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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

As crianças, a vida e os antipsicóticos- parte 1


O problema é que, além de ficarem como robôs, ficam como robôs lentinhos!

Tema
Relembrando as avós que, sorrindo felizes, diziam:
- É muito, muito traquinas!!!!, e concluíam:
- Quer viver... e tem saúde!
Hoje, se têm saúde, querem viver e são irrequietos estão doentes!

Percurso do pensar
1 - Carroças, carros e aviões
2 - Equilíbrio estímulo-córtex
3 - Estratégia "estímulos versus córtex"
4 - Estratégia "córtex versus estímulos"
5 - Córtex versus vida

1 - Carroças, carros e aviões

Como ponto de partida... uma pergunta:

Para os humanos, qual é a diferença importante entre carroça, carro e avião?

Não é só terem velocidades diferentes, é que qualquer deles obriga os seus utilizadores a terem um "cérebro diferente", isto é, desde simples e lentinho nas carroças até complexo e rápido nos aviões, passando por complicado e médio nos automóveis. Repare-se como são diferentes os testes de selecção e a formação necessária para cada um.


Quer isto dizer que um condutor de carroça tem muitos minutos para PERCEBER algo inesperado e tomar a decisão necessária e age com poucas acções mais ou menos rotinadas.

Por outro lado, um condutor de automóvel tem segundos para actuar usando várias partes do corpo (mãos, pés, cabeça, olhos, ouvidos) em locais e instrumentos distintos (travão, acelerador, embraiagem, volante, buzina, etc) e decidindo acções adaptadas à situação interior e exterior do carro.

Em contrapartida, o piloto de avião tem décimos de segundo para diagnóstico com vários instrumentos, manipular diversos comandos, comunicar com diferentes ouvintes e/ou até ler manuais e ouvir instruções e, por fim, decidir e fazer. 

Os três condutores precisam de ter um sistema nervoso e um córtex com características diferentes. O rotinado condutor de carroças vai ter dificuldade em fazer multi-actividades que exigem multi-percepções e multi-compreensões e, ainda, integrar tudo numa decisão-acção em décimos de segundo.

Estas diferentes características não são uma questão de inteligência mas sim de padrões instalados para funcionamento do sistema nervoso/córtex. Por exemplo, aprender a conduzir um automóvel obriga a adquirir micro-comportamentos, intensificar a captação de estímulos (no falar comumestar atento) e ter rapidez na sua compreensão (no falar comumnão se distrair).

Apesar de, no falar comum, se considerar tudo isto uma questão de vontade, na verdade é uma questão mais profunda. É um renascer do indivíduo com capacitações que não tinha antes, com padrões e redes neurais mais complexas que foi testando e criando durante as tentativas. Quando instaladas diz-se, no falar comum, "já aprendeu".

PS- Para a neurociência, aprender é criar novas conexões neurais (portanto, não existentes antes), criação essa que só o próprio pode fazerAssim, o professor NUNCA é o formador, mas só um proponente de auto-formação, ou seja, de cada um criar as suas novas conexões neurais. 
Existir respeito e companheirismo de quem ensina perante quem está num "esforço" de auto-transformação é fundamental. O seu papel é de apoio, não é de dono, nem de juiz do processo de aprender que não lhe pertence

2 - Velocidades estímulos-córtex

A diferença das exigências nervosas e mentais na condução da carroça e do carro são óbvias e fáceis de confirmar com a resposta a uma simples pergunta, "o que acontecerá se ambos os condutores adormecerem?"

A carroça continuará na sua rotina mas o carro terá, instantaneamente, problemas pois falta-lhe a actividade essencial de um sistema nervoso-mental activo. Os protagonistas destes duas condições adquirem adaptações diferentes.

Num exemplo mais observável, considere-se duas crianças, uma que cresce movendo-se livre no espaço que a rodeia e outra que está sempre amarrada a uma cadeira. Passados alguns anos, a nível dos sistema muscular e neuromuscular, haverá diferenças reconhecíveis entre eles, pois os corpos de ambas são e actuam diferentes.
Uma adquiriu uma sossegada imobilidade da qual é impotente para abandonar e a outra expressa uma enérgica actividade que tem alegria em usar.

Este efeito visível tem cúmplices invisíveis, por exemplo uma está habituada a tomar decisões ("Para onde vou? Que faço? Que aconteceu?"), a outra está habituada a estar "desligada". Uma é humana, a outra é sub-humana, chamar-lhe robô é camuflar o problema, pois não é uma criança diferente, robotizada, é uma criança destruída.

Que futuro queremos para os nossos filhos???

Regressando ao exemplo da carroça/carro, na carroça, o exterior move-se lentamente em relação ao condutor pelo que ele tem muito tempo para receber os estímulos e construir decisões. Todavia, no carro, o exterior muda velozmente pelo que qualquer decisão é muito mais exigente no plano sensório-nervoso-mental.

Em conclusão, isto quer dizer que há sempre uma relação entre a velocidade de apresentação do estímulo e a velocidade do córtex em captar/compreender o seu significado:


Esta fórmula permite realizar duas estratégias diferentes:

A - Estímulos versus córtex,
em que se altera as velocidades de apresentação dos estímulos mas se mantém o córtex com a velocidade de percepção normal.


B - Córtex versus estímulo,
em que se altera a velocidade de percepção do córtex mas se mantém normal a velocidade de apresentação dos estímulos.


O interessante desta alternativa é que é aqui que se pode inserir diversos aspectos positivos e negativos da sua utilização.

Como positivos encontra-se a meditação como processo voluntário de interferir na dinâmica das ondas Alfa e/ou Theta do córtex, ou os casos especiais da "zone" (ondas Theta-Gamma no córtex), que surgem na alta competição ou em emergências pessoais ou em alta e intensa concentração em estudos, investigação, etc.

Como aspectos negativos, aparece o uso de drogas, desde o álcool e fumadela de ervas, a cházinhos calmantes/excitantes, passando por medicamentos, etc, que criam EAC (Estados Alterados de Consciência) com alterações de percepção e funcionamento nervoso e mental.

Esta situação é conhecida e vulgar, existindo conselhos e legislação aplicada que limita a sua prática e proíbe actividades aos seus tomadores, por exemplo, conduzir automóveis se embriagado (...mas, claro, neste caso poderão sempre conduzir carroças pois o burro ou o cavalo tomam as decisões).

PS- Há vários e deliciosos romances campesinos do século XIX, em que o personagem embriagado, inconsciente e com córtex lentinho e incapaz de conduzir, é levado para casa pelo seu burro ou cavalo que continuam com o córtex a funcionar normalmente. 
Como se vê, a sabedoria popular já conhece e usa esta fórmula há muito tempo.




Continua em "As crianças, a vida e os antipsicóticos- parte 2"



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