) e/ou à experimentação por reflexo condicionado, quando não existe, por ex. no caso dos  animais:

[...quando abocanhar a bola é levar chibatada, não é o "NÃO" tirar a bola que é aprendido, mas o SIM da colagem da bola à chibata, esta à dor e, por imprint genético, esta à paralisia-bloqueio ou à fuga perante aquele estímulo…],

assim chibatada significa SIM-dor e/ou SIM-imobilidade, portanto, mostrar a chibata faz o cão não-morder, não-fugir, não-saltar, etc, isto é, faz SIM-bloqueio-imobilidade.

Este processo também funciona com humanos, crianças e adultos, vide estudos de Pavlov e, em complemento, estudos de técnicas de tortura e humilhação e de algumas metodologias educativas e/ou pedagógicas.


Nesta questão, coloca-se uma pergunta interessante: -"Como é possível não pensar pensando"?

A nível do funcionamento do córtex parece que não é possível, pois é um paradoxo. Esta Antipedagogia é muito comum nas regras propostas para o auto-controlo de viciados em variados tipos de droga, das químicas ao jogo, passando pela violência sádica ou masoquista e tiques comportamentais.

Exemplo:

Sabe o que é a Torre Eiffel ?

Então, não pense nela !!!

Consegue ???? Não está pensando nela??

Vou ajudar…. com imagens...


Não pense na 
Torre Eiffel !!!





Melhorou ??? Conseguiu ??? ou a Torre Eiffel aninhou-se nos seus neurónios ?? e quanto mais quer esquecer mais se lembra ??

Pois é,  para dar este NÃO tem que dar o SIM, e a nível do funcionamento do córtex o SIM fica a dominar…não pode deixar de pensar na Torre Eiffel porque para o fazer tem que pensar nela. O caminho tem que ser outro.

Conclusão:
Este tipo de regras só teoricamente têm efeito, isto é, quando não são precisas. 
Na prática, isto é, quando são precisas, não têm qualquer efeito, pelo contrário aumentam o problema.



[…Não cobiçarás a mulher do próximo...]
Deuteronomio, 5, 21

Regra que pretende controlar a atitude psicoafectiva do indivíduo, processo que está directamente conectado com os princípios do funcionamento cerebral.
Existem duas alternativas:

1 - Ou o Mandamento não é preciso, porque não existe qualquer "mulher do próximo" a activar a estrutura psicoafectiva do indivíduo e o problema não se põe;

2 -  Ou existe uma "mulher do próximo" a activar essa  cobiça  e o Mandamento exige des-cobiçar.
Simplesmente, a nível do córtex o paradoxo está instalado, pois ao intensificar a des-cobiça da mulher do próximo, mais se pensa nela e mais a mulher do próximo se instala como cobiçável nos neurónios.
É um autêntico suplício de Tântalo.

É semelhante a "não pensar na Torre Eiffel" ou tentar dormir quando tem insónia. Neste caso quanto mais se tenta dormir mais se está acordado, pois só acordado se pode querer qualquer coisa, mesmo que seja dormir. Esforçar-se por dormir é esforçar-se por estar acordado.

O córtex não sabe o que é o "NÃO", só sabe o que é o "SIM" e a "AUSÊNCIA".
Um "NÃO" trás consigo o SIM PARA NEGAR e  este fica no domínio da situação. É o paradoxo de se provocar o contrário do que se afirma, não é um problema de força de vontade, é um problema da vontade de fazer força.

As regras com "NÃO" para reforçar o "SIM", segundo Tchakhotine, provocam a "intimidação às avessas":


Alemanha, anos 30

No início do nazismo a oposição, para fomentar movimentação contra, criou e divulgou um cartaz anti-nazi que funcionava como pró-nazi pois divulgava e inseria o terror aos nazis, difundindo o seu poder e violência nas represálias, ou seja, intensificava o estado de espírito que os nazis pretendiam com essas acções.

Este cartaz podia ser propagandeado pelos nazis, se quisessem ser tão explícitos.


Na  prática este cartaz difunde "lutar contra" sob forma cognitiva mas difunde também "não lutar" sob forma afectiva, injectando um paradoxo. Este paradoxo é gerido por lutar quando vive teorias em conversas, comícios e debates, mas não lutar quando vive práticas em actos.

Isto não significa falta de honestidade, lealdade, dignidade, etc, significa apenas que "engoliu" um paradoxo que não sabe que tem e não sabe como sair dele. Este processo é o núcleo de qualquer técnica de engano.

A contradição cognição-afectividade faz com que em teoria domine a posição cognitiva e em prática domine a posição afectiva. Na violência doméstica isto é muito claro, […fora do confronto promete não bater, no confronto torna a bater…]


Na prática, o raciocínio por "NÃO" serve para:

- retirar da pesquisa áreas de investigação (ex.: o meu primo não está em Madrid), permitindo assim operacionalmente utilizar uma focagem TALVEZ mais operacional por diferente;

- basear julgamentos e avaliações de acções a executar ou executadas, objectivando referenciais e critérios para decisão (ex.: é culpado porque a regra diz "NÃO…");

- possibilitar orientações de acção quando AINDA se está fora da acção, isto é, quando o problema ainda é TEÓRICO (ex.: não me drogar, jogar, fumar, cobiçar a mulher do próximo, etc), ou seja, com o estímulo ainda em standby não se necessita controlar a activação.

Na prática,  o raciocínio por "NÃO" NÃO serve  para:

- criar induções comportamentais quando já existem estimulações comportamentais.

Noutras palavras, não funciona dentro da acção, pois é uma AntiPedagogia (ex.: não se drogar quando já se está drogando) é como não querer estar acordado quando para querer esse querer é preciso estar acordado. Para sair de um paradoxo é preciso definhá-lo e não intensificá-lo com a sua negação.

À semelhança da corrente eléctrica em que não há anti-corrente eléctrica que percorra o circuito anulando a corrente eléctrica existente, também no córtex não há estímulos neurais "NÃO's" que percorram os neurónios anulando activações existentes. Na prática, o "NÃO" é inócuo e apenas fica a imagem re-activando o  neurónio.

PS - Na imagem anterior, a cruz azul colocada na Torre Eiffel, salientando o "NÃO", teve algum efeito para esquecer a Torre Eiffel e não pensar nela ??? Ou ficou só mais uma Torre Eiffel com uma cruz azul ???

Na pedagogia existem algumas técnicas susceptíveis de evitar este paradoxo. Na prática o principio é simples, é só activar outro circuito neural que active um fluir diferente que, ao ser energizado, des-energize o existente e ele "desligar-se-á" por si próprio.

Não é um método de contra-missionação, pois as duas activações em jogo têm que ter pontos comuns de opção (os "hub's") para obrigar a decisões pessoais de caminho. A contra missionação é apenas uma "luta de trincheiras" a puxar cada um para o seu lado, em que o indivíduo apenas funciona como "bola de ping pong".

PS - A actual luta partidária baseia-se apenas na contra-missionação, ver debates diários transmitidos na TV. 
(ver Flow: The Psychology of Optimal Experience by Mihaly Csikszentmihalyi)


Conclusão final:
Em pleno acto, a estimulação negativa activa […não se combate com um NÃO, combate-se com outro SIM.]