Li na comunicação social várias opiniões (pró e contra) sobre o uso do Burkini. Abanado com teorias e citações clássicas, modernas, estruturais, circunstanciais e assim-a-assim, quase fiquei com direito a uma "Licença Universitária" (vulgo Licenciado) em Filosofia Política.
Porém, para me entender nas minhas opções, tentei pensar simples. Comecei com duas perguntas:
1) Qual é a igualdade e a diferença entre um burkini e um bikini?
Ambos servem para tomar banho mas o burkini é de uso obrigatório por repressão exterior e o bikini é expressão interior por autonomia pessoal.
2) Qual é a igualdade e a diferença entre o emblema do Benfica no casaco de um cidadão e a estrela amarela no casaco dos judeus durante o nazismo?
Ambos servem para simbolizar uma pertença mas o emblema do Benfica é expressão livre por autonomia pessoal e a estrela amarela é uso obrigatório por repressão exterior.
Portanto, parece que a questão não está nas diferenças dos objectos em si (bikini-burkini e benfica-estrela amarela) nem no seu uso mas sim na diferença do motivo porque se usam.
Na verdade, não nos deixemos enganar, a questão do burkini não é tomar banho vestida pois até o pode fazer embrulhada numa manta... NINGUÉM SE IMPORTARÁ se for livre de não o fazer. A questão é estar ou não obrigada a fazê-lo.
Huau... então, como cidadão, parece que não me devo preocupar com o problema "burkini" mas sim com a repressão ou liberdade que está por detrás do seu uso.
Resolvi pensar numa analogia simples.
Imaginei que, em 1940 no Reino Unido, certos grupos "clandestinamente" obrigavam os judeus a usar a estrela amarela na roupa, com o argumento que essa roupa era desenhada por designers de moda.
O que faria a Democracia Britânica? Permitiria, apoiaria e defenderia este uso por ser o direito individual de livre expressão democrática? Seria possível consentir que, "às claras", a liberdade democrática fosse usada para garantir anti-democracia?
Conlui que esta hipótese seria IMPENSÁVEL acontecer na sociedade britânica!!!
Então o problema é o burkini ser um símbolo e um instrumento de repressão anti-democrática. Então pensar a opção fazer, resume-se a pensar, como cidadão, CONSINTO ou NÃO CONSINTO? E não sendo governo, politico, comentador, etc, hoje as redes sociais podem levar as vozes à opinião colectiva.
Em termos simples, a responsabilidade da posição a tomar poderá ser clarificada com a resposta à pergunta:
Sabendo hoje o que aconteceu em 1940, nessa época responder-se-ia SIM ou NÃO ao consentimento das estrelas amarelas nos judeus?
E já agora, qualquer que seja a resposta, convém não esquecer que a escolha feita condicionará a sociedade em que os filhos e netos irão viver.
Foi um alívio... realmente Burkini e Democracia estão intimamente ligados.
PS - Esta união aparece noutras situações.
Na violência doméstica, o facto do conjuge não querer sair, e querer continuar a levar pancada, não a transforma em carinho. Repressão é repressão e a liberdade de bater no conjuge não faz parte da liberdade democrática.
O facto de querer levar um tiro (suicídio) não dá ao atirador a liberdade democrática de o fazer. O escravo que quer continuar escravo (USA: casos libertação escravos) não dá ao outro a liberdade democrática de ser seu proprietário.
Dizer que a Democracia dá o Direito de Falar... é verdade, mas é bom não esquecer que a Ditadura também dá... desde que fale a favor.
Não se deve misturar "alhos com bugalhos".