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sexta-feira, 20 de março de 2015

A liderança desafiante

A vida nasce imatura e "amadurece" cá fora,
chama-se crescer e desenvolver.


Nalgumas espécies o "amadurecimento" é curto e rápido,
noutras é longo e lento.
Na espécie humana a imaturidade existe até morrer,
chama-se ter novas ideias, aprender e mudar.

Na prática, tudo isto:

nasceu nas (e das) imaturas novas ideias de muitos.

A civilização existe quando vivemos com as ideias de outros acrescentando complexidade. Não há limites, as suas possibilidades são infindas e as soluções são sempre um aglomerado de muitas ideias que provocam micro soluções, cujo conjunto é a SOLUÇÃO:


Este processo de ter muitas micro-soluções integradas e adaptadas ao problema obriga a haver muitos "micro" inventores a colaborar entre si, num sistema de interdependência. A situação que possibilita e potencia esse resultado constitui o "Scenius" ou "Genius Colectivo" tornado necessário pela complexidade de hoje, bem longe do auto-suficiente e eremita lider-inventor solitário, dono e criador de soluções.

O principio base é que todos temos "relâmpagos de génio" e a civilização é o que permite integrar rentavelmente esses "relâmpagos" individuais numa "luz colectiva".

Na verdade, a diferença entre Leonard da Vinci e Vietti-Teppa é uma questão de Scenius, isto é, no tempo de Leonardo da Vinci ainda não existia o resto dos inventores necessários para complementar a complexidade, por exemplo, a nível do material necessário:


O equipamento usado por Vietti-Teppa (Suiça) pesava 12 kg, mas uma tentativa feita no ano 2.000 por Adrian Nicholas (UK) pesava 85 kg, podemos imaginar quanto pesaria em 1843. O Scenius da época ainda estava demasiado imaturo para a ideia ser concretizável, faltavam "inspirações" de invenções de outros inventores.

Hoje, na complexidade actual, Liderar não é "Zombiar", isto é, estabelecer uma visão e impulsionar outros a segui-la, alternativa que poderá funcionar quando o problema-solução é conhecido e com baixa complexidade na sua aplicação.
Porém quando isso não acontece, isto é, quando não há solução prévia, quando é preciso criar uma alternativa nova, o óbvio de estabelecer a solução e "vender" a sua execução não é nada óbvio.
A execução vai exigir condições novas, "inspirações" de criatividade para micro-soluções que obrigam a reformular, alterar e talvez recusar a solução inicial.

A questão não é de impulsionar a cumprir a solução, mas de inspirar a comunidade a colocar em comum as suas "inspirações" pessoais de génio, colaborar e não conflituar na sua integração de modo a fazer nascer a nova alternativa. É um processo de Scenius e não de Génius.

Numa analogia teatral, não é uma questão de protagonismo no palco do "actor principal", mas sim de se criar nos bastidores as condições para todos quererem, poderem e terem boas representações no palco.

O exemplo mais flagrante desta realidade é a Pixar, sendo Ed Catmull o fazedor destes bastidores e todos os outros 250/300 participantes da comunidade serem os "actores principais".
A função de Ed Catmull como responsável é contornar e evitar tensões, positivar conflitos e unir diferentes opções, clarificar testes, consequências, riscos e vantagens de propostas, maturar as decisões parciais num todo coerente, etc.
Em síntese, Ed Catmull é o "ministro" da CDD" (Colaboração, Descoberta de aprendizagens, Decisão consensual) ou, por outras palavras, é o "ministro" das "Inter-acções positivas entre as diferenças", cujo funciograma de re-adaptação constante para construção de um filme é o seguinte:


Na verdade a civilização é um pêndulo que oscila entre:


Antigamente o normal era "fazer o que sempre se fez" e a excepção era "fazer o que nunca se fez AQUI". Quer isto dizer quer as reais novidades tinham sempre nascido em locais "controlados" por maturidades diferentes (ex., China e Europa), aí experimentados e depois importados por quem tinha disso uma VISÃO prévia. Esse era o lider, a visão era sua e motivava os outros a seguirem-na.
Problemas e crises eram resolvidos pelos lideres de visão, ou seja, pelos que viam as soluções.

Hoje, a complexidade é grande e não há locais isolados, por outro lado a situação inverteu-se, o normal é "fazer o que nunca se fez aqui ou noutro lado" e a excepção é "fazer o que sempre se fez". Verifica-se uma mudança constante, rápida e intensa e os problemas resultam, exactamente, de tudo ser diferente e se fazer o que sempre se fez.
As soluções ditas "normais" deixaram de fazer parte das soluções e passaram a fazer parte do problema, pois não só não resolvem como o aumentam. A História tem muitos exemplos deste "quid pro quo", por exemplo, na situação actual a austeridade faz parte da solução à crise ou parte do problema da crise? E se faz parte do problema da crise ela é solução para quem e para que problema.

Viver  é passear no contínuo do que "que já se fez" até ao "que ainda não se fez" nunca permitindo que acabem os sonhos, ou seja, o mundo do ... "que ainda não se fez" e onde se vai ser imaturo.


[Ver também 
"Innovate the Pixar Way: Business Lessons from the World's Most Creative Corporate Playground", Bill Capodagli, Lynn Jackson.
Pinçamentos: "LabThink - locais de pensar para sair de crises" clickar.
Pinçamentos: "LabThink: aprender a estudar para jovens" clickar.]


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