A escrita acompanha os caminhos do interesse e provoca-os. Mas a cultura dominante pode, ou não, aceitar certos modelos, e então - "Não há paciência para seguir a ideia, perdi-me…"
Três modelos base podem ser considerados:
A Pirâmide tradicional é utilizada para contar histórias, começando com os "entretantos", factos que vão pincelando as acções e o contexto, tudo interligando e desvelando a lógica da trama até que, no final, o "caroço" (the core) da história fica desnudado.
Assim se escrevem romances policiais, os "Irmãos Karamazov", a "Guerra dos Tronos", historiando o caminho em direcção à descoberta do criminoso, do casamento feliz, do castigo dos "malvados".
Foi assim que, com a Gata Borralheira e a Branca de Neve, aprendemos o "nascimento do interesse", absorvendo pormenores à espera do final.
Com Hitchcock surgem variantes como, por ex., sabermos algo que o protagonista não sabe, porque já nos foi contado ou porque a música nos "avisa" que vai acontecer. Chama-se a isto a emoção do "suspense", ou seja, ficar-se "pendurado" no que vai acontecer.
Muitos discursos políticos seguem este modelo universitário da pirâmide tradicional e, antes que chegue ao fim, já se fecharam os ouvidos dos ouvintes. A cultura mudou bastante desde os tempos de Proust que publicou a sua obra em sete partes entre 1913 e 1927.
Por sua vez, este estilo de "afugentar ouvintes" é o grande negócio dos comentadores políticos porque depois dão-nos a "conclusão", como cada um dá a sua, e também conclui sobre a do outro, é um negócio florescente e sem fim.
Todavia, com o negócio do jornal a situação alterou-se, pois surgiu o método da pirâmide invertida.
O jornal é uma compra efémera de "usar e deitar fora", ou seja, desperta o interesse e usa-se (compra), ou não desperta e deita-se logo fora (não compra).
O jornal não tem tempo para contar a história até ao fim, tem que mostrar a conclusão logo no início e o titulo tem que ser um anzol para provocar a leitura das primeiras linhas. O resto da história pode ficar entremeado no meio das restantes páginas para ler depois de o ter comprado.
Por outro lado, o jornal tem um problema insolúvel que é o espaço para as noticias ser fixo, pois mais páginas fica mais caro. Assim, acrescentar uma notícia significa tirar outra ou reduzi-la. A pirâmide invertida permite a solução fácil de cortar o fim das noticias porque o importante já foi dito.
O factor critico desta técnica é o critério usado para definir a conclusão. Estes "concentrados" postos no inicio podem ser apenas fantasmas de opiniões do autor, missionação cultural paga, incompetência lógica ou "anzol atractivo" para o negócio. Muitas vezes ao ler a notícia, percebe-se que a "manchete" é apenas uma mancha "publicitária" colada aos factos (há jornais viciados neste truque).
PS - O facto de agora alguns jornais serem gratuitos não altera a análise. A difusão dos jornais provoca duas linhas de negócio: A - "vender e ganhar dinheiro"; B - "obter leitores e com eles vender espaço de anúncios". Este último caso, é o negócio dos jornais gratuitos e das TV's. Os leitores/espectadores não são clientes, são apenas recursos chamarizes para os anunciantes. Daqui a importância das audiências.
Com a internet apareceu o modelo da "dupla helicoidal".
Aqui o interesse baseia-se em fomentar o "zapping", "estás aqui para ir para outro lado".
A sua base é fornecer o mínimo suficiente de informação para criar uma fissura (gap) que crie curiosidade em preencher essa falha, pelo que se entra na "porta" (link) sugerida.
O processo é criar um adito em clickar para abrir portas (links). O interesse consiste em perseguir micro atracções rápidas-curtas (short) que mantenham um fluxo contínuo-longo (docked) de pesquisas sequenciais até chegar ao fim.
É uma das técnicas usadas nas escolas e universidades para criar motivação nas novas gerações.
É uma das técnicas usadas nas escolas e universidades para criar motivação nas novas gerações.
Hoje estes modelos têm muitas variações e adaptações às diferentes micro-culturas, desde idade, formação base, hábitos, profissões, tema, etc.
Em resumo,
Criar interesse é como os sapatos, a moda e o gosto pessoal escolhem, mas o pé é que decide, no caso do interesse são os neurónios!
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