Segundo estudos feitos, os seres humanos têm trinta três medos muito vulgares e em que os dez primeiros são:
01. Medo de
Procurando um padrão, e referenciando-me à Social Cognitive Neuroscience, penso que se podem agrupar no medo orgânico de morrer/ficar ferido (01, 03, 04, 06, 09), isto é, referente à sobrevivência no corpo e conectado com a dor física, e o medo social (02, 05, 07, 08, 10) referente à sobrevivência no grupo e conectado com a dor social.
Apesar de Maslow considerar a necessidade fisiológica como a base da pirâmide das necessidades e sobre a qual todas se apoiam:
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Hierarquia das Necessidades de Maslow (original) |
talvez haja necessidade de construir outra perspectiva, pois
após o nascimento, e num período curto ou longo, quer com bolsa marsupial ou directamente no grupo, quase todos os recém-nascidos precisam de algum tempo num útero social onde acabem de maturar para poder passar a sobreviver autónomos.
Assim, a necessidade social antecede a sobrevivência física.
Realmente, se essa necessidade social para se alimentar e/ou proteger (safety) não é realizada, a necessidade fisiológica não é necessária porque entretanto o vivente já morreu.
Assim, parece haver um "bug" na pirâmide das necessidades de Maslow pois é o social que suporta os níveis superiores :
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Hierarquia das Necessidades de Maslow (reformulada) |
Olhando para a lista das 10 primeiras necessidades mais vulgares, é interessante o medo de falar em público se encontrar em 2º lugar, logo a seguir ao medo de desastre grave (morrer)... porém parece-me existir aqui um certo mistério.
Na verdade, a não ser que
o indivíduo fale sozinho
ou para o espelho,
falar é sempre feito em público..!!!!
Assim, quando se dão conselhos de, para não ter medo de falar em público, ser preciso treinar falando sozinho e/ou com um espelho [conselho seguido por muitos jovens e adultos] é como querer ensinar a nadar fora de água.
Exemplo da Técnica científica (???) de aprender a nadar sem água:
Repare-se na correcta posição de braços, pernas e principalmente mãos no estilo "crawl".
Porém, apesar de nadar no banco poder ser divertido e fazer ginástica, não é nadar pois falta a água e o seu necessário "controlo respiratório e flutuabilidade" base da natação.
PS - O cão não sabe crawl nem bruços e consegue nadar... e os bebés também.
Do mesmo modo, treinar o "falar em público" ao espelho também pode ser divertido e ginasticar as cordas vocais, mas é "perigoso" pois focaliza o indivíduo em si próprio e no discurso e "falar em público" é centrar-se na audiência.
Por outro lado, centrar-se no "discurso", como na representação teatral centrada no personagem e no drama, também é um desvio"perigoso" pois não me parece que ter aulas de teatro para melhorar a conversa com os filhos e cônjuge tenha qualquer resultado.
Um exemplo...
No Café, 2 casais de reformados conversam muito implicados.
Cada um falava para um público de três pessoas e nenhum deles sentia qualquer medo de falar em público e não me parece que tivessem treinado ao espelho, em casa.
Chegou uma amiga com duas pessoas desconhecidas que apresentou, juntaram-se mesas e a conversa fluiu num público de 4 conhecidos e 2 desconhecidos. Nada se alterou, a conversa dançava entre todos e o medo de falar em público não apareceu.
O interessante é que não conversavam todos da mesma maneira, uns usavam mais a vocalização e outros apenas sinais não verbais, mas todos participavam.
De repente percebi que quem vocalizava gastava mais de 50% do seu esforço, não nas palavras que dizia, mas sim, nas reacções que obtinha do grupo e nas reacções que dava ao grupo.
O jogo da conversa não era o que se dizia, o jogo era a dança relacional que provocava no grupo, fosse este de conhecidos ou de desconhecidos.
Uhau!!!...
apesar de não ouvir as palavras [estava de um lado do vidro e eles do outro lado, na esplanada] mergulhei na conversa "apanhado", não pelo tema, mas pela teia relacional.
Por duas vezes, quando já estava"farto" de ver [e não de ouvir] uma pessoa a falar, ela calava-se e outra pegava na deixa. Depois percebi que a teia relacional lhe tinha dado sinais para isso, porque um bebeu água e olhou para fora, outra falou para o lado, uma terceira mudou de inclinação na cadeira e... a "palestrante" percebeu que o seu tempo tinha chegado ao fim.
Esta autonomia cheia de sabedoria grupal deixou-me espantado. Nunca tinha percebido com tanta nitidez que uma conversa é basicamente um "encaixe grupal", uma "dança relacional" a suportar uma circulação de palavras e não o contrário.
Em esquema Maslow-viano há duas alternativas, o modelo clássico coloca o cognitivo a suportar o social e o modelo neoclássico coloca o social a suportar o cognitivo:
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Clássico & neoclássico |
Não considerando as técnicas de representação teatral no "falar em público", no modelo clássico o mais vulgar é utilizar uma leitura de boa entoação e expressão esquecendo a audiência, tipo plateia escurecida do teatro.
É o estilo de alguns conferencistas que se limitam a ler ou papaguear o que decoraram, mas se esse formato fosse usado num grupo de amigos... em poucos minutos estariam a falar sozinhos.
No outro extremo, no neoclássico, aparecem conferencistas ao estilo circense com contínuas propostas relacionais intervaladas com conteúdos de "banalidades de base", fait divers, ditados e afirmações de senso comum tipo La Palisse. Sem um "vinhito" à mistura, nenhum grupo de amigos sobrevive muito tempo, é o chamado estilo "porreiraço".
"Fugindo" a estes dois estilos há várias propostas possíveis, como por exemplo, a nível do "conteúdo" uma solução é procurar o seu domínio, não pela memorização de textos mas, pela memorização de pontos-chave e estrutura. Nesta perspectiva o uso de "mapas mentais" é um bom suporte.
No outro nível de gerir a "dança relacional", uma solução para treino inícial é ter uma ou duas pessoas na assistência e falar para elas, mantendo assim uma "dança relacional privada" que se torna pública e dá segurança.
Um truque muito usado por políticos é fixar dois (ou mais) desconhecidos, à priori um identificado "contra" e outro "a favor" do conteúdo do discurso e, atento às suas reacções, procurar controlar-gerir a dança relacional que está criando, aproveitando os "altos e baixos" das suas reacções.
Como conclusão,
[...falar em público é como contar a um grupo de amigos
uma história sobre o tema em que está falando...]
e isto todos nós sabemos fazer sem medo e com alegria.