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quarta-feira, 27 de maio de 2020

A Fisica e "trambolhão" mental: Eu sou o quê?

TEMA
O mundo é muito diferente se pensado com leis da Fisica Newtoniana (estilo séc XX) ou com leis da Fisica Quântica (estilo séc XXI)... e o socrático "Conhece-te a ti mesmo" entra em crise.

O problema é simples:
Temos um corpo feito de células (moléculas) que vivem de acordo com as leis Newtonianas. Mas as células são feitas de átomos cujas partículas sub-atómicas vivem de acordo com leis Quânticas.
Assim, EU SOU O QUÊ...(???)

...se, na verdade, sou um híbrido que vive em dois mundos, cada um deles com paradigmas e leis diferentes e que coexistem em harmonia.

Duas perguntas:

1ª - Poderei escolher e "saltar" da realidade física das moléculas para a realidade quântica das partículas sub-átomicas? 
2ª - Será disto de que falam experiências místicas (e religiosas) quer antigas quer actuais?

Foto de aura (energia electro-magnética: quântica ?!)
OBS- Durante este fotografar o pano de fundo era preto e, imediatamente após o disparo, foi esta a foto expelida pela máquina polaroide. 
Estive a checar fotos seguintes e nelas as pessoas eram envolvidas com cores e matizes diferenciadas.
Não tenho dúvida que a foto é uma evidência de algo... mas tenho dúvidas que seja prova de aura.

INDICE
1 -Introdução 
2 - Era uma vez... 
3 - Conclusão 

1 - Introdução
        

Estou contente com o meu choque cultural da passagem do séc. XX para o séc. XXI.
Graças à Ciência Fisica sinto-me um Galileu moderno a copiar o seu trauma de passar da Terra-plana para a Terra-redonda.

Todavia para o meu trauma não precisei de telescópio bastou-me um espelho. Olhei e vi o meu corpo fisico com suas moléculas, obediente à Fisica Neutoniana, mas sabia que ele continha o meu corpo quântico feito de quantum's e, estando ali não estava lá, vivia noutra realidade com paradigmas opostos.

Como analogia é como descobrir que um muro imóvel na verdade contém tijolos aos saltos e conexões diversas e podem estar entrelaçados a tijolos do outro lado da Terra*.

(*-) Ver experiências de Física Quântica (CERN - Laboratório Europeu de Física de Partículas)

Imaginar que se pode passar do estado newtoniano ao estado quântico por decisão pessoal é um sonho que alimenta uma vida. Pode não se encontrar a solução do "saltitar" entre eles, mas é excitante viver essa possibilidade da solução.

Alguns autores relacionam o corpo com as leis newtonianas e as ideias com as leis quânticas e o pensar com a dança quântica dos quantum's entre corpo e ideias, provocando efeitos soma-psiquicos e psico-somáticos, muitas vezes alcunhados de "milagres".

Este conjunto [corpo-ideias-pensar], trilogia de base quântica, poderá ser o núcleo duro dos misticismos*, (filosofias, religiões, mitos, crenças, shamanismos, etc) que desde a antiguidade até à época actual tem centenas de escolas e tendências, milhares de místicos e métodos de participar, rezar, meditar, treinos e ensinar.

(*-) Ver The Cambridge Handbook of Western Mysticism and Esotericism, Glenn Alexander Magee (Editor) 

Como exemplo uma pequena parte da "Arvore de Mitos e Religiões :


Desde a Pré-História que os humanos criaram métodos de ensino e treino para desenvolvimento do fisico-músculos (guerra, caça, etc) e da mente-ideias (falar com o "invisível", Deuses, etc) e criaram rituais e técnicas (canções, danças, rezas, meditações, etc) para integração dos dois.

Em síntese, a aplicação da trilogia [corpo-ideias-pensar] foi usada para criar, a par da materialização de comunidades humanas, como também, da sua espiritualização.

Como conclusão 

Se por um lado a Física Newtoniana "comanda" o corpo e a Física Quântica "comanda" as ideias, por outro lado, desde a Antiguidade, a quantidade e a complexidade dos métodos-técnicas de treinos musculares são mais reduzidos que os métodos-técnicas mentais.

Então, parece que, na prática, a coberto* de mitos, religiões, crenças, shamanismo, etc, as preocupações e variabilidade de resultados em áreas "¿quânticas¿" tiveram desde sempre uma maior incidência nas preocupações humanas**.

(*-)  Não considero aqui técnicas tribais e shamânicas com alucinógenos, cogumelos, ayahuasca, peiote, iboga, salvia, etc. Foram encontrados alucinógenos com 3000-2500 anos em escavações arqueológicas na America do Sul, Antilhas, Africa, etc, que ainda hoje fazem parte da cultura tribal, para efeitos EAC (ver Estados Alterados da Consciência; Altered states of consciousness: a book of readings, Editor Charles T. Tart, John Wiley & Sons, Inc.)

(**-) Rupert Sheldrake (biólogo) tem um livro interessante sobre meditação e vida humana, animais, plantas, sociedade, etc, "Science and Spiritual Practices" (through direct experience) com análises de práticas psicosomaticas e somapsiquicas de transformação do viver, por ex., meditação e mente (pag 23), rituais (pg 111), peregrinações (pag 162), etc, com uma extensa bibliografia final de 150 referências.


2 - Era uma vez... (alternativa 1)

...um senhor chamado Newton que criou a Física Clássica ao integrar Física e Matemática com fórmulas que se aprende na escola. Esta Física Newtoniana fez cultura "popular" e os seus quatro paradigmas invadiram o pensamento ocidental de Kant a Freud passando por Marx, Rousseau, etc, e criaram um senso comum quotidiano.

Este senso comum ocidental deu estrutura e compreensão não só ao mundo à nossa volta como a nós próprios no mundo. Sabemos o que é a matéria, a sandwich espaço-tempo e a dupla parado-movimento, e ainda a lógica causa-consequência e a sub-lógica passado-presente-futuro. 

Na verdade, toda esta Fisica Clássica do senhor Newton (...e Einstein?!) se baseia em quatro paradigmas:

- Realidade - mundo físico é concreto e objectivo;
- Localidade - tudo precisa de influência fisica para se mover;
- Causalidade - primeiro há causa e depois efeito;
- Continuidade - pressupõe que o tempo "não pára e não anda para trás"

É a Ciência Física do "senso comum" (dignificada pela Matemática) e o senso comum da "Física Newtoniana" (dignificado pela Educação) que passou das classes instruídas às classes analfabetas "encostada" ao óbvio dos 5 sentidos a garantir a validade*.

(*-) É interessante porque, historicamente, também foi o o óbvio dos 5 sentidos a garantir a validade da [Terra plana] e a impedir a aceitação da [Terra redonda, pelo seu não-óbvio].

Aplicando os quatro paradigmas a uma situação concreta:


- Realidade - 3 objectos concretos, distintos e objectivos: pistola, bala e alvo;
- Localidade - bala move-se por influência fisica da explosão na pistola;
- Causalidade - primeiro acontece a explosão depois a bala move-se e depois atinge o alvo;
- Continuidade - depois de alvo atingido é impossível des-atingir o alvo (fazer undo: anular o      feito).

Utilizando as leis de Newton é possível expressar todos estes processos em linguagem matemática (expressões, fórmulas, cálculos, etc).


 Era uma vez... (alternativa 2)

...um senhor chamado Planck que abre a porta à Física Quântica ao propor que a energia são "pacotes de quanta". Por exemplo, os fotões (átomos de luz) são quantas. Em simplex, tudo que é maior que um átomo é o mundo da Fisica clássica mas tudo que é menor que um átomo é o mundo da Fisica Quântica estraçalhando as leis da Fisica clássica.

No mundo esclarecido no séc XX, EU vivo com os paradigmas de Realidade, Localidade, Causalidade e Continuidade, mas...

...os átomos são conjuntos de partículas Prótões (positivas), Electrões (negativas) e Neutrões (sem carga) que libertas das leis da Fisica clássica vivem de acordo com as leis da Física Quântica de paradigmas opostos...

...portanto, EU, existindo dentro do mundo da Física Clássica, tenho "dentro de mim" o mundo da Física Quântica de leis opostas... "Raisupartiça... @#%&¿... então, eu sou O QUÊ?"


Leis da Fisica Quântica

Os Paradigmas da Física Quântica não são apenas diferentes dos paradigmas da Física de Newton eles são o seu contrário, isto é, Não Realidade, Não Localidade, Não Causalidade, Não Continuidade.


Não realidade - O mistério da “experiência da dupla fenda” fase 1

Segundo Richard Feynman (fisico quântico) esta inexplicável situação da "dupla fenda" é comum a todas as partículas sub-atómicas e “destrói” o paradigma da realidade concreta e objectiva, um dos alicerces centrais da Física Clássica.

Em português-simples, é o facto de um fotão poder ser uma onda ou ser uma partícula (possibilidades) e “ele decidir” qual a possibilidade que vai ser real. 
Em esquema:
Um fotão pode ser um onda ou uma partícula
1  - Um fotão é emitido sobre um obstáculo que tem duas fendas;
2 - Ele poderá passar pelas fendas "sendo" uma onda por cada fenda, surgindo do outro lado como ondas que se interferem mutuamente e se projectam no écran-alvo como areas luminosas de intensidades diferentes em função das interferências havidas; ou então, passa como partículas projectando-se no écran-alvo como pontos de luz.

Não Localidade - Entrelaçamento quântico

Segundo Einstein, 300.00km/s é a velocidade da luz e é a velocidade máxima no universo.
Segundo a quântica [duas partículas separadas por grande distância podem afectar-se uma à outra no mesmo instante], portanto, a comunicação é mais rápida que a luz (há experiências concretas que o demonstram).
A comunicação instantânea é reivindicada por aborígenes australianos que assim trocam informações a grande distância*.

Será que o meu corpo quântico faz o mesmo? ...e comunica, a quem? À semelhança da "internet" farei parte de um "rede quântica"? De qualquer modo não penso que fosse má ideia, pois a "técnica" dos aborígenes australianos* podia substituir os telemóveis.

Há relatos investigados e estudados de relações próximas, íntimas e sincronizadas (Ex, mãe-filho), que têm intuições(?) deste tipo se vivem situações pessoais intensas. Será um "simples" caso de (clickar) fusão de bosões do mundo da quântica???

(*-)  Ver: "The song lines". Segundo relatos, os aborígenes australianos se culturizados (ou re-culturizados) com a cultura europeia, perdem essa capacidade.


John Bell, do CERN (laboratório europeu de física de partículas) provou que duas partículas permaneceram ligadas de uma forma fantasmagórica e inexplicável. As duas partículas formam um conjunto inseparável e. embora muito distantes, modificam-se instantaneamente de acordo com a alteração de um deles e "comunicam" isso ultrapassando a velocidade da luz.
O Paradigma da Localidade de Newton não "manda" aqui.

Não Continuidade - Heisenberg e Princípio da Incerteza

Por exemplo, num electrão quanto maior é a certeza da sua posição menos precisa é a certeza do seu nomentum (movimento, massa vezes velocidade) e vice versa.
Quer isto dizer que os quantum's do meu corpo sub-atómico fazem o que querem... isto é, se sei onde estão não sei o que vão fazem e, vice versa, se sei para onde vão não sei onde estão.

Isto parece as descrições que os Shamans fazem das viagens em EAC (Estados Alterados da Consciência*). Segundo a quântica [...partículas podem aparecer em lugares onde não têm o direito de estar de acordo com as leis da física clássica].

(*-) Estados Alterados da Consciência; Altered states of consciousness: a book of readings, Editor Charles T. Tart, John Wiley & Sons, Inc.

É o mundo da não-realidade, o mundo das possibilidades. Na experiência mental do "Gato de Schrödinger" (clickar), antes dele colapsar por ser observado, ele não está "vivo ou morto" mas sim está "vivo e morto".

Não causalidade - O mistério da “experiência da dupla fenda fase 2

Neste caso repete-se a experiência anterior mas com uma 3ª fase :

3 - Entre o obstáculo e o écran-alvo existe um "observador" (humano ou tecnológico) para confirmar se há onda ou partícula e, então, o comportamento do fotão altera-se num ou noutro caso.
Se é controlado funciona como partícula se não é controlado funciona como onda.


Além da estranheza destas diferentes consequências, o mais estranho é que a causa só existe DEPOIS da consequência, ou seja, aqui existe um paradigma consequência-causa (não causalidade) pois [...o que vai acontecer no futuro cria a consequência no passado].

Além disso, também aqui, ao contrário da Fisica Clássica, o observador faz parte (influi) na situação observada.
Segundo o biólogo Rupert Sheldrake, "The sense of being stared at", esta situação do observador-influenciar-a-situação-observada é comum em  animais e  indivíduos observados que têm muitas vezes a sensação (e a certeza) disso (pg 146, 149, 263).

Também, nas artes marciais há uma teoria que defende esta posição (saber antes).
Pessoalmente, durante 2 anos fiz treino militar de instrução de judo no C.E.F.A., (Centro Educação Fisica Armada, Prof Kiyoshi Kobayashi) e várias vezes treinei luta com olhos vendados. Esta forma sempre me encantou e espantou por movimentos inconscientes inesperados e inexplicáveis de tomar posição de contra-golpe antes do golpe.
Quando acontecia, apesar de parar e tentar analisar o sucedido, nunca percebi porquê, nem como.

3 - Conclusão

O pensar Newtoniano é do tipo "sou corpo e espírito" e, segundo as crenças, ou morrem os dois (ateu) ou morre o corpo e o espírito fica vivo* (crente) e, neste caso, o seu destino (céu, inferno, re-encarnação, húris, etc)  depende das crenças religiosas optadas. 

(*-) Espírito vivo pós-morte é ilógico porque se fica vivo é porque não está morto e morto-vivo é uma impossibilidade lógica a não ser nas possibilidades quânticas de sobreposição de estados, ver
"Gato de Schrödinger"(clickar). 

O pensar Quântico é do tipo "sou energia e consciência", com os quantum's a constituir as células. Uns teóricos têm a posição tipo religioso de [consciência expressa em energia] e outros a posição tipo  ateu [energia expressa em consciência].
Num caso ou noutro, esquecendo teologia, a questão é a conexão quantum's-consciência* e, operacionalmente, talvez mais atractivo é saber se é (ou não) possível treinar e usar as possibilidades quânticas do corpo???

(*-) ver "The self-Aware Universe", Amit Goswami, Ph.D. (Univ. de Oregon, USA) e 
"The quantum self", Danah Zohar, Bloomsbury Publishing, Cap 5- Consciência e cérebro

Uma hipótese para esse treino parece ser as técnicas de Meditação (clickar), inseridas, ou não, em religiões.

Há vários métodos e processos, antigos e modernos, com e sem tecnologias, negócios ou crenças,  religiosos ou ateus nas diversas culturas mundiais, separadas ou unidas no espaço e no tempo desde a antiguidade até hoje. 

O estilo normal é a meditação transcendental, todavia também, menos vulgar, existe a meditação potenciação que pode ser definida como "ouvir-se a si próprio"* deixando que, em "roda livre", as associações fluam na consciência e sejam acompanhadas, estruturadas e "teaser" doutras associações a caminho de um todo.
Este EAC é vulgar em artistas, inventores, etc, que na fase criativa vivem noutra dimensão.

(*-) Não confundir com "falar consigo próprio" pois este tipo costuma ser "diálogo de surdos".

A meditação transcendental sob forma estruturada encontra-se na índia (centrada no Budismo, Hinduísmo e Jainismo), Japão (Budismo e Xintoísmo), China (Budismo, Taoismo, Confucionismo), Europa no Cristianismo em suas diferentes denominações, Islamismo, etc.

Fazendo a diferença religiosa entre rezar ("falando" com Deus) e meditar ("ouvindo" Deus) encontrei alguns métodos, possíveis de agrupar em 5 categorias:

1) coloquial 
2) peticionário 
3) ritualista 
4) meditativo 
5) sentimental (feeling)

este último, muito antigo, existe em religiosidades de profunda misticidade apresentando conexões com as técnicas de estimulação subjectiva que, na perspectiva de potenciação, não vejo diferença entre rezar e meditar, nem a nível de processos nem de resultados, nem sequer em suas técnicas ritualizadas, ordenadas e pormenorizadas.

Não considerando as dezenas de formas de rezar, encontrei 43 (deve haver mais) técnicas estruturadas de modos de meditar.

Pessoalmente, dessas 43 formas de "meditar energia" há duas que acho interessantes, a yoga e o Zhen Zhuang (Tai Chi). Na verdade, contradizem o estilo de treino muscular vulgarizado do tipo "investir para ter mais", paradigma em que andamos viciados.

O método muscular normal resume-se em investir [...gastar energia para ter mais energia] e a isso alcunha-se de treino.
Este treino tem 3 fases:

1ª fase - Com esforços em actividades gasta-se a energia existente, às vezes até à exaustão;

2ª fase - "Falidos" de energia precisa-se recuperar, com a fase do descanso na esperança que o retorno venha com lucro. Se não vier, então, o descanso tem que ser maior ou é preciso gastar mais energia em actividades de recuperação, por exemplo, correr devagarinho.

3ª fase - Repetir "eternamente" este ciclo ou, então, perder-se-á tudo o que se lucrou.

Em resumo, são ciclos viciosos de gasto (investimento)/recuperação (lucro)*.

(*-) Toda a sociedade está "virtuosamente viciada" neste paradigma como com o legalizado ciclo de trabalho-férias.

No campo da energia o método tem o seu contraditório na variável idade. O problema é que com o andar dos tempos, a recuperação lucrativa da energia precisa ser cada vez maior e com lucro cada vez menor:

aos 20 anos, numa noite, recupera-se com lucro a energia de correr 5 km, 
aos 60 anos com prejuízo recupera-se a energia de correr 1 km.

ou seja, cada vez há menos energia para investir e cada vez mais os retornos vêm com prejuízos*.

(*-) Investe-se no trabalho para poder descansar e usufruir da vida, "sonhando" mais tarde na reforma investir no descanso para usufruir não-morrer.

Sobre a vantagem deste modelo, falo por experiência pessoal pois investi com intensidade muitas horas por dia a gastar energia em treinos e depois muitas horas por dia a recuperar em descansos, "esquecendo-me" de viver outras coisas.
Sinto-me enganado e frustado, os "recuerdos" (por ex., eu voando entre dois trapézios) não substituem a bengala.

Coliseu dos Recreios, G.C.P., anos 60
Na verdade, na idade "avançada" sinto-me igual a todos os que preferiram viver e não investiram em treinos ginásticos de "ser jovem". Ao estilo brasileiro eu pergunto "cadê o investimento?".

Decidi não tornar a cair no mesmo buraco, a energia que tenho não a estrago a investir em energia!!!.
Pesquisando técnicas de treino que deixam os músculos quietos e descansados, encontrei um modelo que me parece mais inteligente. O treino é muscularmente sossegado, sem gasto energético, mas mentalmente muito activo, ao estilo psico-somático. 

Em vez de treinar músculos esquecendo neurónios optei por treinar neurónios esquecendo músculos, e, talvez mitificando, posso frasear [esqueci o mundo newtoniano e focalizei-me no mundo quântico].

Árvore sobrevivendo
O tema é simples "...é ser como uma árvore", a base do treino é [...estar em pé imóvel exactamente como uma árvore mas pensando (meditando)]. Na verdade, as árvores não treinam o corpo e envelhecem ficando jovens... [as árvores não ficam velhas, ficam antigas].

Anos atrás, descobri em Londres o "Stand Still" [to be like a tree] (Zhan Zhuang).
O Stand Still é ficar 20 minutos imóvel em pé pesquisando, com todos os sentidos, as centenas de sensações interiores do corpo, desde a gravidade até passear mentalmente pela pele do corpo, órgãos e funções.

Por exemplo, o vulgar respirar é sentir seus ritmos e formatos no inspirar, expirar e apneias ou, sem movimento, deslocar o centro de gravidade para a frente, trás, esquerda e direita dentro da base de sustentação* (área dos pés no chão).

(*-) Andar para a frente é deslocar o centro de gravidade para fora da base de sustentação (à frente dos pés) e, para não perder o equilíbrio, mover o pé para a frente dando um passo. para alargar a base de sustentação.
Andar para trás ou para os lados é deslocar o centro de gravidade e o pé nessa direcção.
Se embriagado perde-se o automatismo deste equilíbrio. 

No "Stand still" as regras são simples, equilíbrio (centro de gravidade na base sustentação), relaxação muscular (nunca tensão mas tonus), respiração (Zhuang), visualização interior (Neiguan), sensação corporal (estimulação subjectiva, quinestesia) e controlo pela sensação interior.  

Após o inicio, se ao fim de poucos minutos (2/3) a sensação corporal é de menos cansaço e há mais energia e predisposição (e não vontade) de continuar... deve-se continuar pois vive-se o "treino de ganhar energia sem gastar energia"*.
Se a continuação é por imposição da vontade, deve-se descansar e recomeçar pouco depois para impedir o treino da "penitência" a gastar energia*.

(*-) A sensação obtida é muito parecida com a do "duche de chi (energia)" do Tai Chi.

A sequência é:

1º- começa-se cansado;
2º- experimenta-se 2 minutos;
3º- se apetece... continua-se... 
4º- durante 10 a 50 minutos enquanto
      não aparece a vontade a substituir o "apetite"*
5º- acaba-se cheio de energia.

(*-) Na verdade, no emprego o trabalho é impulsionado pela vontade e nas férias (hobies, etc) é impulsionado pelo apetite. Segundo biografias, os criadores de arte (artistas) são "viciados" no seu trabalho... náo têm emprego só têm férias 😄😄😄.


Gato no gym, criando energia com Yoga
Para terminar,

A questão "Eu sou o quê?" arrasta-me para pesquisas sobre o chamado "anormal" ou "fora do normal" pois eles talvez sejam nuances do "normal quântico".

A triologia mente-emoção-fé poderá ser um portal para abrir essa pesquisa, assim comecei com:
  
- a mente com o "L'impossible arrive", do psiquiatra (USA) Stanislav Grof;
- a emoção com "Molecules of emotion", da fisiologista (Univ Georgetown) Candace Pert;
- a  com "The Biology of Belief", do biologista molecular (Univ. Wisconsin-Medicina) Bruce Lipton.

Espero que este esforço de criar nova energia sem estragar a energia existente possibilite na próxima Passagem de Ano festejar dançando o tango:
Parede, 27 Maio 2020

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Agora vou alugar as facas…

Um recuerdo encontrado em fichas antigas (anos 70/80)…

No fim dos anos setenta, era responsável pela gestão provisional dos recursos humanos da Lisnave (cerca de 10.000 empregados) passando muito tempo em reuniões, conversas informais, comentários avulsos, etc, com empregados, grupos, comissões, representantes, delegados, etc. 

Mais tarde, fui requisitado a tempo integral por alguns Ministérios como consultor de recursos humanos e formação. Quando estava no Ministério da Reforma Administrativa, fiquei “temporariamente”  a funcionar num prédio antigo algures na “velha” zona de Santos/C.Sodré. 

Sendo "fan", a meio da manhã pelas 11:30, de um café-duplo-e-bolo tornei-me cliente habitual de uma pequena pastelaria de bairro, "familiar" e gerida por marido e mulher, que na prática era um ponto de encontro dos “vizinhos” daquela área.

Era uma pausa agradável com conversas individuais partilhadas em grupo num ambiente informal. Não havia mesas nem cadeiras, todos ficavam mais ou menos acomodados ao balcão. Eu acabei por ser uma espécie de “estrangeiro” aceite no grupo de clientes habituais e assistindo às suas conversas "pessoais" na "teia da internet" oral da vizinhança.

Na verdade, ao fim de alguns dias já me sentia incluído, relaxado e disponível, participando como ouvinte activo naquele "ameaço pré-Net" de internet social ao estilo "boca-a-orelhas". 

Interessado, procurava descobrir se, na verdade, era uma rede saudável de relações de vizinhança ou uma espécie de “Big Brother” negativo e artesanal da vida do bairro. 
Na prática não sentia que fosse um tipo de "bisbilhotices de aldeia" de coscuvilhices ácidas e críticas, mas sim, uma troca de "news" (notícias novas) inter-amigos e enriquecedora das relações, bem afastada do estilo "pasquim" de tabeloides jornaleiros e televisivos.

Como sociólogo e “pesquisador” de grupos, ficava espantado como estas “conversas privadas” passeavam pelo ar. 

Obrigado profissionalmente, e habituado, a captar os sociogramas grupais, isto é, a vida imersa das redes afectivas grupais*, o ouvir este “saltitar” natural de comentários e opiniões, numa internet aberta, presencial e oral, era uma experiência nova.

*- Qualquer organização (ou grupo informal) tem sempre três planos de análise, Organograma: relações de poder formais e informais, isto é, quem depende de quem, Funciograma: relações input-output, isto é, quem faz o quê para quem, Sociograma: relações afectivas, isto é, quem se conecta positiva ou negativamente com quem.

Gerir uma simples reunião (seja coordenador ou simples assistente) obriga a gerir os três planos, podendo ser feito por três assistentes em equipa, um Interfere (age), outro Regista e outro Observa.
Por experiência pessoal, um simples assistente com uma boa equipa pode ser mais eficaz para gerir a obtenção de objectivo pré-determinado (não me refiro ao objectivo oficial) do que o gestor instituído.
Por exemplo, o objectivo oficial (gestor instituído): definir data tem como objectivo real (assistente inserido) o atrasar 15 dias essa marcação. 
Conclusão, o falhanço do gestor instituído fazer o objectivo oficial é na sua vitória em auxiliar o assistente inserido a realizar o objectivo real.
(Ver Manuais de Condução Estratégica de Reuniões)

Normalmente, nas reuniões, nas conversas informais ou comentários saltitantes em corredores, refeitórios, transportes, etc, se, por acaso, "caçava" alguma "dica" importante, tinha o hábito de NUNCA escrever registos mas apenas memorizar,
por isso, trazia sempre comigo uma carteira de fichas-post it’s (que ainda hoje uso) para registar a "dica" na primeira oportunidade. Se ela era longa e fundamental... então, uma ida ao WC resolvia a questão*.

*- Se almoçar (ou acompanhar) ministros, administradores, adversários, etc, nunca convém (😇😇) simultaneamente, escrever e comer (ou acompanhar). Se em reuniões, um profissional não regista as "dicas" no momento em que surgem mas sim tempos depois para não informar que isso foi importante.

Ao fim de algumas semanas de cliente da pastelaria, já em conversa com o dono, curioso, perguntei-lhe porque me tratava por “chefe”. Atrapalhado, perguntou se me ofendia, respondi que não mas gostava de saber porquê.
Respondeu-me que, como trabalhava para o Estado e aparecia para beber café dentro do horário de trabalho, devia ser chefe. Eu fiquei de “boca aberta” pois não me sentia tão "transparente" e pensei “tenho que escrever isto, estes “Big Brothers” funcionam bem”.

Mas ele continuou: “…e como dantes era chefe na Lisnave!!!”. Agora, a minha boca aberta já não se fechou, mas mesmo assim consegui perguntar como sabia.
- “Foi o Zé, que mora ali na travessa, que me disse”, respondeu ele e continuou, “…ele é comunista, trabalhou na Lisnave e viu-o em reuniões,… disse que era OK”.

Agora, para tirar notas quase que fui ao WC, mas não o fiz, todavia à saída encostei-me a um candeeiro e escrevi 2/3 post it's, principalmente sobre a pesquisa que devia fazer na Direcção Geral onde estava agora. 
Realmente estes “Big Brothers” artesanais funcionavam bem e, tempo depois, tive a prova real numa outra experiência.

Numa manhã entrou uma vizinha com a filha, o dono cumprimentou-as e deu os parabéns a ela e à filha pelo netinho que ia nascer. 
Agora fomos três a ficar de “boca aberta”... não se notava nada. A filha muito encarnada calou-se mas a mãe perguntou como sabia.

Então, ele e a mulher, brincando pois conheciam-na de miúda, quiseram primeiro dar-lhe um beijinho de parabéns e depois explicaram.
Tempos atrás, o avô conversando com amigos disse que gostaria muito de ter um neto e até daria uma festa só com a notícia.

Ora o Manel, dono do talho, há alguns dias atrás dissera que o avô fora ao talho comprar carne mas não quisera o habitual, mas sim mais quantidade e melhor por causa de uma jantarada de família.
A conclusão era óbvia, devia ser sobre o “neto a chegar”. 

Elas riram, confirmaram e, então, receberam parabéns de outros clientes e alguns até com um beijinho porque a "...conheciam desde miúda".

Espantado pensei que parecia uma familia alargada a festejar porque, depois delas sairem, a "festa" continuou. Comparei isto com familias reais onde depois da atitude de "alegria e parabéns", em poucos segundos, essa máscara cai e surge a máscara do "está dito e adeus". 

Ás vezes entretenho-me a medir quantos segundos levam a desaparecer os sorrisos e a alegria expressos e a ficar a cara verdadeira do "estou-me nas tintas"... por vezes isso é instantâneo. 

Como aprendi na cultura africana, o rir e a alegria estão no corpo todo e nunca desaparecem de repente, vão desaparecendo. Na cultura europeia ri-se com os músculos zigomáticos da cara, ao estilo liga-desliga do vendedor, e o corpo fica ausente da emoção.

Pensando sobre isto escrevi alguns post it's. Conclui que há diferenças entre “Big Brother” e “Brother BIG”.
O grupo da pastelaria tinha uma rede de relações-informações a circular entre todos ao estilo "família alargada", criando assim uma rede dominada por um NÓS que todos compartilhavam*, e transformavam um possível “Big Brother” em um real “Brother BIG”.

*- Tecnicamente, e sociologicamente, não convém confundir partilhar e compartilhar. O compartilhar contém o partilhar mas o partilhar não contém o compartilhar.
Se tenho um bolo posso partilhá-lo em pedaços iguais (ou diferentes) por três pessoas, mas se tenho um bolo, eu e três pessoas podemos compartilhá-lo em pedaços iguais (ou diferentes), ou seja, compartilhar significa que todos ficaram a usufruir da nova situação.

Segundo M. P. Follett, o compartilhar fica com a lei da situação a dominar todos os intervenientes. Dar esmola é partilhar dinheiro com o estilo “toma lá e ADEUS” pois quem dá e quem recebe não  ficam a usufruir a mesma situação.  
Dar dinheiro ao filho para comer gelado é partilhar dinheiro, mas ir comer gelados com o filho é compartilhar dinheiro.

Talvez uma história de “Brother Big” !!

Noutra manhã entrou um “estrangeiro”... mas desconhecido. 
Aproximou-se do balcão, pediu duas carcassas embrulhadas e, também embrulhados, 10 g de fiambre e 10 g de queijo flamengo. Quando tudo foi entregue, pediu um copo de água e perguntou quanto era, pagou.

Depois, pediu uma faca emprestada e lentamente tirou uma carcassa do embrulho e cortou-a ao meio, desembrulhou o fiambre e o queijo, colocou alguns bocados de cada um na carcassa já cortada e começou a comer a sandes-mista feita.

Na pastelaria as conversas pararam, o dono apoiou os cotovelos no balcão, pôs o queixo nas mãos e ficou a observar. Ninguém falava, todos olhavam cliente e dono.
Passados alguns minutos, acabou de comer, bebeu água, agradeceu, deu “Bons Dias” e foi-se embora.

No meio do silêncio criado, todos olhávamos o dono, esperando. Finalmente ele disse “Da próxima vez alugo a faca…” e começou a arrumar as chávenas de café, a mulher foi lá para dentro e os clientes habituais foram saindo...  eu também.

Curioso… fiquei nas redondezas mas nada aconteceu, quando entrou um cliente tudo ficou normal, por isso regressei ao trabalho pensando "...raisupartiça que tinha acontecido??? 
O que me espantou foi a reacção grupal, parecia sincronia de militares treinados.

Durantes dias andei à caça de migalhas informativas de um eventual "evento ou trauma" de conhecimento grupal que justificasse esta sintonia de comportamentos e atitudes do tipo "nada aconteceu" e "nada há para falar" quando era habitual conversar sobre as "coisas" que sucediam.

Posteriormente, fiquei à espera de conversas ou comentários sobre o assunto, mas tal não aconteceu e nunca me atrevi a lançar o tema.

Se tivesse que fazer uma reunião com uma comissão de moradores daquela área, era fundamental obter previamente esta informação, saber o máximo sobre os sociogramas existentes é indispensável. 
A raiz da atitude daquela comunidade “natural” devia ser uma raiz estruturante da teia “amigos de peito” (ver Prof Jorge Dias) que era tão comum no passado em Portugal, raiz essa assumida e nunca expressa nem ensinada mas aprendida por “respiração cultural".

Nunca consegui descobrir "o porquê" e acabei por passar para a DGAP no edifício da Av. 24 Julho e tudo ficou resumido a um recuerdo de... "Agora vou alugar facas..."