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sábado, 31 de janeiro de 2015

Romeu e Julieta, paixões e neurociência



Com este olhar de êxtase (apaixonado??) o que se passará no cérebro deste nosso "primo"????
O Romeu e a Julieta também se olhariam com este olhar???
Os neurónios trabalharão todos da mesma maneira quando há um EAC, um Estado Alterado de Consciência????
Parece que sim que na verdade as sinapses neurais (ligações entre dois neurónios) funcionam todas da mesma maneira, pelo que parece que os estudos e investigações neurais nos ratos servem apenas para compreender melhor os humanos.
(“Dynamic Increases in Dopamine During Paced Copulation in the Female Rat”, W. Jenkins; J. Becker, in J. Neuroscience, 2003)


Sinapses neurais

De um modo simplificado, um estímulo é o resultado de uma percepção e a percepção é o resultado de bio-electriciadade a fluir nas redes neurais.
O factor crítico do funcionamento é o interface entre dois neurónios que permite que a saída de um (output) se traduza numa entrada (input) para outro e assim sucessivamente, criando cadeias de contaminação, originando as progamações (scripts) e detonando sentimentos (estados de espírito) e comportamentos.

O mecanismo é simples, é uma espécie de Efeito Dominó, isto é, um "incendeia-se", contamina o seguinte e assim sucessivamente, seguindo a rede dos padrões instituídos:

... e o orgasmo acontece com tudo a mudar à sua volta,
 pois ele existe no córtex e não nos genitais..
e assim vive a actividade sexual, isto é, [...antes e depois da queda da tensão (orgasmo) os estados de espírito são diferentes].

Na ligação entre dois neurónios o crucial são os receptores dos impulsos pois, ou estão bloqueados e nada acontece, ou estão sensíveis e tudo acontece e se os disponíveis são poucos... pouco acontece, se são muitos... muito acontece. 
Quem controla esta situação são os neuroquímicos (hormonas e neurotransmissores) em que, por exemplo, o vício da heroína altera condições de recepção criando bloqueios nos receptores:


O gráfico expressor do mating, a estratégia dos genes para muitas e diversificadas fertilizações, permite visualizar o "jogo" dos neuroquímicos agindo a defender e potenciar essa estratégia. Assim surge o ciclo standard do orgasmo.
(Referências:
Blog Pinçamentos "Sexo, Altos-e-Baixos, fidelidades e infidelidades", 17Jan2015; clickar aqui
"Sexo, Dança do varão, Kamasutra e Tantrismo" 24Dez2014, clickar aqui.  
“Brain Activation During Human Male Ejaculation,”, G. Holstege, et al., J. Neuroscience.Oct. 2003.
"The Mating Mind: How Sexual Choice Shaped the Evolution of Human Nature", G. Miller, London: Heinemann, 2000.)

Ciclo do orgasmo

Considerando apenas o gráfico do mating e esquecendo o complementar gráfico do bonding, com suas possíveis alternativas,  ter-se-á:


onde existem, ANTES e DEPOIS do orgasmo, dois mundos diferentes de "turbulências" de neuroquímicos, uma espécie de ciclo "prazer-ressaca" que cria estados de espírito e comportamentos distintos.

Antes é o mundo da Dopamina centrada na antecipação e no desejo, mais que na gratificação, pressionada por outros neuroquímicos tais como a testerona e o oxytocin.
Depois é o mundo da Prolacticina centrada na "ressaca", no isolamento e na procura de novos parceiros, apoiada pela redução dos anteriores e pela intensificação de outros, por exemplo, o serotin e os opiáceos.
Este rescaldo dura entre 1 a 2 semanas para voltar ao normal e tem o aspecto de:

 "Panorama" da ressaca neuroquímica depois do orgasmo
até regressar ao normal
Em estudos efectuados, as características dos "altos-e-baixos" das flutuações da Dopamina podem expressar-se em:


pelo que convém não confundir a hipo-actividade pós-orgasmo com relaxação (dormir profundo não é relaxação) nem a "falta-de-mal-estar com "existência-de-bem-estar" (não estar infeliz não significa estar feliz), portanto o resultado do orgasmo pode [...não ser alcançar um bem-estar, mas sim evitar o mal-estar da tensão existente].
Assim, o alívio como prazer fica confundido com o prazer da alegria... resultando um soninho descansado pelo fim do incómodo (a tensão sexual) e não a energia vibrante do encontro com a êxtase (relaxação sexual), como é salientado pelos taoístas.

Porém as intensificações da Prolacticina (criadora do alívio como prazer-recompensa) arrasta "queixas e lamentos", baseadas na "insatisfação e desejos de um novo par", e trazem consequências:

[Historicamente estas consequências têm sido chamadas depressão pós-coito, impotência orgástica ou espermatorreia e a "cura" normal é ter mais orgasmos o que origina melhorias a curto prazo mas intensifica as consequências a médio-longo prazo com ciclos seguintes de maior intensidade de:

- Agitação, irritabilidade, insatisfação, desejo de menor contacto com outros, choro, ansiedade, fadiga;
- Hostilidade, pensamentos confusos, sentimentos de insegurança, carência emocional;
- Auto-análise compulsiva ou do par, ciúme, intenso desejo de fuga, isolamento;
- Esquecimento, ânsia por substâncias ou actividades que aumentem a dopamina, atracção por potenciais parceiros. 

Em forma aguda são dores de cabeça, confusão mental debilitante, cansaço, dores musculares, ansiedade social grave, o chamado ciclo de POIS, Post-Orgasmatic Illness Syndrome (Síndrome da Doença Pós-Orgasmática).]

(“Specificity of Neuroendocrine Response to Orgasm During Sexual Arousal in Men”, T.Kruger Psychoneuroendocrinology, 1998
 “Prolactin Release After Mating and Genitosensory Stimulation in Females”, M. Erskine, Endocrine Reviews, vol.1995)

Em termos neurais a situação é simples [...menos receptores, menos sensibilidade, reduzida percepção, bloqueios...]:


A  redução de receptores, fenómeno característico do aditismo (álcool, cocaína, ópio. etc), aumenta a ressaca e a dificuldade de regresso à homeostasia (equilibrio saudável) inicial, "exigindo" aumento de quantidade-frequência da substância para obtenção de não "mal-estar".

Filme de 2008 baseado
na novela de L. Tolstoy
Como dizia L.Tolstoy, na sua novela muito censurada logo no séc. XIX (Rússia e USA), "The Kreutzer Sonata", com a acusação de moral sexual prevertida, incidente sobre a turbulência dos amores humanos do tipo [...animais e grosseiros]:

"...um período de intenso amor [sexual] é seguido por um longo período de raiva, um período de suave amor induz um suave irritação. Não percebemos que este amor e este ódio são, nos animais, duas faces opostas do mesmo sentimento."

Na verdade, sob o microscópio da neurociência, o sexo e seu orgasmo é a abertura de uma Caixa de Pandora cheia de neuroquímicos em equilíbrios turbulentos, afectando o funcionamento do corpo nas relações somapsíquicas (corpo-mente) através das 3 áreas do cérebro, reptiliano, límbico e racional. O córtex límbico (mammal), funciona como centro de comando de toda a actividade neuroemocinal:
Exemplo:


Vamos imaginar que um sentimento de hostilidade é a consequência da ressaca do orgasmo devido à alta intensidade da prolacticina que altera o córtex límbico.

A relação entre o límbico e o racional é ambos responderem um ao outro e, normalmente, o límbico (emoções) "manda" e o racional "obedece", planeia, executa e justifica tudo.


Assim, enquanto a hostilidade está "viva" no córtex límbico, é feito um "pedido" ao córtex racional para este "justificar" a hostilidade, encontrando a evidência, a prova da sua legitimidade.

Neste processo, normalmente, há uma desproporção lógica entre a intensidade energética da emoção (aqui hostilidade) e a importância-urgência da causa apresentada como  "lógica".
No exemplo, a hostilidade é devida ao facto de "a pasta de dentes estar destapada".

Na etapa seguinte, o mecanismo é o inverso, agora é o pensamento (a causa encontrada) que procura uma emoção correspondente, digna de ser disso consequência.

O processo é um crescendo contínuo de intensidade (circulo vicioso) com a regra de "a fase seguinte ser desproporcionada (maior intensidade) em relação à fase anterior" criando uma escalada cega.
No exemplo, surge uma emoção de ataque - " Vou matar alguém"!


O Doing love, apesar de seguir este mecanismo no seu mating, tem sobre ele um relativo controlo originado na existência discreta do seu bonding, devido à sua influência.


Doing love
É interessante o termo "womanizer"
aplicado a Casanova, na titulagem do quadro
Casanova com seus amores saltitantes poderá ser um símbolo do Doing Love, seguindo o esquema neurológico de um mating coexistindo com um bonding quase inoperante:


Na época e sua classe social talvez Casanova desenvolvesse um certo número de maneirismos de um bonding sentido e verdadeiro, fugindo às formas [...animais e grosseiras...] citadas por Tolstoy (vide "The Kreutzer Sonata"), cuja inexistência é característica do Taking Love dos violadores e estrupadores da época actual, apesar destes às vezes usarem um kit de "mascaradas" de bonding.

Possivelmente na época de Casanova ainda existia muito viva a herança do amor trovadoresco da Idade Média, talvez influenciada pelo pensamento dos cristãos Cátaros no sul de França (sec X a XV), a respeito do papel e posição da mulher  na vida, nas relações e na espiritualidade. 
Foi um movimento muito forte e enraizado que originou a sangrenta cruzada contra os Cátaros que não aceitando as muitas pressões e negociações de integração do Vaticano, acabaram dizimados como hereges pela cruzada (35 anos, com 3 fases) do Papa Inocêncio III (séc XIII).

PS - É interessante que na cultura ocidental a posição humana característica de mating (procriação) seja  chamada a "posição do missionário" a qual, nessa forma simplificada, raramente é modelizada na cultura oriental.

Na prática, o modelo do Doing Love facilita a estratégia neuroquímica dos genes na construção da sua sobrevivência e imortalidade com [...muitas fertilizações em pares diferentes], aproveitando as facilidades introduzidas pelo ciclo do P.O.I.S., com a factor ressaca do orgasmo nos dois parceiros.

Uma história de muito mating e pouco bonding, ou os efeitos da Prolactina::

António regressa do Hospital com os resultados das análises e o diagnóstico, sabendo que só tem 24 horas de vida. 
Limpando as lágrimas da mulher e abraçado a ela, o António pede para fazer amor. Ela concorda. 
Seis horas depois, já deitados, António pergunta-lhe: - "Podemos fazer amor outra vez?" e ela concorda. 
Mais tarde, António repete: - "Querida? Por Favor… Só mais uma vez antes de morrer" e tudo se repete. 
Três horas mais tarde ele toca-lhe no ombro: "Querida, poderíamos ...?" 
Ela senta-se abruptamente, vira-se e diz: "Olha lá… António!....Eu tenho que me levantar cedo… TU NÃO!!! "

Na verdade no doing love tudo é dominado por [... fertilizações até que a prolactina dá a ordem: "- Já está, ...agora outro parceiro, é preciso diversificar"].
Em estudos efectuados na observação do CIO em animais, é raro o macho, depois de consumar a fertilização, continuar interessado em repetir, normalmente aproxima-se e ...desinteressa-se, -"O dever foi cumprido,... Adeus!"

Porém, quando também existem estratégias de bonding a situação não tem esta simplicidade, se bem que no ciclo do orgasmo possam ainda aparecer períodos de aborrecimento de 1/2 semanas, os chamados "baixos" do casamento(???), até tudo voltar à normalidade da atracção como, por ex., sucede no Making Love.

Na lua-de-mel ou quando o bonding é intenso e com características diferentes, por ex., em Happening Love, Karezza, taoistas, tantric,..., com os chamados "altos" do casamento(???), pode não existir este efeito de aborrecimento em relação ao que era atractivo.

É preciso não esquecer que o ser humano está programado ...TAMBÉM... para desobedecer (positiva e negativamente) às programações instituídas.

Apresenta-se um pequeno video (4m35s) de UMA Casanova moderna, liberta de maneirismos artificiais tipo bonding, costumeiros nos disfarces e subterfúgios actuais das campanhas de mating para conseguir obter resultados.

De salientar que, no vídeo, apesar das tentativas de bonding do parceiro masculino, ela apenas está focalizada no mating, ou seja, "...nada de fintas!!", quer sejam antes ou depois do pico "neuroquímico" do orgasmo. isto é, um autêntico "Doing love" sem nenhumas características da violação de um "Taking love":

(e esperar uns segundos até abrir, se a meio parar clickar no começar)

Romeu e Julieta
Romeu e Julieta é o relato de um dating ou talvez de uma lua-de-mel clandestina com problemas contextuais mas não ultrapassa a fase inicial, pois não entra na fase da convulsão pela interacção mating-bonding:

Depois da lua-de-mel qual o caminho seguido??
A questão é saber o que acontecerá na convulsão dos neuroquímicos das fases pré e pós-orgasmo.
Não é uma questão de programações automáticas porque elas sempre existirão, mas sim de definir como se usam.
Esta é a questão a resolver com "negociações" entre o córtex límbico e o córtex racional ou, por outras palavras, é resolver se o resultado ficará mais perto do CIO comum aos animais ou mais afastado dele e mais perto de um bonding humano. A escolha de um ou outro só dependerá das "negociações".

Porém nas "negociações"humanas há um factor diferencial muito importante se compararmos os cérebros humanos  e animais:

é que a proporção entre o córtex límbico e o córtex racional não é a mesma nos humanos e nos restantes animais. Os humanos têm mais condições para "negociar" pois o seu córtex racional tem mais condições de enfrentamento positivo e negativo.

Estas "negociações", na História, já vêm de longe pois já os primitivos taoístas recomendavam diferentes formas de mating para concepção ou para prazer, terapia ou desenvolvimento espiritual. Curiosamente, os Cátaros faziam esta diferença.
("Art of the Bedchamber - Chinese Sexual Classics including women meditation texts", Douglas Wile, N.Y., State University of New YorkPress,1992)

Os taoístas salientavam que para retomar o equilíbrio no pós-orgasmo a solução não era mais orgasmos ou abstinência, mas sim [...outra maneira de fazer sexo com o par], por outras palavras, era fazer o córtex racional partilhar com o córtex límbico qual a orientação a seguir, "entendendo-se" entre si.

Este "entendimento", com os seus 5 factores dominantes, é um alicerce do sexo taoísta e tântrico :

- Presença - "double bind" sensorial, dupla conexão de [...sentir a mão que toca e o que é tocado", "...sentir o outro e sentir-se a si com o outro", etc;
- Relaxação - não é hipo-energia mas energia equilibrada e expandida, [...sentir e sentir-se a sentir];
Intimidade - nos seus quatro níveis: corporal, emoções, sentires, sentimentos (estados de espírito resultantes das emoções e sentires);
- fluir - a duplicidade da acção conjunta: coação (propor ao outro) e co-acção (aceitar a proposta do outro), ou numa imagem taoísta [...quando o homem e a mulher são ambos o barco e o timoneiro um do outro];
- consciência-conhecimento do momento - isto é, [...nunca entrar em automático] por ficar um zombie obediente aos neuroquímicos e esquecendo tudo o resto, ou por ficar um zombie nos neuroquímicos enquanto vê o resto (TV??, ler o jornal??, pensar em alguém??)... o que num conceito psicológico actual é nunca sair do "Aqui-Agora".

O factor crítico é que estes 5 factores obrigam o córtex racional a funcionar em pleno na sua partilha com o límbico, o que não acontece no sexo convencional. Segundo diversos autores, o hábito do sexo convencional é uma espécie de droga que leva tempo a desaparecer, tem "recaídas" a meio e tem sempre os neuroquímicos a comandar. 

Segundo esses autores, o tempo necessário são 3 semanas de agir diferente numa acção conjunta de partilha dentro do par vivendo os 5 factores, obtendo assim uma mudança de hábitos mentais, comportamentais, emoções, sentires e ciclo de recompensas,
A consequência fundamental é a alteração do sistema de recompensas instituído no córtex:


Parece que quando a mudança é conseguida, não só toda a vida se altera, como o regresso ao sexo convencional nunca acontece. 
Talvez seja esta a mudança espiritual falada pelos taoístas, tântricos e Cátaros que, se a conseguiam fazer, não conheciam nada de neurociência nem dos meandros intrincados dos circuitos acima representados, nem das convulsões neuroquímicas que os afectam.
Esta é a esperança dos humanos que acreditam que estão programados para não aceitar programações, com o slogan de automotivação "os neurónios são meus".


Para terminar 

Um pequeno vídeo sobre bonding (4m37s) em que a situação é simples:

Um pai e uma mãe (casais diferentes) visitam um Campus universitário distante para passar algum tempo com o filho/filha, aproveitando os períodos livres no horário das aulas.

Não se conheciam mas, esperando pelos intervalos, acabam por se encontrar e passar muito tempo juntos enquanto eles estão em aulas.
Conversam, sintonizam-se e acabam numa intimidade de sentires e emoções, feita de presença e fluir de acções em relaxação, nascendo uma situação de dating-bonding que se desenvolve sem "eles-saberem-apesar-de-saber", flutuando felizes no aqui-agora.

Quase no fim do dia, entram num anfiteatro onde está decorrendo uma aula de teatro. 
Assistem e, de repente, a Professora pede-lhes que representem uma cena. Aceitam e ela sem os deixar ensaiar dá um objectivo diferente a cada um para improvisar ao sabor das deixas do outro. 

O objectivo dele seria "tentar levá-la a deitar-se com ele" e o dela seria "tentar que ele faça uma torta". Mas no decorrer da improvisação a vida explode e acontece quando o não-consciente sobe e se instala no consciente.  

À semelhança do Romeu e Julieta com suas limitações contextuais, também eles... apesar da intensidade do bonding também não têm futuro. 
De reparar que, no fim, quando a vida acontece a sua intensidade contamina a assistência, em termos da neurociência é apenas o papel e a função dos "neurónios espelho", é por causa deles que se vai ao cinema, ao teatro e ao futebol.
(Mirror Neuron Systems: Role of Mirroring Processes in Social Cognition (Contemporary Neuroscience) 2010, Jaime Pineda (Editor))


(e esperar uns segundos até abrir, se a meio parar clickar no começar)

Na verdade nunca saberemos o que aconteceria ao Romeu e Julieta se tudo fosse normal e vulgar, pois nunca passaram para além do dating, ou seja, quando a turbulência dos neuroquímicos também entra na história.  

As histórias infantis acabam sempre em "casaram e foram muito felizes", escamoteando que é a partir daqui que a verdadeira história vai acontecer.

Na verdade, "Romeu e Julieta" é uma história infantil para adultos... pois as histórias infantis também nunca [...passam para além da Trapobana em perigos e guerras esforçados...]* porque é depois do inicio que existem as tempestades cerebrais dos neuroquímicos.

*- como diria Camões





sábado, 17 de janeiro de 2015

Sexo, Altos-e-Baixos, fidelidades e infidelidades

ref.- Blog: "Sexo, Dança do varão, Kamasutra e Tantrismo", de 24Dez14 clickar aqui

...acções de rotina não nos transformam,
são um vazio de aborrecimento.

(parafraseando Osho)

A antropóloga Helen Fisher* pesquisando 58 culturas, encontrou um padrão relativamente generalizado em que, após 4 anos de vida em casal, a separação era normal. Se a separação não existe, os dias "off" aumentam em quantidade e em intensidade, criando situações relacionais bastante diferentes da que tinha originado a motivação para o casamento.
* - "Anatomia do amor: história natural da monogamia, adultério e divórcio", Helen Fisher, Publicações D.Quixote, Lisboa 1994.

Nas sociedade e na conversa sobre estes "estilos" on-off do casamento, a redução dos dias "on" e o aumento dos dias "off" é considerada normal, uma espécie de inevitabilidade, um mecanismo psico-biológico semelhante ao envelhecimento, uma degradação natural de relações, de perdas de interesse e novidade, assim, o  apoio familiar e de amizade é um comentário do estilo aceitação e sujeição: 

-"É assim mesmo, ...nada a fazer, ...é a vida...

ou como dizia a minha avó, lembrando sabedoria antiga, "depois dos brincos vêm os chorincos".

Esquecendo condicionamentos e circunstâncias individuais é de salientar que a existência desta "normalidade" do divórcio abre uma área de negócio com elevado nível de facturação.
Dá trabalho a muitos profissionais, desde advogados, tribunais, detectives de caça a infidelidades, fotógrafos, jornalistas especializados em "fofocas", jornais, revistas, Tv's e ainda mudança de casas (venda, aluguer, transporte), mobiliário, terapeutas, ...etc, sem contar com os actos de casar, banquetes, festas e prendas.
Em 1.000 casados se cada cônjuge tiver 3 divórcios são 7.000 festas de casamento. Uma felicidade conjugal sem a dinâmica do divórcio iria baixar muito o PIB nacional.

Comparando esta relação com outras, amigos de bairro, escola ou trabalho, profissionais ou não, estas são muito mais estáveis e com menos dias "off". Um dos principais argumentos para a diferença é o maior  tempo de convivência pessoa-pessoa no casamento. 

Porém se fizermos contas, o período mais longo de convivência são as relações de trabalho que incluindo almoços em comum, e às vezes transportes, chega a cerca de 10 horas/dia. 
Considerando 8 horas para dormir e 2 horas para higiene e afazeres caseiros, 1 hora conversar com os filhos e família, etc, para o casamento restam apenas 3 horas. 

A questão que se coloca é como se gastam essas 3 horas/dia em comum. Entre o jantar, algum tempo de lazer (TV, filmes, teatro, ler jornais, revistas, etc) e conversas tipo "banalidades de base", o tempo rico de convívio será apenas cerca de 1 hora, caso não sejam sonâmbulos e conversem e/ou actuem a dormir.

A questão interessante é saber como é que essa hora de convívio origina uma tão nítida diferença das  relações sem esta degradação padronizada (vide a antropóloga Helen Fisher). 
Qual será o "bug" que acontece nessa hora, e que não acontece nas outras relações mais estáveis, tendo tal influência no resto da vida em comum a ponto de provocar  divórcios?

Há uma resposta fácil e de prova difícil: é o sexo, pois só ele é a pequena-grande diferença de todas as outras relações sociais.


Porém, raramente ele é colocado na ribalta e apontado como principal responsável, pelo que deduzo que a sua interferência deve ser tipo "undercover", mas do género "emmerdeur", uma espécie de "Tulius Detritus" da Zaragata do Asterix.




Sexo e Biologia

O raciocínio permite requintar a alegria e o prazer
Epicuro

Na linha do pensamento de Epicuro, parece que a espécie humana tem a capacidade de compreender programações não-conscientes e conscientemente tomar decisões para obter benefícios para além dos programados.

A problemática do SENHOR e SERVO

Num laboratório dois cientistas conversavam, explicando o residente ao recem-chegado as experiências feitas com um rato:
- "Eles são animais muito inteligentes, ...só com um dia de trabalho ensinámo-lo a pedir comida tocando a campainha!
Dizia a rato para o rato recem-chegado, olhando os cientistas :
- - "Eles são animais muito inteligentes e obedientes, ...só com um dia de trabalho ensinei-os a darem-me comida quando quero, pois toco a sineta e pronto... obedecem e aparecem logo com ela!

No mundo das inter-relações "senhor e servo" os poderes têm vida complexa, sendo atravessada por estratégias de agendas clandestinas e armadilhas subtis em que uma aparência senhor-servo na prática poderá ser servo-senhor. Talvez seja o caso do sexo.

Na actividade sexual há dois mundos em jogo: o indivíduo e a espécie:

No ponto de vista da indivíduo, ele possui genes que o servem, mas no ponto de vista da espécie os genes possuem um servo (o indivíduo) que os serve para transportar e garantir a "imortalidade". 

Na verdade, todos nós temos pais, avós, bisavós... antepassados que ao longo de séculos foram morrendo mas fizeram a sua obrigação: possibilitaram que os genes continuassem sem desaparecer, nós somos a prova disso e continuaremos a garanti-lo para o futuro.

Para isto acontecer os genes têm uma estratégia com duas tácticas complementares que pressionam os seus "servos" a continuarem o trabalho. Elas estão instaladas em dois scripts (programações) em formato semi-automatismo, o Acopulamento (mating) e a Ligação-Afeição (bonding), ou seja:

1-  Acopulamento (mating) - é a técnica de obter um número máximo de fertilizações possíveis, com o objectivo de maximizar quantitativamente as probabilidades de sobrevivência. Na prática o slogan da espécie é [...muitos orgasmos e muitas fertilizações por indivíduo].

Esta técnica é complementada com a diversificação dos pares fertilizados no sentido de aumentar qualitativamente as alternativas das fertilização. Na prática o slogan da espécie é [...muitas fertilizações em pares diferentes].

A base biológica desta estratégia é a lógica de maximização de recursos de ambos os parceiros visto que um bom resultado exige necessidades operativas diferentes para cada um. Na verdade, o parceiro macho tem necessidade de 7 segundos (ou menos) e o parceiro fêmea precisa de vários dias ou meses de gestação (consoante as espécies).

PS - Esta diferença é importante pois na selva, perante o ataque de um predador, a fuga tem que ser rápida para ambos, pois sexo prolongado tem riscos de vida. Na civilização pode ser o tempo disponível da subida dum elevador ou de impaciência da fila de espera para o WC num avião, pois a demora tem riscos de ineficácia (i.é. a técnica da rapidinha é importante)

A recompensa instituída é mesma para ambos os parceiros, ou seja, é a de ficar adito de uma descarga electro-magnética nos sistema nervoso, conhecida por orgasmo, após o qual a relaxação e o abandono aparecem, com a frase usual -"I am done, I am OK" (consoante o idioma) mas que, se não for expresso, os participantes costumam perguntar.

O orgasmo, cuja base operacional é o cérebro onde ele pode ser provocado por estimulações eléctricas, é uma recompensa-prémio tendente a pressionar mais fertilizações em mais que um parceiro, com a consequência de originar alternativas diferentes de combinações genéticas.

Outro aspecto interessante é o chamado Efeito Coolidge (Dictionary of Psychology, A.Reber, E.Reber, Penguin, UK),

... cujo nome vem de uma velha piada do Presidente dos USA, Calvin Coolidge que, um dia, acompanhado pela Sra. Coolidge foi visitar uma quinta experimental estatal.
O casal separou-se e a Sra. Coolidge ao passar pelo galinheiro viu um galo em permanente actividade de acasalamento pelo que perguntou quanto tempo aquilo durava. A resposta obtida foi que eram "dezenas de vezes todos os dias".
Então, ela pediu que quando o Presidente ali passasse lhe dissessem isso, o que foi feito.
Curioso, o Presidente perguntou se era sempre com a mesma galinha e a resposta foi que não... que "era sempre com uma galinha diferente". 
Então ele pediu que dissessem isso à Sra. Coolidge quando ela regressasse.

Uma experiência laboratorial do Efeito Coolidge

o "mating" em acção
Numa caixa, quando um rato é colocado junto de uma fêmea "receptiva" ele entra rapidamente num frenesim de acopulamento.
Passado algum tempo o "fogo" apaga-se e ...exausto, deita-se, repousa, ficando apenas interessado em si próprio.

Contudo, se uma nova fêmea "receptiva" entrar no recinto, a exaustão desaparece milagrosamente e tenta uma nova fertilização.
Não é uma questão de Ego, virilidade, libido ou bem-estar pessoal, simplesmente alguns neuro-químicos (oxytocin) invadiram o cérebro com a ordem [...não deixar fêmeas por fertilizar].

(ver “Effect of Novel and Familiar Mating Partners on the Duration of Sexual Receptivity in the Female Hamster,” G. Lester, B. Gorzalka,  in Behav. Neural. Biol., May 1988)

o "bonding" em acção
Na prática, o cio [...é a época da fertilização...] com intensa actividade e alternando parceiros, excepto para os humanos para os quais apenas 10% (ou menos) dos acopulamentos têm intenções reprodutivas.

Pelo contrário o chimpanzé-bonono que, com 98,7% de proximidade genética com os humanos, é o seu parente mais chegado e muito parecido nos scripts sexuais, pois usa o sexo também como actividade frequente para solução de conflitos e construção de harmonia, na linha do "bonding" (ligação/união), ou seja, não é só para reprodução.

Em resumo, o mating é um script tendente a pressionar tantas fertilizações quantas as possíveis e com vários parceiros diferentes de modo a criar sucesso por muitas combinações genéticas alternativas.

2-  Ligação-afeição (bonding) - porém há outro factor em causa pois o recem-nascido portador dos genes precisa de um útero social que o proteja, alimente e lhe permita o desenvolvimento necessário à sua autonomia, portanto surge a necessidade de afeição, cuidados, partilha, comunhão, confiança e harmonia, o que é comum a todas as espécies (e até inter-espécies) da galinha aos humanos.

A par do mating (acopulamento) produtor da nova cópia dos genes, existe também um outro script - bonding  (ligação-afeição) - produtor de um contexto (um kit) de sobrevivência para os primeiros tempos.


PS- Talvez o padrão dos 4 anos encontrado por Helen Fisher e o modelo tribal em que toda a tribo tem a responsabilidade da sobrevivência de toda e qualquer criança, seja uma expressão prática deste script.
No século actual, quando alguns governos com modelos economicistas retiram apoios técnicos e económicos às crianças para o sucesso da sua sobrevivência talvez signifique apenas que têm este script estragado.
Obs: Seria de lhes aconselhar um estagiozito com os chimpanzés-bonono??

O script bonding procura o equilíbrio, harmonia, intimidade, "entransamento" e ao contrário do script mating que é uma espécie de DPO (Direcção por Objectivos) em que tudo são recursos para obter o resultado - "I am done"- do qual é adito, o bonding vive da intensidade do momento, do fluxo de trocas, do equilíbrio de dádivas e recepções, da igualdade e interdependência dos parceiros.

Como lembra o Taoísmo [...sem foz para receber a água o rio não tem caudal, estagna...], o par sexual é uma igualdade e complementaridade de poderes e forças em que [...cada um é o que o outro consente e propõe...], bem expresso no símbolo ying yang com a complementaridade "recepção-dádiva":

Equilíbrio dádiva-recepção
em que ambos estão activos e em que a potência da recepção provoca a potência da dádiva e vice versa, e se um bloqueia (fica em zero zero) o outro perde capacidades. 
Como se verá em "happening love", quando há uma perda de erecção a solução, segundo a perspectiva taoísta e tântrica, não é mais ou menos Viagra a pressionar o mating, mas sim provocar, pelo bonding, o aumento da intensidade bio-magnética da recepção feminina que ao fomentar o aumento da dádiva resolve o problema (ver Kamasutra: soft penetration).

A dança "mating-bonding"

Se bem que as características individuais, desde traumas antigos a traços de personalidade passando por influências contextuais, condicionem o par sexual, todavia a coluna vertebral do relacionamento é a dinâmica "psico-biológica"de  dois scripts, em que um [...é garantir a sobrevivência dos genes pela procriação (mating)] e o outro [...é garantir apoios na fase de não-autonomia pela harmonia, segurança e partilha de afeições-intimidade (bonding)]

No caso dos humanos, dada a sua capacidade de compreender e utilizar programações pré-instaladas, a manipulação destes dois scripts permite que o sexo humano adquira alternativas, umas negativas (violações, prostituição,Taking love..) outras positivas (Making love, Happening love, terapia sexual para casais,...) , todas muito diferentes das convencionais de sua e de outras espécies.

À diferença de culturas ocidentais viciadas no mating, i.é. sexo para procriação, as culturas orientais focalizaram-se mais no "bonding",  i.é. sexo para harmonia e desenvolvimento, como o Taoísmo antigo com o Hua Hu Ching*, ensinamentos atribuídos a Lao Tseu, o Tantra sexual, Kamasutra, Yoga sexual, etc.
* - Hua Hu Ching: "The Unknown Teachings of Lao Tzu, Brian Walker", S. Francisco, USA, ed Harper, 1992,
"Taoist Secrets of Love", Mantak Chia , Michael Winn, Ney York, Aurora Press, 1984,
"Healing love throughThe Tao", Manewan Chia, New York, Huntington, 1986



Nesta dinâmica complexa, torna-se necessário diferenciar alguns conceitos semelhantes para a sua utilização eficaz: 

 - Emoções não são "Sentires" 
(sentires = "feelings" na perspectiva de sensações sentidas e não de sentimento, estado de espírito resultante. São factos não valores)

Emoções
Maria: -"Estás sempre a..."
Manel: -"Tu nunca me..."
Maria: - "Sinto-me sempre esquecida..."
Manel: - "Nunca falas comigo..."
Sentires
Maria: -"Estou incomodada com..."
Manel: -"Estás muito atenta..."
Maria: - "Esta situação agrada-me..."
Manel: - "Estou sentindo-me bem a conversar..."

Há várias diferenças entre sentires e emoções mas quatro indicadores são bem característicos.
Nas emoções os verbos estão no passado, normalmente são acusações (julgamentos em que o nunca e o sempre são vulgares), lutam por regras e directrizes e falam do outro(a) em relação a si.
Nos sentires os verbos estão no presente, normalmente não são acusações (não há julgamentos), não há regras num directrizes mas sonhos e desejos, esforçam-se por sintonias e falam si em relação ao outro(a).

Segundo Osho, as emoções são sentires do passado, não expressos e acumulados na memória e que explodem na situação presente, contaminando-a até eventualmente com deturpações acrescidas.
Os sentires são sensações do presente e expressas no presente que criam confiança, intimidade e harmonia e formatam as situações no pulsar do presente vivido.

A nível do estado de espírito provocado, as emoções arrastam tensões corporais, dificuldade de olhar o outro, isolamento, olhar vago e fixo, intensa argumentação-defesa-ataque, dúvidas, negatividades, sentimentos de incompreensão e o desafio de QUERER MUDAR O OUTRO.

Os sentires originam um estado de espirito diferente feito de relaxação, contacto visual, conexão, construção de sintonias, sentimento de compreensão, certezas e positividades e o desafio de SE TRANSFORMAR A SI PRÓPRIO.

Os sentires são o universo dos namoros adolescentes e adultos (dating), da lua-de-mel, do making love, do happening love e principalmente do script bonding. As emoções são o universo das rotinas da lua-de-fel e de formas primárias do script mating.

 - Intimidade

A intimidade refere-se a um mútua posição de Presença, i. é., ser uma "dupla conexão" (double bind) sensitiva, por exemplo, [...numa carícia sentir simultaneamente o que é tocado e a mão que toca], ou seja, o conhecimento e a consciência fazem parte da carícia. Uma experiência:

[...neste momento pense no seu pé, sinta-o e sinta a meia, o sapato e o chão...]

se o fez, a entrada da consciência nessa sensação já existente mas não-consciente provoca o double bind de sentir o que é tocado e o que toca (mão, pé, corpo, etc), sendo essa a essência da intimidade, pois ela não é acontecer com uma espécie de "instrumento mecânico" que se passeia por uma superfície reconhecendo-a, mas desconhecendo-se a si próprio.

A intimidade (Tantrismo) exige 3 factores: consciência, relaxação, presença e pode existir em 3 níveis:

Intimidade corporal 
Intimidade emocional 
Intimidade de sentires

Por exemplo, na prostituição pode existir intimidade corporal com ou sem double mind (i.é. mecânica ou não) mas, normalmente, sem intimidade emocional e/ou de sentires, pois as/os profissionais reservam isso para os seus pares na vida real. 
Os clientes por sua vez, normalmente, nem sequer sabem-pensam o que isso é, são apenas servos obedientes do script do mating.... o mesmo acontecendo no taking love e no doing love.

 - Acção e actividade

Segundo Osho a acção é um acto que se dirige ao futuro, transformando o presente, enquanto que a actividade é um acto que vem do passado e se repete no presente, sendo esta a essência da rotina.

Como é lógico a acção implica consciência, enquanto que as actividades podem dela estar isentas. A grande diferença da lua-de-mel para a lua-de-fel é que a primeira é preenchida por acções e a segunda por actividades.
Por essa razão, quando o casamento perde "fogo" a solução mais vulgar são férias e mudar de ambiente, ou seja, há uma sabedoria intuitiva na solução, simplesmente depois, no novo contexto de acção acabam por acontecer apenas actividades, pelo que o resultado ou é nulo ou ainda fica pior pelas expectativas defraudadas.

Modelos de "mating-bonding"

O amor é instável, está cheio de flutuações,
mudar de par resolve o problema e o problema regressa!

Considerando as relações entre os dois scripts, alguns modelos podem ajudar a "arrumar" ideias sobre as flutuações da vida sexual, os "altos-e-baixos" da fidelidade-infidelidade e os "dias-bons-dias-maus" da vida não-eremita.

 Taking love

Com duas versões, uma mais regressiva a da violação que, em certos casos institucionais, é chamada legalmente "deveres conjugais", e outra mais progressiva no formato doing love, mas na prática a dinâmica é a mesma, ou seja, é uma cópia quase integral da estilo CIO das espécies não-humanas com um bonding praticamente inexistente e um mating de carga rápida e uma descarga ainda mais rápida.

Há uma situação interessante que é quando a descarga acontece antes da carga total que, no ponto de vista científico, na saúde se chama ejaculação precoce; no ponto de vista económico, na prostituição chama-se trabalho eficaz; no ponto de vista pessoal, na crise matrimonial chama-se uuufff!!! para ambos os intervenientes.


Making love

É um formato muito comum e traduz-se por uma subida em paralelo da intensidade do mating e do bonding seguida por uma descarga rápida (os 7 segundos) do mating e outra mais lenta do bonding que nos velhos tempos era acompanhada por um cigarrito.


Há algumas variantes interessantes:

#  - Quando o taking love é executado com o modelo making love o(a) predador(a) usa maneirismos do bonding (palavras doces, gestos festinhas, esgares sedutores, etc) para conseguir que um bonding intenso arraste condições de mating, ou seja, a subida é em paralelo mas o bonding vai à frente a puxar, apesar de ser mistificação.

 - Quando por razões de alterações hormonais o mating está muito activo poderão aparecer maneirismos tipo bonding (os chamados preliminares) rapidamente vividos e ultrapassados, cliché usual em filmes "sérios" com a roupa a ser abandonada. Em resumo, é uma subida em paralelo com o mating à frente e o bonding a correr atrás dele para não ser abandonado, transformando-se assim em taking love.

 - A distância temporal entre a queda das duas curvas (elemento Ω na figura), ou seja, a diferença entre a rapidez do mating e a lentidão do bonding num e noutro parceiro indica o modo como ambos viveram os momentos, ou seja, mais ao estilo quick sex (rapidinha)  ou ao estilo slow sex (calminha).

Happening love

Com características orientais (Taoísmo, Tantra, Yoga, Kamasutra, etc) é um modelo pouco comum dentro do sexo convencional ocidental.
Basicamente recusa a Gestão por Objectivos do resultado a obter e focaliza-se na Presença no Momento, ou seja, utiliza a energia do mating, mas centra-se no bonding com suas energias subtis.


O inicio pode ser semelhante ao making love mas sem ser um bonding mistificado e que continua por um mating a 1/2 ou 2/3 da intensidade e um bonding a 100%. 

A intenção de alcançar o resultado da descarga do orgasmo ( -"I am done") não se coloca, pois [...não há resultado a obter, apenas momentos de sintonia e intimidade a viver...] e normalmente a intimidade corporal não é a mais intensa, pois a emocional e a dos sentires é que são as fundamentais.
Numa palavra, é a situação vulgar existente num dating (namoro de adolescentes ou adultos, simplesmente com maior intensidade de mating.
A sua essência não é a excitação mas a estimulação oriunda de uma intimidade nos seus três níveis, corporal, emocional e sentires.

Segundo o Tantra 4 factores são necessários: Intimidade, Relaxação, Presença e Consciência.
Ao fim de algum tempo, com uma excitação a 1/2 ou 2/3 e uma estimulação global e intensa, é normal a perda de erecção mas a solução, não é Viagra, é sim intensificar o bonding e usar técnicas de soft penetration (ver kamasutra, tantra sexual, etc) sem fazendo movimentos e com intensa intimidade e relaxação. 
A intensificação da recepção e da dádiva (vide anterior figura do ying-yang) aumentará o fluir do bio-electromagnetismo que tornará tudo normal e o happening love poderá continuar em estado de espirito  amoroso (estilo lua-de-mel) mesmo depois de tudo acabar*.
Não existe [ "I am done"] nem [altos-e-baixos] caracterizados pelo abandono, afastamento e "quero estar só" existentes nos vulgares intervalos até à próxima vez.
* ver teorias Taoistas.

Segundo o Taoísmo, os efeitos do orgasmo que é um produto do cérebro também obtível por estimulação eléctrica no córtex duram, não 7 segundos com a queda consequente mas sim, horas e expandem-se durante dias.

Qualquer semelhança deste modelo com o sexo convencional ocidental é o mesmo que comparar a acupuntura com drogas farmacêuticas, todavia há séculos de experiência de pessoas com drogas e pessoas com acupuntura ambas com êxitos e fracassos ...e as fé's continuam.
A questão fundamental é o hábito da espécie humana (alguns, não todos... excluem-se os velhos do restelo) de [...entrar pelo impossível para encontrar o possível], posição também assumida por animais que conseguem evoluir:

Japão: ninho de corvos
feito de cabides metálicos
Divórcio

Os divórcios, não são por diferenças de personalidade as quais já existiam no dating (namoro da juventude à velhice) e na "lua-de-mel", são por gradual deslizar para a igualdade no e grande uso do mating script e no pouco uso do bonding script, o que não acontecia no início.

Na prática, assistindo a situações inter-conjugues na época do divórcio verifica-se que nada têm de "bonding", pois são apenas lutas, discussões e agressões constantes... intervaladas com sexo do estilo zombie ou taking/doing love ou sado-masoquista.
Lua-de-mel e Lua-de-fel
A "luta" contra a infidelidade não é feita em contra-mating por técnicas policiais de bloqueio ou de controlo e fiscalização, nem sequer por técnicas de mating procurando apresentar-se como novidade (Efeito Coolidge) mediante plásticas corporais ou psicológicas, por ex., passando de estilo hippie a conventual ou de futebol a danças de salão. 

Não é uma questão de negociação de regras utilizando o mesmo estilo de relação, mas de alteração do estilo de relação passando de mating a bonding, pois o mating não é transformante (por muita criatividade que se tente) e acabará sempre em rotina, enquanto o que o bonding (intimidade existencial com outro serpor essência é transformante, pois [...o indivíduo nunca é igual a si próprio em cada segundo de vida].

Na verdade, a solução está em potenciar e intensificar o script bondingnão se deixando dominar por emoções, com críticas ao passado: - "Tu não comunicas, não me ligas, não me ouves...", e tornar os sentires reais e actuais: "- Sinto-me bem de ouvir, é bom estar aqui a conversar, não me apetece ir embora...". 

[...a Fidelidade é a chave da alegria e prazer pela intensificação da harmonia, sintonia, bem-estar e transformação contínua do viver um "bonding" pleno de experiências, intimidade, sonhos e desejos já partilhados e interiorizados que dependem de tempo para se enraizarem...] 

e cujo horizonte não tem limite pelo que, na perspectiva do bonding script,...

[...a solidão ou a troca (swapping/swinging) são noites escuras substituindo dias luminosos...]


Para terminar


O Adão e a Eva... coitados... nem sabiam onde se iam meter porque isto de andar a brincar com os scripts dos neurónios não é fácil.