Realmente as insónias são uma doença estranha pois só há doença à noite, de dia ela desaparece... assim que nasce o Sol, a insónia morre.
A conclusão é óbvia, o vírus da insónia dorme de dia e acorda à noite. Cientificamente será um virus da classe noctívago, pandemia estranha.
Numa palavra, não se combate uma ideia com conteúdos cognitivos mesclados com conteúdos emocionais que os negam.
Na contradição cognitivo-emocional
a emoção ganha sempre. Na teoria, o cognitivo funciona bem mas na prática o emocional derrota-o, como por ex. na violência doméstica em que [...
fora do confronto no bla-bla das ideias promete-se não bater mas no confronto nas emoções e nos actos torna-se a bater...]. A informação moral/mural só serve para conversas sociais de conforto psy.
Exemplo de contradição cognitiva-emocional:
No costureiro, durante a prova, dizia a mulher:
- Não gosto muito do vestido, o que achas?
Responde o marido:
- Ele não é bonito, mas com ele ficas muito bem!!!*
(*)-É semelhante ao pai cujo filho passa no exame com nota mínima e ele dá-lhe um beijo de parabéns pela passagem e um estalo de castigo pela nota miserável!
Este é um vírus-do-senso-comum chamado BATER-POR-AMOR PRA EDUCAR!
Os vírus do senso-comum
Os
vírus-do-senso-comum são "viventes" estranhos pois usam ideias do senso comum mas consomem energia emocional desse senso comum parasitando outras ideias, por exemplo, o caso do racismo, a violência doméstica, o autoritarismo, etc.
O
racismo não é baseado na diferença (
clickar) mas na avaliação negativa dessa diferença amalgamada com emoção de desprezo em cocktail com medo, insegurança, inferioridade, etc.
Se houver avaliação positiva da mesma diferença já não haverá racismo porque virá envolvida em emoções de aceitação, acolhimento, empatia, simpatia, segurança, etc.
A violência doméstica é mais complexa pois tem épocas... ou a diferença é apreciada e valorizada e acontece "alegria, amor, sexo" ou é desprezada e repudiada e acontece raiva, estalos, contusões.
Depois, esta sucessão de épocas fica rotinada ao estilo "disco rachado", ou seja, "
roda e toca o mesmo", passando de beijos e abraços pelas diferenças apreciadas a estalos e agressões pelas diferenças desprezadas, com a mesma justificação para ambas [...
agora estás diferente...].
Como resumo,
O "ADN" destes
vírus-do-senso-comum é "nascido" no cognitivo sob forma de ideia e "alimenta-se" da energia emocional sob forma de parasitismo.
Como defesa, o próprio senso comum criou o equívoco da luta-de-contrários entre o virus e o seu anti-virus, por ex., procurar derrotar o racismo com a ideia de anti-racismo o que não vai funcionar, por exemplo...
...nos USA, no tempo de Lincoln, na Assembleia Legislativa a votação para o fim da escravatura estava num impasse entre as ideias-emoções de
igualdade e de
diferença entre brancos e negros.
Subitamente, surgiu uma nova emoção vinda duma nova ideia, esta fora da luta de contrários, que foi a
igualdade perante a lei ou diferença perante a lei.
No final, a
igualdade perante a lei ganhou e o fim da escravatura foi legalmente aprovado.
Os
vírus-do-senso-comum podem sofrer "ataques" com duas dinâmicas diferentes, Luta-de-Contrários ou Aceleração-de-Contrários.
Luta-de-contrários
Os dois elementos de qualquer
vírus-do-senso-comum são
ideia e emoção.
A questão operacional é simples, luta-se na
ideia ou luta-se na
emoção? ...ou nos dois ? ...ou em nenhum? ...ou há outra alternativa?
O senso comum europeu está enriquecido e "adicto" à
luta-de-contrários (estilo luta-de-machos*).
(*-)-
Num estudo do perfil do "macho", concluiu-se que o [...macho luta, ou manifesta-se, para ser apreciado por outros machos, se só mulheres apreciam ele desmotiva-se...], pode ser discutível mas a conclusão é interessante. Será que é também um vírus-do-senso-comum com uma ideia alimentada por emoções doutra ideia de interesses opostos?
Filosoficamente, quer com base em
Hegel, espiritualista, quer em
Engels, materialista, o resultado é o mesmo, ou seja, [
...considera-se solução eficaz o resultado óbvio e necessário do choque entre um elemento e o seu contrário]*, na fórmula TESE, anti-TESE e sin-TESE.
(*)-
Vide modelo democrático do sistema de Westminster com Governo e Oposição, e ainda o fascismo-antifascismo, racismo-antiracismo, capitalismo-anticapitalismo, etc.
Todavia, parece que esta dialéctica da
luta-de-contrários, quer espiritualista quer materialista
quer
marxista (luta-de-classes)
não só, não resolve o problema como o mantém ou faz aumentar na crença de que é preciso aguentar porque cada um afirma [...nós é que temos razão...] e cada um acredita que o tempo resolverá a seu favor.
Historicamente, as vitórias da luta-de-classes resultaram sempre no aparecimento doutras classes em luta, no mínimo de classe pró-partido versus classe anti-partido ou classe dos sem partido. Em consequência a classe no poder cria os
gulags e
quejandos, dependendo do sistema politico criado que pode ser:
-
formato hard (ditaduras) ou
-
formato soft (democracias ou demokrácias) ou
-
formato floppy (democracias com partidos hard, extremistas, populistas, etc).
Aceleração-de-contrários
Exemplo,
segundo registos históricos, China séc I, Guerra dos três Reinos:
O rio Yandzi separava dois exércitos em luta, numa margem o Wei (invasor) e na outra o Shu (invadido). Shu não tinha flechas suficientes para se defender com o sistema flecha-contra-inimigo e perderia a batalha.
Assim, ZhuGeLiang, estratega de Shu, decidiu mudar o sistema de atirar-flecha-contra-inimigo para o sistema de receber-flecha-do-inimigo, e para isso resolveu motivar o inimigo a atirar-lhe flechas.
Encheu vários barcos com fardos de palha e decorou-os com bonecos de soldados. Numa manhã enevoada foi "provocar" o inimigo, "atacando" a outra margem.
Cao Cao, o rei de Wei, vendo o ataque deu ordem para disparar flechas e impedir o desembarque.
Ao fim de algum tempo, ZhuGeLiang deu ordem de regresso à sua margem trazendo milhões de flechas em bom estado espetadas na palha.
Mais tarde com elas, atacou e derrotou o inimigo.
Quando estudei estratégia e descobri a aceleração de contrários fiquei encantado, fiz várias experiências de teste e acções concretas na vida militar (Portugal e África) e na vida civil, por ex. na GasLimpo, Lisnave, Finanças (DGCI impostos), Educação, Agricultura, Reforma Administrativa, Economia, Banco de Portugal, BESCL, Mendes Godinho, etc.
Esta metodologia quando bem pensada é sucesso a 100% e, normalmente, inócua e desconhecida de quem a sofre ou assiste pois tudo parece ser apenas "coincidência de coincidências".
Por ex., o caso do navio "Quanza" a norte de S.Tomé que depois na averiguação do sucedido pelo Comando Militar e Comando Naval de Angola foi arquivar o processo, pois tudo tinha sido apenas coincidência de coincidências, apesar da queixa do inspector da PIDE que na altura proibi de subir a bordo, obrigando-o a regressar a terra no seu pequeno gasolina.
A metodologia é simples:
1 - aquilo que o outro faz e não se quer que faça tem que se passar a querer e a facilitar.
O treino pode ser criar um automatismo de pensar "que bom!!!" e procurar a lógica em que isso será "bom" estabelecer a estratégia.
Por ex., em 1977 sendo consultor num Ministério acompanhei um VIP hierárquico a uma reunião. Como ele levava uns dossiers, deu-me a sua pasta (tipo James Bond em alumínio) para eu levar.
Pensei "que bom!!!..." e ao longo dos corredores de azulejos pombalinos, comecei a bater e arrastar levemente a mala pelas paredes fazendo um pequeno ruído. Quando pensava deixá-la cair (esperando que se abrisse), ele parou, tirou-ma da mão e não quis ajudas.
Fiquei contente, afinal não era "embirrar" comigo, eram só maus hábitos de "grande senhor" do "antigamente".
2 - mudar o sistema, isto é, alterar a sua lógica, ou seja, criar uma situação em que a acção dele será má para ele e boa para mim;
3 - criar
situação de "fecho", ou seja, uma situação final que seja "undo", isto é, seja
impossível de anular-o-acontecido (não confundir com desfazer).
O judo é uma boa analogia, pois quando o outro dá um soco não se retribui com socos mas ajuda-se o braço dele a dar o soco... puxando-o, MAS CONVEM mudar o sistema, isto é, manter o movimento do braço mas tirar a cara do caminho.
A - B - C - D - Quatro exemplos de testes e experiências na vida militar:
A - Nos anos 60 os oficiais podiam almoçar ou jantar nas messes mas tinham que levar fato e gravata. Resolvi cumprir vestindo o pullover ao contrário, isto é, com a abertura virada para as costas de modo que a gravata e o colarinho ficassem escondidos debaixo do pullover. Depois vestia o casaco e sentava-me.
Cinco minutos depois, aparecia sempre um oficial superior a "avisar-me", autoritário e em surdina, que tinha que ir pôr gravata. Levantava-me e, respeitosamente, em voz alta para se ouvir na sala de jantar dizia que tinha gravata, esticava a gola do pullover para baixo e mostrava a gravata que só assim era visível.
Os 5 minutos seguintes eram uma delicia pois no silêncio que se seguia, os comensais olhavam-nos, eu continuava de pé à espera, esticando o pullover e tentando adivinhar "
o que iria acontecer?".
Houve várias hipóteses, desde o discreto abandono do problema pelo superior militar até outras acções mais interessantes, como mandar comprar-me outra camisola. O resultado final acabava por ser não me incomodar mais com a necessidade da gravata à mostra.
Em resumo, virem "chatear" era a acção que acelerei para acabar com ela. Para isso mudei o sistema de "gravata à mostra" para "gravata escondida". Na messe da Base Naval um mês foi suficiente para deixar de ser incomodado.
O meu objectivo era apenas pedagógico para testar a técnica e a fixação de culturizações.
B - Estando como Chefe de Serviço no Grupo Nº2 de Escolas, na Base Naval Lisboa, fui chamado ao Comando porque tinha sido convidado (eu e minha esposa¿?) para, no dia seguinte (Sábado) de manhã, ir fardado à Rocha Conde de Óbidos para apresentar cumprimentos à chegada do Presidente da República que regressava no paquete Moçambique(?).
Perguntei se era convite ou ordem e a resposta sorridente foi que era convite. Então, eu lamentei mas nem eu nem a minha esposa podiamos aceitar. O sorriso transformou-se em esgar e fui informado que era uma ordem.
Respeitosamente concordei mas, como regra e regulamentado, queria levar uma guia para apresentar com local, horas e serviço, pois se fosse atropelado ou tivesse um desastre queria ter uma prova que estava em serviço.
A reunião acabou bruscamente e fui avisado que seria chamado mais tarde.
Assim aconteceu e nessa altura, recebi uma espécie de Guia de Marcha assinada e carimbada. Perguntei ainda a quem me apresentaria na Gare para me assinar a hora de chegada e partida pois não me parecia que pudesse ser o policia de serviço ou o porteiro.
O silêncio instalou-se novamente e fiquei à espera, por fim a solução dada foi apresentar-me a ele próprio que estaria lá. Mandou-me sair.
No sábado de manhã, o cais da
Rocha Conde de Óbidos para a espera do desembarque do Presidente,
parecia a Feira Popular ou um salão de festa cheio de fardas, políticos, civis, acompanhados por cônjuges, todos conversando de grupo para grupo e bisbilhotados por jornalistas, fotógrafos e curiosos.
Esperei que o 2º Comandante e esposa estivessem conversando num desses grupos, aproximei-me, apresentei-me formal e militarmente. A conversa interrompeu-se, criaram-se expectativas e surpresa.
Estendi a Guia de Marcha e uma caneta pedindo para ele assinar, o que não foi fácil dada a falta de mesa ou suporte para apoiar o papel.
Depois de conseguir assinar com o papel na palma da mão, entregou-mo, eu declarei ainda voltar antes de ir embora, fiz a protocolar pergunta "Determina mais alguma coisa" e depois da resposta "Não", fiz a continência, afastei-me com o papel na mão e fiquei passeando por ali.
Atrás de mim ficou um ar de expectativa e surpresa e olhares de jornalistas curiosos.
Passado pouco tempo, o 2º Comandante aproximou-se, pediu-me o papel, assinou outra vez e deu-me ordem para regressar à unidade.
Regressei à Base Naval e na unidade (Grupo nº2 EA) entreguei a Guia de Marcha ao oficial de dia para as devidas burocracias e fui para casa.
Na semana seguinte recebi alguns telefonemas pois a "burocracia militar" não sabia o que fazer "àquilo" pois não podia dar entrada se não havia saída e não queria incomodar o Comando. Eu também não sabia e o problema não era meu.
OBS- Nunca mais tive convites destes.
C - Exemplo acerca da situação de "fecho" que deve sempre "fechar" o processo e não se poder "abrir" (transformar).
No fim da década de 70, eu era um funcionário público "híbrido", isto é, era e não era funcionário público.
Na época, sendo quadro superior da Lisnave como Responsável pela Gestão Provisional de Recursos Humanos (±10.000 empregados), ao abrigo de uma lei criada na época, fui requesitado a tempo integral para consultor no Ministério das Finanças (Impostos), ficando a ser pago parcialmente pela Lisnave e pelo Ministério e onde estive 2 anos.
No inicio, para a tradicional cultura hierárquica administrativa das Finanças eu era uma "espécie esquisita", oscilando entre ser bem aceite ou ser um "gajo das empresas".
No início fiz várias reuniões com directores e seus técnicos tributários onde apresentava para discussão a dinamização do Projecto da Nova Sistemática do Imposto Profissional (substituindo o Imposto Complementar).
Um dia pelas 14:30, numa dessas reuniões sentado ao lado do Director, este ao ficar sem folhas no seu bloco de apontamentos, sem olhar para mim e em voz alta para todo o grupo ouvir, "disse-me" para ir buscar outro bloco.
A situação era claramente uma "afirmação hierárquica" e a minha opção também era simples, obedeço ou não. Sem dizer nada, deixei papeis em cima da mesa, levantei-me e saí.
Saí do Ministério e fui a pé à Papelaria da Moda na Rua do Ouro, comprei dois blocos quadriculados (estilo engenheiro), depois fui às Livrarias Bertrand e Sá da Costa no Chiado ver livros, comprei um, e fui ao café Brasileira para um café e um bolo onde estive a ler o livro.
Passadas mais de 2 horas regressei ao Ministério.
A sala de reuniões estava vazia, os meus papeis continuavam em cima da mesa, agarrei neles e fui entregar o pacote dos blocos a um administrativo do gabinete do Diretor que, por sua vez, lho foi entregar.
O Director apareceu muito espantado porque eu tinha desaparecido e ele, como não sabia o que fazer, tinha cancelado a reunião.
Entrámos no seu gabinete e contei o que tinha acontecido, dizendo que o pacote eram os blocos comprados na Papelaria da Moda, dei-lhe a factura para ele tratar de me devolver o dinheiro.
Com os blocos e factura na mão, ele espantado não dizia nada, conversei um pouco dizendo que tinha tido uma tarde agradável vendo livros e bebendo café e bolo na Brasileira e despedi-me.
Já na saída avisei que depois lhe marcaria outra reunião e avisaria. Ainda acrescentei que se, entretanto, o Secretário de Estado lhe perguntasse opinião sobre o projecto da dinamização dos impostos ele que confirmasse que eu ainda não lhe tinha marcado reunião para ele ir*.
(*-)- Na recruta militar, confirmar subordinação, por ex. fazer sentidos, continências, ordem unida, etc, é a principal técnica para interiorizar obediência... e funciona, às vezes até se põem em sentido a falar ao telefone.
Nunca soube o motivo que ele deu aos subordinados para cancelar a reunião, não perguntei a ninguém e também ninguém me comentou nada.
Ficámos amigos e estivemos juntos várias vezes em trabalho. Penso que ele, sem o perceber, aprendeu que hierarquia não é o mesmo que poder.*
Este vírus-do-senso-comum é vulgar e anda bem instalado nos autoritários, nos militares estilo "rambo", nos políticos estilo "peru" e nos emproados de vários quadrantes.
(*-) Aprendi esta diferença entre hierarquia-poder ainda muito novo, quando oficial recém saído da Escola Naval.
Promovido a Guarda-Marinha fui colocado no NRP Lima, na altura em fabricos em Lisboa, no estaleiro da Rocha, preparando-se para comissão em Africa.
Nomeado Oficial de Dia, pelas 23:00 horas passeava no convés quando ouvi, na rua, grande algazarra de risos e cantilenas a aproximar-se, significando regresso de marinheiros em licença... e alcoolizados.
Aproximei-me do portaló e da sentinela, onde já se encontrava à espera o 1ª sargento de serviço com algumas praças da guarda.
O sargento aproximou-se, pediu para falar comigo e afastámo-nos um pouco. Ele "atrapalhado" sugeria que fosse para o lado do mar no outro bordo pois ele receberia as licenças e no fim dir-me-ia como tudo estava. Não percebi nada, disse que sim mas continuei junto ao portaló.
Cada vez mais atrapalhado, ele insistia que era capaz de receber as licenças, iria levar algum tempo, mas podia ficar descansado que ele trataria da burocracia e chamar-me-ia se necessário.
Levou tempo até eu perceber que ele queria que eu desaparecesse dali pois se ficasse teria que castigar os embriagados ou perdoar e em qualquer dos casos só tinha desvantagens.
Ele acabou por ser mais claro dizendo que se não conseguisse resolver "a bem" chamar-me-ia.
Em português simples, o poder era dele, eu devia ser o poder que estava por detrás e confiar nele.
Afastei-me e "oficialzito recente" fiquei pensando naquilo que, mais tarde, percebi ser a cultura dos navios. Em mar agitado com trabalho de muita gente "amolgada" em espaços pequenos com relações "sardinha em lata" durante dias, semanas, meses, o poder tinha que ser usado para equilibrar e não para castigar.
Poder e hierarquia não é o mesmo, a hierarquia recebe-se, é um donativo, o poder é criação, é um semear.
Realmente, pouco tempo depois ele regressou, disse-me que eles apenas vinham contentes e quando fomos percorrer as cobertas, tudo estava calmo, em silêncio e a dormir. Foi isso o registado no Diário e eu assinei.
Durante o resto da noite, andei a pensar no acontecido e conclui que a melhor forma de usar o poder é não o usar, deixá-lo em standy até ser (e se) necessário... nunca mais esqueci e ficou-me como "instinto" que usei várias vezes.
D - Em 1967, já com duas comissões em África, pelas minhas previsões eu estaria perto de ser chamado para o curso de Fuzileiros e voltar a África como Comandante de uma Companhia.
Nada interessado na actividade de Fuzileiro, resolvi antecipar o futuro e fiz uma exposição escrita ao Ministro da Marinha onde, em várias páginas, explicava as minhas razões pessoais, sociais, políticas e militares para a minha recusa dessa especialização*. Fiquei à espera.
(*)- Penso que naquela época uma exposição deste assunto, escrita e entregue superiormente, foi caso único nos três ramos das Forças Armadas.
Do documento dactilografado fizeram-se algumas cópias a stencil (poucas) que foram entregues a camaradas na Marinha e Exército.
Uma semana depois tive resposta oficial. Fui informado ter sido "
destacado para a Escola de Fuzileiros e nomeado para o próximo curso".
A data do destacamento era 15 dias antes do começo do curso e, como fui informado oralmente, era para "aculturação" à especialização.
Recebi Guia de Marcha e apresentei-me na Escola de Fuzileiros que na época era comandada pelo Comandante Alpoim Calvão, fuzileiro de renome e medalhado. Fiquei sem funções, esperando o inicio do curso dentro de duas semanas.
Este "
período de férias" permitiu-me "turismo interno" e perceber como as "coisas" funcionavam.
Logo na primeira semana assisti um uma situação que considerei ilegítima, ilegal, anticonstitucional e de duvidosa ética militar e, como oficial, resolvi actuar.
Depois, fui chamado ao Comando e o Comte Alpoim Calvão, na presença de oficiais superiores, deu-me uma repreensão agravada e uma ordem directa para não intervir na situação e quis que confirmasse ter recebido a ordem.
Assim que saí, escrevi um descritivo da situação fazendo queixa do Comte Alpoim Calvão. Nesse descritivo acrescentei comentários e razões justificativas da queixa por ilegalidade, ilegitimidade e militarmente anti-ética.
Entreguei o documento na secretaria da Escola de Fuzileiros para a queixa ter entrada registada.
Uma hora depois estava dentro dum jeep a caminho de uma cela na prisão militar.
Chegado lá, fui encelado isolado e incomunicável, revistado, tiraram cinto, atacadores, canetas, objectos de barbear, etc, para impedir suicídio ou agressões.
Sempre sózinho, alguns dias depois tive a minha primeira e única visita. Conheci o Dr. Jorge Sá Borges* que entrou pela cela dentro dizendo que era o meu advogado pro Bono.
Foi então que tive as burocracias prisionais e a pedido do Dr. Sá Borges deram-me papel e caneta para poder preparar a defesa.
(*)-
Depois do 25 Abril foi Ministro do Trabalho no V Governo Constitucional.
|
foto na prisão
com farda emprestada |
Durante a prisão e sem passeios no pátio, fazia yoga e "arrumava ideias". Pensava que, na verdade, a vida é uma sucessão surpresas pois é cheia de coincidências e suas consequências, mas somos treinados a não ver e a não decidir e a seguir pelos trilhos ás cegas.
Neste caso, em cinco dias, fui transferido para os Fuzileiros para comandar uma Companhia e também de lá fui re-transferido. O "poder" pôs-me lá e o "poder" tirou-me de lá, ou seja, por coincidência, o meu pedido escrito na exposição ao Ministro tinha sido realizado.
Porém, tinha consciência de que faltava ainda o resto da história, o chamado "fecho da situação", e isso preocupava-me.
Comecei a preparar a defesa para a discutir com o Dr. Sá Borges e, segundo recuerdos existentes, o meu resumo tinha 5 pontos:
1 - Não tinha desobedecido à ordem directa pois ela não incluía "não fazer queixa";
2 - Não tinha voltado a intervir na situação pois nem sequer lá tinha voltado;
3 - Não tinha existido curtocircuito hierárquico, pois a queixa contra o Comte Alpoim Calvão fora entregue ao próprio Comte Alpoim Calvão;
4 - O problema resumia-se a definir se o conteúdo da queixa, isto é, as ordens contestadas, eram legais e legitimas ou ilegais e ilegítimas.
5 - Num caso ou noutro poderia ser culpado pela forma irregular utilizada na queixa e ser inocente pela legitimidade do conteúdo da queixa.
Nas conversas com o Dr. Sá Borges eu insistia muito no ponto 5 e ele não concordava, mas eu não queria o sistema "culpado ou inocente", mas sim o sistema "culpado e inocente". Esta diferença para mim era fundamental para o "fecho da Situação".
Na verdade, ser culpado implicava manter válida a prisão sofrida e, pela OSN e RDM da altura (artg 46, 47, 48)*, aos oficiais castigados com pena de prisão disciplinar agravada implicava sua transferência de unidade que, neste caso, correspondia a sair dos Fuzileiros.
Por outro lado, ser inocente implicava a queixa ter sentido, haver anulação da pena de prisão (já sofrida) e o regresso à Escola de Fuzileiros, talvez com novo comandante.
(*-) Não sendo advogado, em S.Tomé comecei a enfichar artigos militares e civis, em cujas fichas eu anotava possíveis áreas de manobra ou áreas confusas que me ajudaram nalguns incidentes.
Por exemplo, os transportes S.Tomé-Principe eram por avião, pois por piroga ou barco pequeno não eram possíveis pela distância e tipo de mar e não havia "cacilheiros".
As famílias divididas entre as duas ilhas levavam meses ou anos para ter lugar no avião.
Num novo sistema de fiscalização por mim sugerido ao Governador e aprovado, eu iria todos os meses ao Principe para uma estadia de 8 a 10 dias.
Resolvi também começar a levar alguns passageiros civis e famílias com suas bagagens "vivas" (galinhas, leitões, cabritos, etc.). Fazia constar, apareciam voluntários e eu seleccionava. Corria bem mas surgiram oposições militares, policiais (PIDE) e até administrativas.
Nos briefings consequentes com o Governador e outras autoridades, justifiquei as viagens com o apoio de regras e teorias da PsicoSocial militar versus populações. Obtive o acordo do Governador Coronel Silva Sebastião (lúcido e inteligente) e de outros participantes com excepção do Inspector da PIDE que "perdia o controlo" (o que quer que isso fosse) e, no mínimo, queria escolher os passageiros o que eu recusava porque "perdia o controlo" (o que quer que isso fosse), argumento que sempre que utilizava fazia sorrir o Governador..
Regressado a Lisboa mantive o sistema de fichas de artigos legais com comentários para uso, mas inclui regulamentos da PSP e GNR. Alguns artigos eram bem diferentes do óbvio regulamentar usado no dia-a dia.
Durante o levantamento dos autos pelo Comte Silva Horta, nas perguntas e respostas e eventuais conversas ad latere, por coincidência, o conceito "culpado e inocente" começou a surgir como lógica possível nas nuances das "opiniões militares". A frase "se tem feito doutra forma não teria este problema" foi-me dito algumas vezes.
Conclusão em meados de 1968:
1- O Comandante Alpoim Calvão foi castigado com a pena de repreensão agravada, deixou o comando da Escola de Fuzileiros, recebeu a medalha de prata de serviços distintos pelo trabalho lá realizado, e foi destacado para a Guiné.
(ver versão A. Calvão in Extrato de A guerra da Africa,
Ataque a Conacry, Alpoim Calvão,)
2- No meu caso, a conclusão foi culpado na forma e inocente no conteudo, pois além da prisão já sofrida não me aconteceu mais nada.
Em reunião com o Ministro da Marinha, Almirante Pereira Crespo, foi proposto que pedisse a demissão de oficial dos Quadros Permanentes (pedido esse que estava proibido e bloqueado para os três ramos das Forças Armadas) e garantia que dentro de dois anos seria aprovado.
Entretanto, fui nomeado Director do Centro de Instrução de Educação Física da Armada (CEFA), uma unidade com muita actividade formativa, com um corpo de professores civis licenciados e instrutores e militares e civis, onde ficaria até que o pedido de demissão fosse aprovado, o que aconteceu ano e meio depois.
Na 1ª semana de Jan 1970, após passagem do ano, fui transferido para o Ministério da Marinha, (1ª Repartição: oficiais). Lá estavam dois oficiais à minha espera que me comunicaram que o meu Pedido de Demissão tinha sido aprovado, deram-me papeis para assinar e informaram-me que a partir de agora era civil, estava proibido de usar farda, podendo ser preso, e podia ir-me embora. Era pessoal simpático e educado.
O vírus da insónia
É semelhante a outros virus do senso comum, porém, é um vírus com mutações (por ex. em Espanha) e tem duas versões:
A - sonolência: é quando a emoção (corpo) quer dormir e a ideia NÃO quer dormir;
B - insónia: é quando a emoção (corpo) NÃO quer dormir e a ideia quer dormir;
ou seja, em ambas há uma luta de contrários mas, como a emoção tem mais energia que a ideia, o senso comum ensina a contratar "mercenários" (medicamentos) para derrotar o corpo e pô-lo a obedecer à ideia.
Depois o corpo adoece e são precisos outros "mercenários" (medicamentos) para melhorar o corpo e tudo se repetirá até que as ideias também adoecem e outros "mercenários" (medicamentos) surgem para enfraquecer as ideias... e surge o caos do desequilibrio às vezes com vitória da ideia de suicídio ou droga, alcool, cocaína, heroína, etc.
Conclusão, a solução medicamentosa é um caos mas é o único vencedor pois, como a História ensina, quando mercenários ou revoltosos ou partidos ou medicamentos ajudam a conquistar o poder são eles que ficam no poder.*
(*-) O 25 Abril em Portugal é uma excepção, pois os militares conquistaram o poder e não ficaram no poder.
Em alternativa a este caos, prefiro aceleração de contrários e não a ineficaz luta-de-contrários.
Em resumo,
a energia das ideias vem das emoções e como a sabedoria antiga avisa [...como te sentes assim farás...] ou parafraseando [... como te sentes assim DECIDIRÁS...], ou em conclusão é o cognitivo que "obedece" ao emocional e não o contrário.
É interessante a justificação de jovens e adultos para esta situação, dizendo apenas [...passei-me e não pensei...].
Em síntese, é melhor não lutar contra emoções mas apoiar emoções, acelerá-las e mudar a lógica do sistema.
A - sonolência
É quando a emoção (corpo) quer dormir e a ideia NÃO quer dormir, ou seja, é quando este
vírus-do-senso-comum usa a ideia [...
o dia é pra trabalhar, a noite é pra dormir] e cria a pandemia das sonolência de dia.
Há 2 alternativas como solução:
1ª - a primeira é aceitar a "sabedoria" corporal, não lutar contra a sonolência e dormitar uma soneca.
Por experiência pessoal, em 30 minutos relaxado é suficiente e não é preciso dormir. Distribuir assim:
- 5 minutos para pesquisa de tensões musculares e sua distensão por relaxação e não por hipotensão;
- 5 minutos para "sossegar" a respiração, ritmando-a em lentidão e não-esforço no seu ciclo de inspirar-apneia-expirar-apneia, sempre com o expirar em dobro do inspirar.
Se possível, é preferível uma respiração abdominal-complecta e não apenas toráxica ao estilo militar de "perú inchado" com peito pra fora, barriga pra dentro;
- 20 minutos para repouso e relaxação.
O problema desta opção é escolher o local e o mais vulgar nas organizações é a escolha do WC.
Não gosto, não só por ser incómodo como também por ter mau ambiente, companhias dispensáveis e "emoções" depressivas, além do risco das habituais partidas... é pior a emenda do que o soneto.
É preciso inventar e escolher bem o local, umas vezes é fácil outras dificil, por exemplo:
...nos Ministérios, uma solução possível é deixar o carro acessível em lugar "discreto" e depois deitar-se lá dentro com o banco em posição baixa. Convem ter à mão um frasco com remédio para problemas estomacais (Magnésia Bisurada¿¿)... just in case... de precisar justificação!!
Antes da ida para o carro, convém abraçar alguns dossiers, "passear apressado" por corredores e gabinetes, fazer uma ou outra pergunta e desaparecer com ar preocupado. Depois é só ir repousar calmamente para o carro. Se for procurado, haverá sempre várias testemunhas afirmando que "Esteve aqui mesmo agora... e trazia dossiers" .
Na Lisnave, com o carro longe e em estacionamentos indiscretos, um Centro de Documentação ou biblioteca pouco frequentada é uma opção, se com cadeirões agradáveis. Nestes casos convém "esquecer" um dossier e algumas revistas no chão em frente a uma estante ali perto. Se alguém entra a preocupação de não as pisar dará tempo para passar do "sistema repouso" ao "sistema trabalho".
2ª - a segunda, considerando que não se pode tirar ideias da cabeça nem lutar contra elas pois ficam mais fortes, a solução é instalar outra ideia com forte carga emocional que se torne dominante*.
(*-) É a chamada estratégia de galos no poleiro, ou seja, vão empurrando o outro para o extremo até que ele cai do poleiro.
Por ex., se ao namorar (pré-cônjuge ou já-cônjuge) surge sonolência, então, é preciso arranjar uma paixão virtual por alguém (estrela de cinema?) e pensar namoros intensos ou, se tem pouca imaginação ver ao mesmo tempo filmes na TV (se porno o outro pode sentir ménage à trois). Na verdade, emoções activadas com o virtual energizam a sonolência*.
Se der resultado convém mudar de namoro (ou iniciar divórcio) logo que possível pois problemas maiores irão aparecer.
(*-)
Quando professor na universidade às vezes detectava namoricos em gestação. Se um deles estava sonolento, fazia perguntas ao outro e o sonolento acordava logo. Não era preciso remédios, a sonolência nunca mais aparecia e a atenção instalava-se.
Quando Director de RH da GasLimpo (Grupo Lisnave) tive este problema de sonolência depois de almoço. Não podendo "fugir" resolvi
inserir em mim próprio ideias com emotividade e para isso alterei os meus horários.
Decidi que de manhã, que para mim são boas horas de trabalho, não estava para ninguém, era um período de trabalho solitário de estudo, projectos e decisões.
À tarde, logo a seguir ao almoço, surgia a sonolência, por isso a tarde passou a ser um "período de caos". Era ocasião para despachos, reuniões com trabalhadores, comissões, delegados sindicais, conflitos, autorizações, problemas, decisões, etc. Período animado da rotina de RH em 1975/76/77.
Outra alternativa era estar num projecto que não me desse descanso, foi o que aconteceu na GasLimpo com a crise dos eventuais e na Lisnave com as Reformas antecipadas.
Em 1975/76, a GasLimpo, empresa com 5 navios para desgasificação e um terminal fixo em Setúbal (Mitrena) tinha milhares de empregados entre efectivos e eventuais. Estes constituiam o "balão", ou seja, 2.000 a 3.000 eventuais que trabalhavam no máximo 8 a 15 dias/mês para não obterem efectividade e cuja necessidade dependia dos petroleiros em reparação.
Eles próprios tinham comissões para esse controlo pois a passagem de eventuais a efectivos reduziria a quantidade de trabalho para os eventuais que ficavam. Tentava-se obter o equilibrio do máximo de empregados mensais dentro das horas de trabalho mensal existente e disponível. Problema complexo cheio de variáveis, pressões, cunhas, etc.
Quando por lei este "paradoxo democrático" do balão foi proibido assistiu-se no País a greves e paralisações com o problema de
quem fica e quem sai, pois este equilibrio deseqilibrado, bom ou mau, ia acabar.
Na GasLimpo o "balão" dos eventuais foi resolvido e uma percentagem deles passou a efectivos e outra percentagem não passou, mas não houve greves nem paralisações.
Foram meses de reuniões, comissões, assembleias restritas, alargadas e gerais com e sem delegados sindicais e/ou partidários, na procura de regras, critérios, percentagens e suas aplicações. Finalmente após acordos aprovados foram aplicados.
Penso que houve um ponto crítico fundamental. O habitual na solução deste problema era negociarem-se percentagens dos quantitativos a aprovar para efectivos com base em previsão do trabalho e massa salarial em causa. Acordadas estas percentagens passava-se à negociação de regras e critérios para concretização.
Porém, na prática
os conflitos instalavam-se e o
virus da greve alastrava. A razão era simples.
Ao aplicar as regras e os critérios acordados era vulgar que em grupos nas mesmas condições uns empregados entravam para efectivos e outros não, por limitação de vagas imposta pelas percentagens.
Com esta situação ilógica as greves e paralizações nasciam pois criavam-se grupos de "clientes activos" contra o processo aproveitados pelos activadores de greves por interesses políticos.
Na GasLimpo funcionou-se ao contrário.
Em reuniões da Administração e direcção definiram-se zonas de percentagem de quantitativos para passar a efectivos com limites máximos e mínimos lógicos na triologia emprego, trabalho e massa salarial.
Depois nas negociações com os orçãos dos trabalhadores eventuais (comissões, assembleias restritas, alargadas e gerais) definiam-se regras e critérios cuja aplicação originasse quantitativos dentro das zonas já definidas mas flexíveis na quantidade final.
Se nas simulações surgissem grupos com as mesmas condições em que houvesse vagas para uns e não para outros ou se reformulavam regras e critérios para dentro cair dentro ou fora das zonas definidas ou se houvesse ainda flexibilidade entravam todos.
A regra era simples, depois do acordo nunca se fragmentavam grupos afins. Com certo espanto meu, quer na empresa, quer nos trabalhadores e seus orgãos negociadores, isto era aceite por todos e todos ajudavam e apoiavam que isso acontecesse... que alguns não ficariam já se sabia, a questão era existirem regras iguais para todos sem "uns filhos e outros enteados" como se dizia muitas vezes nas reuniões.
O paradigma para as negociações era simples, depois de acordadas regras e critérios, na sua aplicação não haveria excepções, tudo seria transparente e rígido a 100%.
O acordado seria cumprido e a regra habitual de consensos estilo banha-da-cobra de "depois as excepções vêem-se os caso-a caso" aqui não existiria.
O virus da greve foi morto à nascença.
A crise dos eventuais foi resolvida sem greves nem paralisações.
Mais tarde, nas reformas antecipadas da Lisnave em 1978/79 sendo responsável pela Gestão Previsional de RH, consegui convencer o Adminitrador* deste o formato, ou seja, da rigidez nas regras e critérios e flexibilidade nas percentagens dentro de limites rígidos, que foi aceite e foi um êxito.
(*-)
Mais tarde Ministro da Agricultura onde então estive 2 anos como consultor.
Do objectivo inicial de 350/400 reformas antecipadas, em nove meses fizeram-se 1.970 reformas antecipadas volutárias sem oposição activa de comissões de trabalhadores, delegados sindicais e partidários.
Ainda tenho algumas folhas das matrizes que na altura foram calculadas para previsões das áreas de percentagens de reformados e possibilitar depois as negociações de regras e critérios com os orgãos sociais dos trabalhadores.
Economistas e advogados foram cruciais na equipa para construir as matrizes e adaptar as previsões àss consequências das alterações por pressão das negociações... e possibilitar re-negociar.
Um dos pontos mais sensivel e que deu mais trabalho foi o equilíbrio
idade-antiguidade-pensão considerando o universo de 10.000 pessoas dos 30 aos 60 anos de idade com antiguidades de 5 a 45 anos e salários/vencimentos muito diferentes. A lógica das variações tinha que ser LÓGICA e, se acordada, o seu cumprimento tinha que ser rígido.
Recordando esse passado, hoje penso mais dois factores ajudaram. Um foi a criação de um
seguro continuado para proteger as reformas antecipadas de eventual crise de pagamento de salários no futuro (como acabou por suceder).
Outro factor foi a criação de
equipas de atendimento a trabalhadores e famílias para explicação e informação de toda o processo através de marcação prévia. Este anúncio foi publicitado nos lugares e formas habituais da empresa, comunicado aos orgãos dos trabalhadores e enviado ao trabalhador por carta e para casa.
O problema de atendimento de famílias, mulher do trabalhador, marido da trabalhadora, foi quente, quer nos orgãos dos trabalhadores que na Administração. O argumento foi que a reforma antecipada era o futuro da família portanto deveria haver condições para isso ser conversado com todos que o quisessem (e foram muitos).
A meio do processo já sem oposições activas de orgãos sociais e perto das mil candidaturas entregues, este processo simplificou-se e o atendimento desapareceu.
O atendimento baseava-se em marcações de dia/hora (quer sozinho quer com familiares). Intencionalmente procurava-se ter por hora 8 a 10 pessoas que esperavam numa sala e o atendimento começava sempre atrasado pelo menos 30 minutos.
O objectivo era que, nesse espaço-tempo, concordando ou não, conversassem entre si e trocassem opiniões, problemas e dúvidas. Se a conversa estava intensa aumentava-se a espera. Depois havia um atendedor por pessoa e familia e eram atendidas de modo privado.
A ideia era acelerar e não lutar contra dúvidas mas sim criar o máximo de problemas e dúvidas e dar o máximo de informação consequente.
Querer a reforma antecipada implicava assinar uma candidatura cujo formulário era entregue nessa ocasião mas só poderia ser entregue assinado dias depois e se entregue poderia desistir até ao dia final do período de entrega.
Na verdade, não se combatem comícios, slogans, boatos e palavras de ordem com outros anticomicios, slogans, etc, mas sim, com redes de conversas alargadas de ideias a flutuar por todo o lado e à revelia de
enquadramentos.
B - insónia
Quando
a emoção (corpo) NÃO quer dormir e a ideia quer dormir, a solução tradicional, óbvia e instantânea é obrigar o corpo a querer dormir, ou seja, usa a mesma ideia [...
de dia é pra trabalhar, de noite é pra dormir] mas ao contrário e surge a pandemia das insónias.
O interessante é que o senso-comum espanhol diz que a tarde também é para dormir e chama-lhe
sesta, portanto lá também há insónias de dia e então,"cientificamente" é chamado um virus mutante pois já não é só noctívago mas também diurno.
No meu caso desde que me lembro sempre me irritou deitar-me à noite e só acordar horas depois no outro dia de manhã, pensava...
Raisupartiça😖&;#;¿¿;!@;$!#%... tantas horas perdidas... que parvoíce.
Recordo que adolescente, adormecendo a ler um livro às vezes acordava a meio da noite e continuava a leitura.
Sempre gostei de acordar 2 a 3 vezes por noite e ficar a saborear o silêncio, o abandono e o
nada-a-fazer desses momentos. Saboreava e acabava por acordar umas 3 horas depois.
Quando nos navios a navegar, como oficial de quarto era sempre voluntário para trocar para o quarto da 00:00 às 0400 e tinha sempre candidatos. Depois, às 0400 comia qualquer coisa e o período acordado até adormecer era o meu descanso.
Ainda hoje é assim, acordo sempre 2/3 vezes por noite. Tenho sempre papel e caneta à cabeceira, acordo, saboreio o abandono à cama e as ideias saltam e arrastam outras, uma espécie de sonho acordado, sem ser o
lucid dream que estudei, por diferente
eu chamo-lhe
sonho sonolento.
Chego a estar 2 horas acordado, relaxado com ideias a fluir e de manhã nunca estou cansado.
Todavia se durmo sem interrupções quando acordo ando meio-dormente, tonto e sem energia, só um duche me salva.
Se as ideias do
sonho sonolento são para pensar, acendo uma lanterna* (hoje do telemóvel) e escrevo tópicos (mas não textos pois destroiem o clima).
(*-) -
Taoistas e budistas aconselham uma vela e, por experiência pessoal, realmente a luz do candeeiro se acendido destrói o clima e o sonho sonolento passa a real acordado. Como acender velas é complicado adoptei uma lanterna franquinha, mas actualmente uso a do telemovel.
Não uso "drogas" nem para dormir nem para estar acordado, um simples chá de tília à noite põe-me a dormir 24 horas.
Quando jovem oficial em África num navio em comissão, o médico de bordo devido a queixas minhas deu-me um Mogadon10 para eu "descansar"... e eu dormi que não acordava.
Quando dois dias depois normalizei soube que tinha estado em risco de evacuado para Lisboa pelo "esquisito" da situação. Depois, a piada do dia era que da próxima vez todos se cotizavam e me ofereciam uma garrafa de whiskey para substituir o Mogadon10.
Conclusão
O senso comum é o mar em que todos navegamos. Tem as suas correntes, vagas, bonanças, e tempestades. Uns navegam pela bússola, outros pelas estrelas e outros rezam ao Neptuno.
Também há muitos que flutuam ao sabor das ondas e limitam-se a manter a cabeça fora de água, agarrando-se a tudo que bóia à sua volta e esquecem-se de observar, concluir e decidir... porém nem os chamados animais são assim tão imbecis,
(
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