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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Lágrimas de jacaré, Descartes e Brexit-Boris

(foto Frans de Waal)
No pensar, as ideias são como as cerejas [...puxa-se uma e muitas outras vêm atrás]. Desde que vi esta foto, ela não me larga, é uma espécie de pedra no sapato a incomodar-me e a arrastar outros incómodos. 

Sinto que o jacaré a trepar na rede tem algo escondido, mesclado com o "penso logo existo" do René Descartes, não por errado mas por distorcer compreensões.

O René me perdoe... mas realmente pensar não chega para existir. Na verdade, quem pensa parvoíces não significa que existe(*), i.é, "quanto mais parvoíces pensas mais existes" não me parece ser um corolário do pensar de Descartes. Anda por aqui um bug à solta.
(*) - Na política é possível, principalmente, se as  parvoíces que se disser os outros gostarem de ouvir.

A frase do Descartes deveria ter a sequência inversa "existo logo penso" pois não é o pensar que valida a existência mas a existência que valida o pensar(*).
(*) - O paradigma causa-consequência da Física Newtoniana na Fisica Quântica coexiste com o seu "gémeo" consequência-causa.


Por outro lado, a frase "penso logo existo" está ao estilo slogan, curta e memorável logo insuficiente, porém ao estilo auto-suficiente deveria especificar, por ex., dizendo "penso com a minha cabeça logo existo". 

Realmente, vê-se por aí muita gente a pensar com a cabeça do outro, é um estilo que se usa e abusa, por ex, obrigando à disciplina partidária. Esta alternativa obriga a pensar com a voz do dono (his Master voice) para criar unidade fictícia(*) com cópias standartizadas (clonagem mental??) em vez de originais não abúlicos.

(*) - Numa catástrofe todos ajudam e não há disciplina partidária. Sem disciplina partidária, a unidade consegue-se por cada um pensar com sua cabeça e sincronizarem-se. Líder é aquele que fomenta o sincronismo, ele surge e desaparece naturalmente sem campanhas nem eleições.

A base da disciplina partidária é obrigar a pensar com a cabeça do líder e não com a sua. Confunde-se obter unidade por obrigação (prisão) com obter unidade por adesão (liberdade)(*).

 (*) - Ou seja, pensar com a sua cabeça a mesma ideia que o líder pensa com a dele (cumplicidade*).


Explicitando, 
se os deputados pensarem com a sua cabeça (contrária à do líder) ficam a existir mas também, exactamente, por isso deixam de existir... são  expulsos.

A situação é estranha pois é uma espécie de sobreposição de Estados da Quântica em que o deputado por  pensar "existe como deputado do partido"(*) e ao mesmo tempo "deixa de existir como deputado do partido".

(*) - Se não pensam por si, não são deputados são apenas "bonecos certificados" pelo líder. Neste caso era mais "elegante" (gentleman??) só os lideres estarem presentes com procurações assinadas e legalizadas e os outros deputados irem passear com a família.

Numa palavra, é um dilema cujo antagonismo não tem solução e aqui talvez Shakespear dissesse "To be  AND not to be is the question" ao estilo da Quântica.

Para evitar este estranho e democrático quid pro quo poder-se-ia inverter a sequência da frase cartesiana e afirmar "existo logo penso" e então procurar solução a partir dele.  Foi esta a tentativa feita com a foto do jacaré.

O jacaré

Em simplex, as alternativas causa-consequência são:

A - "o jacaré pensa logo existe no cimo da rede" ou 
B - "o jacaré existe no cimo da rede logo pensa";

A diferença é que a primeira frase [A] é ambígua devido a ter causa indefinida, pois "pensa"... mas pensa o quê? Parvoíces? Macaqueia o pensar de outro? Vocaliza slogans por obediência? Decora sem sentido? etc.

Em contraste, a segunda frase [B] apresenta uma causa definida e concreta, i.é, existe cimo da rede.  Aliás esta é a lógica do pensamento científico. Porém, ele pode caminhar por dois trilhos diferentes, como, por ex., o Newton e o Einstein.

Em Newton, primeiro existe o evento e só depois surge o pensar significativo que o justifica. Quando ambos se harmonizam o evento passa a prova científica do pensar sobre ele.
Em Einstein (Teoria da Relatividade) ele faz o caminho inverso. Primeiro pensa a teoria (1915) e depois surge o evento (1919) apresentado então como prova científica do pensar.

Os dois processos, apesar de usarem sequências diferentes têm o mesmo factor gerador que é uma importante e indispensável "simbiose" de admiração e curiosidade.

Newton com nitida admiração e curiosidade
Durante milhares de anos, existiram milhões de maçãs a caírem por todo o lado, ninguém se preocupou e nunca passaram de simples e banal acidente.
No séc XVII a habitual queda da maçã incomodou Newton cuja admiração e curiosidade o fez entrar na História. 

O processo foi simples ele, curioso e admirado com o facto dela cair-para-baixo e não cair-para-cima, começou a pensar e descobriu a gravidade.
Ao unir os dois factos "realidade+pensamento" transformou a habitual queda da maçã em facto histórico na recém-nascida prova científica (1666) da gravidade.

Hoje, se um copo cai no chão e um balão sobe, ninguém se admira e por rotina pensam (se pensarem) que foi a gravidade. Só as crianças sentem ainda espanto de um cair e outro subir e perguntam porquê.

Ontem, o espanto foi meu. Uma criança de 4 anos, admirada, perguntou como é que a lua anda no céu se não tem pernas. A pergunta "científica" estava lá escondida no pedido de resposta(*).

(*) - Pergunta interessante pois iria encontrar a lei da gravitação universal (1687).

Sinto-me feliz por as crianças continuarem na vida como guardiões da curiosidade e da admiração e infeliz por os adultos perderem tudo isso nas certezas rotinadas do quotidiano.
Cada vez mais cedo, para os adultos o pôr-do-sol é apenas a certeza de já ser noite e só existe vivo se "matado" em fotografias e pinturas [...não tenho tempo para a minha filha mas em casa passo horas a ver fotografias...].

Ao mostrar um avião no céu espanto-me como as pessoas ficam impávidas e serenas e "explicam-no" sem admiração nem curiosidade com "... são descobertas da Ciência!!".
Na verdade  a "descobertas da Ciência" explica nicles e esconde o importante.

Entre a idade Média e hoje, muitas pessoas caminharam na imaginação e na curiosidade de pesquisar o voar com esforço e prazer e sem êxito.
Depois de esmiuçar o mais-leve-do-que-o-ar deram uma "cambalhota mental" e alguns loucos sem juízo começaram a esgravatar no mais-pesado-do-que-o-ar.

Adorava falar com estes primeiros "loucos" do mais-pesado-do-que-o-ar e saber o que, naquela época, lhes fez saltar os neurónios e aderir ao ilógico de subir por ser mais pesado.
Os deuses me ajudem, mas ver um avião é ver um "pacote" de curiosidades e admirações vividas, morridas  e revividas ao longo de séculos entre fracassos e êxitos e corporizadas, hoje, nesse avião lá no céu.

Em 6 de maio de 1896, Langley construiu o primeiro protótipo de aeronave mais pesada do que o ar. Então neste dia, houve prova científica que avião existe logo humano pensa se impulsionado por imaginação e curiosidade.

Repare-se no ar de expectativa e curiosidade
O jacaré parece ser um caso semelhante pois se existe (sobre a vedaçãologo pensa impulsionado por sua imaginação e curiosidade. Não creio que o jacaré o fez por instinto instalado no ADN pois seus antepassados não amarinhavam redes verticais e iam para o topo como comportamento vulgar.

Se pensarmos nas suas motivações de instintos básicos tais como sexo e comer, não creio que aqui funcione. Na verdade do outro lado da rede não existe UMA jacaré que atraia e o factor alimentação não é activado com ervas.

A hipótese obediência também pode ser excluída. A dependência do estilo manadas não é hábito da sua espécie nem ao pé dele existe um chefe-jacaré a dar ordens. A alternativa é o jacaré ser um independente, autónomo e motivado por projecto pessoal de subir a rede.

Ser independente e autónomo não levanta questões especiais, vide gatos independentes e autónomos por pré-programações no ADN, mas o projecto pessoal despertou a minha curiosidade e admiração: Porquê subir a rede vertical? Para quê?

Normalmente, uma mudança de comportamento reflecte um padrão instituído que integra informações do contexto num resultado pré-determinado. Um exemplo interessante são os corvos japoneses que constroem ninhos com cabides de metal, inovando assim o material de construção:


Então no caso do jacaré a pergunta a fazer seria saber qual o resultado pré-determinado no ADN e perseguido com a subida da rede. A resposta não é fácil.
A fotografia mostra um vazio quase igual de um e de outro lado da rede e só com duas pequenas diferenças. Do lado de lá (para onde quer ir) há uma floresta, de lado de cá (de onde quer sair) a relva está tratada.

Só resta fazer conjeturas.

O lado de cá tem relva tratada, é limitado por rede alta e vertical o que parece significar uma prisão VIP para jacaré. O lado de lá apresenta terreno maltratado e limitado por floresta o que pode significar ausência de "obrigações" e de controlos, portanto, possibilidade de autonomia e livre-decisões para o jacaré.

Nesta mesma situação, um gato escolheria subir pelos buracos da rede, saltar lá de cima para o chão e fugir. Simplesmente, o ADN, instintos e agilidade do jacaré põem esta solução fora de jogo. Subir será inovador mas saltar será suicídio.

O corpo do jacaré tem a flexibilidade de um tábua de engomar. Coitado do jacaré deve ser-lhe impossível dobrar o corpo como um gato e apoiar as patas de trás de um lado da rede e as patas da frente no outro lado.



Deste modo o ponto critico do jacaré centra-se na questão "passar para o outro lado". É possível ou não?

Na prática, passar a porta de uma casa pode ser para sair de casa fugindo da zaragata que lá está ou pode ser para entrar na rua correndo para a festa que lá existe. Talvez, por sorte, fazer os dois em simultâneo.

No caso do jacaré o ponto critico são os dois em simultâneo, i.é, sair da prisão e entrar na liberdade.

Portanto a questão é "conseguiu subir mas como sairá de lá?". Poderá no topo baloiçar" o corpo e cair para o outro lado?

Parece-me ser uma "missão impossível" tipo filmes Tom Cruise!

Conclusões sobre a fotografia

1 - Faltam fotografias do resto da história referentes ao "depois de estar lá em cima" mas logicamente pressente-se que o fim é triste.


2 - O jacaré ao subir a rede na vertical tem um comportamento inovador e moderno pois nos velhos tempos da pré-História não havia redes verticais para trepar logo teve que "inventar", daí o interesse da fotografia de Frans de Waal.

3 - Ao contrário dos corvos japoneses com seus ninhos de cabides metálicos, neste caso não parece existir padrão  instintivo prévio com o resultado a alcançar.

4 - Nos corvos japoneses a "exigência" de ninho pelos instintos base de alimentar e reproduzir, no jacaré não estão activos.

5 - Portanto, não sei se o cartesiano pensa-logo-existe é aplicável mas o existe-logo-pensa tem utilidade.
Na verdade, se ele está (existe) no cimo da rede logo decidiu subir, logo pensa utilizando informações do contexto sem ser por decisão cega-automática instintiva.

6 - Em resumo, o jacaré no topo da vedação existe logo pensa... mas pensa o quê?

7 - Considerando o paradigma existencialista(?!) de "o homem e sua circunstância" pode dizer-se que "o jacaré e sua circunstância" é um pensar do tipo abstracto e não concreto.
Ou seja, não se foca em resultados a obter, tipo comida, luta, fuga, etc, mas em ideias, princípios, sonhos... tipo sair daqui, ir para acolá, etc, energizados por "feelings" (estados emotivos) de não quero estar aqui.

Por analogia, é como se, para o jacaré, esta prisão de rede fosse uma espécie de muro de Berlim ou obrigações da disciplina partidária,.

Pessoalmente,

quando vi a fotografia de Frans de Waal fiquei contente pois sair-de-caixas instintivas ou culturais sempre me alegrou. 
A curiosidade e a imaginação são o sal da vida e penso que são inevitáveis e imprescindíveis apesar dos comentários negativos que andam por aí sobre a Eva, a maçã e a sua curiosidade(*).

(*) PS - E também inveja por não ser o homem a dar a trincadela na maçã e aprender o que a Eva aprendeu.

Todavia sentia que algo estava errado, faltava o resto da história e isso provocava-me insónias positivas(*).
(*) - Quando não durmo, o sono foge e fico a pensar e escrever no sossego. Depois durmo quando me apetece como fazem cães e gatos (espertalhões).

Em termos lógicos, o resto da história parece ser o coitado do jacaré ter desistido de dobrar o corpo para passar para o outro lado e abandonado o sonho. Como consequência apoiou-se na cauda ainda no chão, escorregou para baixo e regressou ao inicio, à prisão.
Resta-lhe agora, dentro da prisão, olhar triste pelos buracos da rede... e sonhar com o andar em liberdade.

Os carcereiros ganharam!!!

PS - Afinal às vezes, lágrimas de crocodilo (Otelo, Shakespear) são verdadeiras!!!


segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Teste (?) "só pra espertos", ou talvez não


Como ponto de partida do turismo mental "Teste... ou talvez não!", considere-se um contínuo evolutivo em que as quatro etapas possuem graus intermédios (fraco, médio, superior):

em função da sua capacidade de leitura, i.é, de ser capaz de [...usar os significados obtidos através dos símbolos escritos (letras)...]. Assim:

1 - analfabeto - ser incapaz de traduzir e obter significados dos escritos pois para ele as letras são apenas riscos num papel;

2 - alfabeto - ser capaz de traduzir e perceber os significados expressos pelos escritos;
Alfabetizado-fraco lê mas não percebe frases complicadas. Por ex., lê bem a "Cartilha de João de Deus" mas não consegue ler frases grandes e com relações abstractas. O alfabetizado-superior consegue.

3 - letrado - ser capaz de traduzir e perceber significados concretos (ex., vaca, pombo, etc) e abstractos (ex., circunstância,  estrutura, etc) dos escritos e perceber significados das suas relações, i.é, frases (ex., as estruturas ósseas da vaca e do pombo não são iguais).

Os graus de letrado variam desde fraco a superior consoante a capacidade de uso da quantidade/qualidade dos significados percebidos e suas relações (frases).

4 - leitor - é um letrado mas com maior velocidade e capacidade de manipulação de significados e suas conexões quer quantitativas-qualitativas quer concretas e/ou abstractas. Normalmente tem métodos de leitura aperfeiçoados.

Letrados (médios, superiores) e leitores (fracos, médios, superiores) usam modos de ler mais eficazes, em particular diferem na focalização da atenção "esquecendo" letras, sílabas e até algumas palavras para se focar em certas palavras (skimming), grupos de palavras, parágrafos e páginas.

A variedade é grande desde o velho B-A-BA do soletrar, passando pelo Paulo Freire e outros, e chegando ao PhotoReading e ao (discutível?) HadoReading japonês[1]
Os "olhares" também variam, desde o velho deslizar horizontal ao longo das linhas até à visão global desfocada (fora do foco e dentro da profundidade de campo[2]), passando pela leitura em diagonal, em vertical (colunas de jornal) e selectiva (skimming), o ler adquiriu velocidades novas obrigando a escrita também a evoluir.  

[1] - "The Healing Power of Hado", Toyoko Matsuzaki (123 pag); "Drawing Out the Genius in Children-HadoReading", Ruiko Henmi e Hirotada Henri, (50 pag).
[2] - Estilo ver imagens 3D em desenhos 2D, ex., "Magic eye, a New way of looking at the world", N.E. Thing Enterprises.

É interessante ver a diferença entre um romance do passado, dos séc. XIX e XX, e um publicado agora. 
Comparando, por ex., Eça de Queiroz, Proust, etc, com os habituais parágrafos de meia página (ou mais?), e o recente 6º volume da saga Millennium (Ed. D. Quixote) com suas 380 páginas, agora com elevada percentagem de frases curtas, parágrafos pequenos e capítulos de estrutura reduzida, oferecendo referenciais de compreensão fáceis, a diferença é clara. Existem condições para leitura rápida o que seria dificil com parágrafos de página inteira ou mais.

Por experiência pessoal, sendo um leitor médio (por testes feitos), foi possível ler calmamente o 6º volume da saga Millennium (380 páginas) saboreando toda a história numa tarde e numa manhã (5 horas).


A - Fase analfabeto

Num analfabeto-medio, os olhos e o córtex saltitam de letra para letra construindo sílabas que procuram agregar entre si criando palavras e pesquisando seu significado.
Nesta fase é interessante às vezes vocalizarem a palavra lida mas não a reconhecerem apesar de a usar na linguagem normal. 
Em voz alta dizem várias vezes essa palavra desconhecida e, de repente, há um click mental e reconhecem-na como conhecida e habitual. Sempre fiquei feliz ao ver o seu espanto e a sua alegria, crianças chegam a bater palmas e adultos admiram-se por não terem percebido logo.
Exemplo:

Depois juntam palavras e constroem a frase que poderá "obrigar" (ou não) a alterar prévios significados para obter o significado global.  Dois exemplos:

porém:

que para um analfabeto-médio não fará qualquer sentido com o seu "fazer pedaços de casa". Realmente ler as letras não é ler, pois ler sem mergulhar no significado não é ler... é papaguear. 

Saber ler não é saber traduzir as letras em sons e em palavras, mas sim é saber "caçar" significados e criar ideia significativa

Isto significa que ler rápido não é ser rápido a traduzir a sequência de letras em palavras mas ser rápido a integrar os significados que elas trazem consigo e harmonizá-los compreensívelmente (Ver exemplo a seguir).

B - Fase alfabeto

Nesta fase os olhos saltam de palavra para palavra e integram os seus significados sem ter consciência das letras e das sílabas envolvidas, a leitura torna-se mais rápida. Exemplo:
Aqui a frase é clara e óbvia mas se usarmos a outra frase alternativa o jogo de significados fica com um bug pois casa não se parte:
Neste caso, um alfabetizado-fraco não percebe a leitura e conclui que partiu deve ter outro sentido e procura entender. Apoiado (ou não) acabará por "automatizar" ideia de saiu de casa.

A sua capacidade de leitura aumentou pois a palavra ficou agora com uma dupla ligação, alternativa (double bind) no significado e de futuro precisará ser decidida a escolha, pois [...ler são contínuas e constantes decisões no mundo dos significados...] e, paradoxalmente, quanto mais automáticas e não conscientes são as decisões mais consciente é a leitura.

PS - Ensinar a ler por robotização, matando e enfraquecendo as tomadas de decisão, é criar um alfabetizado com ódio à leitura. Ler é um jogo de descobrir (decidir) o que aqueles riscos significam e ter prazer e alegria em fazê-lo e o robotizado foi disso castrado.
O dilema social e educativo de pais e professores é que se "odeiam" a leitura "odeiam" os que leêm e querem ler... o argumento é velho "os livros destroiem a comunicação entre as pessoas"... e já agora o dormir também.

Em conclusão,
ler e dizer "partiu" não chega tem que se passar a outro nível. O cerne da questão não é vocalizar (física ou mental) o escrito partiu mas sim obter o seu significado.

O universo da leitura não é tradução de escritos é uma dança de significados nas ideias detonadas. Ensinar a ler é mais do que ensinar a traduzir os sinais escritos, é mergulhar nos significados e "nadar" no fluir de ideias que arrastam.

Ensinar uma criança a ler não é torná-la um papagaio reprodutor de sinais escritos, é dar-lhe a alegria de descobrir e [viver na imaginação] a "história" que por lá está escondida.
O diagnóstico é simples, basta parar, esperar ...e ela vai querer saber o resto da "história", i.é, o resto da leitura. Ensinar a ler não é empurrar para as palavras, é ajudá-la a perseguir o que as palavras escondem.

Versos, canções, poesias não são a habilidade de ritmar (sincopar) vocalizações, são a criação de uma "sinfonia" significativa e harmoniosa de significados através do "ballet" das palavras.

Um estrangeiro alfabetizado mas analfabeto em português (falado e escrito) terá este problema de entender a palavra partiu.
PS - Este é o problema das traduções. Num hotel em Londres deram-me um mapa da cidade traduzido para português e, na capa, a morada do Hotel era Quadrado Russell, nº?? (Russell Square). Achei uma informação interessante e lógica porque a praça realmente é um quadrado.

Quanto mais fôr alfabetizado mais a mudança de significado é automática e inconsciente. No exemplo "partiu de casa" o fez em pedaços nem surge na consciência, tudo se passa em automático.

C - Fase letrado

Se for um letrado que continua a ler o resto da frase,


por exigência das palavras seguintes, o significado de partiu, automáticamente, será percebido como fazer em pedaços e não como saiu.

A um letrado 9 "olhadelas" rápidas serão suficientes para fixar o significado correcto. Porém, um alfabeto-fraco precisará de olhar lentamente, e uma-por-uma, as 13 sílabas, agrupá-las em palavras e depois agrupar as palavras numa frase e, só então, poderá decidir que partir é fazer em pedaços e não sair.

D - Fase leitor

Por outro fim, um leitor e um letrado-superior capacitados para leitura de grupo-de-palavras, têm um processo ainda mais rápido pois em 3 rápidas olhadelas constroem o sentido:
Em conclusão,

um leitor treinado lê grupos de palavras enquanto um semi-alfabeto lê silabas e um letrado mediano lê palavras.
Portanto há maior probabilidade de um letrado ou leitor treinados terem dificuldade em detectar o errro por atenção desviada de detalhes assumidos e desprezados operacionalmente (perception blindness).

Pelo contrário um semi-alfabeto concentrado em sílabas ou palavras encontrará facilmente o errro em alguns segundos, dependendo da sua velocidade de leitura, considerando que a palavra errada está no fim da frase.

Como exemplo, os jornais com o seu design por colunas facilitam a leitura por linha e de "cima para baixo". O olhar "salta" do meio de uma linha para o meio da linha seguinte:
Sobre o teste
A apresentação do teste foi construída para "ajudar"😇😇😇 os letrados e os leitores treinados a lerem rápido através de duas "ajudas", o design e a escrita. 
Deste modo o errro sofreria de atenção desviada dos detalhes assumidos o que com leitura clássica não sucederia.
Quem não utilizasse leitura rápida, apesar do design proposto, teria maior facilidade na detecção do erro.

1 - Design
Comparando o design utilizado com uma possível alternativa de escrita clássica, ter-se-ia:


Parece claro que, por várias razões gráficas, a alternativa clássica faz o erro "gritar"... Estou aqui!!!
Além doutros factores, pelo menos a proximidade da solução ao problema-isco "errro:123456789" faz com que se olhar os números estará estar sempre a ver o erro.

2 - Escrita
Como óbvio o erro é a existência de um "r" a mais, e a questão é: - Como escondê-lo?

Como diz o aforismo, "A maneira simples de esconder um elefante é metê-lo no meio da manada", também a maneira simples para esconder o "r" é metê-lo no meio de "r"s.
Assim, reduzindo o espaço entre as letras, há várias hipóteses:


Conclusão,

Testes?? Sim, sim,... pois, pois,...