Translate

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Teste (?) "só pra espertos", ou talvez não


Como ponto de partida do turismo mental "Teste... ou talvez não!", considere-se um contínuo evolutivo em que as quatro etapas possuem graus intermédios (fraco, médio, superior):

em função da sua capacidade de leitura, i.é, de ser capaz de [...usar os significados obtidos através dos símbolos escritos (letras)...]. Assim:

1 - analfabeto - ser incapaz de traduzir e obter significados dos escritos pois para ele as letras são apenas riscos num papel;

2 - alfabeto - ser capaz de traduzir e perceber os significados expressos pelos escritos;
Alfabetizado-fraco lê mas não percebe frases complicadas. Por ex., lê bem a "Cartilha de João de Deus" mas não consegue ler frases grandes e com relações abstractas. O alfabetizado-superior consegue.

3 - letrado - ser capaz de traduzir e perceber significados concretos (ex., vaca, pombo, etc) e abstractos (ex., circunstância,  estrutura, etc) dos escritos e perceber significados das suas relações, i.é, frases (ex., as estruturas ósseas da vaca e do pombo não são iguais).

Os graus de letrado variam desde fraco a superior consoante a capacidade de uso da quantidade/qualidade dos significados percebidos e suas relações (frases).

4 - leitor - é um letrado mas com maior velocidade e capacidade de manipulação de significados e suas conexões quer quantitativas-qualitativas quer concretas e/ou abstractas. Normalmente tem métodos de leitura aperfeiçoados.

Letrados (médios, superiores) e leitores (fracos, médios, superiores) usam modos de ler mais eficazes, em particular diferem na focalização da atenção "esquecendo" letras, sílabas e até algumas palavras para se focar em certas palavras (skimming), grupos de palavras, parágrafos e páginas.

A variedade é grande desde o velho B-A-BA do soletrar, passando pelo Paulo Freire e outros, e chegando ao PhotoReading e ao (discutível?) HadoReading japonês[1]
Os "olhares" também variam, desde o velho deslizar horizontal ao longo das linhas até à visão global desfocada (fora do foco e dentro da profundidade de campo[2]), passando pela leitura em diagonal, em vertical (colunas de jornal) e selectiva (skimming), o ler adquiriu velocidades novas obrigando a escrita também a evoluir.  

[1] - "The Healing Power of Hado", Toyoko Matsuzaki (123 pag); "Drawing Out the Genius in Children-HadoReading", Ruiko Henmi e Hirotada Henri, (50 pag).
[2] - Estilo ver imagens 3D em desenhos 2D, ex., "Magic eye, a New way of looking at the world", N.E. Thing Enterprises.

É interessante ver a diferença entre um romance do passado, dos séc. XIX e XX, e um publicado agora. 
Comparando, por ex., Eça de Queiroz, Proust, etc, com os habituais parágrafos de meia página (ou mais?), e o recente 6º volume da saga Millennium (Ed. D. Quixote) com suas 380 páginas, agora com elevada percentagem de frases curtas, parágrafos pequenos e capítulos de estrutura reduzida, oferecendo referenciais de compreensão fáceis, a diferença é clara. Existem condições para leitura rápida o que seria dificil com parágrafos de página inteira ou mais.

Por experiência pessoal, sendo um leitor médio (por testes feitos), foi possível ler calmamente o 6º volume da saga Millennium (380 páginas) saboreando toda a história numa tarde e numa manhã (5 horas).


A - Fase analfabeto

Num analfabeto-medio, os olhos e o córtex saltitam de letra para letra construindo sílabas que procuram agregar entre si criando palavras e pesquisando seu significado.
Nesta fase é interessante às vezes vocalizarem a palavra lida mas não a reconhecerem apesar de a usar na linguagem normal. 
Em voz alta dizem várias vezes essa palavra desconhecida e, de repente, há um click mental e reconhecem-na como conhecida e habitual. Sempre fiquei feliz ao ver o seu espanto e a sua alegria, crianças chegam a bater palmas e adultos admiram-se por não terem percebido logo.
Exemplo:

Depois juntam palavras e constroem a frase que poderá "obrigar" (ou não) a alterar prévios significados para obter o significado global.  Dois exemplos:

porém:

que para um analfabeto-médio não fará qualquer sentido com o seu "fazer pedaços de casa". Realmente ler as letras não é ler, pois ler sem mergulhar no significado não é ler... é papaguear. 

Saber ler não é saber traduzir as letras em sons e em palavras, mas sim é saber "caçar" significados e criar ideia significativa

Isto significa que ler rápido não é ser rápido a traduzir a sequência de letras em palavras mas ser rápido a integrar os significados que elas trazem consigo e harmonizá-los compreensívelmente (Ver exemplo a seguir).

B - Fase alfabeto

Nesta fase os olhos saltam de palavra para palavra e integram os seus significados sem ter consciência das letras e das sílabas envolvidas, a leitura torna-se mais rápida. Exemplo:
Aqui a frase é clara e óbvia mas se usarmos a outra frase alternativa o jogo de significados fica com um bug pois casa não se parte:
Neste caso, um alfabetizado-fraco não percebe a leitura e conclui que partiu deve ter outro sentido e procura entender. Apoiado (ou não) acabará por "automatizar" ideia de saiu de casa.

A sua capacidade de leitura aumentou pois a palavra ficou agora com uma dupla ligação, alternativa (double bind) no significado e de futuro precisará ser decidida a escolha, pois [...ler são contínuas e constantes decisões no mundo dos significados...] e, paradoxalmente, quanto mais automáticas e não conscientes são as decisões mais consciente é a leitura.

PS - Ensinar a ler por robotização, matando e enfraquecendo as tomadas de decisão, é criar um alfabetizado com ódio à leitura. Ler é um jogo de descobrir (decidir) o que aqueles riscos significam e ter prazer e alegria em fazê-lo e o robotizado foi disso castrado.
O dilema social e educativo de pais e professores é que se "odeiam" a leitura "odeiam" os que leêm e querem ler... o argumento é velho "os livros destroiem a comunicação entre as pessoas"... e já agora o dormir também.

Em conclusão,
ler e dizer "partiu" não chega tem que se passar a outro nível. O cerne da questão não é vocalizar (física ou mental) o escrito partiu mas sim obter o seu significado.

O universo da leitura não é tradução de escritos é uma dança de significados nas ideias detonadas. Ensinar a ler é mais do que ensinar a traduzir os sinais escritos, é mergulhar nos significados e "nadar" no fluir de ideias que arrastam.

Ensinar uma criança a ler não é torná-la um papagaio reprodutor de sinais escritos, é dar-lhe a alegria de descobrir e [viver na imaginação] a "história" que por lá está escondida.
O diagnóstico é simples, basta parar, esperar ...e ela vai querer saber o resto da "história", i.é, o resto da leitura. Ensinar a ler não é empurrar para as palavras, é ajudá-la a perseguir o que as palavras escondem.

Versos, canções, poesias não são a habilidade de ritmar (sincopar) vocalizações, são a criação de uma "sinfonia" significativa e harmoniosa de significados através do "ballet" das palavras.

Um estrangeiro alfabetizado mas analfabeto em português (falado e escrito) terá este problema de entender a palavra partiu.
PS - Este é o problema das traduções. Num hotel em Londres deram-me um mapa da cidade traduzido para português e, na capa, a morada do Hotel era Quadrado Russell, nº?? (Russell Square). Achei uma informação interessante e lógica porque a praça realmente é um quadrado.

Quanto mais fôr alfabetizado mais a mudança de significado é automática e inconsciente. No exemplo "partiu de casa" o fez em pedaços nem surge na consciência, tudo se passa em automático.

C - Fase letrado

Se for um letrado que continua a ler o resto da frase,


por exigência das palavras seguintes, o significado de partiu, automáticamente, será percebido como fazer em pedaços e não como saiu.

A um letrado 9 "olhadelas" rápidas serão suficientes para fixar o significado correcto. Porém, um alfabeto-fraco precisará de olhar lentamente, e uma-por-uma, as 13 sílabas, agrupá-las em palavras e depois agrupar as palavras numa frase e, só então, poderá decidir que partir é fazer em pedaços e não sair.

D - Fase leitor

Por outro fim, um leitor e um letrado-superior capacitados para leitura de grupo-de-palavras, têm um processo ainda mais rápido pois em 3 rápidas olhadelas constroem o sentido:
Em conclusão,

um leitor treinado lê grupos de palavras enquanto um semi-alfabeto lê silabas e um letrado mediano lê palavras.
Portanto há maior probabilidade de um letrado ou leitor treinados terem dificuldade em detectar o errro por atenção desviada de detalhes assumidos e desprezados operacionalmente (perception blindness).

Pelo contrário um semi-alfabeto concentrado em sílabas ou palavras encontrará facilmente o errro em alguns segundos, dependendo da sua velocidade de leitura, considerando que a palavra errada está no fim da frase.

Como exemplo, os jornais com o seu design por colunas facilitam a leitura por linha e de "cima para baixo". O olhar "salta" do meio de uma linha para o meio da linha seguinte:
Sobre o teste
A apresentação do teste foi construída para "ajudar"😇😇😇 os letrados e os leitores treinados a lerem rápido através de duas "ajudas", o design e a escrita. 
Deste modo o errro sofreria de atenção desviada dos detalhes assumidos o que com leitura clássica não sucederia.
Quem não utilizasse leitura rápida, apesar do design proposto, teria maior facilidade na detecção do erro.

1 - Design
Comparando o design utilizado com uma possível alternativa de escrita clássica, ter-se-ia:


Parece claro que, por várias razões gráficas, a alternativa clássica faz o erro "gritar"... Estou aqui!!!
Além doutros factores, pelo menos a proximidade da solução ao problema-isco "errro:123456789" faz com que se olhar os números estará estar sempre a ver o erro.

2 - Escrita
Como óbvio o erro é a existência de um "r" a mais, e a questão é: - Como escondê-lo?

Como diz o aforismo, "A maneira simples de esconder um elefante é metê-lo no meio da manada", também a maneira simples para esconder o "r" é metê-lo no meio de "r"s.
Assim, reduzindo o espaço entre as letras, há várias hipóteses:


Conclusão,

Testes?? Sim, sim,... pois, pois,...

Sem comentários:

Enviar um comentário