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quinta-feira, 17 de maio de 2018

Bugs 👻 nas crenças e vida

O Problema

A cultura é uma espécie de filtro que nos faz viver ideias, sensações e acções "correctas" se com ela concordantes e "erradas" se discordantes. Assim mudar de cultura e/ou de crenças é mudar de vida.
Normalmente as nossas crenças são "verdade" e as dos outros "mentiras". Ás vezes, até há quem lute e morra por elas e a DES-culpa é sempre que a culpa é dos outros (vide fanatismos). 

A cultura é um fenómeno interessante pois pode conter crenças contraditórias e viver com ambas em alegre dissociação, por exemplo, ao afirmar o contrário do que diz "Graças a Deus que sou ateu" ou concordar quando lhe dizem "Acredite em mim que falo verdade".

Esta trilogia ideiasactossensações, motor da cultura, tem como exemplo clássico a velha crença da Terra Plana versus a Terra Redonda (vide internet com crentes e descrentes):


Porém, estas crenças a "descoberto" agarram-se a uma crença-mãe escondida e camuflada nos confins da mente. Na verdade, todas elas se apoiam em acreditar que tudo se baseia em instintos genéticos ou pelo contrário em aprendizagens ensinadas ou, talvez, em ambas no estilo "genético temporário", ou seja, aprende-se e fica genético até nova aprendizagem.

Na verdade, sob o ponto de vista lógico o mundo das crenças é inesperado, criativo, saudável e perigoso pois altera, destrói e constrói vidas, disfarçada e impunemente. Viver nele é como andar por mares alterados e com rochedos em que, parados ou a navegar, o rochedo vai bater-nos.
Por exemplo, olhando esta foto,


aceitar-se-á que os comportamentos do gorila e do tigre são naturais por genética ou artificiais por aprendidos? 

Possivelmente  o biberão levantará algumas dúvidas e incómodos para decidir se, no início da "criação" quando [...Deus criou o mundo...], os instintos de usar o biberão (que não havia) foram instalados ou só apareceram posteriormente. 

Debates surgirão e alternativas lutarão desde [...biberões não existiam mas o instinto foi previsto por Deus...] até [... a "criação" não é estática mas dinâmica e está sempre a acontecer...].
Estes debates darão longas, intensas e confusas "conversas" entre a crença criacionista e a crença evolucionista.

Lutas fanáticas, políticas, religiosas e até emocionais baseiam-se sempre em crenças assumidas chamadas FÉ's sem nunca se analisar se são genéticas (pré-instaladas) ou aprendidas (pós-instaladas)... apenas se luta e morre por elas.

Uma crença a discutir

Tudo começou ao ver esta foto da Oliveira das Mouriscas que me provocou um "baque" cultural: 
- "Uma oliveira com 3.350 anos!!!????... do tempo de Moisés e Ramsés???",

e pensei... "...Raizopartiça... qu'é isto?", então os humanos quanto mais anos têm mais definhados ficam e com menos energia, mas as árvores quanto mais anos têm mais fortes ficam (ramos, folhas e raízes novas) e mais cheias de energia.

Haverá, nos humanos, um problema de crenças a inquinar decisões de vida???

Na verdade e relativo ao duo corpo-energia, há duas crenças, numa "o corpo faz a energia" (ocidente) e noutra  "a energia faz o corpo" (oriente). Estas crenças têm as causas e consequências invertidas.

Recordei aprendizagens havidas com a crença ocidental em que o corpo é uma espécie de motor de combustão interna que precisa de "recursos para queimar", quer sejam alimentos ou medicamentos. 

Recordei também a crença oriental em que a energia (ki) é o garante do funcionamento do corpo pois este é uma espécie de motor vibracional sustentado por frequências subtis.
Como exemplo, a ginástica "parada" (Stand Still, Zhan Zhuang) que cria aumento de energia sem ser por agitação motora (combustão) e, ainda, a alteração de circuitos de energia (acunpuntura) para tratar e curar. 

Não me parece que a acunpuntura seja psicológica porque não expliquei nada ao meu cão (com problemas na coluna) e durante os seus últimos 8 anos ficava muito quieto, e até se babava, nas sessões de manutenção com acunpunctura. Depois vivia feliz e sem dores, correndo, saltando e brincando sem precisar de analgésicos até à próxima sessão.


Se se comparar as duas crenças surgem diferenças:

Na crença ocidental - para se ter energia faz-se treino corporal, activando músculos, ossos, tendões, ou seja, fazendo activação motora de combustão.  
O modelo é muito vulgar na economia conhecido por "investir para lucrar". Tem-se energia que se consome a treinar e fica-se sem ela. Depois, esgotado, precisa descansar para recuperar. A crença é que recupera o perdido (o investido) e obtém um acréscimo (o lucro). 
Na actividade física a este "investir energia para lucrar" chama-se treinar.

Na crença oriental - para se obter energia faz-se activação de energia (ki) sem intensificar combustões musculares. Isto quer dizer que [...para ganhar energia não se gasta energia...] portanto depois não é preciso descansar e ainda se obtém o acréscimo desejado.

Falo por experiência pessoal como ex-praticante e ex-prof. de yoga. Realmente, na yoga não se gasta energia a executar e no pós-sessão acaba-se energizado. 

Comecei a fazer Yoga no início dos anos 60 pois, quando militar em Africa, conheci uns frades dominicanos que faziam "Yoga para cristãos". Indicaram-me o livro do frade Déchanet ("Yoga chrétien", Desclee Brouwer, 1956) e ajudavam-me sem teologias nem psicologias mas com conselhos no que chamavam a "via do silêncio". 
Fiquei "fan" e durante 50 anos a yoga foi imprescindível (30/60m diários) estivesse onde estivesse... até no navio com balanço, 😇😇 pois consegui adaptar algo da teoria da "Yoga sans postures" (P. Méric, "Juste une attitude") a um chão agitado.

Efeitos das crenças

Pensando nas duas crenças atrás citadas, cheguei à conclusão que devia haver algures um "qui pro quo", pois cada crença pode originar compreensões desfasadas (misunderstanding, descompreensões) sobre a outra por erros culturais interpretativos.

Quer isto dizer que interpretar com crença ocidental (centrada na matéria) as actividades de Yoga (ou Qi Gong, To-Ate, etc) criadas na crença oriental centrada na energia (Chi, Ki, Prana), algo se perde na transferência ao [...interpretar o dito com conceitos desvirtuados (alien)...].

Por exemplo, fazer Yoga "centrada" na sua forma (posturas, movimentos, respiração) mas não no seu conteúdo (Prana/Ki), é como beber sangria feita com um bom vinho tinto. Engole-se o álcool e dá euforia (embriaguez?) mas perde-se o prazer de sentir o "sabor do vinho". 

Na verdade, como dizia o enófilo [...embriagar-se com vinho bom é um desperdício... pois embriaguês é embotar sensações e saborear vinho é intensificar sensações], ou seja, para embriagar (ou ficar "alegre") qualquer zurrapa serve desde que tenha álcool.

Com a yoga acontece o mesmo, praticá-la sem a perspectiva do prana/ki é apenas mais uma aeróbica "esquisita" entre a antiga ginástica sueca (Pehr Ling), o contorcionismo de circo ou a moderna pilates, steps, aquallure, box virtual ou yoga flutuante (USA: Sandbox fitness, UK: Sup yoga).

Em conclusão, yoga na perspectiva ocidental faz bem mas perde a "essência", a potenciação do Ki. A yoga na perspectiva oriental é o mundo da energia subtil não das posturas, estas são o caminho e não a essência. 

Por exemplo, é impensável fazer Jogos Olimpicos de Yoga. Como avaliar o participante vencedor  de posturas exactamente iguais e durante o mesmo tempo?? Uma solução seria colocar electrodos no sistema nervoso e analisar alterações neurais porque a essência da yoga pertence a outro plano, às relações psicossomáticas e somapsíquicas e não ao visível exteriorizado.

1 -  Psicossomática é a influência do psy sobre o orgânico, por exemplo, a pornografia na internet quando por estimulação virtual se obtém excitação sexual. 
Ou noutro exemplo, ter sensações diferentes por crenças instaladas no Ocidente (foco no espaço cheio) distintas do Japão (foco no espaço vazio):

Aplicado na POESIA
Haiku- poema japonês com 3 linhas de 5, 7, 5 sílabas (tradução não mantém forma silábica)
A pedra no lago silencioso,
com a ave que dela salta e voa...
fica o céu e a pedra molhada.

Este poema na cultura ocidental induz a sensação de céu CHEIO "de ave a voar" na cultura japonesa induz a pedra VAZIA "de ave poisada".

Aplicado na DECORAÇÃO


2 -  Somapsíquica é a influência do orgânico sobre o psy, por exemplo, a inspiração respiratória. 


Na verdade, o músculo do diafragma permite gerir a inspiração com dois formatos. 
Num caso, (respiração abdominal) a inspiração é feita com o diafragma a empurrar os intestinos para baixo (não para a frente) e no outro (respiração Hu Xi Tchan) a pressionar o tórax para cima. 
As duas alternativas são usadas em práticas de yoga, possibilitando diferentes controlos de relaxação e energização.

Numa visão resumo das crenças culturais sobre a actividade yoga, a cultura ocidental centra-se na motricidade corporal e a energia é um factor colateral, enquanto a cultura oriental se centra na energia (ki) e a motricidade é um factor colateral.

Uma pergunta simples, na figura seguinte: Qual é a ginástica e qual é a yoga?

A resposta é fácil: 
- "Não se sabe!!!

pois independente da duração, da correcção da postura e muito menos da roupa ou local (trave de ginástica ou tapete)... nada se pode concluir. Porém, é possível tentar outras aproximações.  

"Nunca encontrei a alma na ponta do bisturi!", esta frase atribuída a Condillac (séc. XVIII) parece ser uma espécie de confirmação para a inutilidade da discussão sobre o Ki. Porém, sob o ponto de vista lógico ela só serve para dizer o que diz, isto é, "que não encontrou", permitindo concluir que poderá existir ou não. 

Esta crença ilógica do "não é objectivável... não existe" é um "beco sem saída" até porque durante milhares de anos os átomos não foram objectiváveis e sempre existiram.
É preferível caminhar na fronteira entre as duas culturas "não Ki 🔃sim Ki" e pesquisar o que as une e é possível objectivar.

Por exemplo, a energia (ki) aceite no oriente como fluir da vida pode ser "irmã gémea" da energia quântica (onda-partícula, quarks e fotões) aceite no ocidente como a essência que flui no real.

Porém esta coexistência da energia na ginástica ocidental e yoga oriental traz consigo uma diferença.
A ginástica preocupa-se com a postura, FIM, para isso socorre-se da energia, MEIO. A yoga é o inverso, a essência é a energia (Ki), FIM, para isso socorre-se da postura, MEIO. Os meios e os fins estão trocados.

Como na ginástica o resultado é objectivável, ele vai permitir avaliações exteriores (campeonatos), porém na yoga o resultado não é objectivável porque as consequentes alterações energéticas (ki) SÓ O PRÓPRIO SABE, portanto não há campeonatos de yoga.

Como curiosidade, é exactamente o que acontece na meditação, juras amorosas, rituais de desculpas e rezas pois ver/ouvir alguém dizer o Padre Nosso não garante que esteja a rezar ou apenas a murmurar.
O exterior visível e objectivável não garante o interior invisível e subjectivo.

O primeiro ensinamento para aprendizes da yoga deve ser ensinar técnicas de diagnóstico do ki pois [...postura sem treino de ki não é yoga...] sendo apenas uma ginástica "esquisita" com os benefícios específicos de cada actividade física, variáveis desde o nadar ao correr, passando pelo râguebi, ballet,  bilhar, etc.

Porém a yoga exige que o próprio praticante tenha consciência do que acontece no seu "interior" para além do efémero executar exterior. Na verdade, ele é o único avaliador do seu progresso, só ele saberá se num dia fez posturas boas com mau treino de ki e noutro fez posturas más com boa potenciação do ki.

Por exemplo, por muito aconselhada que seja a posição zazen, o seu desconforto para um ocidental pode criar uma péssima yoga (ou meditação, ou rezar, etc). 

A simples substituição pela posição egípcia possibilitará uma melhor yoga. O essencial não é a postura é o "como se está na postura", o simples fazer-posturas-yoga não significa fazer yoga...


Recordo que, nos inícios da Yoga, o conselho constante recebido era descobrir o que havia de diferente no sentir interior de cada postura em cada dia. Isso só o próprio pode saber e é o caminho.
Para ajudar davam exemplos de estar ou não no caminho, desde formigueiro nas mãos, braços, pernas até relaxações tonificadas com estados de vigília e não moleza (sonolência). 

Era importante a flexibilização não ser por insistência de estiramento (à ocidental) mas por sensações de estar no máximo confortável e ficar nesse "espreguiçar" sem esforço nem dor. O espantoso é que funcionava com rendimento e rapidez.

Na altura não percebia o porquê destes conselhos de "caça às sensações",  tipo "peso do ar na pele", "peso da gravidade nos orgãos", "alterar centro de gravidade", etc. Pensando à ocidental, para mim a yoga era ainda simplesmente contorcionismos "terapeuticos", imóveis e saudáveis.

Só mais tarde, percebi que se estavam a referir ao que, numa tradução livre e ocidental, se poderá chamar as "sensações subjectivas", a essência do treino do ki.

Sensação subjectiva
O Ki é uma acção integrada de 3 elementos que poderá ser expressa na crença oriental e na ocidental:


Numa possível interpretação ocidental, o vórtice Ming Tang (atrás da testa) serão os lóbulos pré-frontais, centro da visualização, concentração e imaginização das actividades. O vórtice Tan Tien no abdómen é o centro de gravidade do corpo ponto de aplicação da energia e o vórtice Tang Chung no tórax são sensações em seus ritmos cardíacos.

Na prática, poder-se-á dizer que o treino do Ki é integrar com consciência activa e concentrada, simultaneamente, as mútuas conexões destes três polos, criando um EAC (Estado Alterado de Consciência) e um ECA (Estado Corporal Alterado) de energia subtil (Ki).
Em esquema:
Parece complicado mas não é, na prática é assim que se toca piano.

O pianista com a mente (Ming Tang) visualiza a Sinfonia de Mozart (e não de Beethoven), aplica a energia (Tan Tien) nas teclas (e não em poses públicas), e vive sensações (Tang Chung) com a música  tocada (e não recordando Festivais da Canção).
O taoísmo chama-lhe a dança dos 3 elementos ou, na cultura ocidental, a trilogia (atrás citada) ideiasactossensações (vide "Acto e pensamento", H. Wallon).

Noutro exemplo, o "cross" budista THERAVADA:


Sob o ponto de vista corporal é um calmo passeio de 30 minutos numa distância de 10 metros, mas sob o ponto de vista mental, sensorial e energia (os 3 elementos) é um intenso treino nada fácil para um iniciado.

Por exemplo, um simples passo obriga a visualizar (Ming Tang), aplicar (Tan Tien), sentir (Tang Chung), dezenas de articulações, desde o pé da frente ao pé detrás, passando pelos dedos, planta pé, tornozelo, joelho, bacia,  coluna, cabeça, etc, em seus sincronismos, movimentos e equilíbrios e depois passar ao passo seguinte sem perder a concentração.

Não é fácil e, por experiência pessoal, é um dilema pois lentidão facilita a atenção mas dificulta a concentração e se há rapidez acontece o inverso... e o resultado é paradoxal. Em qualquer caso o caos e a ordem "zombie" instalam-se, um na trilogia ideiasactossensações e o outro no andar, ou inversamente. O "cross" THERAVADA falha, tudo tem que recomeçar.

Num THERAVADA caseiro entre assoalhadas (8 metros) consigo fazê-lo em dezenas de minutos de concentração e "falhas", mas o resultado é mais enérgico e tonificado quanto menos falhas faço nas "sensações subjectivas".
Este cross visto do exterior é apenas um andar devagar, porém visto do interior eu sei se é ou não. Às vezes desisto porque nesse dia realmente "estou  a andar devagar e isso é uma chatice".

Experiência subjectiva

...é fundamental sentir a energia da postura... (Taisen Deshimaru)

Uma postura é um mecanismo somapsíquico detonador do fluir do ki, se é correcta facilita, se incorrecta não facilita e pode prejudicar.
Complementando com a trilogia ideiasactossensações e com "boleia" da quinestesia (sensações subjectivas musculares e viscerais) é possível ter um treino simples, constante e discreto de potenciação do ki.
Como intróito (e a fazer... AGORA):
Se está a ler este texto, não deve sentir a cadeira nem a meia calçada.
Procure agora saber se a cadeira é dura e a meia é áspera.
Se o fez e tem resposta... activou a sua quinestesia. 
Pensar a pergunta (ideia), tactear com músculos (acto) e sentir diferença (sensação) provocou um EAC (Estado Alterado Consciência) com estímulos que apesar de já existir... não existiam estimulações.
POSTURA

1 - Sentar em posição-egípcia na extremidade de uma cadeira (só apoio no cóccix):
2 - Sentir o abdómen, por baixo do umbigo, 3 a 4 cm no interior (Tan Tien).

TRILOGIA (ideia-acto-sentir)

Procurar sentir o descrever de círculos em torno dessa área, primeiro num sentido (36x) [homens: relógio; mulheres: c/relógio] e depois em sentido contrário (26x).
No início, para "despertar" a sensação do estímulo virtual, poder-se-á com o dedo desenhar levemente na pele os círculos visualizados.

Relaxar, não tencionar músculos e respirar suavemente com a lingua no palato, sendo a expiração mais longa que a inspiração.

Concentrado, pesquisar em circulo essa região procurando sentir pequenas estimulações resultantes.
Acabar-se-á por ficar "entretido" com as estimulações (espécie de sonho acordado), perdendo impaciências e noção do tempo (o hemisfério direito assumiu o controlo).

Se reparar, a coluna ficará mais direita, o pescoço esticará, a respiração ficará abdominal e surgirão inspirações relaxantes (suspiros), sentindo-se tonificado sem sonolência.
Ao fim de alguns minutos (5m?) acabará  repousado, com energia e DESPERTO.

Como aviso, apesar de relaxante não serve para facilitar o adormecer e/ou combater insónias. Se ficar sonolento ou impaciente há bugs 👻👻 no treino, deverá parar-rever-encurtar-concentrar.

Recuerdos de "Ki" à ocidental
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1-  Ainda adolescente comecei a fazer trapézio na G.C.P., era divertido e excitante. 

Entusiasmado comecei a querer fazer o “triplo salto mortal”. O mestre Gilberto Barros ensinava e apoiava mas era muito cuidadoso. 

Recordo que muitas vezes ele me avisava, meio sério meio a brincar, “primeiro tens que fazer o salto na tua cabeça e o sentires no corpo… " e concluia "sonha com ele”.
Adormeci muitas vezes a sonhar acordado com as voltas no ar e, um dia, acabei por fazer o triplo mortal no Coliseu dos Recreios:


De certo modo estava usando a técnica dos 3 elementos (ideia-acto-sensação) do taoismo sem o saber.
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2-  Já adulto fiz judo com o mestre Kiyoshi kobayashi.
Às vezes, treinando em pares, ele fazia-nos lutar de olhos vendados, apenas tocando no outro com a ponta dos dedos e sem agarrar. 

Muito longe da "respeitabilidade" da cultura japonesa, eu aceitava mas contestava e resmungava em silêncio: “Este gajo (!!!)… julga que sou bruxo!?!?” mas lá continuava a tentar. 

Subitamente, com espanto, às vezes a técnica funcionava. Mudei de atitude e depois este treino era o que preferia apesar de não perceber mas já pensava "respeitosamente "... parece mesmo bruxedo".

Os 3 elementos (ideia-acto-sensação) do taoismo continuava a actuar.
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3-  Como militar durante muito tempo (2 anos) treinei boxe com o profissional mestre Ferraz.

Lembro-me de ele me dizer várias vezes que o soco é “não se pensar e sentir o braço socar”. Não percebia bem o que isto queria dizer. 
Culturalmente, pensava que o soco se decidia com a cabeça e dava-se com a luva. Jogar boxe era dar murros e o punching ball era o meu treino favorito e divertido.

Um dia, estando entretido com o punching ball, ele aproximou-se e perguntou-me se eu "tirava o soco". Não percebi o que queria dizer, ele rindo explicou que o soco é "sentir o braço a dar e depois o braço a tirar".

Perante o meu ar aparvalhado, resolveu dar uma explicação audio-visual. Devagar, encostou e empurrou com o punho o meu estômago e depois, brusca e velozmente, “tirou a mão”. Quase vomitei e levei algum tempo a recuperar. 

Nunca mais esqueci e decorei que era importante “pensar e sentir o braço a dar e tirar o murro". O meu treino de punching ball alterou-se, não esquecia sentir o bater e sentir o tirar.

Novamente os 3 elementos (ideia-acto-sensação) se instalavam: pensar dois movimentos (Ming Tang), controlar a energia (Tan Tien), sentir dar-tirar (Tang Chung).

Daí em diante o estilo (e resultado) do meu boxe mudou. Por duas vezes, sem força e apenas “esgrimindo luvas”, sem o desejar provoquei "ligeiro" K.O. técnico.
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4-  - Dezenas de anos depois, Itália-Alpes 2001, andei 10 metros descalço sobre carvão de coque incandescente (600º/700ºC?) sem me queimar e sem dores, ficando apenas com as solas dos pés esbranquiçadas. Nunca percebi como e pesquisei durante anos.


Para esta experiência houve uma sessão de preparação de duas horas (2100/2300) com actividades psicofísicas (relaxação, imaginização, meditação, etc), somapsiquicas (estiramentos, flexibilização, tensionamentos, etc), ambas intervaladas com ritmos (música, caminhar, equilibrios, etc). Tudo vulgar, normal e conhecido. 

Não houve drogas nem rezas a deuses, gurus ou profetas, nem histerias tipo vendedores-de-feira metafísicos com mitos, slogans e adeptos.
Foi apenas uma nova experiência-humana, semelhante a mergulhar no oceano e ter peixes à volta, sem transformar isso numa religião de rituais e obrigações de crenças a cumprir, tipo ...caminhei no fogo e nasci OUTRO...

A questão que me interessava não era metafisica nem alquímica, era simplesmente prática, curiosidade em saber "porquê" e operacional em poder "repetir se quisesse".
Obtive livros, artigos e CD's de ritmos e frequências neurais, teorias e opiniões. Porém fui incapaz de reconstituir a estrutura da sessão e de compreender os factores em jogo.

Mais tarde, aprofundando a problemática do Ki, descobri que talvez andasse a fazer perguntas erradas sobre a experiência de caminhar no fogo.

O factor crítico não devia ser a sessão de preparação, mas sim a atitude sobre as brasas. Por outras palavras, a "pequena diferença" devia estar nas sensações vividas ou sensações subjectivas que criavam um EAC (Estado Alterado Consciência) à semelhança do treino de atitude do ki.

Esta ideia fortaleceu-se com a luta To-Ate (aikido sem contacto),


e comparando textos acerca do Ki com as minhas recordações.

Alguns relatos eram semelhantes às sensações havidas durante o pisar do fogo como também semelhante às sensações posteriores de energia e bem estar descritas nas pós projecções To-Ate.

No dia da experiência, a actividade acabou pela meia-noite e os que caminhámos estivemos até cerca das cinco da manhã, calmos e interessados, a conversar sobre o acontecido. Pelas 9 horas, estávamos a tomar o pequeno almoço sem qualquer sinal de cansaço.

Vendo esta esta fotografia de 7 Abril 1937, Carshalton, England, sobre um "caminhar no fogo":


não me sinto nada identificado com ela.
Recordo que um dos conselhos mais recebido do orientador durante a preparação foi nunca apressar, sempre ir devagar "sentindo os pés" e nunca perder concentração.
Formalmente avisava que, no local, se não nos considerasse em condições não permitiria a experiência.

No meu caso, depois da travessia estava tão espantado que rapidamente voltei ao início para repetir e poder "ver-me bem no fogo". Alegando que já não estava em condições, não me foi consentido.

Na foto de 1937, a atitude dos caminheiros não parece ser de quem controla sensações subjectivas. Pelo contrário, parece mais um "fugir das queimaduras..." ao estilo "Aiii...Aiii...Deus me ajude...".
Repare-se no último participante com metade do corpo a não querer ir, outra metade a ser puxada e a cabeça indecisa. Nas actividades de risco este des-sincronismo corporal chama-se "atitude quebrada".

Daqui para o futuro... 

Fui ensinado que quanto mais idosos somos menos energia temos e o corpo fica esvaído. A conclusão científica e verdadeira é... "deixamos de ser jovens".
Aprendi também que ser velhinho é estar quietinho e saudável e, para isso, enquanto jovens deve-se fazer muita ginástica, fortalecendo o corpo e ficando como o Tarzan.
Fiz tudo isso!!! Na verdade, a crença do investimento apanhou-me.

Investi em ginástica e desportos para ter energia na velhice. Agora olho à minha volta e quer os que investimos, quer os que não investimos, estamos todos iguais... quietinhos e de bengalinhas.

SINTO-ME ENGANADO!!!

Pensando no método seguido ele era simples. Na prática, era gastar nos ginásios e estádios a energia que tinha até me cansar, isso chamava-se treino. Depois era preciso estar quieto para voltar a ter essa energia, isso chamava-se recuperação. Repetia-se o conjunto "cansa-descansa" com a crença que recuperava mais que do que gastava, isso chamava-se progressão.

Porém,  o "cansa-descansa" sofre uma crise e deixa de dar lucro, é a fronteira de jovem a idoso:

1º - é jovem ➼ corre-se quilómetros, descansa-se horas, ganha-se energia! 

2º - é idoso ➼ corre-se metros, descansa-se dias, perde-se energia!

SINTO-ME FRUSTADO!!!

Olho para árvores idosas, jovens de 3.350 anos, e vejo-as cheias de energia. Elas não jogam na crença do "cansa-descansa". Decidi também sair desta crença e ir para a crença "quieto-ganha energia".

SINTO-ME ESPERANÇADO!!!

Comecei com treinos de Ki através Yoga e Stand Still (Zhan Zhuang) na visão oriental.

Quieto e de pé, focado na trilogia "ideia-acto-sensação", comecei a fazer 1 hora/dia de ginástica-quieta, acabo com mais energia do que começo. Agora, apesar de idoso já abandonei a bengala e criei a minha crença pessoal:

Dançar sempre o tango nas Passagens de Ano,
abandonar o treino do "cansa-descansa" e fazer
 o treino "quieto-caça energia" seja ela o que for... 
...Ki, Prana, Chi ou Genica (à portuguesa)

As crenças são um dilema pois não podemos viver com elas e não podemos viver sem elas.
São maldição se a elas ficamos presos (fanatismos) e bençãos se libertos as usamos (lucidez). 

Todas as diferentes civilizações humanas têm a mesma essência, crenças em constante transformação desde religiosas e políticas até emocionais e científicas.
Os jovens e as crenças com suas constantes mutações são a minha esperança no meu ESPERAR.

Inté outro dia (e não adeus)
Maio, 2018