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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

3 segredos que todos sabem


Desde o nascimento até à morte, a vida é vivida indo ao mundo do...

"NÃO SEI": ...andar...ler...jogar futebol...namorar...nadar...dançar…patinar…guiar...

para trazer o saber desejado para o mundo do...

"JÁ SEI": ...andar...ler...jogar futebol...namorar...nadar...dançar...patinar…guiar…

Simplesmente, estes dois mundos estão separados por um precipício, umas vezes grande, outras vezes pequeno, que é preciso atravessar.



Todos vamos lá várias vezes, uns com visitas mais frequentes que outros, uns com mais êxitos que outros. Porém, com maior ou menor sucesso todos continuam a tentar, não só porque gostam de o fazer, como ficam felizes quando o conseguem.
Além disso, também gostamos de ajudar os outros a fazê-lo: 
- "Olá, já sabe a novidade ?" 
… e deste modo o que não se sabe fica-se a saber.
Depois, a conversa flui e marcam-se encontros para novo conversar.

Mas conversar é exactamente trocar saberes, é tirar o outro da ignorância, pois desde pequenos que a nossa vida é sair do "NÃO SEI" e passar para o "JÁ SEI": 


e assim continua até morrer...

A bisbilhotice da Ti Jaquina, a investigação do policia, o diagnóstico do psicanalista, a curiosidade dos namorados, a desconfiança dos casados, a pesquisa do cientista, o interrogatório do juiz, as sondagens dos conhecidos,… é tudo o mesmo, são apenas palavras diferentes para o mesmo objectivo, SABER O QUE NÃO SE SABE.
A principal leitmotiv da vida é saber o desconhecido. 

Uma adivinha:
Qual é a semelhança entre um cão que vai à rua e o dono que vai ver o telejornal ?

É que ambos vão tentar saber o que não sabem. 
Pelo cheiro, os cães tentam conhecer o que aconteceu no seu território (as novidades) e o dono, pelo telejornal,  tenta saber o que há de novo no exterior. 
Em resumo, ambos atravessam o precipício indo buscar ao "NÃO SEI" material para o "SEI". 


Assim, aparece o primeiro segredo que todos sabem:
Viver é passar constantemente do "NÃO SEI" para o "JÁ SEI".
Se esta transformação pára, deixa de se viver apenas se vegeta.



O problema é que, a separar estas duas áreas, há precipícios grandes e precipicios pequenos e a técnica é sempre a mesma, isto é, tem que se usar uma ponte para atravessar. 
Se a ponte não presta, ou se foi "escangalhada", não se consegue alcançar o lado do "NÃO SEI". 


Essa ponte chama-se APRENDER.

Como é lógico a ponte tem que começar no lado em que se está. Portanto, qualquer aprendizagem tem que começar pelo que já se sabe e "não por aquilo que quem ensina sabe e ele não sabe" porque não se pode construir uma ponte começando pelo sítio em que não se está.

Por outro lado, esta ponte é especial: é feita de travessas:


… e só se pode passar para a seguinte, depois de pôr o pé na anterior, portanto ela tem que existir primeiro.

Aprender é descobrir qual é a "travessa" que é preciso colocar primeiro antes de se passar para a colocação da seguinte e depois caminhar por elas.

Assim, quando se estuda, a primeira pergunta é: -"O que é que eu sei ?", a segunda é: -"O que é que não sei ?" e a terceira é: -"O que é preciso para ligar as duas ?".

O trabalho de quem ensina, não é responder a estas perguntas, é ajudar a responder e ajudar a ajuizar a sua resposta sob o ponto de vista prático para construir a ponte, e deve ser feito em três níveis:

A - apoiar a recolha do material necessário para o fabrico das "travessas" e que não falte nenhuma necessária;
B - apoiar a melhor sucessão das "travessas";
C - apoiar a ligação e suporte do conjunto.

Quem ensina não é um juiz a decidir o certo ou o errado, esse é o objectivo dos exames-avaliações, aqui o objectivo é aumentar a lucidez sobre o caminho que está a ser seguido.


Assim, aparece o segundo segredo que todos sabem:
Aprender é ensinar a si próprio.

… foi assim que os filhos aprenderam a andar.


Num exemplo, o aprender a NADAR.

Uma metodologia possível é ensinar os estilos, ou seja, os diferentes movimentos de pernas e braços para se obter a deslocação aquática, ensino esse que poderá ser feito em seco, num banco.
As instruções são: "Depois de já nadar no banco, vão para dentro de água. Se nadam continuam na água, se não nadam voltam para o banco e repete-se o ciclo as vezes necessárias."

Este método pode ensinar a nadar numa piscina, mas fazê-lo no mar com ondas tem um afogamento quase certo.

Em esquema, a "ponte" deste aprender será:

Todavia, bebés de 4 meses não sabem estilos mas nadam debaixo de água e á superficie, divertidos e sem problemas:


Naturalmente, eles constroem a "ponte" correcta para saber nadar, ou seja,…

Neste método o primeiro passo é criar flutuabilidade, o segundo é respirar em sincronia com a imersão-emersão e o terceiro é a deslocação aquática, desde o "gatinhar" dentro de água (o nadar à cão), passando pelo crwal só com braços, até chegar a todos os outros estilos. Logo no inicio surge o "JÁ SEI", e depois em cada melhoria os "JÁ SEI's" vão-se dizendo.

A diferença entre os dois sistemas é simples, num aprende-se com bases certas, no outro aprende-se com bases erradas. 

Não vamos escamotear o problema, simplificando a questão ao colocar o  dilema:
 "sozinho" (ao estilo bom selvagem) ou com "ensino" (ao estilo recruta). 
Não é aqui que está a questão, ambos podem estar certos e ambos podem estar errados.



Assim, surge o terceiro segredo que todos sabem:
O ser humano não é um computador.
Ou seja, à semelhança do computador que usa software já existente, também os humanos, se aprenderem os conhecimentos já disponíveis na sociedade, usam um bom método para acelerar e potenciar o desenvolvimento … assim, vamos esquecer o método do "bom selvagem".

Porém, à diferença do computador, nos humanos não se pode instalar o conhecimento à revelia da parte interessada, pois todo o processo activo tem que ser feito por quem aprende … assim, vamos esquecer o método da "recruta"de passividade a aprender.

Na verdade, já alguma vez ouviram uma criança dizer:

Se fosse a um adulto…talvez ouvissem, mas não a uma criança. As crianças não querem FACTOS querem HISTÓRIAS.
Qual é a diferença ??

Um facto é um registo de uma diferença definida por um observador. Os computadores trabalham com diferenças registadas em código informático.

Mas os humanos não trabalham com factos, trabalham com significados registados nas células. Um significado é um facto emaranhado (entangled) com emoções. Assim que o facto é percepcionado é logo "infectado" com emoções e é com este conjunto que os humanos trabalham.
Num exemplo:

O Manuel percepcionou um facto  [Na esquina, a mulher conversa com um homem.]
O significado que ele construiu (pois não é ciumento) foi que "é um conhecido" (apesar de ser o amante).


O António percepcionou um facto  [Na esquina, a mulher conversa com um homem.]
O significado que ele construiu (pois é ciumento) foi que "é o amante" (apesar de ser um conhecido).


O computador detectou uma diferença [Na esquina, a mulher do Manuel/António conversa com um homem.]
O facto que ele registou foi  [Na esquina, a mulher do Manuel/António conversa com um homem.]


Quando mais tarde, o utilizador do computador, ao ler esta Base de Dados, criará automaticamente um significado tipo Manuel ou tipo António ou tipo dúvida ou tipo desprezo (considera lixo, solução usual na sobrecarga informativa).

Os adultos sabem, mas já esqueceram esta diferença.
As crianças não sabem mas sentem a diferença e por isso pedem -"Conta-me a HISTÓRIA da Branca de Neve", porque uma história é uma sucessão de significados, ou seja, é uma sucessão de factos emaranhados e unidos por emoções.

No aprender, na ponte que conecta o "SEI" ao "NÃO SEI" as travessas dos factos são unidas pelos significados, são eles que dão estrutura ao conjunto. Sem o jogo dos significados não há ensino e não há aprendizagem. Este jogo exige emoções.

Quando se joga com emoções negativas a aprendizagem é de bloqueio ao processo… surgem traumas anti-escola, anti-aprender, anti-professor.
Dizer que uma criança/adulto não aprende é mentira, sempre que os significados existem há sempre aprendizagem (registos celulares), o que acontece é um "aprender de não-aprender".


Para terminar,

Viver é aprender e aprender é um caminhar de significado em significado até o "JÁ SEI" se conectar ao "NÃO SEI" criando a experiência do "Ah! Ah!", aumentando a rede dos saberes em conexão.

Um significado é um facto que foi "digerido" pelo indivíduo (não é "instalado" no indivíduo, significados não se instalam, criam-se). "Digerido" significa emaranhado em emoções pessoais de quem aprende.

Aprender é o resultado de um processo de "ensinar a si próprio", de manipular a construção da própria teia de significados. Um exemplo é o ensinar a nadar, "… ensina-se, mas ele tem que expressar isso em auto-ensino, pois é ele que tem que nadar, não o professor".

Na aprendizagem de ideias é o mesmo. Como disse Einstein -"Eu ensino, mas tu é que aprendes", ou seja, aprender é "transformar o ensino recebido em auto-ensino", semelhante ao alimentar-se em que "comer não é receber comida…é digeri-la". No caso do ensino, o digerir chama-se ESTUDAR.

Aprender a estudar é apenas aprender técnicas ("truques") de aumentar a eficácia de se ensinar a si próprio.



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