Cheguei, toquei à campainha na porta exterior e o cão começou a ladrar.
Abriram a porta, entrei, fechei a porta e, entretanto, a porta de casa abriu-se e o cão saiu a correr aos saltos e ladradelas e, tudo intervalado de lambidelas, deu-me as boas-vindas.
De repente na casa ao lado, por cima do muro, outro cão começou a ladrar.
As boas-vindas pararam, virou-se para lá e ladrou também, mas num tom diferente, e depois voltou às boas-vindas.
Esta cena repetiu-se mais 2 vezes e o outro cão calou-se.
Entretanto este acalmou-se e, entre abanadelas de cauda, entrámos em casa.
Fiquei a pensar, -" Mas a que raio ...#&#@!!.#... de conversa de ladradelas eu estive a assistir...??"
Em casa, conversando sobre isso, fiquei a saber que é normal quando tocam a campainha na porta exterior e abrem a porta de casa para ele sair, pela mudança de ladrar sabem se a pessoa que está na rua é conhecida ou não.
Parece-me lógico!!!
O ladrar é a consequência da recepção de um sinal exterior, portanto não é de estranhar que as características do significado desse sinal influenciem as características do ladrar provocado.
Lembrei-me que quando num país estranho e desconhecendo a língua, se bater à porta de uma casa só pelo som das palavras ditas em resposta é possível calcular se a seguir virá um sorriso ou uma panela de sopa atirada com força.
Então parece que para entender uma conversa existem duas vias complementares, uma é entender a forma mesmo desconhecendo a língua e a outra é entender o conteúdo ao reconhecer as palavras.
Quando em Inglaterra, recordo-me de alguns amigos que, não sabendo falar português, me diziam que lhes parecia que o português era sempre o mesmo som com ligeiras variantes.
É interessante porque na altura comecei a reparar que os diplomatas estrangeiros quando na TV falavam português normalmente falavam brasileiro. Parece que a diferença estava em que o brasileiro tem muitas vogais abertas (tónicas??) e o português baixa as vogais (átonas??), obrigando a ter um ouvido treinado nesse estilo "hipo-tónico".
Verdade ou mentira quando nós, os portugueses, queríamos falar sem ser entendidos por estrangeiros que sabiam português, falávamos sempre um português contínuo e monótono sem tónicas... e funcionava. Depois pedíamos desculpa e dizia-se a frase em inglês.
Na prática era um processo simples de impedir compreensão através do entendimento da palavra-som.
O meu Projecto, no caso dos cães, é:
A - quando os ouvir ladrar uns para os outros ou para estranhos, vou tentar ver se reconheço diferenças de forma e procurar entender conteúdos mesmo sem saber as palavras dessa "língua".
Ficarei muito contente se, não entendendo o que dizem, pelo menos entendo que dizem "coisas" diferentes e ficar a saber se entram, ou não, em "disco rachado" [...Obs: é a técnica de quando numa conversa-conflito se repete sempre a mesma frase ou ideia, por "vidrado" nelas...].
B - no que respeita ao conteúdo vou tentar usar a vulgar técnica de imitar os seus sons (usada por ex., no caso de caçadores) e quando encontrar um cão desconhecido vou tentar ladrar e ver o que ele faz. Quando estatisticamente conseguir unir um som e uma acção terei uma possível palavra de cãozês.
PS - Se o cão consegue entender o significado do som das minhas palavras ("reagindo") também devo ser capaz de entender o som das "palavras" dele... dizem que somos mais inteligentes do que eles... ou não somos???
PS - Espero que, sem o saber, o meu ladrar não seja uma ofensa e ainda apanhe uma mordidela, mas isto são os riscos das "experiências cientificas".
PS - Se o cão consegue entender o significado do som das minhas palavras ("reagindo") também devo ser capaz de entender o som das "palavras" dele... dizem que somos mais inteligentes do que eles... ou não somos???
PS - Espero que, sem o saber, o meu ladrar não seja uma ofensa e ainda apanhe uma mordidela, mas isto são os riscos das "experiências cientificas".
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